Internacionais

Da FSP de hoje, 20/1/15

CLÓVIS ROSSI

Um cadáver no colo de Cristina

Será quase impossível para o governo argentino provar que nada tem a ver com a morte do promotor Nisman
É sempre mais fácil provar que alguém cometeu um crime do que o acusado provar que não o cometeu.
Por isso, o governo argentino será, talvez para sempre, acusado de ter mandado matar o promotor Alberto Nisman. Ou, em outra hipótese, de tê-lo induzido ao suicídio, tese já levantada pela líder opositora Elisa Carrió.
Os antecedentes do caso tornam facílimo, quase automático, desconfiar do governo de Cristina Kirchner.
Nisman, pouco dias antes de morrer, já dissera que o chamado caso Amia (Associação Mutual Israel-Argentina) poderia "levá-lo à morte".
Previsão igualmente fácil de fazer: Nisman acusara a presidente e seu chanceler, Héctor Timerman, de encobrir a suposta culpa de funcionários iranianos pelo atentado de 1994 à sede da Amia (85 mortos, mais de 300 feridos).
A acusação dizia, ainda, que o encobrimento se deveria ao desejo do governo argentino de fazer negócios com o Irã.
É prematuro desconfiar da presidente e/ou de seu entorno? Sem dúvida, é. Afinal, prevalece sempre o critério de que todo mundo é inocente até prova em contrário.
Mas Cristina Kirchner cultivou sempre, nos 12 para 13 anos em que ela e o marido governaram o país, um ambiente de radicalização, de confronto, com os mais diferentes adversários, de resto sempre tratados como inimigos.
Paga agora essa crispação. Não há, nos setores com os quais se indispôs e que representam pouco mais ou menos a metade do país, a mais leve disposição para lhe dar ao menos o benefício da dúvida.
O governo, não necessariamente sua chefe, será tido como culpado até que consiga provar o contrário, o que é praticamente impossível.
Não há testemunhas da morte de Nisman nem há, que se saiba, uma carta anunciando o suicídio, por mais que Sergio Berni, secretário de Segurança Pública, haja dito que, nas circunstâncias, "todos os caminhos conduzem ao suicídio" (a arma sob o cadáver, a porta trancada por dentro).
O escritor Jorge Asís, antigo peronista, funcionário do governo de Carlos Menem, rebate: "Aqui é de um assassinato que temos de falar".
Mas Asís estende a lista de suspeitos para "alguma corrente interna do governo ou para uma operação de inteligência clara contra o governo".
Hipótese reforçada pelo fato de que Nisman havia acusado, além de Cristina e seu chanceler, também o líder "piquetero" Luís D'Elía e o líder do grupo Quebracho, de ultraesquerda, Fernando Esteche, ambos adeptos de métodos violentos.
É sempre bom lembrar que o peronismo tem uma longa história de movimentos violentos internos, de extrema direita ou de extrema esquerda.
Nos anos 70, por exemplo, a Aliança Anticomunista Argentina (a tristemente célebre "Triple A") e os Montoneros travaram uma guerra que acabou desaguando no golpe de 1976 e no genocídio que se seguiu a ele.
É o que dá semear ventos. Colhem-se tempestades ou, neste caso, um cadáver que o governo terá imensas dificuldades para tirar do colo.


Excelente texto do Jamil Chade

"Qual é mesmo o nome do chanceler brasileiro?"

Publicado: 04/12/2014  142
Calado nos encontros internacionais, o Brasil acumula um rombo de mais de R$ 450 milhões em suas contas na ONU, se transformou em apenas dois anos no quarto maior devedor e corre risco de perder voto a partir de janeiro.



Jamil

GENEBRA -
No início de setembro, diplomatas brasileiros na ONU aceleravam o passo nos corredores da entidade. Mas não por conta de alguma nova iniciativa do Itamaraty para resolver o conflito em algum lugar ou para por uma proposta para desbloquear as negociações sobre o clima. O tema na agenda era muito mais "mundano": a dívida do Brasil com o orçamento regular da ONU superava pela primeira vez a marca de US$ 100 milhões e apenas os EUA mantinham uma dívida superior ao do Itamaraty.

O problema é que os diplomatas se prepararam para acolher em Nova Iorque a presidente Dilma Rousseff, que abriria a Assembleia Geral da ONU. Em seu discurso, uma mistura de apoio à ONU e da transformação do evento em um palanque internacional para mostrar os avanços do Brasil. Afinal, nada estava garantido ainda naquele momento nas eleições no Brasil.

Mas como justificar o crescimento e os avanços sociais que seriam apresentados e, ao mesmo tempo, escapar de uma pergunta bastante direta: se vocês estão tão bem, por que motivo não pagam sua conta? Por meses, diplomatas brasileiros marcavam reuniões com o departamento financeiro da ONU e, faltando minutos para os encontros, inventavam desculpas para não aparecer.

Constrangimento após constrangimento, o governo decidiu enviar um cheque para demonstrar uma boa vontade e o Palácio do Planalto liberou US$ 36 milhões. A ONU agradeceu, mas avisou: mesmo com o pagamento, o Brasil deve quase meio bilhão de reais à ONU e, sem pagar suas contribuições obrigatórias à entidade, a diplomacia nacional está ameaçada de perder o direito de voto em algumas das entidades, como a Unesco ou no Tribunal Penal Internacional.

Obtive documentos exclusivos da contabilidade da ONU que indicam que, até o dia 3 de dezembro de 2014, o Brasil devia US$ 170 milhões à entidade. Isso sem contar com outra dívida de US$ 14 milhões para a Unesco, cerca de R$ 36,7 milhões e se transformando no segundo maior devedor da entidade da ONU. Hoje, o Brasil deve US$ 76,8 milhões ao orçamento regular da secretaria da ONU, além de outros US$ 87,3 milhões para as operações de paz dos capacetes azuis. Se não bastasse, o Brasil também deve US$ 6 milhões que são destinados para os tribunais internacionais criados pelas Nações Unidas, a maioria deles com sede em Haia.

Com o buraco, o Brasil hoje só não deve mais que países como Itália, França e EUA, o maior contribuinte também do sistema e que responde a 22% do orçamento da ONU. De uma forma geral, a ONU está em uma situação financeira extremamente delicada, com um rombo em suas contas no valor de US$ 2,8 bilhões.

Poderia-se argumentar que não há problema em ter dívidas. Afinal, até mesmo essas potências as acumulam. Não é bem assim. Esses países estão de fato endividados e há anos são criticados por isso. Mas eles também são os maiores contribuintes da ONU. Um exemplo: o governo americano tem uma dívida elevadíssima. Mas paga 22% do orçamento da ONU. No caso do Brasil, a participação é de 2,9% e não paga quase nada.

De fato, a dívida brasileira começou a se acumular quando justamente a ONU mudou o status do país dentro da entidade. O Brasil, que por mais de 20 anos deu 1,4% do orçamento da entidade, passou a corresponder a 2,9% do valor depois de se considerar seu crescimento e avanços nos padrões de desenvolvimento. No fundo, a ONU mandava um recado muito claro: se os emergentes querem mais poder, precisam também assumir novos compromissos, inclusive financeiros. Por essa conta, o Brasil passou a ser o 10o maior contribuinte do sistema, superando a Rússia.

Voto - Mas diante de um governo que deixa claro que a política externa não é uma prioridade, as novas contas foram rapidamente se acumulando e hoje ameaçam a posição do País. Um dos casos mais urgentes é o do Tribunal Penal Internacional. 75% do passivo do órgão com sede em Haia hoje ocorre por conta dos atrasos no pagamento do Brasil. Ainda assim, o Itamaraty mantém a candidatura de Leonardo Brandt para um cargo de juiz na entidade, numa eleição que ocorre na semana que vem. Se o dinheiro não for pago, o Brasil será suspenso do Tribunal, não tendo direito a entrar com processos ou mesmo se defender. A viabilidade de um candidato fica também seriamente afetada.

Outro caso urgente é o da Unesco. Se o governo brasileiro não depositar pelo menos parte de sua dívida até novembro de 2015, o País perderá o direito de voto na reunião da Unesco que ocorre a cada dois anos. No total, governos de todo o mundo devem US$ 347 milhões para a entidade com sede em Paris. Mas só o calote americano supera a marca de US$ 310 milhões. No caso de Washington, o motivo não é a falta de dinheiro. Em 2011, a entidade reconheceu a Palestina como membro, o que deixou americanos e israelenses irritados.

Longe da disputa da política, nenhum outro país sequer chega perto da dívida mantida pelo Brasil, o segundo maior devedor e com um rombo de R$ 36 milhões. Desde 2013 o País não paga suas contas na Unesco. Para o ano passado, a dívida é de US$ 4,7 milhões e, para 2014, a dívida acumula outros US$ 9,5 milhões. Mas se o Brasil quiser ter um voto na reunião da Unesco que ocorre a cada dois anos, o País terá de depositar pelo menos US$ 4,7 milhões nas contas da entidade antes do evento, em novembro de 2015.

Na semana passada, a diplomacia brasileira comemorou o fato de que a Unesco declarou a capoeira como um patrimônio intangível da humanidade. Mas, por enquanto, de intangível só há mesmo o dinheiro brasileiro.

Influência - Nos últimos dez anos, o governo brasileiro fez questão de incrementar sua presença internacional. Isso incluiu assumir o comando de missões de paz, disputar cargos de alto nível nas entidades internacionais e, pelo menos até 2010, distribuir contribuições voluntárias para várias entidades. A meta foi sempre a de mostrar que o Brasil está preparado para assumir suas responsabilidades internacionais, desde que seja considerado como um candidato de peso a uma eventual reforma do Conselho de Segurança da ONU. Mas, desde 2011, a tendência é outra. O Brasil se cala em alguns dos maiores debates internacionais, adota posições medrosas e a política externa em 2014 parece ter se limitado a realizar a Copa do Mundo.

Entre funcionários de alto escalão pelo mundo, não é raro que me perguntem: "qual é mesmo o nome do chanceler brasileiro?". Confesso que tenho grande simpatia pelo ministro. Mas ele não está nas prioridades do Palácio do Planalto e é mais que conhecido o desprezo que o governo tem pelos diplomatas.

Em setembro, a presidente Dilma Rousseff usou seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU para reforçar o compromisso do Brasil com o sistema multilateral e com a diplomacia como forma de resolver crises. "Estou certa de que não nos furtaremos a cumprir, com coragem, com lucidez, nossas altas responsabilidades na construção de uma ordem internacional alicerçada na promoção da Paz, no desenvolvimento sustentável, na redução da pobreza e da desigualdade", disse Dilma no evento. "O Brasil está pronto e plenamente determinado a dar sua contribuição", concluiu.

Mas os números revelam que o Itamaraty simplesmente deixou de depositar essa tal de "contribuição".

A dívida do Brasil não é com a ONU. É com a necessidade de ter uma política externa, o que hoje simplesmente não existe. 

Do caderno New York Times de 25/11/14



Baixo preço do petróleo prenuncia crises


Países exportadores sofrem com queda de cotação do barril
Por DAVID M. HERSZENHORN
MOSCOU - A forte queda na cotação do petróleo tem enxugado os Orçamentos de países exportadores do produto. Na Rússia, que está sob pressão por causa das sanções ocidentais, houve corte de gastos. No Iraque, o problema representa um desafio de segurança potencialmente sério, já que o país enfrenta dificuldades para financiar sua luta contra a facção radical Estado Islâmico.
De Moscou a Caracas, de Riad a Bagdá, em Teerã, Argel, Kuait e Lagos, líderes políticos, ministros de Finanças e presidentes de Bancos Centrais têm buscado alternativas para enfrentar o declínio dos preços -aproximadamente 30% desde junho-, puxado pelo aumento da produção nos Estados Unidos e pelas projeções de constante redução da demanda em muitos países desenvolvidos, bem como pela desaceleração do crescimento econômico da China.
A queda dos preços é, em grande parte, bem-vinda no mundo desenvolvido. Mas países como Rússia, Irã e Venezuela, que têm buscado reduzir a influência norte-americana, podem ter que assumir uma postura moderada, pois estão sob crescente pressão financeira.
No mês passado, a Venezuela, que obtém 95% da sua receita de exportação com o petróleo, convocou uma reunião de emergência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para discutir a forte queda dos preços, ideia rejeitada pelos outros membros, que preferiram aguardar o encontro já agendado para 27 de novembro.
O preço do barril de petróleo tipo Brent, uma referência global, caiu para menos de US$ 79 em meados de novembro, abaixo dos US$ 115 por barril em junho.
Parte do excedente que está derrubando os mercados petrolíferos é resultado do aumento da produção no Iraque e na Líbia, onde o cenário de instabilidade ameaça fechar campos de petróleo a qualquer momento e elevar os preços.
Mas, em curto prazo, os grandes produtores provavelmente terão de lidar com Orçamentos mais enxutos, com ramificações políticas, estratégicas e econômicas.
"Depende da duração e da intensidade da queda, mas, se os preços do petróleo continuarem baixos, será um grande desafio para países que dependem fortemente do petróleo para atender às suas necessidades orçamentárias", disse Jason Bordoff, do Centro para Política Energética Global, da Universidade Columbia, em Nova York.
Alguns grandes produtores já sentem mais o impacto da crise orçamentária provocada pela desvalorização do petróleo, especialmente a Venezuela, devido aos problemas econômicos subjacentes, e o Irã, que enfrenta anos de sanções econômicas do Ocidente por causa de seu programa nuclear. A Nigéria passa por uma fase de incerteza política, com eleições presidenciais programadas para o começo de 2015.
A Venezuela tem poucas opções para lidar com a queda dos preços, o que deixa o país com menos dinheiro para gastos em programas sociais, pagamento de funcionários públicos e importações subsidiadas de bens de primeira necessidade. O governo poderia reduzir o petróleo subsidiado fornecido a aliados como Nicarágua, Bolívia e Cuba.
A questão no ar é se a Opep, liderada pela Arábia Saudita, cortará a produção e estabilizará os preços. Alguns analistas acreditam que o país pode optar por deixar os preços baixos, em parte para espremer o Irã e a Rússia, e em parte para pressionar produtores de petróleo de xisto nos EUA, que têm mais dificuldades para competir quando as cotações estão caindo no exterior, já que seus custos de produção são mais altos.
Os custos de produção relativamente baixos da Arábia Saudita e seu programa de gastos domésticos comportam um orçamento equilibrado com uma cotação em torno de US$ 95, contra US$ 100 ou mais para a Rússia ou um nível ainda maior no caso do Irã. A Arábia Saudita também tem enormes reservas de capital.
"A questão é o quanto das reservas de caixa você está disposto a gastar e por quanto tempo, até ajustar sua produção para baixo", disse Gal Luft, do Instituto de Análise de Segurança Global, centro de pesquisas em Washington. "No curto prazo, acredito que a maioria dos agentes do mercado possa sobreviver", disse. "No longo prazo, depois de um ano, não."


Do caderno New York Times de hoje, 18/11




Indigentes lotam necrotério em Déli


Por ELLEN BARRY
NOVA DÉLI - A maioria das pessoas desgarradas em Déli acaba aqui, em uma sala fria revestida de metal no necrotério Sabzi Mandi. Elas são postas em todas as superfícies disponíveis, incluindo o chão. Em alguns casos, partes dos corpos se projetam dos sacos plásticos em que os cadáveres são guardados. Em um canto, corpos estão apinhados no chão.
"Eles ficam empilhados", disse o médico legista do necrotério, L. C. Gupta. "Onde mais poderíamos colocá-los?"
Segundo funcionários do necrotério, raramente o governo fornece suprimentos, inclusive os mais básicos, como desinfetantes. Então, eles trazem sabão de casa para lavar as mãos após manusear os corpos, muitos dos quais estão infectados com tuberculose.
Em média, a polícia local registra a descoberta de mais de 3.000 corpos não identificados por ano -não por estarem irreconhecíveis, mas por não portarem documentos nem haver alguém para reconhecê-los.
Trata-se de um número extraordinário. Em Nova York, 1.500 sem-tetos ou indigentes são enterrados anualmente em valas comuns na ilha Hart, porém a média dos que permanecem sem identificação é de cerca de 50. Em Déli, é comum encontrar desconhecidos mortos. Por lei, fotos de seus cadáveres devem ser publicadas em jornais e afixados em delegacias de polícia, sob o cabeçalho dickensiano "Comunicado de Clamor Público".
O protocolo requer que o necrotério mantenha cada corpo por 72 horas, para que parentes tenham a possibilidade de ver os anúncios e reivindicar o morto, mas Gupta informou que isso raramente acontece. "Ninguém lê esses anúncios", disse ele.
Indagado se os policiais não deveriam investigar esses casos, Gupta deu um sorriso lacônico e respondeu: "Eles podem ou não tentar".
Esta cidade não é clemente com os pobres. Basta circular de carro à noite em Nova Déli para ver uma profusão de homens, mulheres e crianças dormindo ou tentando dormir encolhidos nas calçadas.
Essas pessoas -os "moradores de rua"- figuram em artigos ocasionais nos jornais sobre motoristas alcoolizados cujos veículos atropelam uma fileira de mendigos adormecidos.
Os mais desesperados se reúnem ao redor de templos, onde hindus praticantes costumam distribuir alimentos para os pobres após uma morte na família.
Mohammad Yamin, investigador da delegacia de polícia no Kashmere Gate, disse que frequentemente famílias abandonam parentes muito doentes no templo de Hanuman ali perto, pois não conseguem vagas para eles em hospitais públicos.
Mas a maioria dos mortos não identificados é do sexo masculino e parece vir de outro grupo: homens de vilarejos distantes, enviados para a cidade na adolescência ou na faixa dos 20 anos para ganhar dinheiro como condutores de riquixá ou mão de obra casual. Eles são abatidos pelas condições de vida inóspitas e as variações extremas de temperatura.
Harsh Mander, assistente social e ativista que encabeçou em 2010 uma análise de corpos não identificados em Déli, descobriu que a idade média dos homens que morriam sozinhos aqui era 42 anos.
Registros da polícia apresentam explicações muito vagas. Em geral, apontam a causa de morte como "natural", porém outros citam "doença/fraqueza", "devido a fome ou sede", "devido a calor ou frio extremo", "acidente", "tuberculose", "suicídio" ou, peculiarmente, "tipo mendigo". A polícia geralmente acha os corpos, muitas vezes totalmente nus, nas imediações de trilhos de trem ou em acostamentos de estradas. Certa vez, Yamin achou o cadáver de um homem e conseguiu descobrir sua identidade.
Ele levou o corpo até seu vilarejo de origem, onde seus tios ainda viviam. Porém, eles disseram secamente: "Há muitos anos e ainda jovem, ele vendeu sua casa e seus pertences. Seus pais já morreram. Faça o que achar melhor com o cadáver".

Do caderno New York Times da FSP de hoje, 11/11/14





Contra crise, Venezuela abre setor petrolífero


Acordos dão mais controle a parceiros estrangeiros
Por WILLIAM NEUMAN
MENE GRANDE, Venezuela - Em uma colina da qual se avista esta cidade abafada, em um pequeno poço pintado de amarelo, azul e vermelho, as cores nacionais, uma bomba se movimenta para cima e para baixo.
Aqui, o petróleo bruto flui pelos dutos do mesmo modo como acontecia há cem anos, quando este se tornou o primeiro poço bem-sucedido do país, abrindo caminho para que a Venezuela, então um sonolento grotão de cafeicultores e pecuaristas, se tornasse um dos países mais ricos em petróleo.
Hoje, a pouca distância deste histórico poço petrolífero chamado Zumaque 1, as ruas permanecem sem asfalto, e as pessoas vivem em casebres feitos com chapas de metal ondulado. Mesmo após mais de um século de petróleo sendo bombeado, o produto ainda está tão próximo da superfície que chega a jorrar do chão nesta cidade, numa negra e pegajosa lembrança da riqueza em meio à pobreza.
"Olhe para as riquezas da Venezuela", disse o operário Ramón Materán, 64, apontando para o petróleo bruto que escorre e se espalha pelo chão do seu bairro, chamado Baralt 1. Então, olhando ao redor para as ruas esburacadas e os barracos sem saneamento, ele disse: "Apesar de todas as riquezas da Venezuela, as coisas estão bastante abandonadas aqui".
A economia da Venezuela enfrenta dificuldades, e o mesmo ocorre com seu monopólio petrolífero administrado pelo governo, a Petróleos de Venezuela, ou PDVSA. A empresa precisou recorrer ao Banco Central para obter milhões de dólares em empréstimos. Já cogitou vender sua subsidiária americana, a rede de postos Citgo, e estuda elevar o preço da gasolina na Venezuela, que tem o combustível mais barato do mundo.
Essas mudanças vêm sendo feitas sem estardalhaço, gerando suspeitas de que o presidente Nicolás Maduro, no cargo há menos de um ano e meio, teria receio de que seus partidários as vejam como uma traição às medidas de expropriação dos interesses petrolíferos estrangeiros adotadas pelo presidente Hugo Chávez, morto em 2013.
Na esperança de aumentar o investimento e dar um salto na estagnada produção, a PDVSA assinou ou está negociando acordos financeiros com numerosas companhias petrolíferas estrangeiras que operam aqui. Esses acordos dão às empresas maior poder sobre as operações de extração e a compra de materiais e equipamentos, bem como maior controle sobre gastos e lucros, de acordo com pessoas familiarizadas com eles.
Estrangeiros não precisam mais agir por intermédio de subsidiárias controladas pela PDVSA, fonte frequente de atrasos e corrupção.
"Se a PDVSA de antigamente tivesse assinado algo assim, os chavistas a teriam acusado de traição", disse Francisco Monaldi, professor de política energética da Escola de Governo Kennedy, da Universidade Harvard.
"Esses contratos são assinados por necessidade", disse Carlos Bellorin, analista sênior da consultoria IHS Energy, de Londres. "Eles não têm fluxo de caixa suficiente para investir na exploração e produção ou para elevar a produção dos projetos existentes."
Embora as empresas petrolíferas continuem como parceiras minoritárias da PDVSA, os novos acordos lhes conferem um poder muito maior do que nos últimos anos quanto ao gerenciamento dos campos petrolíferos da Venezuela. O país tem as maiores reservas estimadas do mundo, e o petróleo representa mais de 95% da sua renda com exportações.
Mene Grande, com uma população de cerca de 21 mil pessoas, é onde teve início a era petrolífera no país. Em 1914, o Zumaque 1 -nome em espanhol da árvore sumagre, que crescia nos arredores- se tornou o primeiro poço bem-sucedido do país. Roberto Morón, 40, sócio em uma loja de material de construção, disse que Mene Grande deveria ter recebido mais do petróleo extraído de seu solo.
"As coisas aqui deveriam estar bem melhores", afirmou. "Há muitos poços aqui. Mene Grande dá, dá e não recebe nada em troca."


DA FSP em 3/11/14

MURO DE BERLIM 25 ANOS DEPOIS
MINHA HISTÓRIA NADJA SMITHD, 35





Uma agente em minha casa


Alemã lembra do dia em que o pai contou à família que era espião comunista, após a queda do muro, e do choque de visitar o lado capitalista de Berlim
LEANDRO COLONENVIADO ESPECIAL A BERLIM
RESUMO - A produtora de vídeo Nadja Smithd, 35, nasceu em Berlim Oriental. Seu pai era espião do regime comunista, o que ela só soube aos dez anos de idade, depois que foi derrubado o Muro de Berlim, em 1989. Smithd lembra o choque com a revelação, a emoção de visitar o lado capitalista e o efeito para sua família.
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A primeira ideia que todos têm da queda do Muro de Berlim é: "ah, estava todo mundo feliz". Não foi bem assim.
Muitas pessoas do lado comunista perderam seus empregos e tiveram que reconstruir suas vidas.
Meu pai era um espião da Stasi, a polícia secreta e de inteligência do governo da Alemanha comunista.
Eu e meus dois irmãos só descobrimos isso pouco depois que o muro caiu, em 1989. Meu pai, então com 34 anos de idade, reuniu os filhos para contar que perdera o emprego e qual era o seu trabalho.
Disse que era algo em que acreditava e afirmava se sentir traído.
Basicamente, o trabalho dele era vigiar os cidadãos. Por causa disso, não podia ter amigos. Era proibido.
Minha família implodiu com tudo isso e anos depois rompi o relacionamento com ele, que ficou louco porque queria compensar dentro da família o prestígio e o poder que não tinha mais.
Estou contando agora para você porque meu pai dificilmente ficará sabendo. Nunca falei sobre isso para jornais aqui na Alemanha para não me importunarem.
Por causa desse emprego na Stasi, tínhamos alguns privilégios, como telefone, um carro bem grande, um bom apartamento no centro de Berlim.
Eu não podia ver canais de televisão ocidental. Morria de medo de ser pega vendo algo, nem que fosse por acidente, trocando de canal.
Na cabeça do meu pai, ele estava nos protegendo dos inimigos.
As lembranças daquele período são, em sua maioria, boas, porque quando você é criança não entende direito o que está ocorrendo.
Todo mundo sabia na família que meu pai era da Stasi, menos as crianças, porque nós podíamos falar sem querer na rua.
Morávamos perto do muro. O lado ocidental podia ver o oriental pelas janelas dos apartamentos.
Do nosso lado, era tudo bloqueado.
Minha mãe trabalhava para o governo [da Alemanha Oriental] como servidora pública e também perdeu o emprego com a queda do muro.
Pelo menos conseguimos ficar com o apartamento.
Meu pai fez bico em indústria de medalhas por alguns meses. Não deu certo, era um trabalho braçal muito pesado para ele.
A saída foi montar uma empresa de carpintaria, para construir cozinhas, decoração de casas, portas de segurança.
A relação entre meus pais se deteriorou também e se divorciaram. Meu pai continua trabalhando na mesma área até hoje, mas o vejo muito pouco.
Eu lembro bem a primeira vez que atravessamos a fronteira para o lado ocidental, mais ou menos uma semana depois da queda do muro.
Nunca tinha visto estrangeiros e fiquei superassustada. Meu pai não entrou no shopping, só minha mãe e as três crianças.
Ela comprou um cachorro de pelúcia para os três, um só para os três.
E depois voltamos para o leste, superfelizes com o presente, mas contentes por voltar para casa.
Eu faço parte da terceira geração de nascidos no período do muro.
É uma geração que teve uma experiência traumática, afinal tudo que você aprendeu e acreditava depois passou a ser considerado errado. Passei a ter novos livros, novos professores.
Cerca de 3 milhões de pessoas nasceram nessa geração. Isso é um assunto ainda muito importante para quem nasceu no leste mesmo 25 anos após a queda do muro, o que não é para a mesma geração do Ocidente, que acha que isso já passou. Nós queremos melhorar esse diálogo.
O regime comunista tinha coisas boas, a relação entre as pessoas era mais próxima, havia mais emprego para as mulheres, mas uma pequena parte abusou, como o meu pai. E nós não podemos negar isso.


Do caderto New York Times de hoje 28/10/14







Cubanos fogem, de novo, para Miami


Por FRANCES ROBLES
MIAMI - Leonardo Heredia, um padeiro cubano de 24 anos, havia em oito ocasiões tentado chegar à Flórida.
Finalmente, ele e 21 amigos de seu bairro em Havana reuniram sua experiência e montaram um barco usando um motor Toyota, sucata de aço inoxidável e espuma de plástico. Guiados pelo GPS, conseguiram desembarcar na Flórida.
"O que era ruim em Cuba agora ficou pior", disse Heredia. "Se houvesse mais dinheiro em Cuba, todo mundo iria embora."
Heredia é um dos cerca de 25 mil cubanos que chegaram por terra e mar aos Estados Unidos sem vistos de viagem no período de um ano encerrado em 30 de setembro, segundo dados do governo. Ele também representa um inesperado regresso à época em que os cubanos viajavam em barcos caseiros, feitos com peças de carros velhos e câmaras de ar, na esperança de encontrar águas calmas e ventos favoráveis. Como o número de cubanos que tentaram fazer a viagem praticamente dobrou nos últimos dois anos, o total de embarcações impróprias para a perigosa travessia de 145 km também aumentou.
Desde a crise dos balseiros de 1994 os EUA não recebiam tantos migrantes cubanos. O atual aumento reflete uma política imigratória nos EUA que dá tratamento preferencial aos cubanos. Também mostra de forma crua a crescente frustração na Cuba pós-Fidel Castro.
"Acredito que haja um enorme êxodo silencioso", disse Ramón Saúl Sánchez, um líder dos exilados em Miami. "Estamos de volta àqueles tempos, como em 1994, em que as pessoas construíam pequenos dispositivos flutuantes, tendo parentes aqui ou não."
A Guarda Costeira dos Estados Unidos detectou 3.722 cubanos no último ano, quase o dobro do número de interceptados em 2012. Segundo o acordo de migração assinado em 1994, os migrantes capturados no mar são enviados de volta a Cuba. Os que conseguem alcançar terra firme podem permanecer.
Yannio La O, 31, treinador de luta livre em escola primária, chegou recentemente a Miami após ter problemas no seu barco e desembarcar no México. Ele e outras 31 pessoas saíram no final de agosto, no sul de Cuba. Tiveram problemas com o motor e ficaram 24 dias perdidos no mar.
Nove pessoas, incluindo uma mulher grávida, morreram e foram lançadas ao mar, e outras seis entraram em câmaras de ar e desapareceram antes que a Marinha mexicana resgatasse os sobreviventes. Mais duas pessoas morreram na praia. "Eu diria a todos em Cuba que venham. É preferível morrer de pé a viver de joelhos", disse La O.

Da BBC Brasil

Falta de bebês pode levar metade das cidades japonesas à extinção

Atualizado em  26 de agosto, 2014 - 04:16 (Brasília) 07:16 GMT
É verão e a cidade praiana de Onjuku, na província de Chiba, está lotada de turistas. A população local, que beira os 7,5 mil moradores, mais do que dobra nos meses de julho e agosto, auge da estação mais quente no Japão.
Mas Isamu Yoshida, 65, proprietário de uma loja de empanados fritos, não se entusiasma com as vendas, apesar de não ter concorrência.
"Não posso reclamar das vendas no verão. Porém, no restante do ano, praticamente fico no vermelho", conta à BBC Brasil o comerciante, que toca a pequena e antiga loja aberta pelos pais há mais de 50 anos.
Localizada a cerca de duas horas de trem da capital japonesa, Onjuku sofre de um problema comum a quase metade das cidades, distritos e povoados japoneses: a queda constante e crônica da população, que pode levar inclusive estes municípios à extinção.
"É triste ver a cidade definhando aos poucos", lamentou Yoshida. "Todo mês vemos no jornal local que o número de mortes é sempre maior do que o de nascimentos", contou.
Segundo estatística do governo japonês, a população de Onjuku diminui em média 0,5% ao ano. Em 1995, a população era de 8.129 pessoas. Em 2013, caiu para 7.632.


Se continuar neste ritmo, em 50 anos a população local será pouco mais de 2,5 mil pessoas.

Dificuldades

Segundo o relatório de uma subcomissão do Conselho de Política do Japão, quase metade dos municípios de todo o país poderá ter dificuldades para continuar operando normalmente até 2040.
O estudo deu especial atenção à população de mulheres com idade de 20 a 39 anos, pois elas são consideradas um fator-chave que irá determinar o futuro da população japonesa.
O grupo, liderado pelo ex-ministro de Assuntos Internos, Hiroya Masuda, definiu cidades, vilas e aldeias cujas populações provavelmente diminuirão em pelo menos 50% ao longo do período 2010-2040.
Pesquisadores da comissão explicaram à BBC Brasil que a estimativa foi feita com base em várias estatísticas do Instituto Nacional de População e Pesquisa da Segurança Social.
Hotel abandonado em Onjuku / Crédito: Ewerthon Tobace / BBC Brasil
Hotel abandonado perto da praia: os negócios na cidade não conseguem sobreviver
No total, 896 municípios, ou 49,8% do total do país, foram indicados como locais que podem desaparecer.
O relatório também alertou que 523 localidades cujas populações estão abaixo de 10 mil moradores – o que representa cerca de 30% do total – têm uma alta propensão a "quebrar" já nas próximas décadas, a menos que medidas eficazes sejam tomadas.
Onjuku, visitada pela reportagem da BBC Brasil, está entre estes municípios.
"Infelizmente, esse problema tem sido ignorado há muito tempo, porque ninguém quer falar sobre um futuro desfavorável. Agora, nós (japoneses) devemos reconhecer essa grave questão", comentou à reportagem uma fonte da subcomissão.

Cidade grande

Em contrapartida, a população nas grandes cidades tem aumentado, o que sugere que as pessoas estão deixando os pequenos municípios, onde quase não há oferta de emprego, para buscar oportunidades fora.
Kazuya Shiton, 25, de Onjuku, conta que está planejando deixar a casa dos pais e buscar um emprego melhor em Tóquio ou outra cidade maior.
O jovem, que trabalha na construção de vias públicas, explicou que o serviço atual é ruim e rende pouco dinheiro.
"Aqui também não há locais para lazer para os jovens", lembra. "Todos os meus amigos já se mudaram para outras cidades. Não vejo outra saída."
Para a subcomissão do Conselho de Política do Japão, o problema mais grave é que muitos destes jovens que vão para a capital japonesa não têm filhos.
"Criar uma criança em um ambiente como Tóquio é muito caro. Além da dificuldade de encontrar creches, a assistência é pouca para os pais, o que contribui para a baixa taxa de natalidade verificada na capital japonesa", explicou a fonte da subcomissão.
Para tentar resolver o problema, o governo japonês deve anunciar no próximo mês a criação de um comitê que vai tratar exclusivamente da regeneração de cidades do interior, focado principalmente na criação de postos de trabalho para jovens e no aumento da taxa de natalidade.

Contra a corrente

Por conta própria, o empresário americano Del Ricks abraça a ideia. Instalado em Onjuku apesar dos riscos econômicos, ele é só sorrisos.
Del Ricks e a companheira Kelly Cho / Crédito: Ewerthon Tobace / BBC Brasil
Casal não tem do que reclamar e diz que Onjuku pode até retomar a prosperidade
Há seis anos, Del Ricks e a companheira, a sul-coreana Kelly Cho, abriram um negócio praticamente de frente para a paradisíaca praia da cidade.
"Não tenho do que reclamar", falou. "Enquanto a maioria dos comerciantes locais trabalha mesmo apenas dois meses por ano, nós temos clientela fixa por oito meses."
Ricks dá aulas de surf, aluga equipamento para a prática do esporte, tem uma lanchonete e ainda oferece quartos para turistas.
"Meu público não é o local. Trabalho com pessoas que vêm de Tóquio", explicou.
Além dos turistas que curtem praia, o casal trabalha principalmente com surfistas – que frequentam a cidade quase o ano todo –, pescadores, mergulhadores e empresas que buscam lugares diferentes para fazer festas para os funcionários.
Para o norte-americano, Onjuku poderia se tornar um local atrativo se o governo investisse mais para trazer jovens empreendedores e aposentados que moram nas grandes cidades.
"Aqui, o custo de vida é muito mais barato, além de ser muito menos estressante", defendeu.

Essa é do final de julho, mas só vi hoje, 7/9/14









Falta de saneamento leva à desnutrição na Índia


Seus olhos estavam pintados com delineador preto espesso para afastar o mau-olhado, mas, mesmo assim, o pequeno Vivek, de 1 ano, morador de um vilarejo de casebres de barro, tinha sido vitimado pelo grande flagelo da desnutrição que acomete a Índia.
Seus pais pareciam estar fazendo tudo certo. Sua mãe ainda o amamentava. Sua família tinha seis cabras, acesso a leite fresco de búfala e dezenas de quilos de trigo e batatas em casa. A mãe de Vivek disse que lhe dá de comer tanto quanto ele consegue ingerir e que o levou quatro vezes a médicos, que diagnosticaram desnutrição.
Então por que Vivek é desnutrido? A pergunta está sendo feita sobre crianças em toda a Índia, país cujo "boom" econômico não vem ajudando muito a reduzir o número de crianças desnutridas e atrofiadas. O retardo de crescimento as deixa com deficits mentais e físicos. Agora estudos científicos sugerem que Vivek e muitas das outras crianças de até 5 anos no mundo -162 milhões delas- que estão desnutridas sofrem não tanto pela falta de alimentos, mas de saneamento básico.
Como quase todos em seu povoado, Vivek e sua família não têm banheiro. O distrito em que vivem possui a maior concentração de pessoas que defecam ao ar livre. O resultado é que as crianças são expostas a um caldo bacteriano que muitas vezes as deixa doentes.
"Os corpos das crianças desviam energia e nutrientes do crescimento e do desenvolvimento cerebral para priorizar a sobrevivência e o combate à infecção", disse Jean Humphrey, da Escola Johns Hopkins Bloomberg de Saúde Pública, em Maryland. "Quando isso acontece nos dois primeiros anos de vida, a criança sofre retardo no crescimento. A perda de altura e inteligência são permanentes."
Dois anos atrás a Unicef, a Organização Mundial de Saúde e o Banco Mundial divulgaram um grande relatório sobre desnutrição infantil focado exclusivamente sobre a falta de alimentos. O saneamento não foi mencionado. Hoje, autoridades da Unicef e de grandes organizações beneficentes disseram em entrevistas acreditar que a falta de saneamento básico pode ser a causa de mais de metade do problema de retardo de crescimento em todo o mundo.
Uma criança criada na Índia tem muito mais chances de ser desnutrida que uma criança na República Democrática do Congo, em Zimbábue ou na Somália, os países mais pobres do planeta. O atrofiamento por retardo no crescimento afeta 65 milhões de crianças indianas de até 5 anos, incluindo um terço das crianças das famílias mais ricas do país.
Pelo menos 620 milhões de pessoas defecam ao ar livre. E, embora esse número tenha caído ligeiramente nos últimos dez anos, uma análise de dados do censo mostra que, devido ao crescimento demográfico acelerado, a maioria dos indianos está exposta a mais dejetos humanos do que jamais esteve no passado. Milhões de pessoas se banham no rio Ganges, mas quase 75 milhões de litros diários de dejetos humanos fluem diretamente para o rio.
O retardo de crescimento contribui para a morte de 1 milhão de crianças de até 5 anos todos os anos. E as crianças que sobrevivem sofrem deficits cognitivos e são mais doentias que as crianças não afetadas pelo retardo de crescimento. Também podem enfrentar risco maior de doenças de adultos como diabetes, ataques cardíacos e derrames cerebrais.
"O problema do retardo de crescimento na Índia representa a maior perda de potencial humano em qualquer país na história", disse Ramanan Laxminarayan, vice-presidente de pesquisas e políticas da Fundação de Saúde Pública da Índia.
A defecação ao ar livre é um problema milenar na Índia. Alguns textos hindus da antiguidade aconselham as pessoas a fazer suas necessidades longe de casa. "A causa de muitas de nossas doenças é a condição de nossos banheiros e nosso mau hábito de jogar excrementos em todo e qualquer lugar", escreveu Gandhi em 1925.
Outros países em desenvolvimento já conquistaram avanços enormes no saneamento. Apenas 1% dos chineses defeca e urina ao ar livre, contra metade dos indianos. As atitudes podem ser igualmente importantes. Uma pesquisa recente constatou que muitas pessoas na Índia preferem fazer suas necessidades ao ar livre. "Precisamos de uma revolução cultural neste país para mudar completamente a atitude das pessoas em relação ao saneamento e à higiene", disse Jairam Ramesh, economista e ex-ministro do Saneamento.
O governo indiano se esforça há décadas para resolver o problema de desnutrição no país, distribuindo volumes imensos de alimentos subsidiados. Hoje a Índia gasta US$ 26 bilhões (R$ 57,2 bi) anuais com programas de alimentação e empregos e menos de US$ 400 milhões (R$ 880 mi) na melhora do saneamento básico.
A falta de alimentos ainda é um fator importante que contribui para a desnutrição infantil. Para alguns, a adesão repentina ao argumento do saneamento é exagerada.
Estudos em vários países estão avaliando a parcela do retardo de crescimento que pode ser atribuída à falta de saneamento básico. "É 50%? 90%? Valeria a pena ter a resposta", disse Stephen Luby, professor de medicina na Universidade Stanford, na Califórnia. "Enquanto isso, acho que todos podemos concordar que não é boa ideia criar crianças cercadas de fezes." 

