Eis a íntegra da entrevista:
Blog – Como o sr. avalia a decisão liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski?
Ivan Sartori - Muito positivamente. Restabelece-se a democracia e indica-se ao Conselho Nacional de Justiça o caminho que deve seguir. Lamentavelmente, o conselho não tem sido parceiro do Judiciário. Tem interferido demais na administração dos tribunais e, não raro, sem conhecer a realidade local. Ao contrário do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), a ideia que vinga naquele colegiado é de que os desembargadores e juízes, até prova em contrário, são mal intencionados. Qualquer conselheiro, sem motivo relevante e sem sequer se inteirar da realidade dos fatos, acaba cassando a decisão de um colegiado inteiro de desembargadores experientes, gerando sérios problemas. Não ficam também a salvo os interesses classistas por parte de conselheiros advogados e do Ministério Público, que, muitas vezes, vêm acima dos interesses do Judiciário.
Blog – Cabia ao CNJ interferir na questão?
Ivan Sartori - Evidente que não. Ao conselho cabe planejar e ajudar a estruturar o Judiciário, não administrar os tribunais como vem fazendo. É um mundo de relatórios que tribunais e juízes tem que responder, em detrimento da jurisdição e sem resultado prático palpável. Por exemplo, a dependência orçamentária do Executivo continua a mesma, nada se resolveu em relação à competência delegada federal e nada se investiu, concretamente, nos tribunais. São ordens e mais ordens, muitas delas impossíveis de cumprir. Na nossa gestão na Presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo posso dizer que a ajuda do conselho foi praticamente zero. Muito ao revés, tivemos, várias vezes, que corrigir os rumos da administração por força de interferências desnecessárias.
Blog – Essa medida liminar tende a antecipar os entendimentos para a sucessão?
Ivan Sartori - Antecipa sim. O Nalini [José Renato Nalini, corregedor-geral] já lançou sua candidatura, diante de manifestação minha perante o Conselho Superior da Magistratura de que não iria concorrer.
Blog – Há condições para o sr. tentar a reeleição?
Ivan Sartori - Estou propenso a não concorrer à reeleição, diante do enorme sacrifício pessoal que o cargo impõe e da elevada responsabilidade dele decorrente, sem falar num possível reflexo negativo que a reeleição possa ter numa decisão do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do mérito do mandado de segurança que restabeleceu a candidatura de todos. Estou refletindo muito. O anúncio da reeleição durante todo este segundo semestre teve mais a finalidade de tornar forte a gestão perante os outros Poderes, porque o mandato é curto e, já em maio do segundo ano, o Presidente do TJ acaba perdendo força política e prestígio externo, ficando mais difícil a administração, coisa que nem o desembargador Cogan [José Damião Pinheiro Machado Cogan, que questionou a resolução no Conselho Nacional de Justiça], nem o CNJ entenderam.
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