6.5.15

Uma visão interessante

Dizem que uma das maneiras de resolver um problema é olhar a partir de outro ponto de vista. O artigo a seguir faz isso muito bem. DA Folha de hoje, 6/5/15

HÉLIO SCHWARTSMAN

Complicando o simples

SÃO PAULO- "Precisamos preservar os direitos dos trabalhadores." A frase, com algumas variações, tem sido repetida à exaustão por sindicalistas, políticos e até parte dos economistas nas discussões sobre terceirização e outras reformas na CLT. Em princípio, eu concordo, mas examinemos um pouco melhor o que são esses direitos.
Entre os mais citados, aparecem o 13º salário, férias com adicional de 1/3 e o FGTS. Até entendo que políticos gostem de emoldurar esses itens como "direitos", mas me parece mais preciso classificá-los como salário vestido de benefício. Para que a fantasia deixe de iludir tanto, basta exprimir os vencimentos do trabalhador em termos anuais, como fazem os norte-americanos, e não mensais, como é nosso hábito.
Numa conta de guardanapo, apanhemos o salário mínimo, hoje fixado em R$ 788 mensais. Se multiplicarmos esse valor por 12 e lhe acrescentarmos o correspondente ao 13º, férias com adicional e FGTS, teremos um total de R$ 12.082,60. Se dividirmos esse montante por 12, ficamos com R$ 1.006,60, que é, grosso modo, o valor do salário mínimo já incluídos os tais de direitos.
Basicamente, a maioria dos direitos do trabalhador é algo intercambiável por dinheiro. E, ao menos no caso do FGTS, com ampla vantagem, já que o fundo é uma poupança compulsória que com frequência rende menos do que a inflação e na qual o sujeito não pode pôr a mão nem que esteja precisando muito.
Obviamente, as discussões sobre mudanças ficariam bem mais objetivas se parássemos de pensar certas regras trabalhistas como direitos, isto é, como estando na mesma categoria do direito de voto ou do direito de ir e vir, e as tratássemos como remuneração, que é algo muito mais facilmente negociável. É improvável, porém, que isso venha a ocorrer, já que somos uma espécie essencialista, que adora classificar o mundo em categorias meio mágicas.

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