Da Folha de hoje, 6 de julho de 2014

FLAVIO FLORES DA CUNHA BIERRENBACH
TENDÊNCIAS/DEBATES
Palestina
Ainda que não exista um povo palestino, o pensamento politicamente correto, que não costuma frequentar a razão, adotou a expressão
Não existe povo palestino. A Palestina é uma região geográfica, assim como a Patagônia ou o Pantanal. Seu nome vem do Império Romano. Era a forma como as legiões romanas se referiam aos sítios áridos do Oriente Médio, à estreita faixa de terra que se estende da franja do Mediterrâneo ao mar da Galileia e ao Mar Morto, delimitada ao norte pelas colinas de Golã e pelos montes do Líbano, e ao sul pelo deserto do Sinai e pelo golfo de Eilat. Antes, o pequeno território era conhecido pelos nomes atribuídos, desde tempos bíblicos, às suas sub-regiões, como a Galileia, a Judeia e a Samaria.
A expressão "povo palestino" é nova. Fruto de jogada magistral de marketing de Yasser Arafat, foi incorporada aos poucos e acabou digerida a contragosto por Israel, na vã esperança da paz, no amplo contexto dos acordos de Oslo, do espetáculo da entrega simultânea dos prêmios Nobel da Paz e do cansaço.
O preço tem sido caro, pois, embora seja fácil comprovar com argumentos históricos, geográficos, antropológicos, literários e até religiosos, a inexistência de um povo palestino, o pensamento único politicamente correto, que não costuma frequentar a razão, adotou-a.
Entretanto, sob qualquer critério utilizado pelas ciências sociais, não se identificará nos agrupamentos humanos agora chamados de "povo palestino" característica capaz de incorporar conceitos elementares aplicados à tentativa racional de definir o que seja um povo.
Como o Estado moderno afirma que todo poder vem do povo e em seu nome é exercido, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) não demorou a perceber que a utilização política da expressão "povo palestino" significaria a melhor fonte possível de legitimação do poder.
Entretanto, não faz muito tempo, quando seus integrantes se dedicavam ao ofício de explodir aviões de passageiros, ninguém se atrevia a usá-la; naquela época, isso soaria estranho até à ética peculiar do Fatah. Expulsa da Jordânia e inadaptável a qualquer outro país árabe, a organização de Yasser Arafat buscava apenas um território para exercer poder político. Nele, abrigaria grupos díspares e dispersos (Jihad, Hizbullah, Hamas), cujo singular fator de unidade era e é o ódio a Israel.
O antissemitismo é a mais antiga, renitente e perversa forma de preconceito. Foi matriz da diáspora, da Inquisição e do genocídio. Depois da Segunda Guerra Mundial, quando sobreviventes do holocausto migraram para a Palestina, unindo-se aos milhares de judeus que já residiam lá, e com a instituição do Estado de Israel, o antissemitismo vestiu uma camuflagem conveniente; apenas mudou de nome. Passou a chamar-se antissionismo.
Varrer Israel do mapa era um artigo programático do estatuto da OLP. Aniquilar os judeus, a "solução final" engendrada por Hitler, e executada em Auschwitz, Buchenwald, Dachau e alhures, continua a ser o objetivo de pessoas, grupos, organizações terroristas e até de Estados.
A Constituição diz que o Brasil repudia o terrorismo, o racismo, preconceitos e discriminações. Seja nas Nações Unidas, seja em qualquer foro, mais do que identidades ideológicas fugazes ou laços pessoais oportunistas, são esses fatos irrefutáveis que devem ser levados em consideração na adoção de qualquer posição oficial brasileira que diga respeito à região denominada Palestina.



Mudando o foco, Europa. Artigo do Clovis Rossi, hoje, 29 de maio de 2014, na Folha

CLÓVIS ROSSI
A Europa vai se suicidar?
Crescimento dos partidos xenófobos e eurofóbicos não deve permitir nem complacência nem histeria
É assustador o avanço dos partidos eurofóbicos e xenófobos nas eleições de domingo (25) para o Parlamento Europeu, mas o pior que poderia acontecer seria deixar-se tomar pela histeria.
Um olhar não histérico sobre a votação dirá que, sim, é horrível que a extrema direita tenha passado de 56 eurodeputados, em um total de 736, para 108 em 751, que é a nova composição da Eurocâmara. Praticamente dobrou, portanto.
Mas, ainda assim, não passam de 14% do total. Mais: na metade dos 28 países europeus, não se elegeu nenhum eurofóbico (Espanha, Romênia, República Tcheca, Portugal, Bulgária, Eslováquia, Croácia, Irlanda, Letônia, Eslovênia, Chipre, Estônia, Luxemburgo e Malta).
Ou seja, a xenofobia/eurofobia, irmãs siamesas, não é um fenômeno generalizado. Na lista estão dois dos países mais espancados pela crise (Espanha e Portugal). Em Portugal, perdeu o partido do governo, mas subiu o seu adversário tradicional (o Partido Socialista).
Na Espanha, perderam votos os partidos sempre majoritários (conservador e socialista), mas surgiu um grupo ("Podemos") que representa os "indignados", para nada xenófobo.
Mesmo na Grécia, devastada pela crise e pelo austericídio, perdeu o governo, mas ganhou a Syriza (Coligação de Esquerda Radical), que não é contra a Europa e menos ainda xenófoba, ao contrário, aliás.
Mesmo na França, em que, aí sim, o susto foi espetacular, com a vitória da Frente Nacional, é preciso cautela ao imaginar que se trata do início de crescimento imparável que acabará depositando Marine Le Pen no Palácio do Eliseu.
É bom lembrar que, em 2002, a FN foi para o segundo turno da eleição presidencial, deixando o Partido Socialista para trás, mas acabou triturada no voto final.
O outro partido eurofóbico de sucesso no domingo (o Ukip, Partido pela Independência do Reino Unido) cresceu em número de conselheiros (espécie de vereadores) nas eleições locais, simultâneas com as europeias, mas não elegeu um único presidente de conselho.
O eleitor parece achar que o Parlamento Europeu não interfere diretamente na sua vida e, portanto, pode despejar nele qualquer loucura. Mas, na hora de escolher para seu próprio país, vota nos partidos clássicos.
Feitas todas as ressalvas, não há, no entanto, lugar para a complacência. Como diz Joaquín Almunia, vice-presidente da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, "não mudar nada depois dos resultados da eleição seria suicídio".
Afinal, parece ter razão o sociólogo espanhol Jordi Vaquer ao escrever, para "El País", que os eleitores "não estão fartos da Europa, mas DESTA Europa", ou seja, da Europa do austericídio.
Mensagem recolhida pelo grande vencedor de domingo, entre os partidos convencionais, o presidente do Conselho de Ministros italiano, Matteo Renzi: está propondo uma "ope­ra­cão key­ne­sia­na", com es­tí­mu­los e in­vestimentos, além de uma convenção constitucional para relaxar as rígidas regra­s fiscais da eu­ro­zo­na. A ver, pois, se a Europa se suicida ou não.

Mais uma sobre a Índia, vinda do caderno NYT da Folha de hoje, 27 de maio de 2014

ANÁLISE - ELLEN BARRY
Eleitores votam por mudança na Índia
Há seis meses, quando as eleições indianas mal despontavam no horizonte, um condutor de riquixá falava sobre a situação do país.
Havia algo de incomum e um pouco feroz no que dizia; sua queixa não era específica dos motoristas de riquixás, ou mesmo dos trabalhadores pobres. Soava como a reclamação de um cidadão genérico.
"Os membros do Partido do Congresso dizem todas as coisas certas, mas veja a condição do país -outros países foram muito mais longe nos últimos 60 anos. Por que não temos melhores postos de saúde, instituições de ensino, estradas? Por quê? Quem responde por isso?"
Um número suficiente de eleitores acreditou que o Partido Bharatiya Janata (BJP) tinha as respostas: ele conseguiu um histórico mandato na eleição geral realizada entre 7 de abril e 12 de maio, obtendo 282 dos 543 assentos parlamentares, mais do que o necessário para formar o governo.
A Índia que foi às urnas é imensa, agitada e cheia de aspirações. Agricultores gastam até a última rupia que ganham para mandar seus filhos a escolas particulares, na esperança de que eles possam conseguir um emprego num escritório.
Muitas dessas pessoas participaram dos comícios de Narendra Modi, o candidato do vitorioso BJP. Os eventos começavam em clima de festa no interior. Modi abria seus discursos dedicando palavras carinhosas aos seus seguidores.
Havia vezes em que sua agenda lotada podia ser notada na expressão esgotada, mas ele colhia forças do mar de rostos voltados para ele, e os comícios terminavam como um vociferante ataque ao "status quo".
Essa não era a briga para a qual o Congresso Nacional Indiano tinha se preparado, depois de governar durante uma década que foi marcada pelo aumento da renda. No fim do ano passado, Ajay Maken, um dos principais líderes do partido, parecia serenamente confiante a respeito da mensagem a ser transmitida aos eleitores.
Não era uma mensagem baseada em promessas vagas para o futuro, explicou, e sim em coisas concretas que o Congresso já havia feito para "os mais pobres dos pobres". Maken falava sobre leis importantes, sendo a mais ambiciosa delas um projeto que estabeleceu o direito legal à comida para a maioria da população da Índia, o que pode custar US$ 20 bilhões (R$ 44,2 bilhões) por ano.
O projeto foi visto como um rolo compressor eleitoral, que poderia garantir os votos de 148 milhões de pessoas que estão abaixo da linha de pobreza, num total de 814 milhões de eleitores.
Por que não funcionou? Uma razão é que os próprios pobres da Índia mudaram, adotando atitudes e preocupações antes associadas à classe média.
Os indianos estão migrando para as cidades em grande número; mas mesmo aqueles que permanecem nos vilarejos, navegando pela internet com smartphones baratos, estão cada vez mais próximos da maneira como os urbanos pensam.
A infraestrutura dilapidada, há muito tempo tolerada, agora é intolerável. Eles querem empregos.
Há várias gerações, os políticos do Congresso focam fortemente no eleitorado rural, disse K.C. Sivaramakrishnan, coautor do livro "A Handbook of Urbanization in India" ("Um Manual de Urbanização na Índia").
"Há uma certa atitude política que tem perdurado há muito tempo -que o rural é bom, que o rural é simples, que o rural é natural, é bonito", disse Sivaramakrishnan, citando uma crença que remete a Mohandas Gandhi.
Mas esta foi uma eleição nas cidades também, lugares com shoppings de mármore, famílias de migrantes morando sob viadutos e exércitos de alfaiates, ferreiros, serralheiros, sapateiros, motoristas e empregadas.
Os eleitores urbanos há muito tempo eram vistos como um grupo apático. Mas isso acabou sendo totalmente desmentido: o comparecimento às urnas nas cidades disparou quase dez pontos percentuais em comparação a 2009, subindo de 53% para 62%.
O paradoxo para o Congresso é que o partido perdeu parte dos eleitores que mais prosperaram durante sua década no poder. Gaurav, o motorista de riquixá que saiu de uma zona rural em Uttarakhand para morar em Nova Déli, é um exemplo.
Ele reconheceu que está melhor do que seu pai, pois conseguiu comprar um celular e uma TV e tem acesso a bons hospitais. Mas não estava feliz. As vias congestionadas da cidade se tornaram uma frustração para ele.
"Meu desejo é montar algum negócio, para não ficar nessa situação precária -ganhando para comer a cada dia", disse Guarav, que usa apenas um nome.
Ele decidiu apoiar Arvind Kejriwal, o inflamado líder do Partido Aam Aadmi, que cresceu a partir dos protestos populares contra a corrupção.
Mas foi Modi quem conseguiu se conectar com esta Índia cheia de aspirações. Fez isso em parte ao se apegar a suas origens humildes como filho de um vendedor de chá, desdenhando da aristocrática família Nehru-Gandhi.
Num comício em Uttarakhand, milhares de pessoas se espremiam sob uma tenda gritando o nome de Modi. "Coisas que o Congresso não fez em dez anos ele fará", disse Deepak Kumar, 17.
"Os aumentos de preços não param, mas esperamos que Modi consiga segurá-los. Ele vai melhorar a educação. Ele vai limpar o rio Ganges. Há muita sujeira no Ganges."
"Existe muita sujeira em todo lugar", disparou seu amigo Mohit Dhariwal, 14. "Ele vai limpar." Como fará tudo isso? Kumar deu de ombros; não fazia a menor ideia. Mas disse que "se ele não cumprir, vai ser expulso depois de cinco anos" de mandato

Não é fácil entender a Índia. E é por coisas assim que eu me recuso a ver o país como esse paraíso místico que tantos enxergam. Da Folha de São Paulo de ontem, 18 de maio.

Trabalho sujo
Índia ainda tem 1,3 milhão de catadores de excrementos, responsáveis por limpar as fezes de 15 milhões de pessoas
PATRÍCIA CAMPOS MELLOENVIADA ESPECIAL A FARRUKH NAGAR (ÍNDIA)Quando completou 13 anos, a indiana Sudhira, 60, se casou em seu vilarejo. De sua sogra, recebeu uma "herança" em vida: uma cesta de bambu, uma pá, uma vassoura e 60 casas para limpar. A partir daquele momento, o emprego de Sudhira seria limpar o excremento das pessoas do vilarejo, todos os dias. "Da primeira vez que tive de tirar o cocô com a mãos, o cheiro era tão horrível, que eu vomitei", contou à Folha.
Quarenta e sete anos depois, Sudhira continua limpando excrementos. Acorda às 7h e começa sua ronda. Na primeira casa, vai até o fundo do terreno, onde fica o "banheiro" --um buraco raso no chão, cercado por uma parede baixa de tijolos.
Cheira muito mal. Em meio a uma nuvem de moscas, Sudhira se agacha, retira os excrementos com uma pá, que segura na mão sem luva. Junta um pouco de folhas, terra e cinzas e põe em cima das fezes. Recolhe esse bolo de excrementos com a pá e põe na cesta que leva sobre a cabeça. Às vezes, escorre.
Sudhira recebe 20 rúpias (US$ 0,30) e um pão roti de cada casa. Limpa quatro latrinas por dia e, em outras 10 casas, retira o lixo e os excrementos de animais. Ninguém encosta em Sudhira, porque ela é considerada "poluída".
Há 1,3 milhão de pessoas na Índia que são "catadores de excrementos" como Sudhira. Elas pertencem a uma casta de intocáveis.
Neste país que é uma potência e já mandou um foguete para Marte, cerca de 600 milhões de pessoas fazem suas necessidades ao ar livre, no mato. Outras 15 milhões usam as chamadas "latrinas secas", que nada mais são do que buracos no chão usados por toda a família para fazer suas necessidades. São limpos por pessoas da casta dos intocáveis, os dalits. As mulheres são 98% dos catadores de excrementos.
Andando pelo vilarejo com a catadora Saraswati, 45, vê-se lixo por toda parte, amontoado em pilhas altas, com porcos e vacas "pastando" nos detritos. É lá que ela joga os excrementos que recolheu na bacia que leva na cabeça. Não há coleta de lixo.
Segundo dados do Banco Mundial, uma em cada dez mortes da Índia se deve à falta de saneamento básico --ou seja, cerca de 780 mil indianos por ano.
Em junho de 2011, o primeiro-ministro, Manmohan Singh, disse que a atividade de catar excrementos manualmente era "uma das maiores manchas no processo de desenvolvimento da Índia" e prometeu eliminar a prática até o fim daquele ano.
O governo já aprovou duas leis que proíbem esse tipo de trabalho, em 1993 e 2013, mas os avanços são lentos.
"O governo deveria aumentar a fiscalização e impor punições mais severas para quem empregar catadores de excrementos", disse Bezwada Wilson, coordenador do SKA, um movimento nacional para a erradicação da coleta manual de excrementos.
VERGONHA
O maior empregador de catadores de excrementos da Índia é o sistema ferroviário.
São 178 mil vagões de trens, cada um com quatro banheiros. Não existe nenhum tratamento. A pessoa faz suas necessidades, e os excrementos caem sobre os trilhos. O catador de excrementos limpa.
"Meu irmão trabalhou nas ferrovias da Índia limpando cocô por 18 anos; ele tinha vergonha, dizia para a mulher dele que trabalhava nas minas de ouro", conta Wilson.
"As ferrovias indianas são o maior esgoto a céu aberto do mundo", admite Jairam Ramesh, ministro do Desenvolvimento Rural da Índia. "Todos os trens comprados agora vêm equipados com banheiros químicos e estamos adaptando os antigos, mas leva tempo", diz.
O governo dá 10 mil rúpias (US$ 200) para famílias construírem privadas com fossa. Segundo Ramesh, foram construídos 6 milhões de privadas de 2013 para cá.
Trata-se de uma questão de segurança também. Segundo levantamento do Estado indiano de Bihar, 400 mulheres teriam escapado de ser estupradas em 2012 se houvesse privadas nas casas. Isso porque cerca de 40% dos estupros ocorreram quando as mulheres iam para o mato fazer suas necessidades.
Mas não basta melhorar o saneamento básico para eliminar a coleta manual de excrementos. É preciso treinar os catadores para que eles possam ter outra atividade.
A Sulabh International, por exemplo, ensina 400 catadoras de excrementos do Rajastão e Uttar Pradesh a costurar, fazer bolsas, tapetes e bordados, além de lhes dar uma ajuda financeira.
"Quando comecei a trabalhar com os intocáveis, 40 anos atrás, foi uma revolução; na minha família, quem encostava em dalit tinha que tomar urina de vaca para se purificar", diz o fundador da Sulabh, Bindeshwar Pathak.
Ele é um brahma, casta mais alta da Índia, e desenvolveu um vaso sanitário com fossa que pode ser construído por US$ 30. Mantém, ainda, um museu da privada em Nova Déli.
Usha Chaumar, 35, foi "libertada" em 2003, quando se juntou ao programa. Hoje faz roupas para vender. "Agora pessoas de casta superior me chamam para conversar e até pegam na minha mão", disse ela, que catava excrementos desde os 7 anos. Mas o preconceito ainda está lá.
"As pessoas nunca vão contratar balmikis [casta inferior] para limpar a casa delas ou lhes fazer comida; por isso, nós damos treinamento", diz Wilson.
"O sistema de castas está lá, e se espera que eles cumpram esse que seria seu "karma" na vida: limpar a merda dos outros", afirma.


    Do caderno NYT da FSP de hoje, 13/5/14

    Enterrando Tchernobyl
    Por HENRY FOUNTAIN
    TCHERNOBYL, Ucrânia - Tendo ao fundo um horizonte de construções em decadência, uma obra de engenharia singular está sendo erguida perto dos resquícios do pior desastre nuclear civil do mundo.
    Com grossas lajes de concreto protegendo-os contra a radiação, operários estão construindo um arco enorme, revestido de hectares de aço inoxidável reluzente.
    O plano é, em 2017, empurrar sobre almofadas de teflon o arco de 29 mil toneladas para que cubra o abrigo improvisado que foi construído para sepultar os resquícios radiativos do reator que explodiu e queimou no local em abril de 1986.
    Ao praticamente eliminar o risco de contaminação atmosférica adicional, o arco vai acabar com a ameaça ainda presente de uma repetição, mesmo que limitada, daquele pesadelo de 28 anos atrás, quando a precipitação radiativa envenenou a planície por quilômetros em volta da usina, convertendo vilarejos em cidades fantasmas.
    O arco também vai permitir o início da etapa final da limpeza de Tchernobyl -a retirada dos escombros do reator, fortemente contaminados, para um local de armazenagem segura permanente.
    O fato de que esse trabalho sairá de mãos internacionais para as da Ucrânia traz novos receios, especialmente neste momento em que a Rússia ameaça as fronteiras do país. Por enquanto, porém, a construção do arco é um sinal de progresso.
    Com vários países discutindo o futuro da energia atômica como uma maneira de reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa, o arco também serve para lembrar que a energia nuclear, não obstante todos seus benefícios, possui riscos enormes. Quando alguma coisa dá errado, seguem-se dificuldades imensas.
    A contenção e a limpeza após desastres nucleares levam a capacidade da engenharia até o limite, como também o Japão está descobrindo desde os derretimentos na usina nuclear de Fukushima, em 2011.
    Os custos são enormes. Apenas o arco de Tchernobyl custará cerca de US$ 1,5 bilhão (R$ 3,33 bilhões), financiado em grande parte pelos Estados Unidos e 30 outros países. E para tornar o local de um desastre radiativo realmente seguro outra vez podem ser necessárias várias gerações.
    Os engenheiros projetaram o arco de Tchernobyl para resistir por cem anos; eles estimam que esse pode ser o tempo necessário para limpar a área por completo.
    Mas sempre houve dúvidas sobre o engajamento de longo prazo da Ucrânia, e as tensões e turbulência política com a Rússia levantam novas preocupações. Assim, é possível que nem um século seja suficiente.
    Mas o arco é uma estrutura formidável, disse Vince Novak, diretor de segurança nuclear do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, que administra o financiamento da obra. Se for preciso, disse ele, "pode durar 300 anos ou mais".
    O acidente de Tchernobyl expeliu material radioativo em todas as direções. A explosão foi seguida por um incêndio que liberou ainda mais contaminantes na atmosfera, que foram levados pelos ventos para a Europa ocidental.
    Desse modo, a tragédia difere dos dois outros grandes desastres da energia nuclear -o da usina de Three Mile Island, na Pensilvânia, em 1979, e o da usina de Fukushima, três anos atrás.
    Nos dois casos, os núcleos dos reatores derreteram, mas o combustível nuclear ficou dentro das estruturas de contenção.
    Os quatro reatores de Tchernobyl não tinham essa contenção. E o controle da reação de fissão nuclear era temperamental. Sob determinadas condições, a energia do reator podia sair de controle rapidamente.
    Foi isso o que aconteceu em 26 de abril de 1986 na Unidade 4 de Tchernobyl, durante um teste imprudente. A energia do reator aumentou exponencialmente em segundos, e o núcleo foi explodido por vapor.
    Alguns trabalhadores morreram imediatamente, mas a maioria dos técnicos da Unidade 4, além dos bombeiros que atenderam ao pedido de socorro, sofreu morte agonizante nas semanas seguintes.
    Oficialmente, várias dezenas de pessoas morreram e muitas outras adoeceram. A radiação também foi o motivo para milhares de cânceres posteriores.
    Imediatamente após o desastre, as autoridades soviéticas levaram militares para combater o incêndio no reator e retiraram os moradores dos vilarejos próximos e da cidade de Pripyat, onde vivia a maioria dos profissionais da usina, com suas famílias. Foram contratados operários para construir a toque de caixa o abrigo de concreto e aço chamado de "sarcófago".
    Quando o nível de exposição deles à radiação subia demais, os operários eram substituídos por outros. Mais de meio milhão de pessoas, ao todo, participaram do trabalho inicial de limpeza.
    Ainda há uma zona de exclusão de 2.600 quilômetros quadrados em volta da usina. Embora os níveis de radiação tenham caído um pouco graças ao processo natural de decadência radiativa, a área segue virtualmente vazia.
    Em Pripyat, onde antes viviam 45 mil pessoas, a pintura dos murais do centro comunitário está descascada e uma árvore está crescendo no meio do piso de um ginásio de esportes. Situada perto da fronteira norte da Ucrânia, Tchernobyl fica longe da Crimeia e outros territórios disputados.
    O trabalho do especialista em radiação Artur Korneiev, 65, era localizar o combustível dentro do sarcófago e determinar os níveis de radiação, para limitar a exposição de outros trabalhadores.
    Hoje em dia Korneiev trabalha na unidade administrativa do projeto, mas, devido à sua saúde -ele tem cataratas e outros problemas ligados à exposição à radiação que sofreu nos três primeiros anos-, não pode mais entrar dentro da usina. Ele explica, brincando: "A radiação soviética é a melhor radiação do mundo".
    Korneiev foi uma das primeiras pessoas a alertar especialistas ocidentais que o sarcófago estava em mau estado. Alarmado com a possibilidade de outra grande liberação de radiatividade, o G7 concordou em 1994 em financiar os trabalhos para garantir a segurança da Unidade 4.
    Mas a conclusão da construção do arco vai exigir outras várias centenas de milhões de dólares dos países doadores.
    Para Nicolas Caille, diretor de projeto da Novarka, o consórcio de construtoras francesas que está construindo o arco, esse trabalho é diferente de qualquer outro. "Qual tem sido o maior desafio?", perguntou. "Tudo, simplesmente cada coisa."
    Ele explicou que é preciso controlar a ferrugem para manter uma estrutura de ação em pé por mais de um século. "Pintura", ele disse. "A torre Eiffel, por exemplo, é pintada a cada 15 anos.
    Mas quando o arco estiver posicionado sobre o reator arruinado da Unidade 4, os níveis de radiação serão altos. Não haverá meio seguro de operários rasparem e repintarem o revestimento da estrutura ou suas amarras.
    Deixado sem proteção, o aço enferrujará, e a estrutura acabará por se deteriorar. Tanto a parte externa quanto a interna estão sendo revestidas de aço inoxidável, à prova de ferrugem.
    O americano Laurin Dodd, que deixou a Ucrânia recentemente depois de atuar como gerente geral do projeto do arco, disse que, depois de o arco ter sido posicionado, o plano é que a Ucrânia comece a retirar as estruturas instáveis e o combustível restante.
    Isso impedirá a radiação de chegar ao lençol freático, o que colocaria em risco o abastecimento de água dos 3 milhões de habitantes de Kiev. A Ucrânia também precisa construir um repositório para todos os dejetos de alto nível que recuperar.
    Mas, mesmo que haja dinheiro suficiente para isso, restam dúvidas técnicas quanto à possibilidade de o trabalho ser realizado.
    Em Three Mile Island, todo o combustível ficou dentro do recipiente de contenção. Mesmo assim, foi preciso mais de dez anos, para removê-lo em segurança, usando controle remoto.
    Será uma tarefa mais complexa retirar o combustível e o lixo da Unidade 4, dilacerada pela explosão e destruída pelo incêndio e os esforços para contê-lo.
    Antes da turbulência, disse Novak, já havia receios em relação a pedir mais dinheiro aos doadores. "Mas o risco de deixar este programa inteiro inacabado é uma perspectiva que acho que ninguém quereria contemplar", ele afirmou.


      Também da excelente edição do Estadão em 04 de maio de 2014

      Altas calorias

      Exportação de carne de vacas 'sagradas' inflama eleições indianas

      04 de maio de 2014 | 2h 07

      Paulo Nogueira* - O Estado de S.Paulo
      Na Índia, a maior democracia do planeta, tudo é tamanho família, incluindo a duração das eleições: 814 milhões de indianos começaram a votar no dia 7 de abril e só vão parar em 12 de maio, depois de nove etapas sucessivas. Desta vez, o tema decisivo é o tabu das vacas sagradas - se elas devem ou não ser abatidas e exportadas. Em outras palavras, em pleno século 21 quase 1 bilhão de pessoas decidem o destino de seu país pensando na morte da bezerra.
      O favorito para novo primeiro-ministro é Narendra Modi, líder do partido Janata, de índole nacionalista. Do outro lado da queda de braço está o Partido do Congresso Indiano, do atual premiê, Manmohan Singh, o primeiro não hindu a chefiar o governo de Nova Délhi. É aí que mora o perigo.
      O Executivo laico de Singh promoveu como nunca a exportação de carne bovina, que em apenas quatro anos aumentou 44% e, com 4 milhões de toneladas anuais, já ameaça a primazia do Brasil no setor. Por isso, basta Modi se empoleirar em um palanque para cuspir fogo: "O Partido do Congresso prometeu uma revolução verde, mas o que entregou foi uma revolução vermelha, de tanto sangue".
      A controvérsia é apenas o mais momentoso dos pepinos de ordem étnica e cultural com que se debate a nova Índia velhinha em folha - na vanguarda da ciência em diversos campos, com Bollywood produzindo mais filmes que Hollywood, crescimento econômico de 5% e uma baciada de Prêmios Nobel. Há uns anos, virou clichê a afirmação de que o Brasil era uma "Belíndia", uma estrovenga nacional em que se acotovelavam o progresso de uma Bélgica e o atraso de uma Índia. Hoje, a própria Índia é uma Belíndia.
      Bons exemplos desse samba do crioulo doido em forma de país são dois episódios recentes. Há pouco mais de duas semanas, o Supremo Tribunal da Índia determinou que os transexuais são um "terceiro gênero". Assim, o governo deverá emitir passaportes e carteiras de motorista que contemplem o novo gênero, bem como introduzir a "discriminação positiva", com quotas reservadas nas universidades e no funcionalismo público. Ora, na mesma altura, uma jovem de 19 anos foi estuprada por 13 homens na província de Bengala, um "castigo" ditado pelo conselho de anciãos do vilarejo. Seu crime foi namorar um rapaz de outra tribo, de origem muçulmana. Na Índia, o abuso de mulheres é tragicamente corriqueiro - no ano passado, chocou o mundo a morte de uma jovem que foi jogada na rua de um ônibus em movimento, depois de violentada pelos passageiros.
      Nesse contexto tão melindroso, é óbvio que o estatuto das vacas sagradas não se reduz a uma história para boi dormir. A proibição de sacrificar e consumir carne bovina na Índia é o que o antropólogo Marvin Harris chamou na obra clássica Good to Eat de "o mais célebre dos hábitos alimentares irracionais". Num país de 1 bilhão e 150 milhões de habitantes (que em 2035 superará a China como nação mais populosa do mundo), quase um terço da população vegeta abaixo da linha da pobreza - mais de 316 milhões de almas.
      Acontece que a Índia tem também a segunda maior população bovina do globo, com 193 milhões de cabeças de Bos indicus (parente do zebu). De um quarto a metade desse rebanho é de animais doentes, inúteis e desmilinguidos, que vagueiam pelos campos ou entopem o trânsito nas cidades. Apesar da carência de proteínas, minerais, calorias e vitaminas de que padecem, os hindus se recusam a comer carne bovina. Nas ruas, é trivial a cena de pedintes exangues suplicando comida com mãos esqueléticas enquanto vacas zanzam impávidas como unicórnios.
      Para os seguidores do hinduísmo - a religião dominante na Índia -, tudo que provém de uma vaca é sagrado (o corpo dela contém cerca de 330 milhões de deuses e deusas). A lei diz que um cidadão pode ser preso por incomodar uma vaca - mas também aí há contradições: existem 3.600 matadouros legais, e nada menos que 30 mil clandestinos. Enquanto o mercado brasileiro absorve 83% da produção interna de carne bovina (40 kg/ano per capita), na Índia o consumo local é de 21%.
      O tabu bovino nem sempre foi um dogma hindu. No período dos vedas (povo que dominou a Índia entre 1800 e 800 a.C., fonte dos textos sagrados do hinduísmo, que representam a mais antiga literatura de qualquer língua indo-europeia), a carne de vaca era consumida tanto quanto a picanha nos pagodes cariocas. Mas a população disparou e os bifes no capricho escassearam. Foi então que caiu a ficha: limitando o consumo de carne e aumentando a exploração agrícola e leiteira os camponeses podiam comer mais e melhor. Numa economia rudimentar, a vaca é mais útil no pasto que no espeto: dá leite e bois, que por sua vez proporcionam força motriz e adubo. Se os animais consomem cereais e depois os homens consomem esses animais perdem-se nove de cada dez calorias, e quatro de cada cinco gramas de proteínas.
      Já a justificativa espiritual foi o preceito hindu do ahimsa, que postula a unidade de todas as formas de vida. Por fim, com a invasão islâmica da Índia, no século 8, os teólogos brâmanes encontraram na proscrição da carne de vaca um tabu providencial para demarcar o hinduísmo da concorrência do Islã. Adeus, churrasco na laje.
      Desde a independência da Índia, em 1947, o fundamentalismo religioso - hindu, sikh ou tâmil - já ceifou a vida de dois primeiros-ministros em atentados terroristas. O premiê Manmohan Singh está careca de saber disso. Alegando que vender para o estrangeiro não é o mesmo que consumo e para o país essas divisas são indispensáveis, ele jura que a exportação não vai parar. Nem que a vaca tussa.
      *Paulo Nogueira é jornalista, escritor e autor de O amor é um lugar comum(Intermeios).

      Do Estadão de hoje, 4 de maio de 2014

      ‘A Crimeia é o começo do fim da era Putin’

      Ex-ministro venezuelano no governo Andrés Pérez, Moisés Naím fala sobre os limites do poder de Moscou e sobre a crise em seu país

      03 de maio de 2014 | 21h 08

      Denise Chrispim Marin - O Estado de S. Paulo
      Engana-se quem pensa que os EUA estão em declínio, que a China dominará o mundo e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sairá vitorioso em sua queda de braço na Ucrânia. Para Moisés Naím, escritor venezuelano e editor-chefe da revista Foreign Policy, que inicia hoje a publicação de artigos para o Estado e, simultaneamente, para o espanhol El País, Washington ainda tem agilidade para mudar o que é preciso. Em entrevista, ele aborda a crise em Caracas e fala sobre os percalços da política externa brasileira. A seguir, os principais trechos da conversa com Naím.
      Putin assina anexação da Crimeia: poucos benefícios em médio prazo - Mikhail Klimentyev/Reuters
      Mikhail Klimentyev/Reuters
      Putin assina anexação da Crimeia: poucos benefícios em médio prazo
      O governo de Barack Obama parece debilitado. Os EUA estão em declínio?
      Esses fatores levam a uma má interpretação sobre o papel e o peso dos EUA no mundo. Em geopolítica, não importa o poder absoluta, mas o poder relativo. Isso quer dizer que, assim como os EUA têm seus problemas e debilidades, outros países também os têm. Os EUA não estão em decadência em relação a outros países. É importante notar que a economia americana está se recuperando mais rapidamente desde a crise de 2008 do os demais países desenvolvidos e está a ponto de desfrutar de um grande boom energético. Essa vantagem está produzindo o renascer da indústria manufatureira no país, e muitas empresas estão se transferindo para lá para reduzir os custos de energia. Quando acontece algo na Ucrânia, que deveria ser uma região de influência da Europa, os países se voltam para pedir a interferência dos EUA. Eles não pedem para a Comunidade Europeia. (O presidente russo Vladimir) Putin teve uma conversa de 90 minutos sobre o tema com Obama, e não com um líder europeu. A China tem economia em crescimento, mas agora está desacelerando, e continua com brechas social e de inovação muito grandes e com limitado acesso da população a serviços públicos básicos. Os EUA têm todo tipo de problema e os conhecemos, mas têm rapidez e agilidade muito maior para mudar o que é preciso do que a de seus rivais. Um pequeno exemplo: a obesidade infantil era um problema grave no país há alguns anos. Medidas foram adotadas e, hoje, está em declínio.
      A Rússia tem condições de recuperar seu protagonismo?
      Desde 2000, quando Putin chegou ao poder, aos dias atuais, a Rússia tornou-se mais débil. Trata-se de um ´petroestado´. Sua dependência da atividade petroleira é maior do que antes, e a fuga de capitais é constante. No plano interno, Putin se sente inseguro. Não quer perder prestígio, ser visto como presidente frágil. Putin interveio de forma agressiva justamente quando a Ucrânia estava a ponto de firmar um acordo comercial com a Europa, e a resposta foram as manifestações populares na Ucrânia em favor da europeização. Sua maneira de demonstrar que detém o poder foi invadir e anexar a península da Crimeia, uma região estratégica onde há base naval russa.
      O episódio pode ser lido como expressão da vitória de Putin e de fragilidade da política externa americana?
      Não tenho dúvidas de que a Casa Branca e Obama operam com limites importantes. Não se trata de produto de incompetência ou covardia deliberada. A questão da Crimeia ilustra, em contraste, a debilidade de Putin. Em longo prazo, vamos verificar que esse foi o começo do fim da era Putin. Ele saiu-se vitorioso apenas em curto prazo. Mas, em médio prazo, vai colher mais custos do que benefícios dessa iniciativa.
      Como?
      Tenho cinco argumentos para explicar minha previsão. Primeiro, Putin sempre detestou e repudiou a Otan. Ao tomar a Crimeia, porém, ele deu uma nova razão de ser para a Otan que, ao final da Guerra do Afeganistão, iria cair na obsolescência e ter seu orçamento brutalmente reduzido. Segundo, os países europeus estão fazendo esforços enormes para reduzir sua dependência do gás natural russo. Terceiro, a parcela da Ucrânia que não fala russo e não está na órbita de Moscou será empurrada ainda mais para a União Européia. Quarto, a Rússia perdeu seu principal interlocutor na cena internacional, a Alemanha, e os dois países vivem o pior momento de suas relações. Por fim, a invasão levou a Europa, antes fragmentada, a operar de forma mais coordenada.
      O Kremlin ainda pode enfrentar instabilidade social em razão da Crimeia?
      Putin enfrenta uma classe média russa mais interessada em se parecer mais europeia do que estar subordinada a um regime oligárquico, corrupto, centralizado e autocrata. A economia russa, que já estava em situação precária, agora está em recessão por causa dos gastos militares com a invasão da Crimeia, segundo o Banco Mundial. No primeiro trimestre, houve fuga de capitais mais volumosa do que em todo o ano passado. A bolsa de Moscou está caindo, o rublo está se desvalorizando, decisões de investimento no país estão sendo canceladas e muitas empresas estão desesperadas para deixar o país.
      A China tem se mostrado agressiva com países vizinhos. Como interpretar esses sinais?
      Entre as notícias mais importantes de 2013 estava a decisão da China de proibir sobrevoo de forças de outros países nessas ilhas sem sua autorização. Isso provocou reações do Japão e dos EUA. A doutrina oficial do governo chinês, até então, era da ascensão pacífica. Ou seja, a prioridade de Pequim não era expandir sua influência internacional, mas aumentar a qualidade de vida e a renda dos chineses. Ainda teremos de observar o que vai acontecer em 2014 antes de concluir se essa agressividade regional significa o abandono da doutrina da ascensão pacífica.
      Seu último livro trata da debilidade do poder de governo, empresários e Igreja no início do século 21. O que podemos esperar dos governantes?
      Tornou-se mais difícil conquistar o poder, mais difícil governar e mais fácil perdê-lo. Isso vale para governantes eleitos democraticamente e para ditadores, de Obama a Putin, passando por Al-Assad ou qualquer outro líder. O exemplo mais claro dessa tese é o de Mohamed Morsi. Eleito presidente do Egito, ele pensou que teria o mesmo poder de seu sucessor, o ditador Hosni Mubarak, derrubado pela primavera egípcia em 2011. Agiu na mesma linha de Mubarak e foi derrubado 13 meses depois. O próprio Mubarak é outro exemplo. Se você me dissesse há dez anos que ele seria derrubado por uma manifestação popular e teria como substituto um líder da Irmandade Islâmica, eu diria que isso seria impossível.
      Isso quer dizer que se Lula se elegesse no lugar de Dilma teria terá menos poder do que em 2003?
      Absolutamente correto. Tenho certeza de que Lula não terá mais em seu favor três condições que o beneficiaram no primeiro mandato: os preços altos das commodities exportadas pelo Brasil, a situação de lua de mel com os eleitores e a economia em expansão. Ao contrário, ele terá de enfrentar uma economia debilitada e elevadas expectativas da população de repetição de seu desempenho como presidente na década passada. Além disso, não terá o prestígio internacional que usufruiu. Ninguém mais imagina que o Brasil, nas condições atuais, possa ter qualquer protagonismo no cenário internacional.
      O que se pode esperar em curto prazo para a Venezuela?
      Maduro se valeu de truques, armadilhas, coações e abusos, além de todos os recursos do Estado, para se eleger na Venezuela, país onde o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) é um apêndice do governo. Ainda assim, ganhou com uma vantagem de apenas 1,5%. Antevejo o aprofundamento da crise econômica, sem precedente na América Latina nem mesmo nos episódios de hiperinflação. Os venezuelanos não conseguem comprar um de cada quatro produtos de primeira necessidade que buscam nos supermercados, como o papel higiênico. A inflação é a mais alta do mundo, o desemprego é elevado e mascarado pelo governo e há ampla destruição da capacidade produtiva, inclusive no setor petroleiro. Com a crise mais profunda, mais pessoas irão às ruas para protestar e pedir retificação de rumo. Esse governo sem ideias para enfrentar as crises política, econômica e social vai recorrer à repressão. O que vem pela frente é mais crise, mais protesto e mais repressão.
      O início do diálogo entre governo e oposição não altera o cenário?
      Maduro concordou em negociar com a oposição por causa da pressão dos países vizinhos. Essa foi a primeira vez em 15 anos - 14 de governo de Hugo Chávez e um de Maduro - que países da América Latina pedem ao governo da Venezuela para moderar sua agressividade com os que pensam diferente. Esse fato não tem precedente e foi provocado pela pressão das ruas e pelas 40 mortes resultantes do choque entre a sociedade e as forças de segurança do governo. O diálogo não teria ocorrido sem a pressão internacional. Essa pressão não teria acontecido sem os protestos. Mas, até agora, o governo de Maduro não atendeu a nenhum dos pedidos da oposição. Não está nessa lista a renúncia do presidente. Mas a libertação de prefeitos eleitos pelo povo e presos com base em acusações espúrias e de forma inconstitucional pelo fato de serem por serem oposicionistas. Para o governo seria fácil libertar os prefeitos. Outro pedido da oposição é a substituição de magistrados do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) e de autoridades do CNE cujos mandatos já venceram. O governo está fora da lei, que o obriga a fazer as novas nomeações. Esses seriam pequenos gestos com os quais o governo demonstraria sua boa vontade e disposição de diálogo.
      Até onde Maduro pode ir sem perder apoio de aliados?
      Ninguém sabe. Isso depende do governo cubano, que tem um papel determinante nas decisões de natureza governamental e de políticas públicas na Venezuela. Sobretudo, no que tem a ver com a repressão e os serviços de inteligência. A elite chavista está dividida e em guerra interna. A falta de decisões na área econômica se deve aos pontos de vista diferentes das facções chavistas e à ausência de Hugo Chávez. Maduro não tem o comando central que Chávez tinha. Apesar de promover o diálogo, os países sul-americanos parecem ter aceitado a versão de Maduro de que a oposição é golpista. É preciso que a América Latina entenda melhor a questão venezuelana. Não se trata de luta entre ricos e pobres, de direita contra a esquerda, do bem contra o mal. Trata-se de um governo militar, corrupto e narcotraficante reprimindo uma sociedade desesperada, que não tem como comprar leite e remédios. A adesão à ideia de que a oposição é golpista não passa de uma escusa, de uma posição muito cômoda para os vizinhos sul-americanos. Isso não é verdade. Sou bastante crítico das condutas de Lula (o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e de Dilma sobre a Venezuela. As ruas da Venezuela estão cheias de ´dilmas´ jovens, que refletem os ideais, as esperanças e as alegrias de quando a presidente do Brasil era uma jovem disposta a enfrentar o regime militar. No entanto, Dilma Rousseff se refugia no princípio da não-intervenção, no caso da Venezuela, apesar de o Brasil ter se metido ativamente em Honduras, no Paraguai e até mesmo com o Irã. Lula se propôs até como mediador no conflito entre palestinos e israelenses.
      Não seria natural essa posição do governo de Dilma?
      Já havíamos acompanhado a evolução das relações entre Brasil e Venezuela, durante o governo Lula, e não causa surpresa a ausência de críticas de Dilma e seu refúgio no princípio da não-intervenção. O fato de sua posição não ser surpreendente não significa que esteja longe da hipocrisia. O Brasil deveria ser o líder da América Latina. É uma democracia vibrante e uma das maiores do mundo. Mas guarda silêncio, por cálculos secundários, diante de uma situação como a da Venezuela. Com essa atitude, como o Brasil vai pretender ser um jogador importante no tabuleiro mundial?
      Ao contrário do governo Lula, o de Dilma não aspira o protagonismo internacional do Brasil. Mas não é descabido que os países da América Latina olhem para o Brasil como um guia. O fato de o Brasil estar tão calado e tolerante diante de abusos na Venezuela é algo que não se pode deixar de registrar. Ninguém está pedindo ao Brasil que declare apoio à oposição venezuelana. Passaram-se claramente 15 anos de apoio automático, de solidariedade total e de ausência absoluta de críticas ou comentários sobre condutas na Venezuela que seriam inaceitáveis no Brasil.
      A que se pode atribuir esse comportamento?
      A cálculos menores, a afinidades ideológicas, à necessidade de satisfazer a base do PT, à expiação da culpa pelo fato de o governo petista ter adotado medidas econômicas ortodoxas e de apoio aos setores produtivos privados e financeiros. Há também o apoio mercantilista do governo brasileiro a empresas com negócios na Venezuela e muitos rumores de corrupção nesses contratos. No Brasil, há muitos interesses pessoais para se manter a aproximação, o apoio e a solidariedade à Venezuela. Ao contrário de Dilma Rousseff, os presidentes da Colômbia, do Peru e do Chile criticaram a reação do governo venezuelano aos protestos. Todos receberam uma onda de insultos de Maduro e de seu governo. O Panamá pediu a convocação de uma reunião de chanceleres da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a situação da Venezuela. Isso foi suficiente para, depois de insultar o Panamá, a Venezuela romper as relações diplomáticas com o país vizinho. Os países têm problemas internos suficientes para se meterem na defesa de valores na Venezuela.

      Do caderno New York Times da Folha de hoje, 11/2/2014

      Preço da gasolina vira tabu na Venezuela
      Por WILLIAM NEUMAN
      CARACAS, Venezuela - A Venezuela tem a gasolina mais barata do mundo: menos de dois centavos de dólar por litro. O preço é tão baixo que muitos motoristas gastam mais com a gorjeta ao frentista do que para encher o tanque.
      No país que possui as maiores reservas petrolíferas estimadas do mundo, muitos venezuelanos veem a gasolina barata como seu direito inalienável, resquício dos tempos de boom, quando a Venezuela se visualizou alcançando status de Primeiro Mundo graças ao petróleo.
      Mas o presidente Nicolás Maduro fez algo que antes seria impensável: disse que é hora de elevar o preço da gasolina.
      "Estou totalmente de acordo, acho que devem subir o preço", disse Luis Gelvis, 45, trabalhador em um depósito, enquanto enchia o tanque de seu velho utilitário esportivo Chevrolet por US$ 0,48. Mas, quando o frentista observou que ele poderia passar a gastar dois ou três dólares para encher o tanque, o sorriso sumiu de seu rosto. "Nem pensar! Isso é demais!", reagiu. "Se aumentarem tanto assim, haverá greves e barricadas."
      O presidente não disse quando haverá aumento nem de quanto será. Segundo algumas estimativas, o governo está dando US$ 30 bilhões em combustível todos os anos, prejuízo enorme em um momento de deficit nacional elevado.
      Mas elevar os preços do combustível pode ser politicamente arriscado. Maduro teve dificuldades para ser aceito em seu primeiro ano na Presidência, sendo com frequência visto como nada mais que uma sombra pálida de seu carismático predecessor, Hugo Chávez. Mesmo Chávez, apesar de criticar os subsídios ao combustível, nunca se arriscou a elevar os preços. O tabu a esse respeito se deve em parte à associação entre o aumento promovido em 1989 e os protestos em que morreram centenas de pessoas.
      O malabarismo político é comum em países em desenvolvimento, especialmente entre aqueles que são ricos em recursos naturais. Nos últimos anos, houve protestos, em alguns casos violentos, após o corte de subsídios do combustível na Bolívia, na Indonésia e na Nigéria.
      Em dezembro, Rafael Ramírez, presidente da estatal petrolífera venezuelana, disse que o preço de custo da gasolina de alta octanagem, que é a que a maioria das pessoas compra, é de cerca de US$ 0,48 por litro. Nos últimos dois anos, segundo a Administração de Informações sobre Energia, de Washington, a Venezuela vem importando dezenas de milhares de barris de gasolina por dia, devido a problemas em suas refinarias. Assim, o país vem pagando preços de mercado pela gasolina que dá quase de graça.
      Francisco J. Monaldi, professor visitante de política pública em Harvard, disse que a receita perdida é mais do que o governo gastou com educação e saúde, juntas. Os venezuelanos ricos e da classe média se beneficiam especialmente do subsídio, por serem os que mais possuem carros.
      Para Monaldi, muitos venezuelanos pobres entendem que o preço da gasolina é insustentável e que ela pouco os beneficia. Ainda assim, pelo fato de não confiarem nos políticos, de modo geral eles se opõem ao aumento do preço, mesmo que o governo prometa gastar o dinheiro poupado em programas sociais.


      Do caderno New York Times de hoje na Folha, 4/2/14

      Poluição de Nova Déli ultrapassa a de Pequim
      Por GARDINER HARRIS
      NOVA DÉLI - A poluição atmosférica de Pequim recentemente estava tão ruim que o governo emitiu alertas sanitários urgentes e fechou quatro vias expressas importantes, levando moradores em pânico a comprar filtros de ar e usar máscaras. Enquanto isso, em Nova Déli, onde a espessa névoa poluente era, conforme algumas medições, ainda mais perigosa, havia poucos sinais de alarme.
      Embora Pequim, na China, tenha a fama de ter um dos ares mais poluídos do planeta, um exame das cifras diárias de poluição colhidas por ambas as cidades sugere que o ar de Nova Déli, na Índia, está, com mais frequência do que em Pequim, mais carregado de partículas perigosas.
      A atmosfera indiana está entre as piores do mundo. E crescem os indícios de que os indianos pagam mais caro do que praticamente qualquer outro povo pela poluição. Um estudo recente mostrou que os indianos têm os pulmões mais fracos do planeta, com bem menos capacidade do que os pulmões chineses. Os pesquisadores estão começando a suspeitar que a mistura indiana de ar poluído, saneamento ruim e água contaminada faz do país um dos mais perigosos do mundo para os pulmões.
      A Embaixada dos EUA em Pequim emitiu alertas em meados de janeiro, quando uma medição do nocivo material particulado fino conhecido como PM 2,5 ultrapassou a marca de 500, aproximando-se do máximo da escala. Isso se refere a partículas com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro, que supostamente constituem o maior risco para a saúde, por penetrarem profundamente nos pulmões.
      Mas, nas três primeiras semanas deste ano, o pico diário médio da leitura do material particulado fino do Punjabi Bagh, serviço de monitoramento que costuma ter resultados inferiores aos de outros serviços, era de 473, mais do que o dobro da média de Pequim, que foi de 227. Apenas uma vez nessas três semanas o pico diário das partículas finas em Nova Déli ficou abaixo de 300, nível que equivale a mais de 12 vezes o limite de exposição recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
      O mais preocupante, talvez, seja que os níveis máximos diários de poluição por partículas em Déli estejam neste ano 44% superiores ao ano passado. "Sempre me intrigou que o foco esteja constantemente na China e não na Índia", disse o médico Angel Hsu, do programa de medição de desempenho ambiental do Centro Yale para o Direito e a Política Ambiental, em Connecticut. "A China percebeu que não pode se esconder atrás de sua opacidade de costume, ao passo que a Índia não é pressionada para liberar dados melhores."
      A Índia tem a maior taxa mundial de mortalidade por doenças respiratórias crônicas e mais mortes por asma do que qualquer outra nação, de acordo com a OMS.
      A poluição por partículas finas é associada a mortes prematuras, ataques cardíacos, derrames e insuficiência cardíaca. Em outubro, a OMS declarou que ela causa câncer de pulmão. Em novembro, durante as negociações climáticas globais em Varsóvia, a Índia e a China resistiram a aceitar limites para a poluição.
      Frank Hammes, da empresa suíça IQAir, fabricante de filtros de ar, disse que o faturamento da companhia é centenas de vezes maior na China do que na Índia. "Na China, as pessoas estão extremamente preocupadas com o ar, especialmente em torno das crianças pequenas", disse ele. "Não há a mesma preocupação na Índia."
      A função pulmonar relativamente ruim dos indianos já foi reconhecida há muito tempo, mas os pesquisadores supuseram que a diferença era genética. Aí, em 2010, um estudo concluiu que os filhos de imigrantes indianos que nasceram e foram criados nos EUA apresentavam uma função pulmonar muito melhor do que os nascidos e criados na Índia. "Não é a genética, é principalmente o ambiente", disse a médica MyLinh Duong, da Universidade McMaster, em Hamilton, no Canadá.
      Em um estudo publicado em outubro, Duong comparou exames pulmonares feitos com 38.517 não fumantes saudáveis de 17 países. A função pulmonar dos indianos foi disparada a mais baixa.
      Annat Jain, investidor privado que voltou à Índia em 2001, depois de passar 12 anos nos EUA, disse que seu pai morreu no ano passado de insuficiência cardíaca agravada por problemas respiratórios. Agora, sua filha de quatro anos precisa receber tratamento respiratório duas vezes por dia. "Mas, sempre que saímos do país, voltamos a respirar normalmente."


      Do cada vez mais necessário Guga Chacra.


      O que pode acontecer na Síria para a Guerra acabar?
      1. EUA, Irã, Rússia, Turquia, Iraque e Arábia Saudita decidem que chegou o momento de encerrar o conflito
      2. Nenhum dos lados será capaz de controlar todo o território
      3. Mas o regime controlará uma parte do território e a oposição, outra
      4. Uma trégua geral seria negociada, dividindo a Síria em dois territórios, como ocorreu no Chipre
      5. O regime ficaria com Damasco, Homs, Hama e a costa Mediterrânea (Tartus e Latakia)
      6. A oposição  ficaria com áreas no Norte e Leste do país, nas fronteiras com a Turquia e o Iraque
      7. Aleppo talvez permanecesse dividida, como Nicósia, capital do Chipre, ou Jerusalém e Berlim no passado
      8. Haveria uma região autônoma curda, associada ao Curdistão iraquiano
      9. Nas áreas do regime (Damasco e Mediterrâneo), o cenário seria parecido com o atual. Isto é, um governo secular nas mãos de Assad, com apoio das minorias cristãs e alauítas e de algumas facções sunitas mais laicas
      10. Nas áreas da oposição, seria mais complexo. Os EUA e seus aliados teriam de trabalhar para derrotar grupos rebeldes ligados à Al Qaeda, como o ISIS e a Frente Nusrah. Alguns de seus membros teriam de ser convencidos a mudar de lado. Seria necessário muito investimento estrangeiro para viabilizar este Estado paralelo em uma tarefa similar à estabilização do Afeganistão na luta contra o Taleban
      11. Os opositores do exílio também precisariam se unir com os rebeldes mais moderados e chegar a um consenso sobre um governo nestas áreas. Um líder forte seria importante
      12. Com o passar dos anos, aos poucos, talvez uma “Segunda Síria” comece a florir nestes territórios, incluindo a formação de um Exército regular e de instituições burocráticas estatais
      13. Quando os dois lados tiverem governos consolidados, uma transição para a união do país poderá ser negociada. Uma anistia geral teria de ser implementada
      14. Em uma segunda hipótese, permaneceriam duas Sírias, mais o Curdistão, coexistindo definitivamente. A primeira (de Assad) seria reconhecida pela ONU, BRICs, Irã, Iraque, Egito e Líbano; a segunda, teria reconhecimento dos EUA, de nações europeias e do mundo árabe. De uma certa forma, similar ao Chipre
      15. Isso poderia ocorrer em anos (talvez dez ou mais), não em meses
      Mas esta possibilidade é provável?
      Não. A segunda Síria (dos rebeldes) tende a virar um território da Al Qaeda, em uma mistura de Somália e Afeganistão. No outro lado, o regime deve seguir com o controle de Damasco, Homs, Hama e o Mediterrâneo. Aos poucos, passará a ser tolerado pelos EUA e outros países, como o Sudão de Omar Bashir 




      E ainda tem gente que associa India com espiritualidade. Do Estadão de hoje, 24/1/14

      Líderes tribais indianos são acusados de ordenar estupro

      AE
      Agência Estado
      Uma indiana de 20 anos denunciou ter sido estuprada por um grupo de homens a mando de um conselho tribal porque se apaixonou por um homem de uma religião diferente, informou a polícia do Estado de Bengala Ocidental nesta quinta-feira.


      Treze homens foram presos por envolvimento no crime, ocorrido na noite de segunda-feira, disse o oficial de polícia C. Sudhakar. A vítima está internada em estado grave. Ela relatou ter perdido a conta de quantos homens a violentaram.

      Emissoras de televisão indianas mostraram imagens da mulher dando entrada no hospital já recebendo soro na veia. O rosto dela era coberto por véus.

      De acordo com a denúncia da vítima, ela foi condenada pelo conselho tribal do povoado de Subalpur a pagar uma multar de 25 mil rupias, quantia equivalente a cerca de US$ 400, quando seu relacionamento com um homem de outra religião foi descoberto. O estupro coletivo foi ordenado depois que a família declarou ser pobre demais para pagar a multa.

      A polícia não revelou a fé do casal envolvido no caso. Subalpur situa-se 180 quilômetros ao norte de Calcutá, a capital de Bengala Ocidental.

      Ao longo do último ano, uma série casos de estupro vem abalando a Índia diante da violência sexual crônica e da incapacidade das autoridades locais de protegerem as mulheres. O caso de Bengala Ocidental é mais perturbador porque, segundo a vítima, a violência sexual foi ordenada por um conselho tribal.

      A manutenção desses conselhos é vista como um desejo da população dessas comunidades. Eles decidem sobre temas que vão de normais sociais a códigos de vestimenta. Em alguns casos, eles chegam a decidir com quem uma mulher vai ou não se casar. Fonte: Associated Press.




      Do ESTADÃO DE HOJE, 29/12/13

      Palco da Copa de 2022, Catar tem dinheiro demais e futebol de menos

      País constrói tudo o que a Fifa quer, mas não motiva o público para suas competições

      29 de dezembro de 2013 | 5h 00

      Leonardo Maia - O Estado de S. Paulo
      DOHA - Os tons pastéis dão um sentido de uniformidade ao Catar, como se não houvesse contrastes na rica nação do Oriente Médio. A cor da areia é repetida em todas as edificações, até mesmo na maioria dos carros, para diminuir os efeitos do sol. Mas a diminuta península que invade o Golfo Pérsico, vinda da Arábia Saudita, tem seus conflitos e grandes desafios a superar até 2022, quando abrigará a Copa do Mundo em um território apenas o dobro do tamanho do Distrito Federal.
      Arena Doha Port será um dos destaques para 2022 - Divulgação
      Divulgação
      Arena Doha Port será um dos destaques para 2022
      Entre as questões problemáticas, um crescimento econômico acelerado, cuja demanda por força de trabalho a pequena população não consegue atender, o clima, a dimensão territorial e a falta de perspectiva de o país construir uma seleção minimamente competitiva, resultado de uma liga fraca e pouco estimulante.
      Por outro lado, o Catar será uma sede muito menos problemática para a Fifa e suas infindáveis exigências. Dinheiro não é problema. Em 2012, o PIB do Catar foi de US$ 182 bilhões, para uma população de aproximadamente 2 milhões de pessoas, a mais alta renda per capita do mundo.
      Ao longo dos próximos oito anos, grande parte dessa riqueza será destinada ao esforço de entregar estádios e a infraestrutura (construção de um sistema de metrô) necessários para a Copa. Projetam-se investimentos de R$ 450 bilhões.
      E os estádios estarão prontos como muita antecedência. Situação como a vista no Brasil, quando o Maracanã foi entregue incompleto para a Copa das Confederações e as seis arenas restantes para a Copa de 2014 previstas para conclusão a apenas quatro meses do pontapé inicial, provavelmente não ocorrerão. A expectativa é que o último estádio seja entregue em 2020.
      E não espere protestos e reação negativa da população se houver estouro de orçamento. O Catar é uma monarquia absolutista. A voz do povo não é um conceito por lá. Ao contrário, a população local (88% dos habitantes da capital Doha são estrangeiros) dá apoio irrestrito à empreitada.
      Ironicamente, porém, tanta riqueza em uma nação que mal aparece no mapa também gera contrastes que não se vê em um giro superficial por Doha. O país não dá conta de avançar na velocidade que a fortuna derivada do petróleo e do gás demanda. E as diferenças de classes começam a surgir entre uma população pouco familiarizada com abismos sociais. A questão da falta de mão de obra, exacerbada pela explosão da construção civil como resultado das obras para a Copa, criou uma classe trabalhadora quase toda estrangeira, pobre e que vive sob regime de escravidão e trabalho forçado.
      Protegidas por uma legislação permissiva e não aplicada, as empreiteiras não pagam o combinado e impedem o trabalhador de retornar a seu país. Regras de segurança não são respeitadas e as condições sanitárias e de habitação são degradantes. "É uma oportunidade de avanços físicos, mas também na área social, do trabalho. Sabemos que temos desafios", diz Nasser Al Khater, diretor de comunicação do Supremo Comitê Catar 2022. "Com a Copa vem o escrutínio (do mundo). Não negamos nossos problemas." Mas os obstáculos não dizem respeito apenas a direitos humanos e temas de maior abrangência. Os organizadores ainda brigam com a Fifa a respeito do período da Copa. Em junho/julho, verão no hemisfério norte e de pausa nas principais ligas, o clima é proibitivo não só para o esporte, mas para a circulação de pessoas.
      Se o sistema de ar condicionado nas arenas pode resolver a primeira parte, não resolverá a segunda. Tudo indica que a Copa do Catar será no período de novembro/dezembro, quando os termômetros oscilam entre agradáveis 24º e 29ºC. É o que a Fifa tem acenado.
      Encontrar opções de turismo e lazer também será problemático em uma nação pequena e de poucos atrativos. Os estádios estarão quase todos a poucos quilômetros um do outro. “Será uma Copa compacta. Um torcedor poderá ver até três jogos por dia e as delegações e mídia poderão se fixar em uma cidade sem a necessidade de desgaste com viagens de avião e mudança constante de hotéis”, afirma Hassan Al Thawadi, secretário geral do Supremo Comitê.
      Outro aspecto vantajoso, para a Fifa, é que não haverá discussão sobre as imposições feitas pela entidade ao país-sede. Tudo no Catar poderá ser resolvido em segundos, com uma assinatura do emir Tamim bin Hamad Al Thani. Assim será dirimida qualquer controvérsia a respeito do consumo de álcool. Alguns hotéis têm liberação de venda de bebidas e isso será estendido aos estádios. Um ponto que pode gerar debate será quanto ao uso de cerveja em áreas abertas, como as 'fan fests' e 'fan zones'.
      A segurança é alvo de pouquíssima preocupação. O Catar é dos países mais seguros do mundo. Não é raro ver um cidadão deixar seu carro com o motor e o ar condicionado ligados enquanto para para uma compra rápida. O terrorismo é um assunto tabu, mas o país não tem o histórico de atentados.
      Até a bola rolar para a partida inaugural, o Catar tem tempo para atacar seus problemas e destacar suas virtudes. Disposição para se abrir ao mundo não falta aos catarianos, que não apenas aceitam a presença do Ocidente como desejam o intercâmbio cultural que ele traz.
      O repórter viajou a convite do Supremo Comitê Catar 2022.


      Do jornal gULF nEWS, DO DIA  19/12/2013

      India passes landmark anti- corruption bill

      LOKPAL WILL COVER PREMIER WITH CERTAIN CONDITIONS, MINISTERS

      India’s parliament yesterday passed the Lokpal ( Ombudsman) Bill 46 years after it was first introduced, paving the way for enactment of a tough anticorruption law. Lok Sabha, the lower chamber of India’s bicameral parliament, passed the powerful anti- graft watchdog bill by voice vote showing rare unity among its lawmakers barring the Samajwadi Party which opposed the bill and opted to walk out before voting.
      Jubilation Anti- corruption activist Anna Hazare’s supporters celebrate after the passage of Lokpal Bill in Mumbai yesterday. Hazare ended his fast and thanked lawmakers for passing the bill. PTI
      Rajya Sabha, the upper chamber, had passed the bill on Tuesday incorporating several amendments to the original bill first passed by the Lok Sabha in December 2011. The amendments made in the original bill made it mandatory to get re- approval of the Lok Sabha.
      The bill will become law of the land after it is signed by President Pranab Mukherjee in the next few days.
      Apart from establishing Lokpal, the bill also provides for the creation of Lokayuktas in the states within a year of the notification of the law.
      According to the bill, the Lokpal will consist of a chairperson and a maximum of eight members. It will cover the prime minister with certain conditions, ministers, current and former MPs and legislators, government employees and staff of companies funded or controlled by the central government.
      The bill also provides for penalties for false and frivolous complaints. India yesterday took a giant step towards combating rampant corruption as the Lok Sabha passed an anticorruption bill. The Lokpal Bill, as the instrument is known, was passed by voice vote amid commotion by some lawmakers opposed to a different bill, which seeks to divide Andhra Pradesh and create the new state of Telangana.
      The Rajya Sabha had passed the Lokpal Bill on Tuesday.
      The bill provides for appointment of a Lokpal ( ombudsman) by a four- member committee comprising the prime minister, leader of opposition, chief justice of India and one of his nominees.
      The Lokpal will handle all corruption- related allegations, which will be investigated by the Central Bureau of Investigation. Any officer investigating a charge cannot be transferred without prior approval of the Lokpal.
      All ministers and senior public servants are covered by the bill, and even the prime minister falls under its scope.
      Arch- rivals the Congress party and the Bharatiya Janata Party ( BJP) closed ranks to pave the way for fulfilling the long- awaited anti- corruption bill, which was first brought before Parliament 46 years ago by the then prime minister Indira Gandhi.
      Except for the Samajwadi Party, all parties supported the bill and concluded the process of introducing, debating and voting on it within an hour, although four hours had been set aside for debate.
      Parliament adjourned
      Both Houses of Parliament were later adjourned, without setting a date for the next meeting, two days ahead of the scheduled end of the winter session. This also happens to be the last legislative session of the incumbent Manmohan Singh government, considering the next budget session would be held just to pass vote on account, leaving presentation of the next budget to the new government following April- May general elections.
      The Lokpal Bill came into focus when anti- corruption crusader Anna Hazare started a series of hunger strikes from August 2011.
      While the Lok Sabha had passed the bill in December that year, it took two years before the Rajya Sabha put its stamp of approval after several amendments.
      The bill will now be sent to President Pranab Mukherjee for his signature before it becomes law .


      DA FSP de hoje, 12/11/13

      Segurança de cruzeiros é posta em dúvida
      Por JAD MOUAWAD
      Um dos maiores navios de cruzeiro em 1985 era o Carnival Holiday, de 46 mil toneladas. Dez anos atrás, o Queen Mary 2 já era três vezes maior. Hoje os recordistas são dois gigantes de 225 mil toneladas cujo deslocamento, que serve como medida do peso de um navio, é aproximadamente igual ao de um porta-aviões da classe Nimitz.
      Os navios de cruzeiro continuam crescendo e se tornando mais populares. A Associação Internacional de Linhas de Cruzeiro disse que, no ano passado, seus membros transportaram cerca de 17 milhões de passageiros, contra 7 milhões em 2000. Mas a expansão do tamanho dos navios está preocupando muitas pessoas, para as quais a mania de crescer encerra perigos potenciais.
      Os riscos ficaram visíveis no ano passado, quando o Costa Concordia, propriedade da Carnival Corporation, sediada em Miami, naufragou parcialmente perto da costa da Itália, matando 32 pessoas.
      Em fevereiro, um incêndio paralisou o Carnival Triumph, deixando milhares de pessoas à deriva durante quatro dias no golfo do México, até que o navio foi rebocado para terra.
      Outro incêndio obrigou o Grandeur of the Seas, da companhia Royal Caribbean, a buscar um porto nas Bahamas em maio.
      Os acidentes e incêndios intensificaram as preocupações sobre a capacidade dos meganavios de lidar com emergências. O Senado dos Estados Unidos aprovou uma legislação neste verão que reforçaria a supervisão federal das linhas de cruzeiro.
      As operadoras dizem que navios maiores têm mais equipamentos contra incêndios e são mais seguros. Bud Darr, da associação de empresas do setor, disse que os navios hoje operam sob camadas de escrutínio, incluindo frequentes revisões de segurança por auditores contratados pelas operadoras e supervisionadas pelos países onde estão registrados. "Os padrões são universais", disse.
      Neste ano, a Carnival disse que gastará US$ 700 milhões para melhorar suas operações de segurança.
      O maior navio atual, o Allure of the Seas, da Royal Caribbean, tem 2.706 cabines e pode acomodar cerca de 6.300 passageiros e 2.394 tripulantes -o equivalente a uma pequena cidade.
      Mais de uma década atrás, o diretor da Organização Marítima Internacional, a agência da ONU encarregada de regulamentações marinhas, advertiu sobre os perigos de se construir navios maiores e pediu uma revisão das regras de segurança. William O'Neill, secretário-geral do grupo na época, disse que a indústria não podia "contar com a sorte indefinidamente".
      Um dos resultados foi uma série de novas regulamentações globais em 2010, que exigem que os novos navios tenham sistemas suficientes para permitir que voltem a um porto, mesmo na pior emergência. Somente cerca de dez navios construídos desde então cumprem essa norma.
      "O problema é simples: eles os estão construindo grandes demais e colocando gente demais a bordo", disse o capitão William H. Doherty, ex-diretor de segurança da Norwegian Cruise Lines, a terceira maior operadora de cruzeiros do mundo. "Minha avaliação é que provavelmente eles superam o ponto de maneabilidade."
      "A magnitude do problema vai muito além do que a indústria de cruzeiros quer admitir".



      Vietnam May Return To Firing Squads

      • HANOI—Vietnam may return to using firing squads to execute its growing number of condemned criminals after a planned switch to lethal injections last month ran into a shortage of the needed chemicals, state media and people familiar with the situation said.
        The Ministry of Public Security, which runs the prison system, is seeking approval from the legislature to reinstate firing squads while awaiting production of lethal chemicals, a person familiar with the situation said Thursday. The ministry wasn’t reachable for comment, but the Phap Luat Vietnam newspaper, which is close to the ministry, reported earlier this week about the request before the legislature.
        “We don’t know yet when the chemicals can be produced domestically, so using the firing squads for the time being is necessary given that the number of death- row inmates is rising,” the person said.
        Vietnam had planned to start lethal injections in November 2011 using imported chemicals, but state media said in May— citing Health Ministry officials— that European countries had refused to export the chemicals after learning they would be used for executions.
        The government then ordered the Health Ministry to sufficiently supply the chemicals by June 27, but those goals haven’t been met. The chemicals include sodium thiopental to stop the nervous system, pancuronium bromide to stop the muscular system and potassium chloride to stop the heart.
        Meanwhile, the number of deathrow inmates has been rising. There are now 568 condemned prisoners, state media said Thursday, citing data from the Supreme People’s Procuracy. That is around 40% more than two years ago.
        Nguyen Viet Hung, chief of the office of the Supreme People’s Procuracy, told local media that lawmakers haven’t made a decision on the proposal to reinstate firing squads. They next meet in October.
        Vietnam’s penal code allows the death penalty for 29 crimes, from murder and terrorism to receiving bribes of 300 million dong ($14,300) or more, but the vast majority of those on death row are there for drug offenses. Producing, smuggling or transporting 100 grams or more of heroin or cocaine is punishable by death.
        An official with the Ministry of Public Security said Thursday that domestically produced lethal drugs have so far been “successfully tested on animals” in the country’s labs.
        “Keeping the prisoners waiting for the execution longer will put more mental pressure on them, causing difficulties for prison management,” Pham Quoc Anh, president of the Vietnam Lawyers Association, was quoted by Giao Thong Van Tai newspaper as saying.
        Amnesty International, in a statement on its website last month, called on Vietnamese authorities to immediately halt any plans to resume executions, commute all death sentences and reduce the number of offenses punishable by the death penalty.



      • July 24, 2013, 7:08 p.m. ET

      David Skeel: Facing Up to America's Pension Woes

      Public retirees everywhere insist that Chapter 9 does not permit any benefit changes. Their legal case is weak.

        By 
      • DAVID SKEEL
      Right after Detroit filed for bankruptcy under federal law last week, Michigan's Ingham County Circuit Judge Rosemarie Aquilina issued a set of rulings that attempted to stop the process cold—she worried that a bankruptcy would restructure Detroit city workers' pensions in violation of the state constitution. Few expect her rulings to stand—a state Court of Appeals panel and the federal bankruptcy judge have already imposed stays on her orders.But Judge Aquilina correctly identified the key issue in the case, which is also the single most important municipal bankruptcy issue of our time.
      As recently as three years ago, the conventional wisdom held that public-pension promises, no matter how extravagant, are sacrosanct even if a city files under Chapter 9, the provisions of federal law that govern municipal bankruptcies. The first hint that this thinking might be wrong came after Vallejo, Calif., filed for bankruptcy in 2008.
      rebecca cook/Reuters
      Vallejo successfully restructured its collective-bargaining agreements and, as then-City Manager Robert Stout reported, the city believed that Chapter 9 gave Vallejo the legal authority to alter its pensions as well. But Calpers, the giant bureaucracy that administers California's state and local pensions, threatened litigation. The city concluded that any reduced pension costs wouldn't be great enough to offset the legal costs and backed off.
      Since Vallejo, the pension question has become increasingly hard to avoid. When Central Falls, R.I., filed for bankruptcy in 2011, the small town made it clear that significant pension cuts were its only hope for recovery. In the end, Central Falls reduced its pension costs by 50%. Because the town's retirees reluctantly agreed to the cuts, the bankruptcy court didn't address the legal question of whether Chapter 9 allows a city to reduce its pension obligations.
      Steven Rhodes, the federal bankruptcy judge assigned to Detroit, won't have this luxury. The status of pension obligations also is at issue in the bankruptcies of Stockton and San Bernardino, both in California, so it is possible that Judge Rhodes will have the benefit of rulings in one or both cases when he rules in Detroit. But Stockton, no doubt mindful of the Vallejo experience, is trying to duck the pension issue. There also are signs that San Bernardino could do the same.
      Detroit isn't ducking. Emergency manager Kevyn Orr has signaled that every constituency needs to sacrifice. And Detroit's public workers aren't yielding an inch.

      Article IX, Section 24, of the Michigan state constitution says: "The accrued financial benefits of each pension plan and retirement system of the state and its political subdivisions shall be a contractual obligation thereof which shall not be diminished or impaired thereby." Yet Chapter 9 of federal bankruptcy law clearly authorizes a city to restructure its obligations to restore financial health. How will the conflict be resolved?
      Chapter 9 should prevail. The U.S. Constitution (Article VI) states that the laws of the United States are "the supreme law of the land," and furthermore, that judges in every state are bound by them, "anything in the constitution or laws of any state to the contrary notwithstanding."
      This doesn't mean that Detroit workers could be left with nothing. As of June 30, 2012, the assets held in trust for Detroit's general retirement system benefits were valued at $2.16 billion. These funds are property of the retirees, much as the collateral a borrower puts up to secure a loan belongs to the lender. It is only the unfunded portion of the pensions ($830 million by Detroit's estimate, $2 billion by Mr. Orr's, plus his estimate of another $1.4 billion in underfunding for the police and firefighters' pensions) that is subject to restructuring.
      There are two possible objections to this reasoning. The first is that giving the retirees anything less than the full amounts they were promised would violate the U.S. Constitution's Fifth Amendment, which prohibits the taking of private property without just compensation.

      The pension funds can argue that any adjustment would violate pensioners' investment-backed expectations. But this argument will likely fail. Property rights are ordinarily protected only up to the value of the property set aside. This logic has always applied with corporate pensions.
      The second objection goes to the heart of Chapter 9 itself. The U.S. Constitution prohibits a state from impairing the obligation of contracts (Article I, Section 10). Thus Michigan itself could not alter the rules for existing retirees, even if it changed its constitution to remove the protection of pension benefits. Any change would only affect new pensions. And so, current retirees could argue, if Chapter 9 is interpreted to allow pension restructuring, this seems to enable Michigan to violate the U.S. Constitution.
      A very similar argument, along with a related argument about state sovereignty, led the Supreme Court to strike down the first municipal bankruptcy law passed by Congress in 1936. But two years later, in United States v. Bekins, the court reversed course, concluding that a slightly amended bankruptcy law didn't violate the Contracts Clause or interfere with state sovereignty.
      Detroit's pensioners, in short, would ultimately prevail only if they could persuade the Supreme Court to overturn Bekins—which would in effect invalidate federal municipal bankruptcy law altogether, since the same logic would apply not just to pensions but to any obligation protected under state law.
      It is unlikely the Supreme Court would take this step. The court has interpreted Congress's bankruptcy powers (which also are spelled out in the Constitution) very broadly. And the power to facilitate the adjustment of debt lies at the heart of bankruptcy.
      None of this means that pensions can or should be restructured to the maximum extent possible. They shouldn't. The pensions for Detroit's city workers don't appear to be extravagant, and the bankruptcy judge ought to be mindful of the very real effects on the lives of retirees when he decides whether to approve any reduction in benefits.
      Chapter 9 requires that a restructuring of obligations be in the best interests of creditors—including the retirees. This suggests that sacrifice must be shared among all of a city's general creditors, bondholders as well as public employees.
      As the pension issue goes, so goes Chapter 9. If Detroit can make at least modest adjustments to its pensions, and restructure its other obligations as well, the city and other municipalities in dire financial straits may have a fighting chance. If not, the downward financial spiral of too many American cities is likely to continue.
      Mr. Skeel teaches bankruptcy law at the University of Pennsylvania Law School and is the author of "The New Financial Deal: Understanding the Dodd-Frank Act and Its (Unintended) Consequences" (Wiley, 2011).
      A version of this article appeared July 25, 2013, on page A13 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: Facing Up to America's Pension Woes.


      Do Estadão de hoje, 17 de julho de 2013, a excelente Lucia Guimarães



      Volta, Barack

      15 de julho de 2013 | 2h 07

      LÚCIA GUIMARÃES - O Estado de S.Paulo
      Acordei com uma certa nostalgia, presidente. Mais ou menos como a que vi nos seus olhos há dez dias, quando Malia fez 15 anos. Como crescem depressa, não? Sinto dizer que, aos 4 anos, seu governo encolheu.
      A saudade do Barack original (ou imaginado?) me fez voltar às imagens arquivadas no computador. Estava plantada na mesma Times Square gelada, no momento das suas duas vitórias históricas, a câmera voltada para as expressões dos eleitores. A explosão de alegria e as lágrimas de redenção em rostos mais escuros que o seu, em novembro de 2008. O alívio, não a euforia, em 2012.
      Onde foi parar o jovem ativista comunitário que andava em outra companhia em Chicago? Seus ex-colegas de Harvard hoje pedem perdão presidencial para Edward Snowden e estão mortificados com a sua coleção de siglas sombrias, PRISM, FISA, Nucleon.
      Era tudo sedução? Você planejava nos trocar por uma republicana popozuda de um metro e oitenta?
      Sim, você teve a oposição no seu pé e jogando sujo, mal acabaram de varrer o papel picado do Grant Park de Chicago. Mas você contou com aliados que Bill Clinton não teve. Ele foi perseguido como um cão vadio (e, convenhamos, se comportou como um cão vadio no Salão Oval) pela mídia de direita. Você, Barack, chegou a Washington no colo de uma nova geração. Eles nunca tinham votado e lhe ensinaram a usar, pela primeira vez na história, a mídia social para quebrar um odioso tabu racial deste país. A mídia de Rupert Murdoch insuflou o Tea Party mas a contrapartida do jornalismo bombástico que os americanos insistem em chamar de esquerda já estava instalada. E, como a hipocrisia é humana, não partidária, aprenderam rápido a confundir opinião com fato. Fizeram vista grossa quando ficou claro que boa parte do aparato de segurança montado nos anos de chumbo de Bush continuava intacto. Já que a CIA não podia mais prender em segredo e torturar, o jeito foi fazer chover bombas de drones sobre civis em locais remotos.
      Você foi canonizado, cantou blues em talk-shows, jogou basquete com os grandes. Seu exame de consciência, calculado ou não, que resultou na declaração de apoio ao casamento gay, já lhe garante uma vaga na galeria dos direitos civis. Sua briga pelo seguro saúde para todos, embora marcada por concessões aos variados lobbies corporativos, pode se revelar o seu maior legado.
      Quando você disse que não ia se curvar ao ciclo de notícias de 24 horas, pensamos que preservava sua dignidade no circo em que se transformou parte do jornalismo. Não imaginávamos que ia usar uma lei criada na 1ª Guerra Mundial, o Ato de Espionagem, para ir atrás de 'whistleblowers', gente que vazou informação para jornalistas, seis vezes. Em toda a história americana, este ato só foi invocado três vezes. Quando foi que a alergia aos jornalistas se transformou em desprezo pelo jornalismo investigativo?
      Sabe o que mais você tem em comum com seu antecessor? Bush também desperdiçou a solidariedade planetária com o povo americano, logo depois do 11 de Setembro. Graças ao pinga pinga de revelações sobre drones, à alimentação forçada de presos em Guantánamo e agora à temporada de revelações sobre a Agência de Segurança Nacional, o sentimento antiamericano é o mais alto desde a guerra no Iraque. Quem diz isso é o Financial Times, que está longe de ser um bastião de simpatizantes da Al-Qaeda.
      E o vexame internacional com o avião de Evo Morales? Está contente, Barack? Agora, tiranos latinos que não toleram dissidência em casa se lambuzam na glória da opressão do Tio Sam. E qualquer um, no lugar da Dilma, estaria aliviado com a capa da revista Época de ontem, tuitada para milhões.
      Em maio passado, você pediu um diálogo nacional sobre os limites do seu poder e admitiu que o país não pode ficar em estado permanente de guerra ao terrorismo. Por que, então, esta guerra a Edward Snowden que já lhe custou boa parte da confiança dos eleitores jovens?
      Há três anos, 25% dos americanos diziam que o país tinha ido longe demais restringindo liberdades civis em nome da segurança. Na semana passada, 45% responderam que o governo já passou da conta. Quem diria que um nerd com seus pen drives, no setor de trânsito do aeroporto de Moscou, poderia provocar esta mudança? Yes, he can.




      Do caderno New York Times da FSP de hoje, 20 de maio de 2013



      Biólogos usam "drones" nos EUA
      Por SEAN PATRICK FARRELL
      REFÚGIO NACIONAL DA VIDA SELVAGEM MONTE VISTA, Colorado - Um zumbido elétrico enche o ar do elevado vale desértico quando o cartógrafo Jeff Sloan, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, lança ao céu um pequeno avião de controle remoto. A 120 m de altura, o AreoVironmentRaven, de 2 kg, inicia uma trajetória em vaivém, tirando milhares de fotos em alta resolução de um brejo cheio de patos, gansos e grous-canadenses. O Raven, com 140 cm de envergadura, é um sistema aéreo não tripulado, mais conhecido como "drone".
      A tecnologia dos "drones", corriqueira em operações militares, está atualmente atraindo cientistas por propiciar análises mais baratas, seguras, certeiras e detalhadas do mundo natural.
      "Isso é realmente algo de ponta para nós", disse o biólogo Jim Dubovsky, especialista em aves migratórias, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA.
      Ravens antigos, produzidos por volta de 2005 com a função de monitorar posições inimigas à distância e que custam US$ 250 mil por sistema, estavam destinados à destruição quando um coronel do Exército pensou que eles poderiam ter melhor uso em pesquisas científicas. Os equipamentos foram doados ao Departamento Geológico e adaptados à vida civil, com novas câmeras e outros instrumentos. A primeira missão deles foi contar grous.
      Tradicionalmente, contagens de espécies são feitas por um biólogo sobrevoando a área em um aviãozinho ou helicóptero. Os "drones" oferecem vantagens, como a possibilidade de chegar bem perto sem assustar os bichos.
      Os grous-canadenses se instalam no brejo todas as noites e raramente se mexem até de manhã, o que faz deles um alvo fácil para um "drone" com uma câmera térmica. Nos vídeos, as aves apareceram como "um punhado de grãos de arroz sobre um pedaço de papel preto", segundo Dubovsky.
      Desde aquele voo, os "drones" já varreram o interior de Idaho atrás de coelhos-pigmeus, foram açoitados por chuvas e ventos tropicais no Havaí ao monitorar uma cerca que protege espécies vegetais e avaliaram a restauração do rio Elwha, recentemente liberado de uma barragem, no noroeste de Washington.
      O maior problema agora é a falta de pilotos treinados e de equipamentos. Outro obstáculo é receber autorização para voar. O aval da Administração Federal de Aviação para o estudo deste ano com as grous chegou tarde demais para o auge da migração rumo ao Colorado.
      O biólogo Phillip Groves, da empresa elétrica Idaho Power, que opera barragens no rio Snake, está usando um helicóptero teleguiado para estudar áreas ameaçadas de desova de um tipo de salmão.
      Embora demore mais -dois a três dias com duas pessoas operando um "drone", em vez de um só dia com um biólogo num helicóptero-, o custo total é menor e os dados capturados por câmeras em vez do olho humano são bem mais precisos, segundo ele.
      Também é mais seguro. Há três anos, um biólogo e piloto que Groves conhecia morreu num acidente de helicóptero estudando salmões.
      Embora os "drones" também tenham senões -como a curta duração das baterias-, eles podem voar com tempo ruim.
      Groves disse que já colocou seus "drones" em cânions com rajadas de vento a 64 km/h, o que seria suficiente para abreviar o voo de um helicóptero tripulado. O aparelho sofreu, mas voou, e nenhuma vida ficou em perigo.



        Do caderno New York Times da FSP de hoje, 29/4/13



        Crise faz com que crianças passem fome na Grécia
        Por LIZ ALDERMAN
        ATENAS - Como diretor de uma escola primária, Leonidas Nikas está vendo o que ele pensava que fosse impossível acontecer na Grécia: crianças procurando comida nas latas de lixo, jovens necessitados pedindo sobras de comida aos colegas e um menino de 11 anos, Pantelis Petrakis, com o corpo crispado pela fome.
        "Ele não tinha comido quase nada em casa", disse Nikas, sentado em seu escritório perto do porto de Pireus, um subúrbio da classe trabalhadora em Atenas. Ele consultou os pais de Pantelis, que disseram que não conseguem trabalho há meses.
        Sua poupança acabou e eles estão vivendo de macarrão com ketchup. "Nem em meus sonhos mais loucos eu esperava ver a situação em que estamos", disse Nikas. "Chegamos a um ponto em que as crianças da Grécia vêm para a escola famintas. Hoje as famílias têm dificuldade não apenas para encontrar emprego, mas para sobreviver."
        A economia grega encolheu 20% nos últimos cinco anos. O índice de desemprego supera 27%, o mais alto da Europa, e seis em cada dez pessoas que buscam emprego dizem que não trabalham há mais de um ano. Essas estatísticas estão reformulando a vida das famílias gregas. As crianças chegam em número cada vez maior às escolas famintas, subalimentadas ou até desnutridas, segundo grupos privados e o governo.
        Estima-se que 10% dos estudantes gregos da escola básica e média, no ano passado, tenham sofrido o que os profissionais de saúde pública chamam de "insegurança alimentar", o que significa que eles enfrentaram a fome ou o risco dela, segundo a doutora Athena Linos, da Prolepsis, um grupo não governamental de saúde pública.
        "Quando se trata de insegurança alimentar, a Grécia hoje caiu ao nível de alguns países africanos", disse. Os estudantes gregos trazem sua própria comida ou compram produtos em uma cantina. O custo se tornou impraticável para alguns. "Ao meu redor eu ouço crianças dizendo: 'Meus pais não têm dinheiro. Não sabemos o que vamos fazer'", disse Evangelia Karakaxa, 15, aluna do colégio Número 9 em Acharnes.
        Acharnes fervia com atividades ligadas às importações até que a crise econômica eliminou milhares de empregos no setor. "Nossos sonhos foram esmagados", acrescentou Evangelia. "Eles dizem que quando você se afoga sua vida passa em um 'flash' diante de seus olhos. Minha sensação é de que na Grécia estamos nos afogando em terra seca."
        Alexandra Perri, que trabalha na escola, disse que pelo menos 60 dos 280 alunos sofrem de desnutrição. "Há um ano, não era assim", disse. "O que é assustador é a velocidade com que isso está acontecendo."
        O governo reconheceu que precisa enfrentar a questão da desnutrição nas escolas. Nikas disse que sabe que o governo está trabalhando para consertar a economia. Agora que acabou a conversa sobre a Grécia sair da zona do euro, as coisas parecem melhores, ao menos para o mundo exterior.
        "Mas diga isso à família de Pantelis", disse Nikas. "Ela não sente melhoras em sua vida."
        Themelina Petrakis, a mãe de Pantelis, abriu sua geladeira. Lá dentro havia ketchup e outros condimentos, um pouco de macarrão e sobras de uma refeição que ela ganhou da prefeitura. Seu marido, Michalis, 41, foi demitido em dezembro. Ela disse que a companhia em que ele trabalhava não pagou seu salário durante cinco meses antes da demissão e que, em fevereiro, eles ficaram sem dinheiro. Quando a fome chega, Petrakis tem uma solução.
        "É simples", disse ela. "Você sente fome, fica tonto e dorme."
        Um relatório da Unicef de 2012 mostrou que, entre as famílias gregas mais pobres com crianças, mais de 26% tinham uma "dieta economicamente fraca".
        No ano passado, a Prolepsis começou a fornecer sanduíches, frutas e leite em 34 escolas públicas onde mais da metade das 6.400 famílias participantes diziam sentir "fome média a grave". Financiada por uma verba de US$ 8 milhões da Fundação Stavros Niarchos, uma organização filantrópica internacional, o programa foi expandido neste ano para atender 20 mil crianças.
        Konstantinos Arvanitopoulos, o ministro da Educação da Grécia, disse que o governo conseguiu financiamento da União Europeia para fornecer frutas e leite nas escolas e cupons para pão e queijo. Também está trabalhando com a Igreja Ortodoxa Grega para fornecer milhares de pacotes de ajuda.
        Mas Nikas está revoltado com o que ele considera uma ampla negligência da Europa pelos problemas da Grécia.
        Ele disse: "A menos que a União Europeia aja como essa escola, onde as famílias ajudam outras famílias porque somos uma grande família, estaremos acabados".


        Dos jornais de hoje, 16 de abril de 2013



        Greve | 15/04/2013 12:20

        "Guantánamo está me matando", denuncia prisioneiro

        Samir Naji al-Hasan Moqbel participação de uma greve de fome que já dura quase dois meses na prisão administrada pelos Estados Unidos


        Jim Watson/AFP
        Entrada da prisão na base naval americana em Guantánamo
        Entrada da prisão na base naval americana em Guantánamo: como muitos dos prisioneiros em greve de fome, ele nunca foi acusado por nenhum crime ou julgado
        Washington - Um prisioneiro detido em Guantánamo por mais de uma década sem ter sido acusado de nenhum crime falou nesta segunda-feira sobre sua participação em uma grevede fome que já dura quase dois meses na prisão administrada pelos Estados Unidos.
        Em um artigo publicado pelo New York Times intitulado "Gitmo (Guantánamo) está me matando", Samir Naji al-Hasan Moqbel afirma que perdeu mais de 13 quilos desde que começou uma greve de fome, no dia 10 de fevereiro, e que outro prisioneiro atualmente pesa apenas 34 quilos.
        "Nunca vou esquecer a primeira vez que eles colocaram o tubo de alimentação por meu nariz. Não posso descrever quão doloroso é ser forçado a se alimentar desta maneira", destacou Moqbel, de 35 anos.
        "Duas vezes por dia eles me prendem a uma cadeira em minha cela. Meus braços, pernas e cabeça são amarrados. Eu nunca sei quando eles virão. Algumas vezes eles vêm durante a noite, às 23H00, quando estou dormindo".
        "Há tantos de nós em greve de fome agora que não há membros da equipe médica suficientes para realizar as alimentações forçadas... Eles estão alimentando pessoas o dia todo apenas para prosseguirem".
        Moqbel afirmou ter viajado do Iêmen ao Afeganistão em 2000 em busca de trabalho, fugindo para o Paquistão durante a invasão americana no ano seguinte, onde foi detido e aprisionado em Guantánamo.
        Como muitos dos prisioneiros em greve de fome, ele nunca foi acusado por nenhum crime ou julgado, e não é visto como uma ameaça para a segurança nacional americana.
        Mas ele não pode ser libertado devido a uma moratória sobre a repatriação de iemenitas promulgada pelo presidente Barack Obama em 2009, depois que um complô para derrubar um avião no dia de Natal foi ligado ao braço iemenita da Al-Qaeda.
        A greve começou quando os prisioneiros alegaram que funcionários da prisão revistaram seus exemplares do Alcorão de forma desrespeitosa. As autoridades negaram qualquer profanação ao livro sagrado do Islã.


        Da Folha de São Paulo de 24.3.13



        24/03/2013 - 03h30

        Apoio à maconha se espalha nos EUA; já são 18 os Estados em que droga é liberada

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        RAUL JUSTE LORES
        DE NOVA YORK

        O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, anunciou que a partir do mês que vem nenhum usuário de maconha vai passar a noite na delegacia, como acontece até agora. "Será registrado, como uma infração no trânsito." "Nossos policiais poderão ser remanejados para atividades mais prioritárias", afirmou.
        Há dois meses, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, anunciou em seu discurso anual sobre o Estado que apresentaria projeto para legalizar a maconha.
        Ambos anúncios foram acompanhados de polêmica quase zero, sem protestos, como tem acontecido nos últimos tempos nos cantos mais liberais dos Estados Unidos.
        Segundo o instituto Gallup, 49% dos americanos aprovam a legalização da maconha, quase o dobro do que em 1995 (25%). Assim como o casamento gay, já aprovado por 53% dos americanos, a aprovação cresce a cada ano.
        Em novembro, os eleitores do Colorado e de Washington aprovaram em plebiscito o uso da maconha em caráter "recreativo". Os governos estaduais têm até o final deste ano para regulamentar o cultivo, a produção, a venda e a distribuição da erva.
        Apesar de a lei federal americana considerar a maconha ilegal, o presidente Barack Obama falou à TV em dezembro que não era "prioridade" perseguir usuários de maconha nos dois Estados.
        Em 18 Estados e no Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington, a maconha para uso medicinal já é legalmente liberada.
        Por enquanto, só a DEA, a agência de combate às drogas, pediu ao secretário de Justiça e procurador-geral, Eric Holder, para que não deixe de cumprir as leis federais por cima das estaduais recém-aprovadas. Holder ainda não se pronunciou, mas poucos acham que ele contrarie Obama.
        APOIO REPUBLICANO
        Já há quem pense em faturar com o novo momento da maconha no país. Denver, capital do Colorado, ganhou seu primeiro clube para degustadores da erva, o Club 64, que usa o número da emenda 64, a da legalização, e pode ser frequentado por maiores de 21 anos.
        O setor turístico do Estado, que abriga a famosa estação de esqui de Aspen, já imagina um "maconha-tour" de simpatizantes ao Colorado.
        Uma associação local começou um curso prático de plantio de maconha na União dos Estudantes de Tivoli, na mesma cidade.
        Também há um componente econômico na virada de um grande opositor à erva. O líder republicano no Senado, o senador Mitch McConnell, do Kentucky, juntou-se a dois senadores democratas e a outro republicano para apresentar uma emenda que legaliza o plantio de maconha.
        Até recentemente, McConnell dizia que a "maconha pode matar".
        Na semana retrasada, ao apresentar sua proposta, disse que "os agricultores do Kentucky podem se beneficiar enormemente das possibilidades da produção de canabis." Em Oregon, uma lei estadual já permite plantações que servirão para a demanda do vizinho Estado de Washington, onde o consumo foi liberado.
        AJUDA POP
        Também como no casamento gay, a cultura pop teve seu papel em ampliar a aceitação.
        Depois do sucesso do seriado "Weeds", onde uma dona de casa vendia a erva, em um dos filmes de maior bilheteria do ano passado no país, "Ted", o protagonista e seu amigo ursinho de pelúcia passavam fumando maconha em boa parte da história, chapados, sem julgamento. Sinal de prestígio, o diretor, Seth McFarlane, foi o apresentador do último Oscar.
        "Estamos vivendo enorme mudança de costumes e muita gente que jamais fumou maconha acha injusto prender milhares de pessoas que fumavam um baseado. Acabaremos tratando como álcool: taxando, regulando e impedindo o acesso a menores", diz Ethan Nadelmann, diretor-executivo da Aliança para Políticas de Drogas.


        Do Conjur, 3.2.13



        3fevereiro2013
        CARO E SEM GARANTIA

        Cai nos EUA interesse de estudantes por curso de Direito

        Até agora, apenas 30 mil estudantes enviaram pedidos de matrículas às faculdades de Direito dos Estados Unidos, para o próximo ano letivo. Houve uma queda de 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. E de 38%, em relação a 2010. O número de pedidos poderá chegar a pouco mais de 50 mil, à época das matrículas — metade do número de requerimentos em 2004. Dos 50 mil pedidos, apenas 38 mil deverão efetivar a matrícula, tornando 2013 o pior ano das faculdades de Direito em 30 anos, segundo o jornal The New York Times.
        Pelo menos dez das 212 faculdades de Direito dos EUA vão fechar as portas nos próximos dez anos e a maioria terá de enxugar seus quadros docentes e administrativos, desde agora, afirma a revista Forbes. Haverá demissões em massa nas faculdades de Direito, já a partir do próximo ano letivo (que se inicia em setembro), prevê o Times.
        "Aliás, algumas escolas, como a Faculdade de Direito de Vermont, já iniciaram o processo de demissões", diz o jornal. De dois terços à metade das Faculdades terão de reduzir o tamanho das classes e fazer cortes de professores e funcionários, disse Brian Leiter, da Faculdade de Direito da Universidade de Chicago ao jornal. Algumas faculdades estão aceitando estudantes que, antes, considerariam desqualificados, porque se saíram mal no curso secundário.
        O crescente desinteresse dos estudantes no curso de Direito tem duas razões básicas: os altos custos do curso e as altas taxas de desemprego dos bacharéis.
        O custo total do curso de direito, em média, é calculado em US$ 125 mil dólares. Em 2001, a média era de US$ 70 mil. Um curso em uma faculdade de Direito de Nova York pode custar, entre mensalidades, moradia e alimentação, até US$ 80 mil por ano.
        A despesa é garantida, o emprego, não. De acordo com um estudo recente da American Bar Association (ABA), a Ordem dos advogados dos EUA, 55% dos bacharéis formados em 2011 não encontraram emprego na área do Direito em um período de nove meses, após a formatura. Empregos no governo, em organizações não governamentais e outras entidades não são boas opções, porque os salários não são compatíveis com a dívida que assumiram. Alguns nem isso conseguem. Acabam arrumando qualquer emprego, até no McDonald’s, para sobreviver.
        "Há 30 anos, um curso de Direito era uma garantia de escalada social para estudantes que nasciam em famílias pobres ou apenas remediadas. Hoje, o elevador das faculdades de Direito está quebrado", disse ao jornal o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Indiana William Henderson.
        Não há emprego porque as bancas, em tempos de crise econômica, estão enxugando seus quadros e não contratando. Mais que isso, estão tentando reduzir custos de uma maneira inusitada, há alguns anos: terceirizando serviços burocráticos da advocacia, como o de pesquisa de legislação, jurisprudência, casos, etc., para estados em que a mão-de-obra é mais barata ou para outros países, pelo mesmo motivo.
        Antes, esses serviços eram prestados por bacharéis americanos, enquanto aprendiam a atuar como advogados. "Agora, com a Internet e telecomunicações baratas, ficou fácil para as firmas de advocacia americanas contratar mão-de-obra barata em países como a Índia para fazer o serviço", diz a revistaForbes. A ValeuNortes, uma empresa indiana de pesquisa, informou que a quantidade de firmas no país que oferecem serviços jurídicos a bancas americanas triplicou nos últimos anos. "Já são 140 e devem gerar US$ 1,1 bilhão em receitas no próximo ano".
        As faculdades de Direito vêm discutindo, nos últimos dois ou três anos, a necessidade de reduzir os custos para os estudantes. Mas, nenhuma decisão foi tomada até agora. Antes, elas querem descobrir formas de reduzir os próprios custos, para manter suas margens de lucro intactas.
        Para onde estão indo os estudantes que não apresentaram pedidos de matrícula às faculdades de Direito? Alguns para o mercado de trabalho, muitos para outras faculdades, com destaque para a área de Economia e ADministração. Nessas escolas, o volume de pedidos de matrícula por estudantes americanos cresceu 0,8% em 2011. E os pedidos de matrícula por alunos estrangeiros cresceram 13%. As escolas de negócios levam essa vantagem sobre as faculdades de Direito: os estrangeiros podem estudar negócios nos EUA e praticarem o que aprenderam em seus países de origem. Obviamente, não têm interesse em fazer curso de Direito nos EUA, para praticar em seus países.
        As faculdades que estão se saindo "menos mal", no que se refere ao desinteresse dos estudantes em cursos de Direito, são as poucas escolas que oferecem cursos práticos de advocacia aos alunos, em vez de teoria. Um exemplo é a Faculdade de Direito Northeastern de Boston que, por preparar os estudantes para exercer a profissão assim que caiam no mercado, está sofrendo menos que as outras em razão do desinteresse dos estudantes americanos.

        João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.


        Essa vem dos Médicos Sem Fronteiras



        Médico generalista
        Esdras da Silva Jr., médico, conta sua experiência com MSF em Moçambique
        1
        Trabalhar com HIV na África não é fácil, mas Moçambique em especial tem sido bastante desafiador. A epidemia aqui está tão fora de controle que, em Maputo, cerca de 23% da população sexualmente ativa têm o vírus. Em alguns bairros, a conta chega a 35%. Só para se ter uma ideia, a prevalência do HIV no Brasil é de cerca de 0,6% da população. 
        Podemos caminhar nas ruas e ver o flagelo em cada esquina, no rosto das pessoas, seja pela falta do medicamento ou pelo efeito colateral dele (lipodistrofia). O número de crianças órfãs de pais que morreram pela infecção também não é dos mais animadores, sem falar que parte destes órfãos também está infectada. 
        Cerca de 68% das pessoas infectadas pelo HIV e que precisam iniciar o medicamento estão sem acesso às drogas. A escassez de recursos humanos na área de saúde é outro fator impeditivo para o acesso universal aos antirretrovirais: há apenas cerca de 800 médicos no país para cerca de 22 milhões de habitantes, situação pior só a do Malaui, onde trabalhei ano passado. O governo ainda reluta em fazer o "task-shifting" colocando enfermeiras e auxiliares para prescrever a medicação (porque aqui não há outro jeito). 
        A expectativa de vida do país baixou e agora está na casa dos 38 anos, tudo devido ao HIV! Tudo isso somado a um cenário devastado por 20 anos de guerra civil que deixou os sistemas de educação e saúde em frangalhos. Noventa e seis por cento de todo o fundo para o combate a epidemia vem de ajuda externa (OMS, PEPFAR, ONGs, Global Fund, etc) e há sinais de que boa parte destes recursos está em curso decrescente devido à crise global instituída em 2009. 
        Escrevo isso como um testemunho! Não é justo uma parte da população do planeta ter acesso ao tratamento do HIV enquanto nesta parte do mundo acontece um verdadeiro genocídio... Silencioso!!


        Esse é o editorial do NYT do dia 29/12/12


        EDITORIAL

        Rape in the World’s Largest Democracy


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        The brutal gang rape of a young woman in New Delhi this month has cast a cold light on how badly India treats its women.

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        For Op-Ed, follow@nytopinion and to hear from the editorial page editor, Andrew Rosenthal, follow@andyrNYT.
        On Dec. 16, the 23-year-old physiotherapy student was viciously assaulted by a group of men while she was riding a bus with a male companion. The two had just seen a movie. Both she and the man were beaten with an iron rod and eventually stripped, robbed and dumped on the roadside. After three surgeries at an Indian hospital, the woman was flown to Singapore on Thursday for further treatment. She died early on Saturday after suffering what hospital officials said were “signs of severe organ failure.”
        This reprehensible crime reflects an alarming trend in India, which basks in its success as a growing business and technological mecca but tolerates shocking abuse of women. Rape cases have increased at an alarming rate, roughly 25 percent in six years. New Delhi recorded 572 rapes in 2011; that total is up 17 percent this year.
        And those are just the reported cases. Many victims, shamed into silence and callously disregarded by a male-dominated power structure, never go to the authorities to seek justice. Women are routinely blamed for inciting the violence against them. On Wednesday, an 18-year-old girl from Punjab who had been gang-raped in an earlier incident killed herself after police and village elders pressured her to drop the case and marry one of her attackers.
        India’s news media now regularly carry horrific accounts of gang rapes, and this has begun to focus national attention on the problem. But the rape of the 23-year-old woman seemed to take the outrage to a new level, prompting tens of thousands to protest in New Delhi and elsewhere across the country. Still, political leaders were slow to react. It was days before Prime Minister Manmohan Singh appeared on television to plead for calm and to promise to make India safer for women.
        Since the attack, six suspects have been arrested and the government has announced the formation of two commissions, one to identify police “lapses” and another to recommend ways to speed up sexual assault trials. Reforms are needed in the law enforcement system to make convictions more possible and punishments more convincing. And Indian leaders like Sonia Gandhi, head of the ruling Congress Party, must speak out more forcefully about bringing rapists to justice.
        More broadly, India must work on changing a culture in which women are routinely devalued. Many are betrothed against their will as child brides, and many suffer cruelly, including acid attacks and burning, at the hands of husbands and family members.
        India, a rising economic power and the world’s largest democracy, can never reach its full potential if half its population lives in fear of unspeakable violence.

        Do caderno New York Times da FSP de 5/11/12



        Crise colapsou saúde na Grécia

        Por LIZ ALDERMAN
        Atenas
        Como chefe do maior departamento de oncologia da Grécia, Kostas Syrigos achava que já tinha visto de tudo. Mas nada o havia preparado para conhecer Elena, uma desempregada diagnosticada com câncer de mama um ano antes de procurá-lo.
        O tumor atingira o tamanho de uma laranja e havia irrompido pela pele, deixando uma ferida que ela drenava com guardanapos de papel. "Quando a vimos, ficamos sem palavras", disse Syrigos, chefe do setor de oncologia do Hospital Geral Sotiria, no centro de Atenas. "Tudo mundo chorava. Coisas assim são descritas nos livros, mas você nunca as vê, pois, até agora, quem ficava doente neste país sempre podia procurar ajuda."
        A vida na Grécia virou de ponta-cabeça desde que a crise da dívida se instalou. Porém, em poucas áreas a mudança foi tão drástica como na saúde. Até recentemente, a Grécia tinha um típico sistema europeu de saúde, com empregadores e indivíduos contribuindo com um fundo que, com assistência governamental, financiava o atendimento universal. Quem perdia o emprego continuava com o benefício.
        Isso mudou em julho de 2011, quando a Grécia assinou um acordo com credores internacionais para evitar um colapso financeiro. Agora, conforme prevê o acordo, quem perde o emprego recebe o benefício por no máximo um ano. Depois, precisa se virar.
        Cerca de metade dos 1,2 milhão de gregos em situação de desemprego prolongado não tem plano de saúde, e a cifra deve subir mais, com um desemprego de 25% e uma economia moribunda, segundo Savas Robolis, diretor do Instituto Trabalhista da Confederação Geral de Trabalhadores Gregos.
        Um novo pacote de austeridade de US$ 17,5 bilhões em cortes orçamentários e aumentos tributários, definido com os credores internacionais, irá piorar as coisas, segundo a maioria dos economistas.
        As mudanças estão forçando cada vez mais gente a procurar auxílio fora do sistema tradicional de saúde. Elena foi encaminhada para Syrigos por médicos de um movimento informal que atende os sem-seguro.
        "Na Grécia atual, estar desempregado significa a morte", disse Syrigos. "Estamos nos encaminhando para a mesma situação dos Estados Unidos, onde, quando você perde o emprego e não tem plano de saúde, não tem cobertura. "
        O sistema de saúde da Grécia está cada vez mais disfuncional e pode piorar se o governo cortar mais US$ 2 bilhões do setor, como já propôs. Com os cofres públicos vazios, alguns pacientes são obrigados a trazer seus próprios suprimentos, como stents (próteses metálicas para a desobstrução de artérias) e seringas.
        Hospitais e farmácias só aceitam dinheiro vivo na venda de remédios, o que para pacientes de câncer pode equivaler a dezenas de milhares de dólares, quantia que a maioria não possui.
        Syrigos e vários colegas montaram uma rede para ajudar vítimas de câncer e outras doenças que não tenham plano de saúde.
        A rede usa sobras de remédios doadas por farmácias, por alguns laboratórios e até por famílias de pacientes que morreram. Na Grécia, médicos que forem flagrados usando remédios do hospital para ajudar uma pessoa sem cobertura médica precisam arcar com os custos.
        Na Clínica Social Metropolitana, um hospital improvisado na periferia de Atenas, Giorgos Vichas aponta para sacos plásticos cheios de remédios doados.
        "Somos uma rede Robin Hood", disse o cardiologista Vichas, que fundou o movimento em janeiro.
        Enquanto ele falava, Elena apareceu, pedindo remédios.
        Ela deixou o emprego de professora para cuidar de parentes doentes. Ao saber que tinha câncer, tentou vender algumas terras, mas não achou comprador.
        "Se eu não pudesse vir aqui, não faria nada", disse. "Na Grécia de hoje, você precisa fazer um contrato consigo mesmo de que não vai ficar muito doente."


        Esse artigo muito interessante está no Estadão de hoje, 23/9, caderno Aliás.


        'E discípula, também'

        Fragmento de pergaminho reabre debate sobre a gnóstica Maria Madalena: teria sido não apenas mulher, mas confidente de Jesus?

        23 de setembro de 2012 | 3h 10

        O Estado de S.Paulo
        JUAN ARIAS
        A opinião pública teve sua atenção voltada para uma frase contida num fragmento de papiro escrito em copta, língua do antigo Egito, revelado por Karen King, da Universidade Harvard, em Boston, uma das maiores autoridades mundiais em história do cristianismo.
        A frase é aquela em que Jesus, falando aos discípulos, refere-se a "minha mulher", confirmando a tese de que o profeta judeu, que deu origem ao cristianismo, seria casado.
        Entretanto, no mesmo papiro, os especialistas decifraram outra frase que, na minha opinião, é ainda mais importante. É aquela em que Jesus diz aos discípulos: "Ela pode ser minha discípula também".
        Ele se referia a Maria Madalena. Por que esse "também"? Explico.
        A frase nos leva a pensar que o papiro seria um fragmento de um evangelho gnóstico que remonta ao século 2º, e não de um evangelho apócrifo, como alguns quiseram pensar para diminuir a importância do mesmo.
        Os evangelhos gnósticos são importantíssimos para se conhecer o nascimento do cristianismo e as primeiras lutas dialéticas entre as correntes filosóficas e teológicas das primeiras comunidades cristãs. Revelam uma corrente de pensamento alheia ao judaísmo clássico e ortodoxo que acabou fazendo parte do primeiro ideário cristão. E é nesses evangelhos que os apóstolos falam abertamente do matrimônio de Jesus com a gnóstica iluminada Maria de Magdala e das disputas e ciúmes dos apóstolos, concretamente de Pedro, em relação ao tratamento íntimo que o Mestre dava àquela mulher, que provavelmente nem era judia e a quem, segundo afirma Pedro, "ele revelava segredos" que escondia deles.
        Os apóstolos não viam com bons olhos o fato de Madalena ser tida como a escolhida entre as mulheres (essas sim, judias) que acompanhavam Jesus como uma espécie de discípulas nas peregrinações. Madalena era aquela com quem ele mais se abria sobre as novas ideias do Reino de Deus que pregava pelas aldeias da Galileia.
        O que ocorre é que Maria de Magdala - que um dia foi confundida até mesmo pela Igreja como a prostituta dos evangelhos - era diferente. Com ela Jesus mantinha uma intimidade especial.
        Essa frase do papiro de Karen, "ela pode ser minha discípula também", é um eco das disputas com os apóstolos sobre a admissão daquela mulher gnóstica na comunidade apostólica. Jesus confirma que ela, apesar de pertencer provavelmente a uma seita diferente da judaica tradicional, podia ser "também", ou igualmente, sua discípula.
        Hoje sabemos a importância do complexo pensamento filosófico e teológico gnóstico na formação do cristianismo original e o papel proeminente de Maria Madalena, a quem, segundo os evangelhos gnósticos, Jesus "beijava na boca". Uma expressão que, além da intimidade afetiva e sexual, revela um importante simbolismo, pois segundo os gnósticos o conhecimento se transmite através do beijo.
        A diferença fundamental entre o pensamento oferecido ao cristianismo primitivo por Paulo de Tarso e o pensamento gnóstico reside no fato de que, enquanto para o judeu perseguidor de cristãos convertido ao cristianism, e depois perseguidor de judeus, o que importa é a "teologia da cruz", segundo a qual o mal do mundo tem origem "no pecado". Para os gnósticos, ao contrário, o mal do mundo decorre da "falta de conhecimento" e sabedoria. De algum modo, a teologia de Paulo, que acabou triunfando, se fundamenta no sacrifício, ao passo que a gnóstica se baseia na felicidade que nasce da sabedoria e compreensão do mundo.
        A corrente gnóstica era mais feminina e liderada por Maria Madalena. Por isso, nas primeiras comunidades cristãs no século 1º, a importância das mulheres se tornara fundamental. As primeiras eucaristias foram celebradas nas casas e elas, como os homens, eram sacerdotisas e até bispas, como se desprende das pinturas do século 3º existentes em algumas catacumbas de Roma que somente especialistas podem ver.
        Mas aos poucos o pensamento teológico de Paulo de Tarso, bem mais misógino, acabou por se impor, nascendo assim a hierarquia masculina, que acabou relegando as mulheres a segundo plano.
        Foi então que a corrente gnóstica passou a ser perseguida e seus escritos, queimados - menos alguns, que monges esconderam, enterraram e só foram descobertos há algumas décadas. Entre eles está o Evangelho de Maria Madalena, escrito por ela.
        Nos primeiros séculos os evangelhos gnósticos tinham a mesma importância que os quatro canônicos e isso é demonstrado pelo fato de os padres da Igreja os qualificarem em seus escritos como autênticos. Sabemos da existência de alguns desses evangelhos, desaparecidos para sempre, justamente por essas citações.
        Poucos teólogos cristãos e sobretudo estudiosos da Bíblia duvidam do matrimônio de Jesus com a gnóstica Maria Madalena. A igreja oficial sabe e por isso não se atreve a condenar os livros que defendem essa tese, como o meu, Madalena, o Último Tabu do Cristianismo, que prova a intimidade de Jesus com aquela mulher de Magdala com uma análise hermenêutica não apenas dos evangelhos gnósticos, mas também dos canônicos.
        Uma prova irrefutável é o fato de que Jesus, recém ressuscitado, não apareceu para Pedro e os demais apóstolos, como seria normal, mas para Madalena, quando naquele tempo uma mulher não era confiável nem como testemunha em juízo. Por isso Pedro não acredita em Madalena e ele próprio se dirige à tumba para confirmar que ela estava vazia.
        Até São Tomás de Aquino passou toda a vida perguntando-se por que Jesus não apareceu primeiro para Pedro. Pela simples razão de que Madalena era não só sua esposa, mas a discípula predileta, a depositária dos seus segredos. Lendo meu livro, o escritor José Saramago, Nobel de Literatura, disse a sua mulher, Pilar del Río: "É evidente. Se, ao morrer, eu pudesse aparecer para alguém, o faria para você, a pessoa a quem mais amo".
        Hoje a Igreja, que mais do que fundada por Jesus o foi por Paulo de Tarso, seria muito diferente caso tivesse prevalecido a corrente gnóstica que esteve a ponto de eleger um dos primeiros papas.
        E as mulheres não continuariam relegadas pela Igreja, impossibilitadas de exercer o sacerdócio, quando no cristianismo mais original o papel delas era fundamental.
        Jesus, na realidade, jamais pensou em fundar uma nova religião. Era judeu, de nascimento e fé. Seu desejo era que o judaísmo, a primeira grande religião monoteísta da história, não ficasse restrito apenas aos judeus, mas abrisse suas portas para todos, pois Deus era "pai de toda a humanidade", e não só do povo eleito.
        As ideias originais e revolucionárias de Jesus, que as mulheres então compreendiam melhor do que os homens, foram se perdendo ao longo dos séculos a ponto de um teólogo latino-americano chegar a dizer que as ideias do profeta de Nazaré eram tão subversivas que "criaram uma Igreja para combatê-las".
        Jesus queria que Madalena fosse "também" sua discípula, como os discípulos varões. Daí a importância do papiro de Karen.
        Ele não fundou uma Igreja hierárquica, muito menos machista. Os evangelhos inspirados e aprovados pela Igreja o descrevem como um judeu pouco ortodoxo, "amigo de pecadores e prostitutas". Jesus amava as mulheres e fez delas o gérmen da sua nova doutrina, a doutrina do amor universal, do perdão e da felicidade.
        Aos poucos aquela ideia original foi morrendo pelo caminho, sob o peso de uma Igreja copiada do Império Romano, masculina, de celibatários, mais baseada no Direito Canônico, nas leis e proibições do que no "Espírito que sopra em toda parte" de que Jesus falava e que já naquela época as mulheres entendiam melhor que os apóstolos. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


        Essa vem do Estadão de 3/8/12



        Romney não estudou a lição de casa

        Republicano, que pode vir a se tornar presidente dos EUA, não consegue entender porque alguns países são ricos e fortes e outros pobres e fracos

        03 de agosto de 2012 | 3h 04

        JARED DIAMOND, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
        O comentário mais recente e controvertido feito por Mitt Romney sobre o papel da cultura para explicar o motivo pelo qual alguns países são ricos e poderosos enquanto outros são pobres e fracos provocou muita polêmica. Eu me interessei particularmente por seu comentário, pois ele distorceu meus pontos de vista e, ao contrapô-los aos argumentos de outro especialista, simplificou excessivamente a questão.
        Não é verdade que meu livro Guns, Germs and Steel, segundo a citação de Romney num discurso em Jerusalém, "afirma basicamente que as características físicas das regiões da terra explicam os diferentes graus de sucesso dos povos que as habitam. Na terra há minério de ferro, etc".
        Essa afirmação é tão diferente da que faço no livro que duvido que Romney o tenha lido. Eu falava essencialmente das características biológicas, como as espécies vegetais e animais, e, entre as características físicas, mencionava as dimensões e as formas dos continentes e o relativo isolamento. Não falei a respeito do minério de ferro, tão difundido que sua distribuição pouco influiu nos diferentes graus de sucesso dos diferentes povos (como soube esta semana, Romney também descaracterizou o meu livro em suas memórias No Apology: Believe in America). Mas essa não é a parte pior.
        Até especialistas que enfatizam as explicações sociais em relação à geográficas - como o economista de Harvard, David S. Landes, cujo livro The Wealth and Poverty of Nations foi mencionado favoravelmente por Romney - devem achar perigosamente ultrapassada a afirmação de Romney de que "a cultura é responsável por toda a diferença". Na realidade, Landes analisou múltiplos fatores (como o clima) ao explicar o motivo pelo qual a revolução industrial ocorreu primeiramente na Europa e não em outra parte do mundo.
        Assim como um casamento feliz depende de variados fatores, o mesmo ocorre com a riqueza e o poderio nacional. Com isso não pretendo negar a relevância da cultura. Alguns países têm instituições políticas e práticas culturais - um governo honesto, a norma da lei, oportunidades para a acumulação de dinheiro - que recompensam o trabalho árduo.
        Outros não têm. Exemplos conhecidos são os contrastes entre países vizinhos que compartilham de ambientes semelhantes, mas têm instituições muito diferentes - é o caso da Coreia do Sul em relação à Coreia do Norte. Países ricos e poderosos em geral têm boas instituições que recompensam o trabalho árduo. Mas instituições e cultura não constituem a única resposta, pois alguns países que têm notoriamente instituições ruins (como a Itália e a Argentina) são ricos, enquanto alguns países virtuosos (como a Tanzânia e o Butão) são pobres. Entre outros fatores está a geografia, que abrange aspectos muito mais numerosos do que as características físicas menosprezadas por Romney.
        Um dos fatores geográficos é a latitude, que hoje influi poderosamente na riqueza e na pobreza: os países tropicais em geral são mais pobres do que os países das zonas temperadas. Entre os motivos há os efeitos debilitantes das moléstias tropicais para a expectativa de vida e o trabalho, e a produtividade média baixa da agricultura e dos solos nos trópicos, em comparação às zonas temperadas.
        Um segundo fator é o acesso ao mar. Os países sem saída para o mar ou sem grandes rios navegáveis em geral são mais pobres, pois os custos do transporte por terra ou pelo ar são muito maiores do que os custos do transporte por mar.
        Um terceiro fator geográfico é a história da agricultura. Se um extraterrestre tivesse visitado a terra no ano 2000 a.C., teria observado que o governo centralizado, a escrita e as ferramentas de metal eram bastante difundidas na Eurásia, mas ainda não haviam surgido no Novo Mundo, na África Subsaariana ou na Austrália. Essa vantagem faria com que o visitante previsse corretamente que, hoje, os países mais ricos e mais poderosos do mundo seriam predominantemente os países eurasiáticos (e suas colônias na América do Norte, Austrália e Nova Zelândia).
        Cultivo. A razão é o efeito histórico da geografia: há 13 mil anos, todos os povos em todas as partes da terra eram coletores e caçadores que viviam em populações esparsas sem um governo centralizado, sem exércitos, escrita ou ferramentas de metal. Esses quatro sustentáculos do poder surgiram como consequência do desenvolvimento da agricultura, que provocou explosões populacionais e acumulações de excedentes de alimentos para líderes, soldados, escribas e inventores. Mas a agricultura só poderia se originar nas poucas regiões dotadas de muitas espécies vegetais e de animais selvagens que podiam ser domesticados, como por exemplo arroz selvagem, trigo, porcos e gado.
        Em suma, as explicações geográficas e as explicações culturais e institucionais não são independentes entre si. Evidentemente, nem todas as regiões agrícolas chegaram a ter governos centralizados honestos, mas nenhuma região não agrícola jamais chegou a ter um governo centralizado, honesto ou não. É por isso que as instituições que hoje promovem a riqueza surgiram em primeiro lugar na Eurásia, a região com a agricultura mais antiga e mais produtiva.
        O que isso significa para os americanos? Podemos supor que os EUA, abençoados por um clima temperado, costas marítimas e rios navegáveis, continuarão ricos para sempre, enquanto os países tropicais ou sem saída para o mar estão condenados à pobreza eterna? Evidentemente não. Alguns países tropicais e subtropicais tornaram-se mais ricos apesar das limitações geográficas. Eles investiram na saúde pública para vencer suas doenças (Botsuana e as Filipinas). Investiram em culturas adaptadas aos trópicos (Brasil e Malásia). Concentraram suas economias em outros setores que não a agricultura (Cingapura e Taiwan).
        Por outro lado, as vantagens geográficas não garantem o sucesso permanente, como mostram as crescentes dificuldades na Europa e nos EUA. Os americanos não oferecem uma formação superior e incentivos econômicos a grande parte de sua população. Índia, China e outros países que não têm sido líderes mundiais estão investindo consideravelmente em educação, tecnologia e infraestrutura. Estão oferecendo oportunidades econômicas a um número crescente de cidadãos. Esta é, em parte, a razão pela qual os empregos estão indo para o exterior. A geografia não os manterá ricos e poderosos se não tiverem uma excelente educação, se não puderem ter acesso à assistência médica e não puderem contar com a possibilidade de que o árduo trabalho seja recompensado com bons empregos e uma renda maior.
        Talvez Romney se torne o próximo presidente dos EUA. Continuará pretendendo explicar com um único fator problemas que têm causas múltiplas, e não compreendendo a história e o mundo moderno? Se isso acontecer, presidirá uma nação em declínio que desperdiça as vantagens de sua localização e de sua história. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA   *É ESCRITOR E PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA


        Do Estadão de hoje, 2/7/12



        Gilles Lapouge
        Início do conteúdo

        Damasco, a mentira

        26 de julho de 2012 | 3h 02

        Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
        Somos inundados por todo lado de imagens de Damasco e da segunda maior cidade da Síria, Alepo - casas semidestruídas, céus cobertos de fumaça negra, gritos de terror, o ruído das sirenes, o sangue. Mas, por trás dessa cortina, o que sabemos do verdadeiro teatro no qual se desenrola a tragédia que dilacera o corpo ofegante sírio?
        Os dirigentes de Damasco mostram, há um ano, tanta frieza, insensibilidade e mentiras que não sabemos mais se as imagens que nos chegam do infeliz país são reais ou falsas, concretas ou imaginárias. Damasco tornou-se a tenebrosa miragem dos tempos atuais.
        No dia 18, um atentado em um complexo do regime, no centro da capital, matou quatro funcionários de alto escalão das forças de segurança de Bashar Assad. A ditadura apontou imediatamente os responsáveis: os revolucionários do Exército Sírio Livre (ESL), ou os velhos especialistas do terror islâmico, o pessoal da Al-Qaeda, infiltrados nas fileiras dos insurgentes, como não se cansa de reiterar ad nauseam - e com razão - a máquina de propaganda do regime Assad.
        A imprensa mundial pareceu concordar com a versão oficial da história. Mas, após oito dias, as pessoas expressam certo ceticismo.
        Trabalho interno? Pelas calçadas de Damasco circula uma tese alternativa: e se a bomba foi colocada não pelos rebeldes ou pela Al-Qaeda, mas pelo próprio regime? Assad teria assassinado quatro dos seus colaboradores do mais alto escalão? Por quê?
        Porque, respondem vozes de Damasco, esses chefes da segurança se preparavam para desertar e a unirem-se aos insurgentes.
        Dois deles - o vice-ministro da Defesa e cunhado de Assad, Assef Shawkat, e o general Hassan Tourkmani - deveriam desempenhar um papel-chave na transição política e na Síria pós-Assad. O ditador, ciente do perigo que representaria para o seu regime a deserção dos quatro chefes das forças de segurança, teria se adiantado. Massacrou-os e pôs o crime na conta dos revolucionários do Exército Sírio Livre ou na da Al-Qaeda.
        Esses boatos correm pelas calçadas da cidade mártir da Síria, Damasco. Mas devemos levá-los realmente a sério? Difícil dizer. São apenas boatos. Se os informamos, é para traçar o retrato dessa cidade à deriva na História, na qual tudo é mentira, a ponto de a realidade e o imaginário trocarem de lugar e construírem, juntos, o mundo irreal dos 17 meses da crise síria.
        O escolhido. Curiosamente, um homem que foi durante muito tempo um assessor muito próximo de Assad, hoje exilado, que se desloca continuamente entre Dubai e o Canadá, faz do seu antigo patrão e amigo uma descrição que acentua ainda mais a irrealidade que o espetáculo das loucuras de Damasco nos inunda a todo dia.
        Ayman Abdel Nour, que teve de fugir da Síria em 2007, declara: "O regime Assad está prestes a devastar Damasco para salvar sua cabeça... Assad é um homem profundamente desequilibrado, que acha que os manifestantes são todos joguetes do Catar. Ele acha que foi escolhido por Deus para conduzir a Síria. Essa deriva começou nos anos 2000, enquanto as elites militares e religiosas do país o endeusavam. E acabará como Kadafi. Um homem escolhido por Deus não pode fugir". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

        * É CORRESPONDENTE EM PARIS


        Essa vem do El País.



        Bodas de occidentales por conveniencia

        Brasil, el país más próspero de Latinoamérica, detecta un aumento de uniones por interés

        La dificultad de lograr visado para vivir y trabajar empuja al fraude


        Luis es publicista, vive en Brasil y se va casar para poder conseguir la residencia. / MARÍA MARTÍN
        Luis, un publicista español de 36 años, cambió Berlín por São Paulo hace solo tres meses y ya tiene planes de boda. Su prometida, una mulata de 36 años que trabaja como empleada doméstica, le ha abierto las puertas de su casa con la mejor de sus sonrisas. En unas semanas se tomarán sus primeros retratos de pareja y en menos de dos meses se casarán ante un notario. Después, una firma, un beso y hasta la vista.
        Luis es homosexual y se comunica con su futura esposa por Facebook. Su boda es solo un medio para lograr el permiso de residencia y trabajar legalmente en Brasil, donde se exige que dos tercios de las plantillas de las empresas sean autóctonas. La estrategia empieza a abundar entre los europeos que emigran sin visado y en busca de otra oportunidad al país más próspero de Latinoamérica. El mismo truco que comenzó a preocupar a las autoridades europeas a finales de los noventa. En España se pagaba hasta 10.000 euros por casarse con un español.
        “Tengo un poco de miedo, pero conozco tres alemanes en Río de Janeiro y un americano en São Paulo que hicieron lo mismo”, dice Luis, inmerso en el papeleo y en buscar empleo. Cuando la Policía Federal visite su casa, como parte del proceso para autorizar su residencia, los agentes preguntarán por ellos a los vecinos, escrutarán sus fotos y hurgarán en sus cajones para comprobar cuánto ama a su mujer. Si pasan la prueba, Luis podrá pedir la nacionalidad brasileña en un año.
        Pero si reconocen el fraude, la pareja se enfrentaría a los delitos de falsedad ideológica y documental, castigados con hasta cinco años de cárcel. Además, expulsarían a Luis de Brasil. A él no le preocupa demasiado: la alternativa es vivir sin papeles, lo que le impide salir y entrar del país y ganar un salario regular.

        Las autoridades, alertadas, están agudizando los controles
        Las peticiones de visado permanente basadas en matrimonios con brasileños aumentaron un 95% de 2009 a 2010. Hubo 6.303 solicitudes, según el Ministerio de Justicia. En 2011, el número se estabilizó y fueron 3.479 extranjeros los que solicitaron su visado. Se lo denegaron a un 13%.
        Nada más llegar a São Paulo, Carlos se reunió con un abogado para regularizar su situación y comprobó lo difícil que era conseguir un visado. “Hay que demostrar que la función que tú desempeñas no puede hacerla un brasileño y la burocracia es infinita. El abogado me habló de la posibilidad de la unión estable con una brasileña. Nunca habló de fraude, pero él sabía que no estábamos juntos”. Carlos habló con su compañera de piso: “Tengo un trabajo para ti y este es mi presupuesto”, le dijo. Y le pagó 3.000 reales (1.200 euros).
        Carlos estuvo cuatro meses reuniendo la documentación y sus amigos le ayudaron a plasmar en fotos su falso romance. “Montamos nuestra relación según los sellos que tenía en mi pasaporte, porque no podía demostrar que llevábamos mucho tiempo conviviendo”, recuerda.
        Las uniones estables se van popularizando entre los extranjeros. En 2009, 222 inmigrantes pidieron un visado tras establecerse como pareja de hecho. En 2011 hubo 403 solicitudes. Los españoles ocupan el tercer lugar en la lista de interesados, tras los franceses y los ingleses, según el Consejo General de Inmigración del Ministerio de Trabajo.
        Hace dos semanas, Luis conoció por casualidad a Carlos, un programador barcelonés de 34 años que también inventó un noviazgo con una brasileña. “Al llegar a Brasil supe que quería quedarme y tuve claro cómo hacerlo”, explica. Él optó por la unión estable. Esta figura —que admite las uniones gais— requiere más exigencias que el matrimonio (demostrar una vida en común, una cuenta corriente o seguro de vida a nombre de los dos…), pero las autoridades no les vigilan, a no ser que haya indicios de fraude.
        Para los europeos, que sufren un 10,4% de paro, Brasil —con la mitad de tasa de desempleo— es tierra de oportunidades. Más aún para los españoles, cuyo país tiene un 24,6% de paro. En Brasil hay 100.622 españoles, según el INE, un 28% más que hace tres años.
        La montaña de inscripciones de matrimonio entre españoles y brasileños, que se acumula sobre la mesa del Consulado de España en São Paulo, refleja cómo los papeles han cambiado. En la Embajada de Brasilia, aunque no se explican la causa, apuntan un descenso del 30% de esos registros que sirven validar el matrimonio en España. En el Consulado de Francia en São Paulo sí han constatado un aumento de uniones mixtas y una fuente diplomática de otro país europeo reconoció extraoficialmente la tendencia.
        Encontrarse en Brasil sin papeles ha supuesto un cambio en la vida de muchos españoles. “Las empresas evitan contratar a un extranjero por la burocracia que supone tramitarle el visado, así que la gente prefiere casarse primero para poder presentarse con los papeles en regla”, explican desde el Consulado francés.
        Pedro, un español de 28 años licenciado en Educación Física, también ha optado por cortar por la tangente. “He decidido casarme para salvar la burocracia, por no tener que volver a España, tramitar el visado y gastarme un dinero que no tengo”, relata por teléfono desde la casa que comparte con su futura mujer en Campinas, en el Estado de São Paulo.
        Su familia no sabe que Pedro se va a casar con una brasileña. Todos los que hablaron para este reportaje prefirieron ocultar su identidad, salvo Maxi Díaz, geógrafo español de 31 años. Hace dos años y medio se enamoró de una brasileña en Barcelona, pero ella decidió volver a Río porque no encontraba empleo. “Yo aún tenía trabajo, pero ella me decía: ‘Ven a vivir conmigo a Brasil, aquí hay trabajo’. Mientras lo pensaba, mi empresa quebró y eso me dio el empujón final. Vendí todo y me marché. Nuestra boda fue medio convenida y medio en serio, solo llevábamos año y medio saliendo. Al llegar, antes de empezar a buscar trabajo, ya tenía uno”.

        "Una persona cualificada logrará visado"

        “Hay muchos españoles que vienen desesperados por la situación que viven en su país. Vienen sin patrimonio y dependen de un trabajo en Brasil para poder subsistir. La gran burocracia que existe en este país puede ser un impedimento para alcanzar sus objetivos, pero casarse con un extraño me parece una estupidez que acaba trayendo problemas. En algún momento el que te hace el favor puede querer su parte”. La advertencia es de Fabio Mortari, miembro de la junta directiva de la Cámara Oficial de Comercio en São Paulo. El abogado aconseja encontrar un empleo antes de instalarse en Brasil.
        “Una persona con cualificación suficiente puede tener los medios para conseguir un visado de trabajo conforme dicta la ley, pero hay que asesorarse. Desde mi punto de vista, las restricciones no son tan exageradas, solo pretenden no disminuir el nivel del brasileño ante un extranjero con la misma cualificación”, explica. Pero los requisitos que el Ministerio de Trabajo exige a las empresas y a los extranjeros acaban siendo una traba para su contratación.
        Grover Calderón, abogado y presidente de la Asociación Nacional de Extranjeros e Inmigrantes en Brasil, afirma que “contratar a un extranjero acaba siendo una peregrinación”. “La empresa está obligada a contar con dos tercios de trabajadores brasileños en su plantilla, a pagar al trabajador el mayor salario que corresponda a su categoría profesional y a garantizarle un seguro médico, además de los viajes de ida y vuelta a Brasil”, explica por teléfono desde su país de origen, Perú.
        “El problema surge cuando hay empresas que no están dispuestas a compartir su historial con el Ministerio de Trabajo o no quieren pagar los salarios exigidos. Es ahí cuando el inmigrante opta por una vía que facilite todo este camino: los matrimonios fraudulentos. Lo que la empresa y el trabajador quieren es trabajar, pero no con las condiciones que el Ministerio de Trabajo exige”, concluye Calderón, precursor de la Ley de Amnistía que en 2009 permitió legalizar a miles de inmigrantes irregulares en el país.
        Mortari insiste: “Brasil sufre una carencia de personas cualificadas, hay fórmulas para conseguir un visado. Casarse es encontrar una solución, pero convivir con un problema”.


        Do Estadão de 23/7/12



        A Tartaruga e a Metralhadora Automática

        23 de julho de 2012 | 3h 09

        Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
        Se você já parou para observar a indignidade de uma revista de aeroporto, como, por exemplo, a mãe que vê a mamadeira do seu bebê ser confiscada ou o idoso, que mal se aguenta em pé, tendo a bengala desmontada, pode ter ponderado: este é o custo da segurança. Mas se você foi a uma sessão de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge no cinema de Times Square, na sexta-feira à noite, faria outra ponderação. A presença ostensiva de policiais armados e discreta de sabe-se lá quantos à paisana não garantia proteção contra o que o comandante da polícia de Nova York admitiu temer: o crime copycat, cometido por alguém tentando uma vaga sob o holofote da infâmia do atirador de Aurora.
        A via crucis em que se transformou a vida do passageiro aéreo é um produto do terrorismo, ainda que não possa ser explicada apenas por ele. Já o risco que corremos na plateia do cinema, na sala de aula de Virginia Tech e Columbine, ou no bar do Alabama, onde outro dia um homem entrou atirando e acertou em 17 pessoas, é filho legítimo de uma convicção americana: a liberdade individual só sobrevive numa democracia se você puder comprar uma arma automática com o poder de disparar 600 tiros por minuto.
        Logo depois do massacre de Aurora, uma deputada do Partido Republicano pelo Estado do - adivinhem? - Texas, declarou que a tragédia foi causada "pelos ataques às crenças judaico-cristãs" e concluiu o pronunciamento com a pérola: com tanta gente dentro do cinema, porque não havia alguém armado para reagir contra o atirador? Voltemos ao Velho Oeste, ela parece recomendar.
        No ano passado, uma pesquisa do Instituto Gallup revelou que os registros de porte de arma dispararam nos Estados Unidos durante o governo Obama. Comerciantes que mal dão conta das encomendas de munição acreditam que a demanda se deve à certeza de que o presidente vai tentar passar leis de controle de porte de armas. Barack Obama nunca demonstrou a menor disposição de assumir o risco eleitoral de mexer no vespeiro do porte de arma. Deixo ao leitor a conclusão sobre a diferença entre a percepção e a realidade.
        A trilogia do Batman, dirigida por Christopher Nolan, termina, mas a sequência do reality show de horror dos assassinatos em massa com armas de fogo tem reprise garantida, graças à interpretação obscena da Segunda Emenda da Constituição americana: "Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido."
        A emenda, redigida por James Madison, em 1789, tinha o objetivo de acalmar o temor dos anti-federalistas contra o abuso de poder do governo federal do pais recém- fundado. O texto original dizia: "O direito do povo de portar armas não deve ser violado; uma milícia bem armada e bem regulada é a melhor segurança de um país livre."
        Não passou pela cabeça dos fundadores dos Estados Unidos que eles estavam defendendo o porte de arma privado ou os direitos dos caçadores.
        O assassino de Aurora não precisava de escopeta e centenas de rodadas de munição para acertar numa rolinha e morava num complexo residencial universitário onde a manutenção da segurança não lhe compete. Ainda assim, comprou armas, explosivos e armadura militar no exercício escatológico de liberdade que é celebrado pela deputada texana mentecapta. Se eu pisar numa calçada nova-iorquina com o copo de vinho que acabei de pedir num bar, posso ser convocada para me explicar diante de um juiz.
        O inesgotável arsenal do lobby das armas para acertar políticos e a falta de coragem do Partido Democrata para enfrentar a carnificina não serão abalados pelo que aconteceu na sessão do Batman.
        Até o próximo massacre.


        Do Estadão de hoje, 2 de julho de 2012



        Que país é hoje do Primeiro Mundo?

        Organismos econômicos já questionam a fronteira entre nações ricas e emergentes

        02 de julho de 2012 | 3h 09

        JAMIL CHADE, CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo
        Numa recente edição dedicada à alimentação, a revista The Economist foi clara: "Quando o mundo era simples, rico era gordo e pobre era magro". Hoje, a complexidade da cadeia alimentar transformou essa fronteira, com milhares de países ditos pobres vivendo o problema da obesidade, enquanto é justamente nos países ricos que a alimentação saudável ganha força.
        Mas não é apenas no mundo da alimentação que as fronteiras entre países ricos e países em desenvolvimento começam a ser questionadas. Um levantamento feito pela reportagem do Estado nos principais organismos econômicos revela uma verdadeira transformação na posição de países emergentes no mapa econômico nos últimos 20 anos, obrigando multinacionais, bancos e governos a redefinirem suas prioridades, além do equilíbrio de poder.
        Nem a ONU, nem entidades assistenciais deixam de alertar: o crescimento das economias emergentes ainda não significa o fim da miséria. Ao contrário. Em muitos desses países, a diferença entre a camada mais rica e a mais pobre nunca foi tão pronunciada. Em resumo: ser a sétima economia do mundo ajuda. Mas nem em uma miragem resolve décadas de profundos problemas sociais, desigualdades e ineficiências estruturais.
        A Espanha pode ter 24% de desemprego e ser hoje um país que pede resgate. Mas conta com educação e saúde públicas para todos, mesmo que muitos já se perguntem quanto tempo isso vai durar. Pelo Índice de Desenvolvimento Humano- indicador apontado como sendo a real medida de bem-estar das sociedades -, as economias ditas "emergentes" nem sequer aparecem perto dos líderes, lugares reservados há anos para países nórdicos e demais europeus.
        Um estudo exclusivo da consultoria Roland Berger, obtido com exclusividade peloEstado, aponta que economias desenvolvidas gastam um terço do Produto Interno Bruto (PIB) em sistemas sociais. Na China, esse segmento recebe apenas 6% do PIB, enquanto na Rússia, 12%.
        Ainda assim, os sinais de uma transição para um novo mapa-múndi da economia não podem ser ignorados. Por vários indicadores, os emergentes desbancaram nos últimos anos tradicionais potências, causando mal-estar em poderes consolidados e obrigando um repensar de certas fronteiras.
        Hoje, Europa, Japão e Estados Unidos representam o menor peso na economia mundial nos últimos 50 anos, segundo dados da OCDE. O pico, no caso americano, foi em 1960. O mundo ainda não havia totalmente superado as sequelas da Segunda Guerra Mundial e a economia dos Estados Unidos representava 38,6% do PIB do planeta. Em 2011, essa taxa cairia para 21%, seu ponto mais baixo desde então.
        No caso europeu, a queda foi de um pico de 34% em 1980 para atuais 25%. A Alemanha, que em 1969 representava 8,9% da economia mundial, hoje tem uma parcela de apenas 5,8%. A economia japonesa representava 17% do PIB mundial em 1994. Em 2011, era apenas 8%. Em 2010 e 2011, França, Reino Unido e Itália registraram a menor fatia no PIB mundial em sua história contemporânea.
        Alguns países emergentes seguiram uma tendência contrária. Em 1987, a China representava apenas 1,6% da economia mundial. Hoje, tem quase 10% e o segundo PIB do planeta. Já a Coreia do Sul, que tinha apenas 0,1% do PIB mundial em 1965, hoje representa 2%. Em 1969, a economia brasileira tinha 1,5% do PIB mundial. Hoje, se aproxima de 3%, ameaçando desbancar a França na sexta posição.
        "75% do crescimento mundial nos últimos cinco anos ocorreu graças aos países emergentes", confirmou Jaime Caruana, diretor-gerente do Banco de Compensações Internacionais, o BC dos BCs.
        Indicadores. O peso na economia mundial não seria o único indicador da necessidade de redesenhar o mapa-múndi. Segundo dados da Organização Mundial do Comércio, metade do fluxo de exportações hoje é realizado por países emergentes. A China, que em 1990 não estava nem entre os dez maiores exportadores, é hoje o maior vendedor do planeta e dona da maior produção industrial.
        Na lista dos dez primeiros produtores industriais, quatro são emergentes. Em termos de reservas externas, países hoje como o Brasil acumulam mais reservas que toda a zona do euro. Já a China tem um terço das reservas mundiais -US$ 3,1 trilhões.


        Do Estadão de ontem, 20 de junho de 2012



        México e Brasil já estão em pé de igualdade

        Mexicanos apostaram em livre comércio e sul-americanos apelaram para intervenção do governo

        20 de junho de 2012 | 3h 08

        Simon Romero, The New York Times
        BRASÍLIA - Nos últimos anos, os mexicanos olhavam com inveja enquanto o Brasil era considerado como o país de melhor desempenho entre as nações da América Latina. Com uma economia em expansão e um lugar de destaque no cenário mundial, o Brasil estaria prestes a se tornar um país de primeira grandeza, enquanto o México continuava atolado na criminalidade e na pobreza. Mas assim como a sorte pode mudar de repente num jogo da Copa do Mundo ou nas Olimpíadas - eventos que o Brasil hospedará nos próximos quatro anos - o mesmo pode acontecer com a dinâmica entre as nações.
        Pode haver mudança na dinâmica entre países - Eduardo Verdugo/AP
        Eduardo Verdugo/AP
        Pode haver mudança na dinâmica entre países
        Veja também:
        No ano passado, a economia do Brasil cresceu mais do que a do México e aparentemente voltará a superar a do seu grande rival latino em 2012. A desaceleração do Brasil pode ser atribuída em parte ao excessivo endividamento dos consumidores e à queda da produção industrial, relacionada à recente valorização da moeda brasileira. Além disso, o declínio do crescimento global, particularmente na China, provocou a redução dos preços das commodities que o Brasil exporta.
        Ao mesmo tempo, as fábricas mexicanas estão exportando quantidades recorde de televisores, automóveis, computadores e eletrodomésticos, que passaram a substituir algumas importações chinesas nos EUA, alimentando uma modesta expansão. Em termos econômicos, a situação no México não parece um lugar tão sombrio como antes. "A maneira mais certa de melhorar a imagem de um país é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)", diz Luis de la Calle, ex-negociador do comércio mexicano e analista político ouvido na Cidade do México.
        O fortalecimento da economia mexicana ressalta o brilho exibido nesses dias, enquanto o presidente Felipe Calderón hospeda o grupo dos 20 líderes dos principais países industrializados e emergentes no luxuoso balneário de Los Cabos. Contrastando com a crise cada vez mais profunda na zona do euro, o México poderá destacar 17 anos de estabilidade macroeconômica, inflação baixa, dívida administrável, uma economia aberta e crescente competitividade. O PIB teve uma expansão de 3,9% no ano passado, enquanto o do Brasil cresceu 2,7%.
        Além disso, há sinais encorajadores para o futuro. Nissan, Mazda e Honda anunciaram a construção de novas fábricas no México, e estão previstos também investimentos nos setores aeroespacial e eletrônico. "Os astros aparentemente estão se alinhando para favorecer um desempenho econômico maior" do México, concluiu um relatório da Nomura Securities divulgado em maio. "O que ocorre é uma lenta porém persistente troca da guarda".
        A inversão das fortunas nas duas maiores economias da América Latina contrapõe-se significativamente à euforia gerada pelas perspectivas do Brasil ainda em 2010, quando a economia cresceu 7,5% no último ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O período do bom crescimento pertence claramente ao passado", diz o alemão Antony Mueller, professor de Economia da Universidade Federal do Sergipe.
        Num sinal de desconforto, o governo brasileiro ameaçou este ano cancelar o acordo automotivo assinado há dez anos com o México. Durante a maior parte da vigência do trato, o Brasil enviou mais carros para o México, mas no ano passado a situação se inverteu, com um aumento de 70% das importações de carros fabricados no México, para um total de US$ 2,4 bilhões. Em março, o México concordou em reduzir suas exportações para o Brasil a uma média de US$ 1,55 bilhão anual nos próximos três anos, para, depois disso, restabelecer o livre comércio.
        A disputa enfatiza a estratégia de desenvolvimento adotada em cada país. O México cuidou da abertura dos mercados, do livre comércio e da desregulamentação. O modelo do Brasil implica uma forte intervenção do governo mediante as grandes companhias controladas pelo Estado.
        Ao mesmo tempo, a ascensão da China afetou Brasil e México de maneiras diferentes: a China compete com o México e compra do Brasil. O México lutou na maior parte da década passada enquanto mercadorias fabricadas na China substituíam os produtos mexicanos nos EUA, que compram 78% das exportações mexicanas. E a demanda da China por matérias primas ajudou a reerguer a economia do Brasil enquanto a estabilidade permitiu que o governo redistribuísse a riqueza e expandisse o crédito.
        "O Brasil tem duas poderosas teses", diz Gray Newman, economista para a América Latina no Morgan Stanley. "Se você acredita na China, acredita no Brasil. Essa foi muito importante. A segunda é: 'Nós nos tornamos um país normal e criamos as condições para a emergência de uma classe média'. São explicações muito convincentes".
        A história do México não tem sido tão positiva, diz Newman.O seu destino está atrelado aos EUA e o governo trava uma guerra contra as poderosas gangues do narcotráfico. Mesmo com a maré virando a seu favor, os mexicanos estão tão abatidos que nem se dão conta disso, dizem os analistas.
        "Essa autoflagelação do México é uma doença", afirma De la Calle, cujo raciocínio é contrário a essa convicção tão arraigada e descreve o México como um país de classe média. "Quando eu disse: 'Vocês não estão tão mal quanto dizem - há razões para ter esperança no futuro', o argumento que me deram foi que o Brasil está indo muito melhor".
        Na realidade, o candidato que lidera nas pesquisas de opinião às vésperas das eleições presidenciais do México, marcadas para o dia 1.º de julho, Enrique Peña Nieto, começou recentemente um debate perguntando às pessoas se achavam que sua situação tinha melhorado, e ele próprio respondeu à pergunta: "Com certeza, não".
        Um dos motivos da inquietação geral é a guerra à droga no México. A visão de quilômetros e quilômetros de fábricas fora da capital industrial de Monterrey chama muito menos a atenção do que a imagem de nove corpos enforcados numa ponte na cidade fronteiriça de Nuevo Laredo. O Ministério das Finanças do México calcula que a violência anula pelo menos 1% do crescimento do PIB.
        Embora a taxa de homicídios do Brasil supere a mexicana, as matanças sangrentas no México e o fato de Calderón utilizar o Exército para combater os traficantes chamaram mais a atenção para o número de mortos. Peña Nieto está certo quando afirma que o crescimento ainda não melhorou a situação de muitos trabalhadores. Os salários reais mal subiram. De fato, um dos motivos pelos quais o México tirou uma parcela de mercado da China é a discrepância cada vez menor entre os salários chineses e os mexicanos.
        Brasil e México provavelmente têm mais em comum do que sua suposta rivalidade sugeriria. Cada qual estabilizou sua economia depois de passar durante décadas de uma crise a outra e melhorou o bem-estar de muitos dos seus cidadãos.
        No Brasil, "os dividendos trazidos por tudo o que o país realizou na década de 90 compensaram, com uma transição política graças também à contribuição dos preços das commodities", diz Lisa M. Schineller, analista para a América Latina da Standard & Poor's. "Tudo aconteceu ao mesmo tempo".
        Agora, os dois países também enfrentam em grande parte os mesmos problemas: educação inadequada, infraestrutura ultrapassada, burocracia e corrupção. A paralisia política do México impediu que o país adotasse medidas efetivas para quebrar os monopólios, reformular a legislação trabalhista, aumentar a arrecadação de impostos e abrir a companhia petrolífera mais fechada do mundo, mudanças que representariam um salto de 2,5% em sua taxa de crescimento, calcula o Instituto Mexicano para a Competitividade.
        A questão é como esses países de renda média conseguirão avançar ainda mais, pondera Shannon K. O'Neal, analista para a América Latina no Conselho das Relações Exteriores. "Tentar sair de um PIB per capita de US$ 5 mil para um de US$ 10 mil é muito mais fácil do que partir de US$ 10 mil para chegar a US$ 20 mil", afirma. "Acho que é esse o desafio que ambos enfrentam". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA


        Segue notícia interessante do Estadão de hoje, 10 de junho de 2012.



        Traficantes latinos usam submarino para levar droga

        Dados da ONU, da agência de fronteiras da Europa e do governo dos EUA indicam que prática ganha cada vez mais força

        10 de junho de 2012 | 3h 08

        JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE / GENEBRA - O Estado de S.Paulo
        Traficantes de drogas da América do Sul e da África já estariam transportando um terço de narcóticos que enviam aos Estados Unidos e parte do contrabando para a Europa em submarinos, muitos deles pilotados por controle remoto.
        Dados das Nações Unidas, da agência de fronteiras da Europa e do governo americano indicam que a prática vem ganhando adeptos entre os grupos criminosos, cada vez mais ousados na tentativa de escapar à repressão estabelecida por governos e dos sofisticados mecanismos de controle das fronteiras terrestres.
        Os traficantes levam os submarinos até locais próximos à costa e fazem o último trajeto em barcos de alta velocidade. Feitos de fibra e navegando na máxima profundidade possível, os submarinos têm conseguido escapar dos controles estabelecidos por grupos de repressão ao tráfico, dos radares e dos satélites.
        Com uma autonomia para navegar até 3,5 mil quilômetros e capacidade para transportar mais de dez toneladas de drogas, o uso dos submarinos estaria cada vez mais popular entre os grupos criminosos.
        Em seu mais recente relatório, a Frontex - agência de monitoramento das fronteiras da Europa - não deixa dúvidas sobre o fenômeno.
        "Há evidências de que cartéis de drogas do oeste da África estão usando submarinos para facilitar seu comércio", indicou o documento. "Esses 'narcossubmarinos' podem transportar relativamente grandes quantidades de drogas e são difíceis de se detectar", afirmou a agência.
        Estratégia. O Estado obteve confirmações de que a ONU também lançará um alerta em relação à prática, em seu relatório anual sobre drogas que será publicado no final de junho.
        As rotas usadas por essas embarcações seriam das mais complexas. Os submarinos deixam a América do Sul e chegam até a África, um verdadeiro entreposto para a Europa. De lá, submergem outra vez na direção do sul da Europa.
        Já em 2006, um submarino foi interceptado na costa norte da Espanha, em Santiago de Compostela. O aparelho havia sido abandonado e a cocaína já havia sido retirada. Mas a ideia naquele momento era de que o incidente era algo isolado.
        Na Itália, o grupo mafioso Ndrangheta havia encomendado naquele mesmo ano dez toneladas de cocaína para serem transportadas em um submarino. No entanto, o aparelho foi detectado antes mesmo de sair da América do Sul.
        Alexandre Schmidt, do Escritório da ONU sobre Drogas e Crimes, confirma a suspeita do crescimento da prática na rota para a Europa. Ele, porém, indica que a quantidade ainda não é a mesma da que se pode registrar na América Central.
        Mesmo assim, o investimento compensaria. Com um carregamento que pode chegar a US$ 400 milhões em drogas, o investimento de US$ 2 milhões na compra do submarino acaba sendo rapidamente abatido.
        "Não estamos falando de barcos militares, mas de submarinos menores que podem ser comprados facilmente no mercado internacional por qualquer um que tenha alguns poucos milhões de dólares para gastar", explicou Schmidt.
        Busca. Até agora, 72 deles já foram encontrados por diferentes governos em diferentes partes do mundo. Mas os indícios são de que os números seriam bem superiores.
        De acordo com a Guarda Costeira de San Diego, nos Estados Unidos, só em 2007 cerca de 40 submarinos deixaram a América do Sul na direção da região.
        No ano seguinte, a Marinha dos Estados Unidos diz ter detectado 42 e informou que, no ano, 85 viagens poderiam ter transportado 340 toneladas de drogas.
        No entanto, a falta de registros dessas embarcações e o fato de não terem documentos de produção tornam a tarefa de identificar o tamanho da frota ainda mais complicado.
        Em 2010 e 2011, submarinos apreendidos no Equador e na Colômbia também confirmam que a prática é cada vez mais generalizada. Um deles havia sido construído com fibra de vidro e chegava a ter ar-condicionado.
        Há apenas uma semana, o governo de Bogotá anunciou a captura de mais uma dessas embarcações, desta vez nas proximidades do Porto de Buenaventura, o principal usado pelo país no Oceano Pacífico.
        O Departamento de Interior dos Estados Unidos chega a estimar que, hoje, 32% do tráfico de drogas da Colômbia e da América do Sul em direção ao território americano já ocorre em parte graças aos submarinos.
        O caso chegou até o Congresso americano que, no ano passado, foi obrigado a tomar uma posição, declarando que "operar e embarcar em barcos submergíveis sem nacionalidade é um sério problema internacional, facilita o crime organizado, incluindo o tráfico de drogas e terrorismo". Para os deputados dos EUA, essa prática "apresenta uma ameaça específica para a segurança da navegação marítima e para a segurança dos Estados Unidos".
        Segundo a assessoria de imprensa da Frontex, europeus e americanos já estão compartilhando informações sobre os submarinos capturados e sobre suspeitas de movimentações, no esforço de fechar mais uma porta para os grupos criminosos. Entretanto, eles admitem que a ousadia dos traficantes ganha "proporções sofisticadas" diante dos potenciais lucros.


        Essa aqui vem do caderno New York Times da FSP de ontem, 4.6.12



        INTELIGÊNCIA/ROGER COHEN
        A vulnerabilidade de Obama
        Não há lugar melhor do que Roma, com suas estátuas e balaustradas, para evocar o fato de que grandes potências vêm e vão. Os faunos e semideuses fitam uma cidade de beleza infinita, mas com escasso significado político contemporâneo. Jovens com barba por fazer atiram bitucas de cigarro no Fórum, como que dizendo que tudo isso já vai tarde.
        Um amigo me contou sobre uma recente reunião com arquitetos indianos que descreveram um condomínio de luxo construído por eles no qual os compradores ganhavam uma viagem à Itália para escolher os lustres. Assim termina o império: como uma loja de lustres para potências nascentes.
        Então talvez fosse inevitável que meus pensamentos se voltassem para o grande e perturbado "quase-império" da nossa época, os Estados Unidos, onde haverá uma eleição presidencial dentro de cinco meses.
        Há quatro anos, a esperança, ainda que ilusória, estava no ar. Hoje, o clima azedou. A classe média está ansiosa, e as guerras culturais campeiam. "Sim, ainda podemos" não vai funcionar como slogan.
        Os banqueiros são alvo de muito ódio. Mas, em retrospecto, é preciso dizer que a engenhosidade dos bancos ao conceber meios para emprestar enormes quantias a dezenas de milhões de pessoas incapazes de quitar dívidas ocultou por muitos anos o impacto do declínio ocidental. Você se importa menos com as perdas salariais se um financiamento imobiliário amortece as coisas. A festa acabou em 2008, logo antes da eleição de Barack Obama. Ele passou a maior parte dos últimos quatro anos tentando tirar a América do buraco.
        Os resultados foram ambíguos. O desemprego continua acima de 8% -não é manhã na América, não mesmo. Ronald Reagan derrotou Jimmy Carter em 1980 fazendo uma pergunta simples aos americanos: vocês estão melhores hoje do que há quatro anos? Mitt Romney inevitavelmente fará essa pergunta.
        Obama é respeitado e admirado por muitos americanos. Na minha opinião, essa admiração foi amplamente merecida por sua competência equilibrada, por sua conclusão efetiva da guerra ao terrorismo, pelo implacável desmembramento da Al Qaeda, por seu apoio à Primavera Árabe e por suas tentativas obstinadas, ainda que hesitantes, de reavivar a economia dos EUA. Mas ele não é amado. Cerebral e distante, não tocou o povo americano, como Reagan e Bill Clinton conseguiram de formas diferentes. Isso o torna vulnerável.
        Como em 2004, quando George W. Bush deixou a Europa perplexa ao conseguir um segundo mandato, a Europa faz suposições precipitadas sobre a eleição deste ano. Obama é popular entre os europeus, que por isso têm certeza do seu triunfo. O que lhes escapa é uma América com a qual estão menos familiarizados: um reduto de evangélicos conservadores, alimentados por uma dieta da Fox News retratando Obama como um socialista europeu inclinado a impor uma ordem social laica e estatista, na qual homossexuais podem se casar.
        Quando a frustração é disseminada, bodes expiatórios são necessários. Obama se encaixa nesse papel para uma parcela significativa dos americanos. "Tudo menos Obama" é o lema do movimento conservador. É claro que esse mesmo movimento tem reservas diferentes acerca de Romney, candidato republicano, um mórmon que governou o liberalíssimo Estado de Massachusetts e nele ofereceu atendimento médico para todos, num programa muito semelhante ao que foi implantado por Obama, e que Romney promete revogar se for eleito.
        O dilema de Romney agora será o de definir até onde ele deve cultivar a direita para garantir o voto evangélico. Suspeito que ele irá para o centro, contando com o sentimento "tudo menos Obama" para atrair conservadores que o veem com relutância. John McCain em 2008 tentou reforçar as coisas à direita, com resultados desastrosos. Sarah Palin não alçou voo.
        Romney sabe que eleições americanas ainda são ganhas no centro, apesar de todos os latidos vindos de ambos os flancos.
        Vai ser muito apertado. Um negro contra um mórmon. Os EUA serão testados quanto à força relativa dos seus preconceitos num momento de declínio mal disfarçado e de raiva disseminada. Os europeus precisam acordar para o fato de que Obama não é o vencedor garantido.
        Ah, sim, esqueci de mencionar as surpresas.
        A última eleição virou com a resposta grotescamente incompetente de McCain ao colapso de setembro de 2008.
        Desta vez, o colapso pode vir da Europa, com sabor grego. Se a zona do euro se fraturar e a economia global despencar, a América voltará para o buraco, e Obama irá junto.
        E a Itália também. Mas ela quase não liga, pois se entregou à contemplação da beleza e há muito tempo abriu mão do ônus de comandar o mundo.
        Envie comentários para intelligence@nytimes.com


        Notícia impressionante. Europa, quem te viu e quem te vê.




        Holandeses vendem sobras de comida para driblar crise

        Cada vez mais, população na Holanda recorre à criatividade para pagar as contas.

        24 de abril de 2012 | 9h 42

        Anna Holligan, da BBC
        AMSTERDÃ - Durante o auge da crise financeira internacional, a Holanda parecia estar lidando relativamente bem com as ondas de problemas econômicos.
        Mas, agora, depois da queda do governo do primeiro-ministro Mark Rutte por discordâncias sobre cortes no orçamento, os sinais dos efeitos da crise ficam cada vez mais claros no país.
        Muitos holandeses vêm usando soluções criativas para driblar a crise, como vender o que sobra da comida feita em casa ou frequentar bares onde se pode levar a própria refeição.
        Outros recorrem a doações de alimentos. Fome não é um conceito geralmente associado a países ricos europeus, mas a economia holandesa está em recessão e o índice de desemprego chegou a 6%, o índice mais alto em seis anos.
        Uma em cada seis famílias tem dificuldades em pagar a conta do supermercado.
        Em Amsterdã, uma das soluções é se juntar às filas em frente a um dos cinco "bancos de alimentos" da cidade, onde voluntários organizam doações para quem precisa.
        "Recebemos cerca de 1,3 mil famílias por semana aqui. A demanda vinha crescendo já havia algum tempo, mas agora vemos um aumento mais acentuado", disse à BBC Piet van Diepen, do Banco de Alimentos de Amsterdã.
        "Estamos vendo os efeitos da crise. Essas pessoas estão sem emprego, têm pouco dinheiro e muitas dívidas. O governo está diminuindo os benefícios também, então as pessoas precisam vir aqui", diz ele, acrescentando que, hoje, 60 mil pessoas em toda a Holanda dependem dessas doações.
        Uma das primeiras da fila é Petra, que diz que os 40 euros (R$ 100) por semana que recebe do governo não são suficientes para alimentar a família. Segundo ela, sem as doações, ela seria forçada a roubar.
        "Há muita pobreza na Holanda, mas ela está escondida, ninguém sabe."
        Microondas no bar 
        Não muito longe dali, o badalado Basis Bar está lotado de pessoas determinadas a não deixar a crise atrapalhar sua vida social. No bar, os clientes trazem sua própria comida, que é aquecida pelos funcionários de graça. Só é preciso pagar pelas bebidas.
        "É muito caro sair e comer fora, mas aqui é ótimo porque você não precisa gastar muito. Essa salada custa cinco euros (R$ 12) do outro lado da rua, mas em um restaurante normal, seria algo entre 10 e 15 euros (R$ 25 e R$ 37)", diz Sophie, que além da salada, levou também uma pizza de muçarela e rúcula, que está no microondas do Basis Bar.
        O dono do Basis (que quer dizer Básico, em holandês) diz que não pensou em se beneficiar da crise quando criou o local, mas admite que vem notando um aumento no movimento recentemente.
        "Temos pessoas que trazem sopa de casa. Basta colocar umas baguetes no forno e você pode ter uma noite agradável sem gastar muito", diz Michiel Zwart.
        E os funcionários ainda lavam sua louça e reciclam as embalagens.
        Culinária contra a crise 
        Do outro lado da cidade, Denise Dulcic, de 32 anos, nem cogita a possibilidade de comer fora.
        Quando o governo cortou os gastos com educação para crianças com necessidades especiais, ela perdeu seu emprego como psicóloga infantil e ainda não conseguiu achar outro trabalho na área.
        "Agora, cozinho para sobreviver. Eu tenho qualificações, mas não há mais empregos", diz ela, que decidiu fazer parte de um programa chamado "Mesa para Dois", em que as pessoas preparam sua própria comida e vendem as sobras.
        Além disso, ela criou um negócio que combina culinária e terapia.
        "É difícil conseguir pagar meu aluguel, que é muito alto. Cozinhar é minha paixão, mas eu estou fazendo isso porque é a única maneira de sobreviver."
        Com os políticos holandeses em uma difícil negociação para cortar mais 9 bilhões de euros (R$ 22 bilhões) do orçamento, cada vez mais pessoas no país vão ter de lutar para evitar ter suas vidas completamente transformadas pela crise. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 


        Essa matéria é velha, de 2006. Trata dos últimos pedidos feitos por condenados à morte no Texas.



        "Carcelero, dales lo que quieren"

        El Estado de Tejas publica en Internet las últimas palabras de los reos ejecutados

        La fría tecnología pone al alcance de quien quiera las últimas voluntades de los condenados a muerte en el Estado de Tejas. La página del Departamento de Justicia Criminal (www.tdcj.state.tx.us) recoge cada sílaba, cada palabra, cada queja, cada petición de clemencia a las autoridades o de perdón hacia las familias de las víctimas. Han sido 376 los prisioneros ejecutados en Tejas desde 1982, 127 de ellos durante el periodo en que George W. Bush fue gobernador de Tejas (1995-2000). La página web exhibe el nombre, la edad, la raza y el día en que a cada uno de los 376 reos se les quitó la vida. Toda esa información va precedida por el número que hicieron en el registro de la pena capital del Estado sureño.
        Tejas es líder nacional en número de ejecuciones desde que se reinstauró el máximo castigo en Estados Unidos en 1976, después de que, en 1972, el Tribunal Supremo lo prohibiera por ser un castigo "cruel y excepcional". El último en morir, el pasado 12 de septiembre fue Farley Matchett, negro, de 43 años. El primero, Charlie Brooks, también negro, a los 40, fue ejecutado el 7 de diciembre de 1982. En ambos casos, fueron declarados culpables de asesinato.
        El Departamento de Justicia Criminal de Tejas informa de que cada día que se mantiene a un preso sin ejecutar en su celda le cuesta 61,58 dólares (48,50 euros) al contribuyente. Primero fue la horca, luego la silla eléctrica y ahora se utiliza la inyección letal para ajusticiar a los reos
        . En las cárceles de EE UU a la espera de ser conducidos al patíbulo es el de un hombre negro, de mediana edad y con estudios básicos. También existen presos con sus capacidades mentales mermadas. O personas que aún eran menores de edad en el momento de cometer los delitos.
        En las últimas palabras de un condenado a muerte no caben insultos ni invocar el nombre de Dios en vano. Cuando esto sucede, cuando el hombre atado a la camilla que espera que se le inyecte un cóctel de drogas mortal en la vena de su brazo derecho jura, maldice, entonces el registro del penal borra sus palabras, las omite, quedan escondidas bajo puntos suspensivos... Es legal matar en nombre del Estado. Blasfemar no lo es.
        Al condenado a muerte sólo le queda esperar a que le quiten la vida. Puede pasar cinco, diez, quince, veinte o más años recluido en soledad hasta que se le aplica la sentencia. Cuando ya no les queda ningún derecho, se les concede unos últimos instantes de libertad: elegir su última cena, pronunciar unas palabras.
        "Mamá, sé fuerte. Señor, perdóname por mis pecados. Adelante, carcelero". Jermaine Herron, negro, de 27 años, número 364 en elránking de la muerte.
        Están los que dedican sus últimos minutos de vida a expresar su inocencia. Hay quienes necesitan el perdón de los seres queridos de aquellos a quienes quitaron la vida. Y luego están los que no quieren decir nada y se van en silencio. Éstos son algunos relatos de los que no callaron antes de morir. Son difíciles de leer.

        376 FARLEY MATCHETT

        Ejecutado el 12 de septiembre de 2006. Edad: 43 años. Edad cuando cometió el delito: 29 años. Raza: negra. Crimen: robo y asesinato de un hombre.
        Últimas palabras:
        "Para mi familia, mi madre y mis tres preciosas hijas: os quiero a todos. Y para mi hermano y mi hermana, que han permanecido a mi lado a largo de toda esta situación. Permaneced fuertes, que me voy a un lugar mejor. Pido perdón. Y para la familia de la víctima, encontrad paz con mi muerte para seguir adelante. Nuestro Señor Jesucristo, me encomiendo a ti. Estoy preparado".

        352 MELVIN WHITE

        Ejecutado el 3 de noviembre de 2005. Edad: 55 años. Edad cuando cometió el crimen: 47 años. Raza: blanca. Crimen: agresión sexual y asesinato de una niña de 9 años.
        Últimas palabras:
        "Diles a Beth y a ellos que lo siento, estoy verdaderamente arrepentido por el dolor que he causado a su familia. Realmente lo siento así. Ella era una gran amiga mía y traicioné su confianza. Os quiero a todos. Dile a mamá que la quiero... Está bien, carcelero, dales lo que quieren".

        270 NAPOLEON BEAZLEY

        Ejecutado el 28 de mayo de 2002. Edad: 25 años. Edad cuando cometió el crimen: 17 años. Raza: blanca. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "El acto que cometí y por el que estoy aquí no fue sólo atroz, sino algo sin sentido. Pero la persona que cometió ese acto no sigue aquí. Yo sí estoy. No voy a luchar físicamente ni poner ninguna resistencia. No voy a gritar, ni a blasfemar, ni a amenazar frívolamente. Sin embargo, entended que no estoy sólo disgustado, sino entristecido por todo lo que va a suceder esta noche aquí. No sólo entristecido, sino decepcionado porque un sistema que, se supone, está para proteger y defender lo que es justo, puede parecerse tanto a mí cuando cometí el mismo vergonzoso error. Si alguien intentara animar a alguien a cometer un asesinato yo gritaría un sonoro: '¡No!' Y les diría que les concedieran el bien que a mí no me han dado, que es una segunda oportunidad. Siento mucho estar aquí, y siento que todos ustedes estén aquí también. Siento que muriera John Luttig. Y siento que algo en mí produjera que todo esto empezara. Esta noche diremos al mundo que no hay segundas oportunidades a los ojos de la justicia. Esta noche diremos a nuestros hijos que en algunas circunstancias, en algunos casos, matar está bien. (...) Hay muchos hombres como yo en el pabellón de la muerte -buenos hombres- que cayeron en las mismas equivocadas emociones. Dad a esos hombres la oportunidad de hacer lo que está bien. Dadles la ocasión de corregir sus errores. El problema no es que falte gente dispuesta a ayudarles, sino que el sistema mismo les está diciendo que no importa. Nadie gana esta noche. Nadie sale victorioso".

        368 ÁNGEL RESENDIZ

        Ejecutado el 27 de junio de 2006. Edad: 45 años. Edad cuando cometió el crimen: 38
        años. Raza: hispana. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "Quiero preguntar si hay algo de perdón en vuestro corazón. No tenéis obligación. Yo sé que he permitido al diablo que mande en mi corazón. Sólo pido que me perdonéis y que le pidáis al Señor que me perdone por permitir al diablo que me engañara. Agradezco a Dios que haya sido tan paciente conmigo. No me merezco causaros ninguna molestia. No os merecéis esto. Yo me merezco lo que voy a recibir".

        364 JERMAINE HERRON

        Ejecutado el 17 de mayo de 2006. Edad: 27 años. Edad cuando cometió el crimen: 18 años. Raza: negra. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "Sólo espero que esto traiga un poco de paz a tu familia. Espero que mi muerte traiga paz, que no quede el odio. Mamá, tienes que ser fuerte. Señor, perdóname por mis pecados porque ya voy contigo. Adelante, carcelero".

        375 DERRICK FRAZIER

        Ejecutado el 31 agosto de 2006. Edad: 29 años. Edad cuando cometió el crimen: 20 años. Raza: negra. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "Debbie, pequeña, te quiero; tú sabes que te quiero. Tú eres mi vida. Tú eres mi mujer, permanece fuerte. Permaneced fuertes todos. Soy inocente. He sido castigado por un crimen que no cometí. He proclamado mi inocencia durante nueve años y continuo diciendo que soy inocente. Decid a los míos que les quiero. Debemos continuar. No abandonéis la lucha; no abandonéis la lucha por un futuro mejor. Porque podemos hacer que suceda. Te quiero, quiero a mi hijo, quiero a mi hija. Bruno, Chuckie, Juanita, Ray, os quiero a todos. Permanece fuerte, pequeña. Te querré siempre".

        145 KARLA TUCKER

        Ejecutada el 3 de febrero de 1998. Edad: 39 años. Edad cuando cometió el crimen: 23 años. Raza: blanca. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "Me gustaría decir a todos vosotros -la familia Thornton y la familia de Dean- que lo siento mucho. Espero que Dios os traiga paz con esto. Cielo, te quiero. Ron, dale un abrazo a Peggy de mi parte. Todo el mundo ha sido muy bueno conmigo. Os quiero mucho a todos. Voy a ver a Jesús cara a cara ahora mismo. Alcaide, muchas gracias a todos. Habéis sido muy buenos conmigo. Os quiero a todos mucho. Os veré a todos cuando lleguéis allí. Os esperaré".

        347 GARY STERLING

        Ejecutado el 10 de agosto de 2005. Edad: 38 años. Edad cuando cometió el crimen: 20 años. Raza: negra. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "Me gustaría que el capellán dijera una oración, pero no sólo por mí, sino por la familia de la víctima. Porque han sido engañados, lo siento. Esto es todo lo que tengo que decir".

        331 DOMINIQUE GREEN

        Ejecutado el 26 de octubre de 2004. Edad: 30 años. Edad cuando cometió el crimen: 18 años. Raza: negra. Crimen: asesinato.
        Últimas palabras:
        "¡Hombre, hay mucha gente aquí! Muchos han llegado conmigo hasta este punto, y no puedo agradecérselo a todos. Pero gracias por todo el amor y apoyo. Ellos me han permitido hacer mucho más de lo que yo podría haber hecho por mi mismo. Sheila, ¡Ojalá te hubiera conocido siete años antes!, hubiera sido todo mucho más fácil. No estoy enfadado, pero estoy decepcionado de que se me haya negado justicia. Pero estoy muy feliz porque me habéis mantenido vosotros, mis amigos y mi familia. Todos habéis estado apoyándome, es un milagro. Os quiero. Y tengo que decir a Jessica que lo siento. Nunca supe que llegaría a esto. Lorna, tú tienes que continuar con mi lucha. Sé que acabas de perder a tu bebé, pero tienes que seguir corriendo. Andy, ¡te quiero tío! Dile a Andre y a los demás que no tuve la oportunidad de alcanzar mi potencial total, pero tú puedes ayudarles a alcanzar los suyos. Vosotros me necesitasteis, pero no supe cómo estar ahí. Hay muchas cosas que quiero decir, pero no puedo decir todo. Os quiero. Por favor, continuad luchando. Si me dais la espalda, se la dais a ellos. Os quiero a todos y os echaré de menos a todos. Sólo puedo decir que lo siento. No soy tan fuerte como yo creía que iba a ser. Pero supongo que solamente duele por un momento".


        Também do caderno New York Times da FSP de hoje, 19 de março de 2012.


        TENDÊNCIAS MUNDIAIS
        Internet expõe os subornos do cotidiano
        POR STEPHANIE STROM
        As redes sociais como arma de combate à corrupção
        O preço para solicitar uma restituição de imposto de renda legítima em Hyderabad, na Índia? Dez mil rupias.
        Valor atual da vaga em um colégio público de Nairóbi, no Quênia, para um aluno que já passou pelas exigências para a admissão? Vinte mil xelins.
        O gasto para tirar carteira de motorista depois de ser aprovado no exame em Karachi, no Paquistão? Cerca de 3.000 rupias.
        Essa é a tabela da "corrupção do varejo", como a chama Swati Ramanathan, ou seja, os pequenos subornos que contaminam o cotidiano de tantos lugares do mundo.
        Ramanathan e seu marido, Ramesh, junto com Sridar Iyengar, estão dispostos a mudar isso desde agosto de 2010, quando lançaram o site ipaidabribe.com ("Eu Paguei um Suborno"), que recolhe testemunhos anônimos de subornos pagos, de subornos solicitados mas não pagos ou de subornos que eram esperados, mas não foram explicitamente pedidos.
        Dos mais de 400 mil relatos, cerca de 80% contam histórias como as dos funcionários citados acima, fazendo cobranças ilícitas por serviços rotineiros ou burocráticos.
        "Pediram suborno para eu tirar uma certidão de nascimento da minha filha", escreveu no site em 29 de fevereiro alguém de Bangalore, na Índia, registrando o pagamento de uma propina de 120 rupias. "O encarregado chama de 'taxas' -só que não há cobrança de taxas para as certidões de nascimento", disse Ramanathan.
        Agora, sites semelhantes estão se espalhando e constrangendo burocratas do mundo todo. Ramanathan disse que ONGs e órgãos públicos de pelo menos 17 países já contataram a Janaagraha, entidade de Bangalore que mantém o "I Paid a Bribe", solicitando auxílio para criarem versões locais da experiência.
        No ano passado, a Comissão Anticorrupção do Reino do Butão criou uma formulário digital para denúncias anônimas de corrupção. No Paquistão, surgiu o site ipaidbribe, que estima que a economia nacional tenha perdido US$ 94 bilhões nos últimos quatro anos por causa de corrupção, evasão fiscal e descaso administrativo.
        "Estamos trabalhando para criar uma coalizão de grupos do site, que talvez se reúna anualmente e compartilhe experiências", disse Ramanathan.
        Ben Elers, diretor de programa da ONG Transparência Internacional, disse que as mídias sociais estão dando ao cidadão médio ferramentas novas e poderosas para combater a corrupção endêmica.
        "No passado, tendíamos a ver a corrupção como um problema enorme e monolítico, contra o qual as pessoas comuns nada podiam fazer", disse Elers.
        "Agora, as pessoas têm novas ferramentas para identificá-la e exigir mudanças."
        Como o site não cita nomes, em parte para evitar processos por calúnia e difamação, é impossível verificar os relatos, mas Elers e outros especialistas em expor a corrupção acham que eles soam bastante reais.
        Eles são tão ameaçadores que, quando alguns sites desse tipo pipocaram na China, em meados de 2011, o governo tirou-os do ar alegando falta de registro.
        "Por si só, eles não mudam nada", afirmou Elers. "O importante é que são desenvolvidos mecanismos que transformam essa atividade on-line em mudança off-line no mundo real."
        Em Bangalore, Bhaskar Rao, comissário de Transportes do Estado de Karnataka, utilizou dados coletados do "I Paid a Bribe" para impulsionar reformas no departamento de trânsito. As carteiras de motorista agora são solicitadas pela internet e, no ano passado, Bangalore se tornou a primeira cidade do mundo a ter exames de habilitação eletrônicos, monitorados por sensores.
        "Isso eliminou totalmente os caprichos e tendências dos fiscais", disse Rao, atualmente inspetor de polícia para a segurança interna. "Fica gravado em vídeo, então todos podem ver os resultados e tudo é muito transparente."
        Colaborou David Barboza, com reportagem


        Essa matéria está no caderno New York Times da FSP de hoje, 19 de março de 2012.



        LENTE
        Ferraris na linha de frente da guerra de classes
        O governo italiano tenta aumentar a receita fiscal examinando a declaração de renda dos cidadãos que possuem carros de luxo
        O Estado se esforça para que levem a sério a evasão fiscal
        Segundo o ditado, as únicas duas certezas na vida são a morte e os impostos. Mas na Itália as coisas são um pouco diferentes. Enquanto poucos italianos acreditam que possam driblar a morte, a maioria tem certeza de que consegue se safar sonegando impostos.
        Isto é, até recentemente.
        A Itália declarou guerra aos sonegadores, relatou o "Times", na esperança de reduzir seus US$ 2,5 trilhões de dívida pública e coletar parte dos estimados US$ 150 bilhões perdidos por ano em renda não declarada. O primeiro-ministro Mario Monti anunciou no início de março que mais de US$ 15 bilhões foram recuperados de sonegadores em 2011.
        O Estado proibiu transações em dinheiro e uma campanha publicitária compara os sonegadores a parasitas. A mídia relata batidas em lojas elegantes, hotéis e restaurantes de cidades afluentes da Itália. Além disso, as autoridades fiscais têm parado carros de luxo -Ferraris e Lamborghinis são alvos habituais- e checado os históricos fiscais dos motoristas para descobrir se os proprietários relataram dinheiro suficiente para justificar seus carros elegantes. Em 2011, a receita italiana disse que 2.806 donos de carros de luxo tiveram dificuldade para explicar de onde veio o dinheiro para comprá-los, relatou o "Times".
        Embora a evasão fiscal seja chamada de esporte nacional italiano, existe uma crescente percepção de que "os sonegadores não são mais um exemplo a seguir, mas um peso intolerável e uma ameaça à coletividade", disse o chefe da polícia financeira da Itália, Nino Di Paolo.
        Warren E. Buffett escreveu no "Times" em agosto passado que os ricos como ele foram "mimados durante muito tempo por um Congresso amigo de bilionários", e o presidente Obama citou a Regra de Buffett, segundo a qual os milionários devem pagar pelo menos 30% dos rendimentos em impostos. O código fiscal dos EUA permitiu que Buffett pagasse apenas 17,4% de sua renda tributável de cerca de US$ 40 milhões em 2011, a maior parte em dividendos de ações e ganhos de capital, ou cerca de US$ 7 milhões em impostos. Enquanto isso, sua secretária, Debbie Bosanek, pagou uma alíquota de 35,8%.
        "Vocês podem chamar isto de guerra de classes o quanto quiserem", disse Obama sobre seu plano de nivelar o campo de jogo econômico. "A maioria dos americanos o chamaria de bom senso."
        A guerra de classes pode ter sido o objetivo de François Hollande, o candidato do Partido Socialista à Presidência na próxima eleição na França, quando anunciou este mês sua proposta de aplicar um imposto de 75% às rendas superiores a € 1 milhão.
        Hollande lidera um partido que não conseguiu se adaptar às exigências da globalização, enquanto se aferra ao pensamento ultrapassado sobre a luta de classes, escreveu Roger Cohen no "Times". E seu plano vai dar para trás, acredita Cohen.
        "Um imposto de 75%, acrescentado a outros impostos e contribuições sociais, significaria taxar os ricos em mais de 100%", escreveu Cohen, que relata que 300 mil franceses já vivem em Londres. "Muitos franceses mais ricos já se mudaram e os outros gostariam de mudar."
        A repressão na Itália aos donos de carros de luxo que declaram renda falsa -reminiscência da tentativa grega de descobrir como foram construídas tantas piscinas em Atenas por famílias com rendas magras- poderá incentivar os italianos a mudar mais depressa, mas não há sinal de um êxodo para o Reino Unido.
        Luca Cordero di Montezemolo, o presidente da Ferrari, disse que está preocupado com a discriminação sugerida pela checagem de automóveis caros. No Salão do Automóvel de Genebra, no início de março, ele disse: "Não gosto do fato de que alguém que possui uma Ferrari seja automaticamente considerado um sonegador de impostos".
        TOM BRADY


        Essa matéria do USA Today de ontem é interessante porque fala do tamanho do problema do vício em medicamentos nos Estados Unidos. A coisa está ficando bem séria...


        DEA aims big in Cardinal Health painkiller case

        Vincent Moellering heard a rumor in April 2009 that a local pharmacy was selling the powerful and addictive painkiller oxycodone by the pill for cash. So Moellering, an investigator for Cardinal Health, one of the nation's largest distributors of pharmaceuticals, visited Gulf Coast Medical Pharmacy in Fort Myers, Fla.
        • DEA Special Agents David Melenkevitz and Mia Ro remove boxes of prescription painkillers and other evidence from a CVS store Feb. 4 in Sanford, Fla.
          By Stephen M. Dowell, Orlando Sentinel
          DEA Special Agents David Melenkevitz and Mia Ro remove boxes of prescription painkillers and other evidence from a CVS store Feb. 4 in Sanford, Fla.

        By Stephen M. Dowell, Orlando Sentinel
        DEA Special Agents David Melenkevitz and Mia Ro remove boxes of prescription painkillers and other evidence from a CVS store Feb. 4 in Sanford, Fla.

        Over the next two years, Moellering and other Cardinal employees visited that pharmacy at least four more times. Each time, they noted disturbing signs: Customers paid cash, oxycodone was the No. 1 seller, and young people came in groups to have their prescriptions filled.
        On Oct. 5, 2010, Moellering's fourth visit, pharmacy owner Jeffrey Green told him he wanted more oxycodone. The store had dispensed 462,776 pills over two months — nearly seven times what the average pharmacy dispenses in a year. Convinced something was off, Moellering asked Cardinal's permission to contact the Drug Enforcement Administration, according to documents filed in federal court.
        The DEA says the call never came. Cardinal would not make Moellering available for comment and declined to explain why he never made the call. Cardinal granted Green's request for more oxycodone but stopped serving the pharmacy a year later.


        This month, the DEA accused Cardinal Health, a Fortune 500 company with $103 billion in revenue, of endangering the public by selling excessive amounts of oxycodone to four Florida pharmacies. The charges came in an immediate suspension order served Feb. 3 when the agency suspended Cardinal's license to distribute controlled substances from its Lakeland, Fla., hub, which serves four states.
        Cardinal challenged the suspension in federal court. U.S. District Judge Reggie Walton temporarily halted the DEA's suspension and scheduled a hearing for Wednesday. In preparation for the hearing, the DEA and Cardinal have filed hundreds of pages of documents that provide an inside look into how prescription painkillers such as oxycodone and hydrocodone have flooded the black market.
        The investigation into Cardinal led the DEA to suspend the licenses of four of the company's largest Florida customers, including Gulf Coast and two CVSpharmacies in Sanford, Fla. Like Cardinal, CVS challenged the suspensions in federal court.
        The suspensions are an aggressive display of the DEA's strategy to attack the prescription drug abuse problem at the highest levels. After years of cracking down on doctors who dispense drugs from clinics known as pill mills, DEA agents are targeting the top of the supply chain as part of a comprehensive strategy to stop the flow of prescription drugs to street dealers.
        More than 5 million people in the USA abuse narcotic painkillers. The Centers for Disease Control and Prevention classifies prescription drug abuse as an epidemic. More than 27,000 died from prescription drug overdoses in 2007, a fivefold increase since 1990, which parallels a tenfold increase in the medical use of painkillers such as oxycodone and hydrocodone, the CDC reports.
        "The number of overdose deaths involving prescription pain medication is staggering and now exceeds deaths from heroin and cocaine combined," said Gil Kerlikowske, director of the White House Office of National Drug Control Policy. "Just because prescription painkillers aren't sold out of a piece of tinfoil by a drug dealer lurking in a back alley doesn't mean they're not dangerous."
        Kerlikowske said the federal steps to control the epidemic are mindful of the need to protect access to the medications for legitimate patients.
        Doctors prescribe oxycodone and hydrocodone to treat severe pain after surgery or during cancer treatment. Doctors also use the drugs to treat people with illnesses and injuries that cause chronic pain. Hydrocodone is nearly as potent as morphine for pain relief. The drugs — synthetic versions of the compounds found in opium — are highly addictive and can produce a heroin-like high. Drug abusers may crush the time-release tablets and inject or snort the medicine to get the most potent high. People who consume too much of the drug may have trouble breathing, slip into a coma or die.
        Florida, which had lax laws governing pain clinics until last year, is at the focal point of prescription painkiller abuse. The state Medical Examiner's Office recorded 4,048 deaths from hydrocodone, hydromorphone, oxycodone and oxymorphone in 2010, up 24% from 2009. Until last year, doctors could dispense the painkillers from their offices. Now doctors must write prescriptions to be filled at pharmacies.
        Watching the supply chain
        Under the federal Controlled Substances Act, the DEA regulates every link in the supply chain for controlled substances such as oxycodone and hydrocodone, including manufacturers, distributors, doctors and pharmacies. About 1.4 million entities have DEA licenses, called registrations, to handle the controlled pharmaceuticals.
        Within the closed system, each license holder has responsibilities to maintain control of the drugs and keep them from getting to illegitimate players, DEA Special Agent Gary Boggs said.
        The law requires distributors, such as Cardinal Health, to have systems to detect suspicious orders, which must then be reported to the DEA. The agency repeatedly warns distributors that the size of an order alone triggers the distributor's responsibility to report it to the DEA, Boggs said. Distributors must cut sales to those drugstores with suspicious orders even if they have a valid DEA license, he said.
        "If all those players involved are either complicit or not doing their due diligence correctly, that whole system comes tumbling down," Boggs said.
        In court documents filed in response to Cardinal's challenge, the DEA calls the company's sales to the four pharmacies "staggeringly high" and says Cardinal ignored red flags raised within its own system to detect suspicious orders.
        "Our system did raise questions with these four pharmacies," said Cardinal spokeswoman Debbie Mitchell. "We took decisive action and voluntarily suspended shipments of controlled medicines to two late last year. As for the two national chain pharmacies, we raised questions with their corporate headquarters, which they addressed. CVS subsequently took action to stop filling prescriptions for 22 doctors."
        Cardinal argues that volume alone is not enough to determine whether a pharmacy is diverting the drugs, because it does not account for a pharmacy's location, the age and health of the population, and the proximity to hospitals, nursing homes and cancer centers.
        "If the problem were that simple, DEA could solve it simply by setting volume limits" on the pharmacies, Cardinal says in a document posted on its website.
        Cardinal notes in court papers that it has a robust detection system and has cut off more than 330 pharmacies, including 140 in Florida, over the past four years that it determined posed an unreasonable risk of diversion. Although the company reported the pharmacies to the DEA, most still hold DEA licenses and continue to operate, the company said.
        Distributors can act more quickly than law enforcement if they know something is wrong, Boggs said.
        "We have to investigate things in a different manner than a company (that) can act on a suspicious order. We have to meet constitutional and legal requirements. They don't have to sell to someone," Boggs said. "They have a moral obligation as keepers of powerful and dangerous substances to make sure those substances are used for legitimate medical purposes."
        Looking for 'blatant signs'
        According to court papers filed by the DEA and Cardinal, the four pharmacies sold thousands more pills than the average drugstore and had a high proportion of customers paying in cash. An average pharmacy in the USA dispenses 69,000 oxycodone pills a year of varying doses, the DEA said. Fewer than 7% of the patients nationwide pay for their prescriptions with cash.
        "You can have the ostrich approach. You can stick your head in the sand and ignore blatant signs," Boggs said. "This company is sitting in a state that has been the epicenter of the problem. It's no secret that the drug of choice is oxycodone. I don't think you have to be that strong of an investigator to put two and two together."
        The DEA says Cardinal's Lakeland distribution center shipped 50 times as much oxycodone to its top four customers than it has shipped to its other Florida retail customers. Specifically:
        CVS #219. In 2010, Cardinal shipped 2.05 million pills to the 24-hour store in Sanford, a town of 53,000 people north of Orlando, the DEA said. The numbers dropped in 2011 after CVS cut off the 22 doctors whom it suspected were writing illegitimate prescriptions. Still, Cardinal sold the pharmacy more than 1.8 million pills — an average of 137,994 pills a month. Cardinal's other customers in Florida averaged 5,364 oxycodone pills a month.
        About 42% of the CVS store's customers paid cash, the DEA said in court papers.
        CVS #219 pharmacist Paras Priyadarshi told DEA investigators that the pharmacy's fastest-moving controlled substance was 30-milligram oxycodone, DEA group supervisor Ruth Carter said in a sworn statement filed as part of the federal court proceedings. Doctors often used the same diagnosis code on multiple prescriptions and often prescribed to two people living at the same address, which Carter said are signs of diversion.
        Carter, in the sworn statement, said Priyadarshi told her customers often requested certain brands of oxycodone using street slang.
        In a sworn statement in CVS' challenge to the DEA, Priyadarshi said the DEA misinterpreted his statements.
        Pharmacist Susan Masso, who has worked at CVS #219 since June, said she would not fill prescriptions she thought were illegitimate. "I will not fill any prescription for any highly addictive drug, such as oxycodone, for any person who appears intoxicated or otherwise impaired," she wrote in a sworn statement filed in the CVS case.
        Masso learned of the DEA concerns after agents interviewed her twice in October. She said the store took steps to reduce the risk of abuse and diversion. Besides suspending the 22 practitioners "who represented the majority of the oxycodone prescriptions," the pharmacy reduced the geographic area for doctors it served. As a result, the pharmacy has "dramatically reduced its ordering and dispensing of oxycodone," she said.
        DEA investigators serving a warrant Oct. 18 noted that "approximately every third car that came through the drive-thru lane had prescriptions for oxycodone or hydrocodone," Carter said. "Priyadarshi knew that his store filled more oxycodone prescriptions than any other CVS in his district, but he reported that no one from CVS corporate had said anything to him about the high volume at the store."
        CVS #5195. A few miles away in Sanford, this CVS store dispensed more than 58,000 oxycodone pills a month, and 58% of the customers paid cash, the DEA said. From 2009 to 2010, the number of oxycodone pills the pharmacy purchased from Cardinal jumped to 885,900 from 104,500. In 2011, the CVS purchased more than 1.2 million pills. Although Cardinal's electronic system for monitoring suspicious orders flagged the CVS orders 22 times for further investigation, Cardinal never held a shipment, notified the DEA or sent an investigator to visit the store, the DEA said.
        CVS pharmacist Jessica Merrill described the oxycodone customers as "shady," Carter said.
        "Cardinal shipped enough oxycodone for every man, woman and child in Sanford to have 59" pills in 2011, the DEA said.
        In a sworn statement filed in the CVS case, Merrill said the DEA's account of her interview with Carter is inaccurate. She said Carter used the term "shady," and when she asked what the agent meant, Carter said people filling oxycodone prescriptions except cancer patients are drug seekers.
        Merrill said she instructs pharmacists and technicians to reject prescriptions from people who have pinpoint pupils, show aggression or don't have a consistent medical history. The store keeps a binder on suspected doctor shoppers, which it shares with local law enforcement, she said. "I have assisted in at least 15 arrests related to oxycodone" since the end of 2009, Merrill said.
        "I have never filled a controlled substance prescription, nor directed anyone else to do so, based on a belief that filling such a prescription would affect any bonus I received from CVS," Merrill said.
        She estimates the store rejected about 10% of the prescriptions it received each day.
        Michael Moné, Cardinal's vice president for anti-diversion, said in court papers that Cardinal's shipments to the pharmacies in Sanford "did not appear unreasonable."
        "It is reasonable and not uncommon" for doctors to prescribe a 30-day supply of four to six, 30-milligram oxycodone pills a day for a person in chronic pain, Moné said. The amount of oxycodone Cardinal delivered to six pharmacies in Sanford would fill 26,201 four-pill-a-day prescriptions, he said.
        CVS, in a statement issued Feb. 17 in response to questions from USA TODAY, said the company is committed to working with the DEA and had taken "significant actions to ensure appropriate dispensing of painkillers in Florida, which have already resulted in dramatically reduced distribution of oxycodone."
        For instance, spokesman Mike DeAngelis said, the number of oxycodone pills dispensed by the two Florida pharmacies dropped 80% in three months after CVS stopped filling some narcotics prescriptions for the 22 doctors writing questionable prescriptions. The company developed specific guidelines to help pharmacists determine whether prescriptions are legitimate, he said.
        Brooks Pharmacy. The Bonita Springs pharmacy, also called Caremed, was Cardinal's fourth-largest customer in Florida. Cardinal's sales of oxycodone to Brooks more than tripled from 231,740 doses in 2009 to 724,500 doses in 2010, the DEA said. Owner Roscoe Heim asked for another increase in March 2010, claiming the chain drug stores in the area had stopped carrying controlled substances because they didn't want to deal with DEA paperwork, according to a letter he wrote to Cardinal that was filed with the court. "Many physicians are requiring patients to sign contracts using one pharmacy only for controlled substances, and they are referring their patients to us because we specialize in pain management," Heim wrote to Steve Morse at Cardinal Health.
        Moellering concluded on his third visit to the store Sept. 21, 2011, that the pharmacy was probably diverting drugs, according to his inspection report, which is included in court papers. Cardinal halted its sales that day. Brooks surrendered its DEA license voluntarily a month later.
        Gulf Coast Medical. The pharmacy, located inside a medical office building in a complex next to a 480-bed hospital, was Cardinal's second-largest customer in Florida. It had a small, but well-stocked, over-the-counter medicine section and appeared to serve customers from the surrounding middle-class area, Moellering noted.
        In 2011, as Moellering's concerns mounted, Cardinal sold more than 2 million oxycodone pills to Gulf Coast, an 868% increase since 2009. Police were closing in. In each of Cardinal's reports on Gulf Coast, Moellering listed the top prescribers whose patients used the pharmacy.
        By the time Cardinal cut Gulf Coast off in October, police had arrested at least three doctors included in Moellering's reports and charged them with a variety of charges, including trafficking in oxycodone, racketeering and overprescribing narcotics.
        On Jan. 19, a federal grand jury indicted Green, the pharmacy owner, for conspiracy to possess with intent to distribute oxycodone. Green has pleaded not guilty in federal court. His lawyer did not return a call for comment.

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        Essa notícia é do Estadão de hoje, 12.2.12



        A volta do rei zuku

        Khumalo 'ressuscitou' e levou milhares às ruas na África do Sul

        12 de fevereiro de 2012 | 3h 09

        O Estado de S.Paulo
        IVAN MARSIGLIA
        Um espectro ronda o continente africano. O nome dele é Khulekani 'Mgqumeni' Khumalo, premiado guitarrista e cantor de música popular na África do Sul. O astro de etnia zulu, falecido abruptamente - e, talvez, provisoriamente - em dezembro de 2009, recebeu funerais dignos de um chefe de Estado. Foi velado, no início de 2010, por uma multidão de fãs, autoridades locais e a imprensa sul-africana. Até a semana passada, Khumalo continuava inerte no cemitério de KwaGxobanyawo, vivo apenas na memória e nos corações de seus milhares de fãs.
        Ocorre que no último dia 5 o espírito do popstar sul-africano se fez presente como nunca, por assim dizer, na pequena cidade de KwaZulu-Natal. Foi quando, após bater na porta de familiares e de duas de suas viúvas, um homem se apresentou como... Khulekani 'Mgqumeni' Khumalo.
        "Sempre estive vivo. Estou um pouco mais magro, mas sou eu", declarou ele, em cima de um jipe militar e usando um alto-falante, para milhares de pessoas que foram ver com os próprios olhos o rei redivivo da canção zulu. Sua rentrée fez um sucesso tal que a polícia teve de usar canhões de água para conter o público.
        Embora as imagens do Khumalo original e do genérico, captadas pela rede de TV britânica BBC, revelem discrepâncias maiores que a alegada perda de peso, a fantástica história contada por ele aparentemente colou. Vítima de feitiçaria, o artista teria sido aprisionado numa caverna por zumbis. Lá, nos últimos dois anos, alimentou-se de lama e foi forçado a cantar para o deleite estético dos mortos-vivos.
        Assombradas, duas das numerosas ex-esposas do ídolo reconheceram-no como o saudoso falecido. Sua avó materna, Zintombi Mseleku, declarou com olhos cheios d'água: "Não existe possibilidade de estar enganada. É ele mesmo, o meu querido 'Kwarkhe'!" Já uma ex-namorada e parceira de Khumalo nos palcos, a compositora Zehlise Xulu, disse não ter reconhecido naquele estranho o homem que a cantava tão bem.
        O que estaria por trás desse mistério? Espalhado por diversos países do sul do continente africano, como a Suazilândia, o Zimbábue, Moçambique e Lesoto, o povo zulu representa hoje cerca de 23% da população da África do Sul. Mesmo com costumes, hábitos e idioma próprio - o isiZulu é uma das onze línguas oficiais faladas no país -, sempre foi um agrupamento humano marcado pela heterogeneidade.
        "Os zulus não são propriamente uma etnia, eles inventaram uma etnia. Eram, desde o século 19, guerreiros que incorporavam vencidos, homens e mulheres, no grupo", explica o diplomata, escritor e africanólogo paulistano Alberto da Costa e Silva. Não por acaso, durante a guerra civil que pôs fim ao apartheid, embora grande parte dos zulus fosse partidária do Inkatha, aliado estratégico do governo racista, outros membros da etnia apoiavam o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela. A religião, no entanto, permanece como elo de identidade. "Eles acreditam na transmigração das almas e na ideia de que todo o mal que nos acontece é causado por feitiçaria", diz Costa e Silva.
        Escravos descerebrados. Carregada de significados políticos e culturais, a crença na existência de zumbis já foi relacionada ao passado escravocrata. Zumbis são seres passivos e descerebrados que servem a um senhor que os enfeitiçou e vagam como párias sociais. Bem antes que George Romero praticamente inaugurasse um gênero de cinema nos EUA com A Noite dos Mortos-Vivos (1968), o diretor britânico Jacques Tourneur já havia acertado, com precisão, no tema: no clássico B de horror A Morta-Viva (I Walked with a Zombie, de 1943) o sobrenatural surge em um engenho de açúcar na ilha caribenha de São Sebastião, assolada por banzos e doenças tropicais.
        No Haiti, onde supostos zumbis caminham pelas ruas à luz do dia, histórias como a ocorrida na África do Sul essa semana são comuns. Em 1980, um homem surgiu numa vila rural dizendo ser Clairvius Narcisse, cidadão cujo atestado de óbito havia sido assinado no hospital Albert Schweitzer, na cidade de Deschapelles, em 2 de maio de 1962 - igualmente ressuscitado e transformado em zumbi por um feiticeiro.
        Mas quando a lenda foge ao controle, homens da lei são chamados a repor a ordem. Para acalmar a histeria que se instalou no país, a polícia sul-africana deteve o ressurreto Khumalo e recolheu amostras para um exame de DNA, cujo resultado não saiu até o fechamento desta edição. Informações preliminares, no entanto, dão conta de que o exame das digitais do dito cujo revelaram não um morto-vivo, mas um impostor: Sibusiso John Gcabashe, de 28 anos, que pode ser processado por fraude. Um horror.


        Do Estadão de 8 de fevereiro de 2012



        Constituição em decadência

        A Carta dos EUA já não é modelo para nenhum país, pois ela é lacônica, antiga e garante relativamente poucos direitos

        08 de fevereiro de 2012 | 3h 06

        É COLUNISTA, ADVOGADO, ADAM, LIPTAK, THE NEW YORK TIMES, É COLUNISTA, ADVOGADO, ADAM, LIPTAK, THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
        A Constituição dos EUA teve dias melhores. Certamente ela é o documento de fundação do país e um texto sagrado. E em todo o mundo, é a mais antiga Constituição nacional escrita ainda em vigor. Mas sua influência está decrescendo. Em 1987, no seu bicentenário, a revista Time calculava que dos 170 países, mais de 160 possuíam constituições escritas "copiadas direta ou indiretamente da versão americana".
        Um quarto de século depois, o quadro está muito diferente. "A Constituição dos Estados Unidos parece estar perdendo sua atração, deixando de ser modelo para projetos constitucionais por toda a parte", segundo um estudo realizado por David S. Law, da Universidade Washington em St. Louis e Mila Versteeg, da Universidade de Virgínia.
        O relatório, que será publicado em junho na The New York University Law Review, está repleto de dados. Seus autores codificaram e analisaram os dispositivos de 729 constituições adotadas por 188 países entre 1946 e 2006, e levaram em conta 237 variáveis no tocante a diversos direitos e modos de fazer com que estes sejam respeitados.
        "Entre as democracias do mundo", concluíram os professores, "a similaridade constitucional com os EUA claramente sofre uma forte queda. Nos anos 60 e 70, as constituições democráticas como um todo eram mais similares à Constituição americana, mas o curso foi revertido nas décadas de 80 e 90".
        "Na passagem para o século 21, contudo, teve início um mergulho radical que continuou até anos mais recentes, e temos dados a respeito, a ponto de as constituições das democracias do mundo hoje estarem, em média, menos similares à Constituição americana do que no final da 2.ª Guerra."
        Existem muitas razões prováveis. A Constituição dos EUA é lacônica e antiga e garante relativamente poucos direitos. O compromisso de alguns membros da Suprema Corte no sentido de interpretar a Constituição de acordo com seu significado original no século 18 pode ser um alerta para, digamos, uma nova nação africana. E essa influência cada vez menor da Constituição americana pode ser parte de um declínio geral do poder e do prestígio americanos.
        Numa entrevista, o professor David Law identificou uma razão fundamental para essa tendência: a disponibilidade de sistemas operacionais mais poderosos, mais novos e mais atraentes no mercado constitucional. "Ninguém deseja copiar Windows 3.1 (um dos primeiros da Microsoft)", afirmou.
        Em entrevista pela TV durante visita ao Egito, na semana passada, Ruth Bader Ginsburg, juíza da Suprema Corte concordou. "Eu não recorreria à Constituição dos EUA se estivesse redigindo um projeto constitucional em 2012." E recomendou, em vez disso, a Constituição da África do Sul, a Carta de Direitos e Liberdades do Canadá ou a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
        Os direitos assegurados pela Constituição dos EUA são poucos pelos padrões internacionais e estão cristalizados. Como Sanford Levinson escreveu em 2006, em seu livro Our Undemocratic Constitution (Nossa Constituição antidemocrática) que: "a Constituição dos EUA é mais difícil de ser emendada do que qualquer outra no mundo nos dias atuais". A Iugoslávia detinha esse título, mas não sobreviveu.
        Outras nações rotineiramente realizam reformas constitucionais, substituindo-as em média a cada 19 anos. Thomas Jefferson, numa carta escrita em 1789 a James Madison, afirmou que toda constituição "expira naturalmente no final de 19 anos", pois "a terra pertence sempre à geração atual". Hoje, as similaridades entre os direitos garantidos pela Constituição americana e aqueles mais contemplados em outras partes do mundo são muito poucas.
        Defasada. Os americanos reconhecem direitos não protegidos amplamente, incluindo o direito a um julgamento público e rápido, e são extremados quando se trata de proibir o governo de se imiscuir na religião. Mas a Carta americana está defasada em relação ao restante do mundo ao não proteger, pelo menos com tantas palavras, o direito de ir e vir, a presunção de inocência e o direito à alimentação, educação e saúde. Ela tem suas idiossincrasias. Somente 2% das constituições do mundo protegem, como é o caso da 2.ª Emenda, o direito ao porte de armas (seus irmãos em armas são a Guatemala e o México).
        A importância global decrescente da Constituição dos EUA condiz com a influência cada vez menor da Suprema Corte. "Ela vem perdendo seu papel central que outrora tinha entre as Cortes nas democracias modernas", foi o que Aharon Barak, então presidente da Suprema Corte de Israel, escreveu em 2002 na The Harvard Law Review.
        Muitos juízes estrangeiros têm afirmado que estão menos propensos a citar decisões adotadas pela Suprema Corte americana, em parte em razão do que consideram ser a sua visão mais centrada no seu próprio mundo. "Os EUA correm um risco de estagnação no campo legal", disse o juiz Michael Kirby, da Corte Suprema da Austrália em 2001, acrescentando que tem se voltado mais para a Índia, África do Sul e Nova Zelândia.
        O juiz Barak identificou uma nova superpotência em matéria constitucional. "A lei canadense serve de fonte de inspiração para muitos países em todo mundo". O novo estudo também sugere que a Carta de Direitos e Liberdades Canadense, adotada em 1982, hoje pode ser muito mais influente do que a americana.
        "A Constituição do antigo império do mal, a União Soviética, era muito melhor do que a nossa", afirmou o juiz Antonin Scalia à comissão do Judiciário do Senado em outubro. "Nós asseguramos a liberdade de expressão e da imprensa. Grande coisa. Eles asseguravam a liberdade de expressão, da imprensa, para realizar manifestações e protestos e qualquer pessoa que fosse pega reprimindo críticos do governo tinha de prestar contas a respeito. Que maravilha!" "Naturalmente, eram apenas palavras no papel, o que os autores de nossas leis chamaram de 'garantia de pergaminho'." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


        Essa é a coluna da Lucia Guimarães de 23.1.12


        Volto para o Canadá

        23 de janeiro de 2012 | 3h 07

        Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo
        O que têm em comum o candidato republicano Newt Gingrich e Luiza, a adolescente paraibana que voltou do Canadá?
        Eles representam dois lados da mesma moeda, ambos atropelados pelo fenômeno do contágio digital.
        O âncora Carlos Nascimento não conteve sua nostalgia analógica e comentou, na abertura do seu telejornal: "Nós já fomos mais inteligentes". A mesma franqueza não se viu por aqui, onde o âncora da CNN abriu o debate republicano na quinta-feira passada pedindo a Gingrich para comentar a entrevista de sua ex-mulher à rede ABC, que "tinha se tornado viral".
        Explico: Brian Ross, o principal repórter investigativo da ABC, com 40 anos de profissão e alguns prêmios na estante, pediu a Marianne Gingrich para repetir o que já contou a outros repórteres no passado: seu ex-marido teve um longo caso com Callista, uma funcionária do Congresso, hoje a terceira senhora Gingrich, e, quando descoberto, não pediu logo divórcio, pediu tolerância para o arranjo tripartite.
        Brian Ross é mais conhecido por produzir furos sobre Osama Bin Laden e trabalho escravo. A notícia requentada decolou graças à cumplicidade de jornalistas e editores veteranos cuja inteligência pode não ter encolhido, mas cujo apreço pela profissão certamente já foi maior. E a CNN achou por bem abrir o debate político com o pecado sexual.
        "O senhor gostaria de comentar?", perguntou o mediador John King.
        "Não gostaria, mas vou ter que comentar", respondeu Gingrich e foi ovacionado de pé pela plateia predominantemente conservadora.
        Touché.
        Newt Gingrich, o fanfarrão hipócrita, tal como o personagem do samba de Chico Buarque, deu pernada a três por quatro e quem se despenteou foi o âncora imóvel.
        A hipocrisia da vida privada de Gingrich não prejudicou o candidato nas primárias da Carolina do sul. Aposto que a hipocrisia da mídia, escondida atrás da desculpa "se tornou viral" para se lambuzar com o que não tem relevância, deu muitos votos ao homem que defendeu o impeachment de Bill Clinton enquanto dormia com a funcionária Callista.
        Estou incluída entre os mais de 4 milhões de internautas espectadores do vídeo de publicidade que transformou Luiza numa commodity digital. Fui compelida a assistir quando me enviaram o comentário de Nascimento sobre o tipo de fama que tem origem no sarcasmo contemporâneo, na comédia da qual Jon Stewart é um praticante muito superior a seus imitadores. Stewart e sua cria Stephen Colbert ao menos denunciam corrupção e hipocrisia, a ponto de criar um comitê político para expor a insanidade da lei de financiamento de campanhas. Ambos se preocupam em entreter, mas há camadas de humanidade sob suas personas cômicas.
        A jovem Luiza e sua antecessora, Rebecca Black, do esquecido vídeo Friday, são protagonistas do jogo da fama viral que não controlam. É entrevistada não porque fez alguma coisa, mas porque milhões de pessoas se divertem zombando de seu pai. O colunista social da Paraíba promove, em seu sotaque carregado, o prédio com nome de boulevard parisiense e a seriedade com que comenta "menos Luiza, que está no Canadá", oferece um momento de candor perfeito para a indústria do ridículo online.
        O Canadá é um eterno tema de piadas de americanos, em grande parte por suas qualidades, consideradas entediantes. A população esparsa e cordial, as cidades limpas, a aversão ao confronto e o senso de humor autodepreciativo servem de farto material para comédia stand-up. Num episódio da série animada South Park, pais americanos, incapazes de se responsabilizar pelo destino de seus filhos, conclamam, na paródia de um musical: "Culpem o Canadá!".
        Assim como Marianne Gingrich choramingando pelo adultério do ex-marido não merece destaque num debate da eleição americana mais dramática das últimas décadas, a viral e sorridente Luiza habita um ecossistema contra o qual o jornalismo não consegue se vacinar.
        O Canadá geográfico está fora do meu alcance. Mas o país conceitual, este sim, é um bom lugar para se pedir asilo.


        DA FSP em 12.1.12



        CLÓVIS ROSSI
        O capitalismo não era para sempre?
        Filósofo Francis Fukuyama revisita o "Fim da História" e descobre que ela ainda aparenta ter um futuro
        Lembra-se do "Fim da História", o livro no qual o filósofo Francis Fukuyama decretava a vitória para todo o sempre do binômio economia de mercado/democracia liberal?
        Bom, exatos 20 anos depois, Fukuyama já não está tão seguro, a ponto de ter publicado no número janeiro/fevereiro da "Foreign Affairs" um artigo cujo título diz tudo a respeito da mudança de opinião: "O Futuro da História" (http://www.viet-studies.info/kinhte/FA_FutureOfHistory_Fukuyama.htm).
        Cito apenas pedaço de uma frase do texto, no qual o filósofo diz que "a corrente forma de capitalismo globalizado está erodindo a base social da classe média na qual se assenta a democracia liberal".
        É igualmente sintomático, aliás, que o citado número da "Foreign Affairs" contenha outros temores sobre o futuro do capitalismo/democracia. O editor da revista, Gideon Rose, por exemplo, diz que a ordem do pós-guerra reconciliara democracia e capitalismo, mas acrescenta que a tarefa agora "é devolver o sistema à forma".
        Charles Kupchan, professor de Assuntos Internacionais da Georgetown University, fala de "doença democrática": "A globalização está ampliando o fosso entre o que os eleitores demandam e o que seus governos podem entregar. A menos que as democracias líderes possam restaurar sua solvência política e econômica, o próprio modelo que elas representam pode perder seu fascínio".
        Não deixa de ser irônico: seria uma nova versão do "fim da história", com sinal ideológico trocado.
        Vale acrescentar que a rubrica "crise do capitalismo" era o item mais lido ontem na seção de comentários do "Financial Times".
        Para fechar o círculo, saiu ontem a sétima edição do relatório "Riscos Globais", elaborado pelo Fórum Econômico Mundial.
        Há nele pelo menos dois elementos a reforçar as preocupações de Fukuyama. O primeiro é a constatação de que "a vulnerabilidade do mundo a choques econômicos adicionais e à sublevação social causa o risco de minar o progresso que a globalização trouxe".
        Mais importante, ao menos do meu ponto de vista, é a constatação de que, "pela primeira vez em gerações, muitas pessoas não mais acreditam que seus filhos ao crescerem gozarão de um padrão de vida mais elevado do que o deles [pais]", como diz Lee Howell, responsável pelo relatório.
        É uma outra forma de constatar, como Fukuyama, que "a corrente forma de capitalismo globalizado está erodindo a base social da classe média na qual se assenta a democracia liberal".
        É importante notar que a "nova moléstia", como o relatório a chama, é "particularmente aguda nos países industrializados que historicamente têm sido fonte de grande confiança e ideias ousadas".
        Faz sentido: nos países emergentes em geral a classe média se expande e há uma razoável expectativa dos pais de que os filhos tenham padrão de vida mais elevado.
        Mas no único país que pinta, até agora, como modelo alternativo (a China), há abundantes sinais de que a nova classe média prefere o modelo ocidental. Seja como for, parece que a história ainda tem futuro, ao contrário do que se supunha faz 20 anos


        Essa notícia tem alguns meses, mas é interessante.



        OP-ED CONTRIBUTOR

        Before You Judge, Stand in Her Shoes

        By MIKE McGOVERN
        Published: July 5, 2011
        New Haven
        REVELATIONS about the hotel housekeeper who accused Dominique Strauss-Kahn of sexual assault suggest that she embellished claims of abuse to receive asylum, fudged her tax returns, had ties to people with criminal backgrounds, had unexplained deposits in her bank account and changed the account of the encounter she gave investigators. Yet those who would rush to judge her should consider the context.
        Mr. Strauss-Kahn’s accuser is from Guinea, also the home country of Amadou Diallo, the street peddler who was shot to death in the doorway of his Bronx apartment building by four New York City police officers in 1999. Guineans leave their country in large numbers, partly because of grinding poverty; 70 percent live on less than $1.25 a day , despite the fact that Guinea has almost half of the world’s bauxite (from which aluminum is made), as well as iron, gold, uranium, diamonds and offshore oil.
        The same leaders whose theft and mismanagement have kept so many Guineans poor in the decades since independence from France, in 1958, have also been ferociously violent, massacring as many as 186 unarmed demonstrators calling for democratic reforms in 2007, and at least 157 demanding the same in 2009. After the latter massacre, members of the state security forces gang-raped dozens of women to punish them for protesting and to terrorize men and women into silence.
        While the American government condemned the massacres, the bauxite kept shipping, supplying Americans with aluminum cookware and automobile parts. That’s no surprise; the biggest mining companies doing business in Guinea are based in the United States, Canada, Britain and Australia.
        People fleeing state-sponsored violence and extreme poverty will do anything to leave. I receive requests every few weeks to write expert-witness affidavits for West African asylum claimants. As a personal matter of conscience, I will not write in support of an applicant whose testimony I believe contains inconsistencies.
        Yet asylum claimants are often asked to perform an impossible task. They must prove they have been subject to the most crushing forms of oppression and violence — for this, bodies bearing the scars of past torture are a boon — while demonstrating their potential to become hard-working and well-adjusted citizens.
        This is where the lies and embellishments creep into some asylum seekers’ narratives. Immigrants share tips and hunches about ways to outwit the system, even as immigration judges try to discover the claimants’ latest ruses. But I can say from experience that for every undeserving claimant who receives asylum, several deserving ones are turned down. So few Africans gain access to green cards through legal channels that the United States government grants about 25,000 spots annually to Africans selected at random through the diversity visa lottery.
        Just as Mr. Diallo’s death resonated because it made the tribulations of many West African immigrants public, the case of Mr. Strauss-Kahn and his accuser has the aura of a parable. Many Africans feel the International Monetary Fund, which Mr. Strauss-Kahn led, and the World Bank have been more committed to the free flow of money and commodities like bauxite than to the free flow of people and the fulfillment of their aspirations.
        Guinean press accounts, and recent conversations I’ve had with Guineans, suggest that they disapprove of the deceptions by Mr. Strauss-Kahn’s accuser. But given the poverty and systemic violence in their country, they understand the circumstances in which such deception could occur — and we should, too.
        As the case against Mr. Strauss-Kahn seemingly disintegrates, he is enjoying a political renaissance at home, yet I keep asking myself: does a sexual encounter between a powerful and wealthy French politician and a West African hotel cleaning woman from a dollar-a-day background not in itself suggest a gross abuse of power?
        Mike McGovern, an assistant professor of anthropology at Yale and the author of “Making War in Côte d’Ivoire,” is writing a book on Guinea.



        Essa já tem alguns dias.



        Sonda Voyager 1 atinge limite do Sistema Solar e pode sair da heliosfera

        De acordo com a Nasa, ela deverá chegar ao espaço interestelar desconhecido em alguns meses

        06 de dezembro de 2011 | 10h 13

        Efe
        A Voyager 1 já percorreu quase 18 bilhões de quilômetros no espaço - Nasa/AP
        Nasa/AP
        A Voyager 1 já percorreu quase 18 bilhões de quilômetros no espaço
        A sonda espacial Voyager 1, construção humana que se encontra mais afastada da Terra neste momento, entrou na fronteira de nosso Sistema Solar e pode chegar ao desconhecido espaço interestelar em questão de meses, informou na noite desta última segunda-feira, 5, a agência espacial americana Nasa.

        Os cientistas esperam conhecer novos dados emitidos da Voyager 1 para confirmar o momento no qual a sonda, lançada em 1977, sairá da heliosfera, região aonde chegam as partículas energéticas emitidas pelo Sol e que protege os planetas das radiações do espaço exterior.

        A Voyager já percorreu quase 18 bilhões de quilômetros e, segundo o comunicado da Nasa, poderia superar a barreira da heliosfera e a influência de seu campo magnético em "alguns poucos meses ou anos".

        "Descobrimos que o vento solar é lento nesta região e sopra de forma errática. Pela primeira vez, até se movimenta para trás. Estamos viajando por um território completamente novo", disse Rob Decker, um dos responsáveis dos instrumentos de medição da sonda.

        "Não deveríamos esperar muito para investigar como de verdade é o espaço entre as estrelas", indicou Ed Stone, cientista do projeto Voyager no Instituto Tecnológico de Pasadena (estado da Califórnia, EUA).

        Os dados que indicam sua situação provêm dos sensores da sonda, que detectaram um aumento da intensidade do campo magnético, já que se encontra à beira da heliosfera, onde as radiações do espaço interestelar comprimem os limites da zona de influência do sol.

        A Voyager 1, que também transporta uma mensagem sobre o homem e sua situação no universo, mede as radiações para determinar sua passagem pelas fronteiras do Sistema Solar.

        Desde meados de 2010, a sonda detectou uma redução das partículas energéticas emitidas do Sol, que agora são duas vezes menos abundantes que nos cinco anos anteriores, enquanto detectou um fluxo 100 vezes maior de elétrons do espaço interestelar.


        Essa vem da BBC, 8/11/11



        'No evidence' for extraterrestrials, says White House

        Allen Telescope ArrayAstronomers are listening to the cosmos; but no evidence exists yet for alien life

        Related Stories

        The US government has formally denied that it has any knowledge of contact with extraterrestrial life.
        The announcement came as a response to submissions to the We The People website, which promises to address any petition that gains 5,000 signatories.
        Two petitions called for disclosure of government information on ETs and an acknowledgement of any contact.
        The White House responded that there was "no evidence that any life exists outside our planet".
        More than 17,000 citizens joined the two petitions, and the White House has since amended the requirements for response to a minimum of 25,000 signatories.
        "The US government has no evidence that any life exists outside our planet, or that an extraterrestrial presence has contacted or engaged any member of the human race," wrote space policy expert Phil Larson of the White House Office of Science and Technology Policy.
        "In addition, there is no credible information to suggest that any evidence is being hidden from the public's eye."
        The post went on to outline the efforts that are underway that may add evidence to the debate, namely the space missions Kepler and the Mars Science Laboratory.
        Kepler is searching for Earth-like planets around far-flung stars, and the Mars Science Laboratory will sample the Red Planet's geology looking for the building blocks of life - though it will not explicitly look for life itself.
        Perhaps the most famous effort in the hunt for alien life is the Search for Extraterrestrial Intelligence (Seti), once funded in part by US space agency Nasa, which continues to listen to and look around the cosmos for signs of intelligent civilisations elsewhere.
        Mr Larson summarised the numbers game that a hunt for ETs necessarily entails.
        "Many scientists and mathematicians have looked... at the question of whether life likely exists beyond Earth, and have come to the conclusion that the odds are pretty high that somewhere among the trillions and trillions of stars in the Universe there is a planet other than ours that is home to life," he wrote.
        "Many have also noted, however, that the odds of us making contact with any of them - especially any intelligent ones - are extremely small, given the distances involved."



        Justices Weigh Judges’ Duties to Assess Reliability of Eyewitness Testimony




        WASHINGTON — Though studies and lower court decisions have found that eyewitness testimony can be both unusually problematic and unusually persuasive, the Supreme Court on Wednesday did not seem inclined to rule that the Constitution requires judges to view such evidence with special skepticism. Ordinary trial procedures, several justices suggested, should be adequate to address the potential unreliability of eyewitness identifications.
        “I understand you have very good empirical evidence which should lead us all to wonder about the reliability of eyewitness testimony,” Justice Elena Kagan told Richard Guerriero, a lawyer for Barion Perry, a New Hampshire man convicted of theft based in part on the testimony of a woman who said she saw him from a distance late at night.
        But Justice Kagan and other members of the court appeared troubled by the solution Mr. Perry proposed. He said the Constitution’s due process clause should have allowed him to seek a hearing before a judge to decide whether eyewitness evidence against him should be kept from the jury.
        The court’s precedents allow such hearings when the eyewitness identification at issue was the product of a suggestive police lineup or similar official conduct. Mr. Perry said there was similarly problematic suggestiveness in how he was identified, while he was held by the police in a parking lot near stolen goods. But he conceded that the suggestiveness was the product of happenstance and not official conduct.
        Most of the justices did not seem inclined to order a hearing in such circumstances, in part because of the lack of a limiting principle. Why stop with eyewitness evidence that was the product of suggestion? Why stop with eyewitness evidence at all?
        Or, as Justice Antonin Scalia put it, “Why is unreliable eyewitness identification any different from unreliable anything else?”
        Mr. Guerriero responded that eyewitness evidence is “probably the leading cause of miscarriages of justice” and should be treated with special care.
        But Justice Kagan said the problems with such evidence may not be unique.
        “Eyewitness testimony is not the only kind of testimony which people can do studies on and find that it’s more unreliable than you would think,” Justice Kagan said.
        Mr. Guerriero responded that if other forms of evidence can be shown to have contributed to 75 percent of wrongful convictions, as eyewitness evidence has, they might also warrant a closer look.
        Justice Ruth Bader Ginsburg also seemed skeptical about the need for a special constitutional rule.
        “What about all the other safeguards that you have?” she asked. “You can ask the judge to tell the jury, ‘Be careful; eyewitness testimony is often unreliable.’ You can point that out in cross-examination.”
        “You can say something about it in your summation to the jury,” she went on, adding that the rules of evidence, as opposed to the Constitution, also allow the exclusion of some kinds of unreliable evidence.
        “Why aren’t all those safeguards enough?” Justice Ginsburg asked.
        Justice Anthony M. Kennedy said that “you teach the jury” about how hard it is to make an accurate identification by reminding jurors of a typical experience at a restaurant.
        “Has it ever happened to you that midway in the meal you say, is that our waiter?” he said a good lawyer might ask.
        Justice Samuel A. Alito Jr. asked a hypothetical question about a woman raped by a masked man in the dark. Weeks later, he continued, the woman sees a photograph in a newspaper of a man arrested for a different rape and recognizes him as her assailant.
        Under Mr. Perry’s theory, Justice Alito said, a judge could keep the woman from testifying. “Now, maybe that’s a good system, but that is a drastic change, is it not, from the way criminal trials are now conducted?” he asked.
        The justices also mused about other forms of evidence and information, including fingerprints, DNA, crystal balls, tea leaves and information obtained through torture. But they seemed persuaded by a lawyer for the federal government, Nicole A. Saharsky, who argued in support of state prosecutors in the case.
        “Taking the question of reliability away from the jury,” Ms. Saharsky said, “would be a very big change in our system.”
        The primary point of excluding eyewitness identifications that were prompted by the police, said Michael A. Delaney, New Hampshire’s attorney general, was to deter police misconduct rather than to address unreliable evidence more generally.
        Justice Kagan disagreed. “Well, it’s both,” she said. “The court has certainly talked about deterrence, but the court also has very substantial discussions in all of these opinions about reliability. And from the criminal defendant’s point of view, it doesn’t really much matter whether the unreliability is caused by police conduct or by something else.”
        By the end of the argument in the case, Perry v. New Hampshire, No. 10-8974, it seemed unlikely that the court was leaning toward adopting the criminal defendant’s point of view.




        Essa notícia extremamente preocupante está no jornal El País de hoje, 12 de outubro de 2011.


        Empresas brasileñas emigran en busca de mano obra barata

        Los sindicatos alertan sobre la desindustrialización del país

        JUAN ARIAS - Río de Janeiro - 11/10/2011
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        Algunas empresas brasileñas están trasladando sus fábricas a otros países de Latinoamérica donde la mano de obra es más barata. Esto puede convertirse en un arma de doble filo: por un lado, el traslado a otras naciones, donde los trabajadores ganan menos, es un síntoma de país rico y desarrollado; pero, por otro, puede suponer la pérdida de miles de puestos de trabajo.
            Brasil

            Brasil

            A FONDO

            Capital:
            Brasilia.
            Gobierno:
            República Federal.
            Población:
            191,908,598 (2008)

            La noticia en otros webs

            Rio Grande do Sul, uno de los Estados más ricos y desarrollados de Brasil, ha empezado a cerrar algunas de sus fábricas para trasladarlas a otros países. Schmidt Irmãos ha mudado algunas de sus fábricas en Rio Grande do Sul a Nicaragua, a pesar de que su centro en una zona franca nicaragüense necesita recibir maquinaria de Brasil debido a la escasa estructura industrial del país centroamericano. La empresa Paquetá, dueña de marcas como Ortopé, con 12.000 empleados, cerró en agosto una fábrica en Sapiranga y se la llevó a República Dominicana. También Argentina está recibiendo empresas brasileñas, si bien, en este caso, el motivo es otro: se debe a las barreras que sus vecinos argentinos suelen poner a la entrada de productos brasileños.
            Abicalçados, asociación de industrias del sector del calzado, ha confirmado que otras 10 empresas han decidido emigrar al extranjero. Según Heitor Klein, director ejecutivo de dicha asociación, en Brasil esa internacionalización en curso se debe a la búsqueda de mano de obra más barata. Paradójicamente, en los años cincuenta, la industria del calzado de Alemania y de Inglaterra se trasladó a Argentina, México y Brasil en busca de lo mismo.
            En algunos casos, el traslado de estas empresas brasileñas se debe al interés de aprovechar los acuerdos comerciales de estos países con Estados Unidos y crear así centros volcados al mercado norteamericano.
            Brasil ya forma parte de los nuevos países en desarrollo cuyas empresas deslocalizan su producción porque la mano de obra brasileña está mejor pagada que la de muchos de sus vecinos.
            La Federación de Trabajadores del Estado de Rio Grande do Sul, donde la salida de empresas, sobre todo de calzado, está siendo más visible, alerta sobre el peligro de una desindustrialización del país. Algunos expertos en economía comentan que es el precio que Brasil paga por haber entrado en el club de los ricos.



            Relato muito interessante que tirei do Radar Global, um dos blogs do Estadão, neste dia de são Francisco de Assis e do Escoteiro (4/10/2011)


            Os raros apontamentos de um homem que cobriu o julgamento da cúpula nazista, ocorrido há 65 anos
            *Joe Nocera, é colunista no The New York Times
            Em novembro de 1945, seis meses após a rendição alemã aos Aliados, um engenheiro de combate do Exército chamado Harold Burson, de 24 anos, recebeu uma nova incumbência: cobrir o julgamento de Nuremberg, que em breve teria início, para a emissora de rádio das forças americanas. Durante os cinco meses seguintes, Burson foi um dos dois soldados que acompanharam o andamento do processo e produziram um “relato” diário, que era lido no ar pelos âncoras da emissora.
            Burson tem 90 anos hoje. Cofundador da Burson-Marsteller, uma das maiores empresas de relações públicas do mundo, ele ainda vai ao escritório todos os dias, ocupando o cargo de presidente fundador. Chega até a escrever ocasionais textos para o blog corporativo. Ele me disse há pouco tempo que, a cada cinco anos, e retoma esses antigos relatos e os relê, maravilhando-se com a notável experiência com a qual ele teve a oportunidade de se envolver ainda tão jovem.
            Minha resposta foi imediata: ele poderia me mostrar os relatos? Alguns dias mais tarde, uma pesada pasta aterrissou na minha mesa. Conforme comecei a ler os antigos relatos batidos à máquina, fiquei também maravilhado, mas por motivos diferentes dos de Burson.
            Apesar de ter havido uma série de julgamentos de Nuremberg, o primeiro conjunto deles foi sem dúvida o mais importante. Foram os únicos realizados em conjunto por União Soviética, Grã-Bretanha, Estados Unidos e França. A Guerra Fria logo tornaria impossível semelhante colaboração entre soviéticos e americanos. Foram julgados os mais importantes nazistas ainda vivos, 20 deles no total. Um 21.º réu, Martin Bormann, secretário particular de Hitler, foi julgado à revelia porque os Aliados ainda não estavam certos da morte dele. A qualidade de “testemunha ocular” dos relatos de Burson – escritos em parceria com o cabo Sy Bernhard – é absolutamente envolvente, tanto quanto qualquer texto escrito por algum dos famosos correspondentes que foram encarregados de cobrir o julgamento, como Howard K. Smith, que na época trabalhava para a CBS News. Ali está Hermann Goering, o segundo no comando de Hitler, “usando seu cinzento e mal cortado uniforme da Luftwaffe, de botões reluzentes”, notadamente “desafiador e arrogante” no banco das testemunhas.
            E ali está Rudolf Hess, suplente de Hitler no Partido Nazista, “uma figura semelhante a um espantalho curvado sob o brilho dos holofotes do tribunal” que se faz de portador de uma doença mental, até que o tribunal realiza uma audiência para verificar a sua sanidade, durante a qual ele anuncia dramaticamente que tudo não passou de fingimento.
            Embora os relatos de Burson destaquem os momentos mais dramáticos, como toda boa obra de jornalismo, eles também fazem alusão a momentos mais monótonos – intermináveis dias dedicados ao registro de documentos alemães como provas. Mas, como vemos, são esses documentos – mais do que o depoimento dos réus – o verdadeiro motivo pelo qual o julgamento de Nuremberg ainda é importante.
            “No início, nenhum de nós acreditou que os alemães tivessem de fato documentado tudo”, lembra-se Burson. “Mas era verdade. Eles documentaram a execução de prisioneiros de guerra e o extermínio em massa dos judeus.” Burson tinha ouvido falar das atrocidades dos campos de concentração nos relatos de jornalistas que tinham ido a Bergen-Belsen. Mas o julgamento foi a primeira ocasião na qual ele viu as horríveis fotografias e até filmes dos campos – material que os próprios alemães tinham produzido.
            “A primeira base que tivemos para a compreensão do Holocausto vem dos documentos de Nuremberg”, diz John Q. Barrett, professor de Direito da Universidade St. John’s e especialista nos julgamentos de Nuremberg.
            Havia um outro aspecto dos relatos de Harold que me pareceu quase adorável. Há neles uma qualidade urgente e idealista que nos lembra do quão cheios de esperança eram os EUA após a 2.ª Guerra. Apesar de terem combatido numa guerra brutal, os americanos estavam determinados a agir com generosidade diante dos derrotados.
            Isso se aplicava até mesmo ao alto escalão nazista, que tinha cometido abomináveis crimes contra a humanidade. “Os soldados fazem sempre a mesma pergunta”, narra o primeiro boletim de Burson. “Por que não simplesmente os levamos para fora e os fuzilamos? Sabemos que são culpados.” De novo e de novo, os relatos de Burson tentam responder a essa pergunta. Porque “a culpa dos líderes alemães deve ser cuidadosamente documentada”. Porque “nós, cidadãos dos quatro países, somos dedicados à lei e à ordem”. Porque “nosso sistema não equivale à lei do linchamento. O castigo será atribuído de maneira proporcional às provas”.
            Liderados pelos americanos, os Aliados insistiram para que os réus nazistas fossem tratados com justiça; o orgulho de Burson diante dessa ideia reluz em cada página. Esse idealismo pós-guerra foi uma das melhores qualidades da Grande Geração. Os EUA de hoje, mais cínicos, sentem muita falta disso.
            Quando o primeiro julgamento chegou ao fim, Burson já tinha voltado aos EUA, começando sua longa carreira nas relações públicas. No dia 1.º de outubro de 1946 – há 65 anos -, os juízes que presidiam o julgamento apresentaram seu veredicto.
            Onze dos réus foram sentenciados ao enforcamento (Goering escapou da sentença cometendo suicídio na prisão). A maioria dos demais recebeu sentenças de prisão, entre eles Rudolf Hess, cuja sentença de prisão perpétua chegou ao fim em 1987, quando morreu aos 93 anos. Mas o mais notável é que três dos réus foram considerados inocentes.
            Os vencedores provaram assim que estavam do lado certo.
            TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL


            Essa não é nem internacional. É espacial. Em 24 de setembro de 2011
            24/09/2011 - 04h38

            Nasa confirma queda de satélite na Terra; pedaços teriam atingido Canadá

            Comentários28
            • Foto da Nasa mostra satélite do tamanho de um ônibus que foi retirado de funcionamento em 2005
              Foto da Nasa mostra satélite do tamanho de um ônibus que foi retirado de funcionamento em 2005
            O Satélite de Pesquisa da Alta Atmosfera (UARS, na sigla em inglês) entrou na atmosfera e caiu na Terra, confirmou a Nasa neste sábado (24). Por sua conta no Twitter, a agência espacial americana assegura que seus "restos caíram na Terra" entre 0h23 e 2h09 de Brasília, mas não detalha o local do impacto.
            Segundo mensagens divulgadas do Twitter, mas ainda não confirmadas, algumas partes do satélite teriam caído na cidade canadense de Okotoks, no sul de Calgary. O UARS tem o tamanho de um ônibus e pesa mais de 5,5 toneladas, mas a Nasa voltou a insistir na sexta-feira (23) que o risco para a segurança das pessoas é "muito remoto".

            "O satélite estava passando sobre Canadá e África, assim como sobre vastas zonas dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico", explica a Nasa. A agência espacial acrescenta que "o momento preciso da entrada na atmosfera e o local do impacto não são conhecidos com certeza".

            A agência garante que desde o começo da era espacial não foi registrado nenhum caso de pessoa ferida por um objeto espacial, que desta vez tinha chance de um em 3,2 mil de atingir alguém. Os cientistas haviam calculado que o satélite se despedaçaria ao entrar na atmosfera e que pelo menos 26 grandes pedaços suportariam as altas temperaturas do reingresso e cairiam sobre a Terra.


            Isso é interessante: escravidão descoberta em Londres:
            http://www.telegraph.co.uk/news/uknews/crime/8757001/Slaves-discovered-living-in-filthy-conditions-in-Bedfordshire.html

            Notícia extremamente interessante do Estadão de hoje, 5.8.11


            Condado de Jefferson, no Estado do Alabama, pode falir



            05 de agosto de 2011 | 0h 00

            Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo
            CORRESPONDENTE/ WASHINGTON
            O condado de Jefferson, no Estado do Alabama, está prestes a entrar para a história americana como protagonista da maior falência em nível municipal do país. O estrago nas contas públicas foi causado por dívida de US$ 3,14 bilhões, acumulada durante a construção de um novo sistema de esgoto, e por sucessivos acordos de renegociação dos bônus emitidos para financiá-lo.
            A possível declaração de falência pode ainda prejudicar o mercado de US$ 2,9 trilhões de bônus municipais nos EUA. O Executivo local - Comissão do Condado, composta por cinco representantes - reuniu-se na tarde de ontem com os advogados dos credores para decidir entre uma nova fórmula de renegociação da dívida ou o apelo ao capítulo 9 do Código de Falência dos EUA, dedicado a municípios quebrados. Segundo o presidente da Comissão, David Carrington, havia 30 pontos críticos a serem discutidos. Até o fechamento desta edição, a decisão não havia sido anunciada.
            Os maiores credores do condado de Jefferson, entre os quais o JPMorgan Chase, apresentaram uma última proposta mantida sob sigilo. O segredo foi duramente criticado pelo editorial de ontem do jornal Birmingham News. Inicialmente, a Comissão de Jefferson havia sugerido o perdão de US$ 1,3 bilhão da dívida, mas os credores mostravam-se dispostos a aceitar apenas US$ 1 bilhão. O condado ainda sinalizou com o aumento de 47% na taxa de esgoto, para permitir novos pagamentos dos juros e da parcela a principal do passivo.
            Investigações sobre corrupção de políticos e empresários em torno do projeto do sistema de esgoto já levaram 22 pessoas à prisão. O custo real do projeto era estimado em até US$ 1,5 bilhão. A dívida recai agora sobre os 660 mil habitantes que, nos cálculos da Comissão, levariam 30 anos para pagá-la.
            Com a falência, o condado teria situação bem mais cômoda do que a de empresas privadas sujeitas a processo similar. O Código de Falência não o forçaria a vender ativos nem passar por programa de reorganização orçamentária. Porém, certamente ficaria fora do mercado de bônus e tenderia a enfrentar problemas de financiamento público. 



            Essa outra notícia vem da Folha de São Paulo de 2/8/11


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            Países ricos têm maiores índices de depressão

            Dado é de pesquisa internacional que entrevistou 89 mil pessoas

            Nações de renda alta têm 14,6% de deprimidos, contra 11% das mais pobres; em SP, 18% são afetados


            RAFAEL GARCIA 
            DE WASHINGTON

            Um levantamento sobre a depressão em 18 países indica que esse transtorno psiquiátrico é mais comum em nações ricas do que em pobres.
            O Brasil, porém, representado no estudo por dados da Grande São Paulo, foi o país em desenvolvimento com mais pessoas afetadas.
            A pesquisa, para a qual foram entrevistadas 89 mil pessoas, é resultado de um projeto da divisão de saúde mental da OMS (Organização Mundial da Saúde).
            O registro de uma prevalência maior da depressão (14,6%) em países de renda média e alta do que nos de renda baixa (11,1%) não tem uma explicação única, afirmam os cientistas.
            "Diferenças em exposição ao estresse, reação ao estresse e em depressão endógena [de origem interna], não relacionada aos fatores ambientais, são possíveis influências", afirma o estudo, liderado pela psiquiatra Evelyn Bromet, da Universidade de Nova York.
            "A desigualdade social, em geral maior nos países de alta renda do que nos de baixa, leva a problemas crônicos que incluem a depressão."
            Talvez não por acaso, o Brasil, onde a desigualdade social é ampla, figura na pesquisa com uma prevalência de 18% desse transtorno psiquiátrico. Entre os países ricos, a exceção foi o Japão, com só 6,6% de deprimidos.

            CLASSE SOCIAL 
            As pessoas mais pobres dos países ricos tiveram mais risco de passar por um episódio de depressão, tendência que não foi observada nas nações mais pobres.
            Segundo Bromet, a diferença de 3,5% na incidência média de depressão entre países ricos e pobres pode não estar ligada ao grau de desenvolvimento.
            "O que me impressiona mais é que, na maioria dos países, a prevalência em tempo de vida está entre 10% e 20%", disse a pesquisadora à Folha. "Isso significa que toda a comunidade médica precisa manter vigilância para reconhecer a depressão."
            Um dado foi uniforme entre todos os países: mulheres tinham o dobro de risco de apresentar depressão do que os homens.
            A idade do primeiro episódio ficou entre os 20 e 30 anos. Nos países mais pobres, a depressão começa mais cedo do que nos ricos.

            DADOS PONTUAIS
            No caso do Brasil, um fator que pode ter causado um viés nos dados é que o país foi o único a contar com dados de só um centro urbano.
            A China incluiu dados de três cidades, e os outros países trabalharam com amostragens nacionais.
            "Essa marca de 18% do Brasil não seria tão alta se o estudo tivesse incluído áreas rurais, já que populações urbanas têm maior associação com o estresse em razão da violência", afirma Maria Carmen Viana, psiquiatra da USP e uma das autoras do estudo.
            Viana conta que buscou financiamento para a pesquisa em órgãos federais e estaduais, mas só conseguiu com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). "Não conseguimos verba para uma amostragem nacional."





            Pepe Escobar: Sexo, poder e justiça americana
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            (0 votos, média de 0 em 5)
            Estados Unidos - Institucional
            Quinta, 19 Maio 2011 02:00
            180511_straussVi o Mundo - [Pepe Escobar, Asia Times Online] Pois fato é que, afinal, Osama bin Laden não será o personagem principal no julgamento do século. Uma piscadela do destino, e o papel caberá a Dominique Strauss-Khan (DSK), o todo-poderoso diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), que agora medita na ilha Rikers “Alcatraz” em Nova York.

            O chefão com nome de sopa de letrinhas posto à frente do juiz, muito contrariado; o Departamento de Polícia de Nova York mundialmente conhecido pelos seriados de televisão, mostrando serviço real e ao vivo; a captura-suspense, na cabine da primeira classe, no último momento, antes da partida do avião para voo transcontinental; a cerimônia da identificação entre suspeitos assemelhados e a exibição para a mídia, do acusado algemado[1], são, todos, ingredientes do mais recente escândalo sociopolítico global.
            No mundo dos tabloides nova-iorquinos, quase sempre nauseabundo, foi difícil resistir à metáfora que, de tão clara, cintilava: o FMI – que tem reputação de ferrar sistematicamente os pobres do mundo –, apanhado pela polícia, precisamente, quando tentava aplicar à força um ajuste estrutural, numa suíte de hotel em Manhattan, contra uma discreta viúva africana, muçulmana e imigrada que vive no Bronx com a filha adolescente. O linchamento pela mídia jamais seria menos cruel ou violento, que o fato.
            Pelo que já se viu, DSK tem muito mais sorte que o líder líbio coronel Muammar Gaddafi, porque só terá de enfrentar um júri nova-iorquino, não a Corte Internacional de Justiça [ing. International Criminal Court (ICC)] em Haia. Diferente de Gaddafi, DSK – pelo menos em teoria – é inocente até que se prove o contrário, embora já tenha sido condenado pela imprensa marrom.
            Muito menos visíveis dos dois lados do Atlântico, são os intelectos sãos que tanto trabalham para mostrar que os escroques de Wall Street roubaram trilhões de dólares do cidadão comum; que os executivos da British Petroleum estão destruindo o Golfo do México; e que, de fato, o governo de George W Bush levou os EUA à bancarrota ao lançar uma guerra que matou mais de um milhão de iraquianos. Nenhum desses foi pré-condenado nem mereceu, sequer, ser exibido em algemas.
            Só uma coisa é certa, indiscutível: no que tenha a ver com “a justiça norte-americana”, são zero as chances de alguém ver algemados o governo Bush ou os perpetradores do “golpe Goldman Sachs”.
            Escândalo, sexo e gritaria
            Acompanhar em detalhe a histeria da imprensa dos dois lados do Atlântico foi mais fascinante que viagem a Marte. Na França, era absolutamente garantido que DSK seria eleito presidente nas eleições de 2012, depois de derrotar o naufragante Nicolas Sarkozy, libertador neonapoleônico da Líbia. DSK – arma de escolha dos poderes financeiros que rastejam por trás do trono – deveria anunciar sua candidatura ainda em maio.
            O tom dominante na grande imprensa francesa – em vasta medida subserviente a Sarzoky e seus lacaios – é que os norte-americanos, confirmando todos os velhos preconceitos e estereótipos anti-França, humilharam a nação, ao exibir DSK algemado e conduzido por policiais ante câmeras de televisão antes de ser julgado (o que é proibido por lei, na França) e ao negar-lhe o direito à liberdade sob fiança (de US$1 milhão).
            A justiça norte-americana ao estilo do seriado “Law and Order” está sendo arrastada pela lama, atrelada ao puritanismo dos norte-americanos. Simultaneamente, entre simpatizantes catatônicos do Partido Socialista, circulam as inevitáveis teorias de conspiração.
            Pelo menos parte da França parece dar por certo que a camareira do hotel Sofitel, nascida na Guiné, não era nenhuma Mata Hari. Mas talvez seja agente da CIA. E há também o maldito twitter – amplificado por um lacaio de Sarkozy – noticiando que DSK teria sido “preso” antes de a polícia de Nova York dar o primeiro pio: invenção que se espalhou pelo planeta. Nada menos que 57% dos eleitores franceses e 70% dos socialistas acreditam que DSK foi vítima de conspiração.
            Cui bono [quem se beneficia], no caso de ter havido conspiração? Sarkozy, com certeza, ganha alguma coisa; ganham também os que ganhem na campanha eleitoral e na reeleição, além dos contatos ultraconservadores que Sarkozy cultiva nos EUA; também ganham os neofascistas da Frente Nacional francesa, cuja candidata, a empresarial  Marine Le Pen, mantém boa chance de chegar ao segundo turno em 2012; e ganham todos os tubarões das finanças globais, aos quais muito infelicitava a posição mais “liberalizante” do FMI de DSK.
            O ultra carismático DSK é socialista suave, à Moet & Chandon. Fosse banco, DSK estaria na categoria “grande demais para falir”. Está falido. Mas não é banco.
            Fosse político norte-americano, seria uma espécie de Bill Clinton – com quedinha para misturar sexo e mídia e tudo. Clinton só por um triz não foi derrubado da presidência por uma gangue de puritanos, e só por causa daquilo na Casa Branca. Mas o circuito Paris de coquetéis jamais acreditará que DSK, mulherengo conhecido, cometeria a loucura, a imbecilidade, de trocar a presidência da França por uma faxineira africana muçulmana que fala francês em Nova York.
            Assim sendo, a ideia dominante é que tudo não passou de mal-entendido. DSK estava à espera de uma prostituta “de classe” à moda Nova York, quando a camareira entrou descuidadamente na toca do leão e colidiu com o leão que esperava por outra (e armado).
            Essa íntima colisão entre o FMI e uma economia subsaariana em desenvolvimento não implica que DSK seja defensor dos pobres ou da classe trabalhadora. Longe de ser socialista, DSK é parceiro íntimo das elites financeiras globais e do capital transnacional. Mas há detalhes a considerar.
            Um dos detalhes lamentáveis de todo esse negócio sórdido é que DSK estava, de fato, tentando reformar o FMI – tentando empurrá-lo para linha mais progressista. Foi muito elogiado por esse trabalho. Seu substituto interino é o norte-americano John Lipsky – ex-vice-presidente do JP Morgan. Por falar em retrocesso…
            DSK estava empenhado em afastar o FMI do papel nefando que teve durante a crise financeira asiática. Naquele momento, em 1997, os remédios amarguíssimos inspirados pelo Departamento do Tesouro, que o FMI prescrevia, apesar de terem gerado ganhos imensos para os credores, quase destruíram economias inteiras, da Tailândia à Indonésia. Brasil e Rússia também sofreram.
            Depois, seria a hora de “domar” a Argentina – mas a Argentina quebrou no final de 2001. O FMI fez o que pôde para sabotar o país, mas a economia argentina estabilizou-se; e o país voltou a crescer novamente em 2002.
            Os mercados emergentes estão fartos de ver o FMI comandado por europeus. Em 26 dos seus 33 anos de vida, o FMI foi presidido por franceses. A distribuição de poder é medieval: de 24 diretores, nove são europeus; o diretor brasileiro representa nove países, mas seu voto só pesa 2,4%; o voto dos EUA pesa quatro vezes mais que os demais.
            Esses 24 diretores executivos vão agora eleger o próximo presidente do FMI. Os europeus já estão envolvidos na mais viciosa batalha de vale-tudo – não querem entregar a palma. Mas as apostas indicam que o escolhido será Kemal Dervis, da Turquia; ou candidatos da Índia e África do Sul. A China ainda está pensando se sobe ao ringue.
            Caso aconteça de a demissão de DSK abrir a porta para que um representante de país emergente chegue à presidência do FMI – e que espetacular justiça poética! –, terá sido graças a uma africana, muçulmana, imigrante e mulher.
            [1]No orig. perp walk. Gíria norte-americana. Aplica-se a uma prática da polícia, que promove um desfile público, para as televisões, de preso célebre ainda não julgado – e cuja inocência, portanto, deve ser presumida –, em situação de humilhação pública, quase sempre algemado. A expressão tem traços também de ostentação, pela polícia, de prisão feita. Parece ser redução da palavra perpetrator [perpetrador]. Pode ser traduzida, tentativamente, como “desfile do já condenado”, a ser interpretada no contexto específico de celebridade presa pela polícia, exibida às televisões (NTs).
            Tradução do Coletivo de Tradutores Vila Vudu


            Do Gustavo Chacra, mais um grande jornalista do Estadão.


            Y a Islamabad – Era melhor matar ou prender Bin Laden?

            por Gustavo Chacra
            03.maio.2011 18:51:33
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            Bin Laden estava desarmado na hora que foi morto, mas teria resistido aos Seals, segundo informaram autoridades americanas. Acho complicado falar de uma operação militar nestas circunstâncias. Mas, caso houvesse a possibilidade de prender o terrorista saudita, fica a pergunta se seria melhor levá-lo a julgamento ou realizar a execução no local, como teria acontecido.
            Na primeira possibilidade, Bin Laden precisaria ser preso em algum lugar. Poderia ser Diego Garcia ou Guantanamo, mas certamente não seria no território americano. No interrogatório, as autoridades dos EUA talvez conseguissem informações fundamentais sobre toda a história da Al Qaeda. Isso, claro, se o saudita decidisse cooperar, o que seria quase impossível, conhecendo a sua personalidade.
            Neste período, haveria o risco elevado de sequestrarem americanos, civis ou militares, para exigir, em troca a libertação de Bin Laden. Imagine a posição de Obama vendo cidadãos dos EUA com facões no pescoço, estilo Daniel Pearl, e precisando decidir se liberta ou não o maior terrorista da história americana.
            Para completar, Bin Laden poderia utilizar seu julgamento como palanque para difundir ainda mais suas idéias. Verdade, existe a chance de impedirem a divulgação do teor de sua defesa. Mas, em tempos de Wikileaks, sempre existe a possibilidade de vazamento. Mesmo condenado à morte, ele deixaria um testamento de ódio para seus seguidores.
            Assassinato Seletivo – Já a decisão de matá-lo traz perguntas sobre a questão do assassinato seletivo. Sem ter uma definição clara nas Convenções de Genebra, que regulam os conflitos internacionais, esta forma de ataque, usada por Israel e pelos próprios americanos no passado, divide juristas e acadêmicos em questões estratégicas, legais e mesmo morais.
            Existem três grupos de pensamento nesta discussão dos assassinatos seletivos -  os que consideram errado, os que acham aceitável em determinadas condições e, por último, aqueles que avaliam esta alternativa como positiva. Os governos americano e israelense tendem a se encaixar entre o segundo e o terceiro grupo.
            Durannte a Intifada, Israel matou dois dos principais líderes do Hamas e sempre utiliza esta ação quando necessária. Barack Obama, recentemente, autorizou que as forças dos EUA matem até mesmo Anwar al-Awlaki, um cidadão americano que reside no Iêmen e é considerado uma das principais lideranças da Al Qaeda atualmente.
            “Levando em conta exigência para um processo penal e a proibição de uma execução extra-judicial, a única maneira de justificar os assassinatos seletivos é a auto-defesa”, afirma Michael Gross, da Universidade de Haifa, que se encaixa entre aqueles que aceitariam o ataque seletivo em algumas ocasiões. Por exemplo, quando existem informações de que um terrorista está em um carro a caminho de cometer um atentado. Não era o caso de Bin Laden.
            Esta linha de pensamento também é defendida por David Kretzmer, da Universidade Hebraica de Jerusalém. O professor alerta, porém, que estas ações “abrem as portas para violações do direito à vida em conflitos internacionais”. Gregory McNeal, da Universidade Pepperdine, disse, no mês passado, em conferência sobre assassinato seletivo na Filadéfia, que os comandantes militares “têm a obrigação de minimizar os efeitos colaterais dos ataques”. Os EUA aparentemente minimizaram.
            Os mais radicais defensores dos assassinatos seletivos colocam esta tática como mais uma dentre as várias usadas em guerras, como Andrew Altman, da Universidade George Washington. “Se há  provas de que planejou ataques terroristas e não há oportunidade de incapacitá-lo com ações não letais”, sobra realizar os ataques seletivos para combater terroristas como Awlaki e Bin Laden, segundo Robert Chesney, da Universidade do Texas.
            Jeremy Waldron, em um recente artigo publicado pela Universidade de Nova York, se posiciona totalmente contra os assassinatos seletivos porque eles tendem a fugir do controle ao longo do tempo e a serem usados indiscriminadamente.


            Essa vem da BBC. É o Brazil sendo notícia...


            Brazil police filmed 'shooting boy' in Manaus

            Video frame grab showing a police officer apparently pointing a gun at a boys headThe footage was recorded by a private security camera

            Related Stories

            Five Brazilian police officers have been arrested after television stations broadcast a video in which some of them appear to shoot a 14-year-old-boy.
            The footage - captured by a security camera in the city of Manaus - shows uniformed men pushing the teenager before shooting him in the chest.
            The boy survived with several wounds and is now in a witness protection programme along with his family.
            The incident happened in August but has only recently come to light.
            The boy's family and the person in charge of the security camera, as well as the first reporter to see the footage, initially held the video back because they feared retaliation if it was made public, prosecutors said.
            Amazonas state prosecutor Joao Bosco Sa Valente said the officers would face charges of attempted homicide.
            "I have been fighting organised crime for 30 years, but every time I see those images I feel indignation and disgust," the prosecutor told the Brazilian newspaper Folha de Sao Paulo.
            The images have attracted widespread media attention across Brazil.
            Police officers in Brazil are frequently accused of using excessive force against criminal suspects, including extrajudicial execution.


            Do blog do Gustavo Chacra, a respeito do Egito.




            De Nova York ao Cairo – A teoria do Cisne Negro aplicada aos levantes no Egito por Gustavo Chacra



            08.fevereiro.2011 02:05:32



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            Finalmente chegou o dia de falar da teoria do Cisne Negro aplicada aos levantes no mundo árabe. Para quem não costuma ler o blog, esta teoria nada tem a ver com o ballet. Na verdade, trata-se de um livro escrito pelo bilionário investidor e libanês Nicolas Nassim Taleb, que também é professor da NYU (Universidade de Nova York). Resumindo, a teoria diz que nenhum dos grandes eventos que interessam são previstos. Ninguém imaginou o 11 de Setembro, para ficar em um exemplo fácil.

            Desta vez, nenhum analista imaginou a onda de protestos no mundo árabe. E, na minha avaliação, a última edição do Middle East Journal, que é mais conceituada publicação acadêmica sobre o Oriente Médio nos EUA, indica o motivo. Não por dizer em algum artigo que estes levantes ocorreriam. Na verdade, justamente pelo oposto. Há textos sobre o Irã, Israel, Palestina e Iraque. Países que, junto com o Líbano, são os que atraem manchetes e teses de PhD ao redor do mundo. Mas nada sobre a Tunísia, como sempre.

            Especialistas em Oriente Médio adoram estudar a política israelense, o regime de Teerã, o Hamas, o Hezbollah, a estratégia americana para o Iraque. Mas são raros os que se focam no Egito. Até existem, mas não são populares como aqueles que se repetem todos os dias falando do conflito entre Israel e os palestinos.

            O mesmo vale para os correspondentes estrangeiros e eu me incluo nesta lista. Até estive no Cairo algumas vezes fazendo reportagens especiais. Mas sempre preferi Beirute ou Jerusalém. No meu caso, coloco também Damasco, o que de certa forma é uma raridade. Em geral, os jornalistas ficam no eixo Líbano-Israel-Iraque. Mesmo o New York Times havia retirado seu correspondente, Michael Slackman, do Cairo no fim do ano passado. Mas os de Beirute, Jerusalém e Bagdá são intocáveis.

            E, ainda que existam especialistas em Egito contemporâneo, o mesmo não se pode dizer da Tunísia. Ninguém observava este “Uruguai” do mundo árabe. Uma nação de classe média, mais moderada em questões sociais do que os vizinhos. Alguns turistas sequer sabiam que estavam visitando uma ditadura. Cenas do filme Guerra nas Estrelas, nas versões mais recentes, foram gravadas no deserto tunisiano.

            Poucos prestaram atenção ou cogitaram a possibilidade do levante neste país. Mas, quando ocorreu, serviu de incentivo para outros Estados na região. Além disso, não está claro se as manifestações teriam ganho a mesma dimensão se um jovem não houvesse imolado. A Tunísia foi um Cisne Negro que alterou para sempre a história dos regimes árabes. Agora, qualquer um consegue fazer previsões sobre o Egito.

            Aliás, mantendo a tradição da semana passada, as consultorias de risco político dizem que o Egito caminhará para uma democracia frágil através de uma transição instável nas mãos do vice Omar Suleiman. Independentemente do resultado em eleições, o Exército continuará como a instituição mais poderosa.


            Máfia envelheceu e perdeu espaço para gangues, dizem analistas
            Herdeiros preferem ser médicos ou advogados e famílias mafiosas perdem suas figuras mais inteligentes e habilidosas
            22 de janeiro de 2011 | 0h 00
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            Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo
            A Máfia envelheceu, seus integrantes estão mais despreparados, a concorrência de outras gangues aumentou e o código de silêncio, conhecido como "ormetà", não se aplica mais à organização criminosa que há mais de um século atua nos EUA e na Itália. Pelo menos foi essa a conclusão da imprensa e de analistas depois do mais duro golpe contra os mafiosos na história.

            Sete famílias - ou facções - foram desmanteladas na quinta-feira em uma megaoperação do FBI (a polícia federal americana), em Nova York e New Jersey, com quase 130 pessoas detidas. O futuro dessas organizações criminosas, que têm origem na Sicília, agora é incerto.

            George Anastasia, considerado um dos maiores especialistas em Máfia dos EUA, disse ontem à rede de TV ABC que as figuras mais inteligentes e habilidosas dessas famílias mafiosas optaram por seguir carreiras como médicos e advogados, em vez de entrar para o crime organizado. "Hoje, os integrantes das gangues são aqueles que não deram certo em outro lugar. Não são espertos como há 40, 50 anos", disse.

            Glamour. Da família Genovese, o principal preso foi Stephen "Beach" Shapiro. Seu apelido de "Beach" (praia, em inglês) é por causa de suas operações na região do porto de New Jersey.

            Acusado de assassinato, Bartolomeo "Pepe" Vernace foi a maior figura detida da tradicional família Gambino. Quase ninguém do alto escalão dos Colombo escapou, incluindo Junior "Lollipops".

            As famílias Luchese, DeCavalcante e Bonanno sofreram menos baixas. Os mafiosos presos foram condenados por crimes variados: apostas ilegais, contrabando de cigarros, tráfico de drogas e assassinatos.

            Nenhum dos líderes presos ontem, no entanto, tinha o glamour de outros tempos da Máfia em Nova York e Chicago, como Al Capone, Lucky Luciano, Vito Genovese, "Don Carlo" Gambino, entre outros. Quase todos os analistas comparavam os mafiosos detidos na operação de quinta-feira à Família Soprano, da série de TV.

            De acordo com especialistas, cercados em cidades como New Jersey, os mafiosos perderam espaço no grande crime organizado para gangues chinesas, russas e hispânicas.


            PARA LEMBRAR

            A grande leva de imigrantes italianos que desembarcou nos EUA no início do século 20 trouxe a Máfia para o país. No entanto, foi apenas na metade do século que as famílias mafiosas espalharam-se pelos EUA a partir de Nova York, dividida entre cinco grupos criminosos que disputavam a hegemonia. A era da Lei Seca fez com que enormes somas de dinheiro fossem parar nas mãos da Máfia, que controlava o comércio ilegal de bebidas.