16.1.14

Os rolês e os novos desdobramentos

Do G1.

Shopping de SP fecha as portas para evitar 'rolezão' de sem-teto

Integrantes do MTST se concentravam para evento em estação de trem. 
Participantes pretendem caminhar até dois shoppings na Zona Sul de SP.

Lívia Machado e Marcelo MoraDo G1 São Paulo
94 comentários
Integrantes do MTST se concentravam para evento em estação de trem.  (Foto: Marcelo Mora/G1)Integrantes do MTST se concentravam para evento em estação de trem. (Foto: Marcelo Mora/G1)

O Shopping Campo Limpo, na Zona Sul de São Paulo, conseguiu uma liminar na Justiça e fechou as portas na tarde desta quinta-feira (16) antes do "rolezão popular", como foi chamado o protesto programado por movimentos sociais. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) se concentraram na estação Campo Limpo da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e seguiram até o estabelecimento comercial.
O MTST faz um ato contra liminares concedidas pela Justiça de São Paulo que impedem a realização dos chamados “rolezinhos”. Também convocados no Facebook como “Rolé”, “Rolê”, “Rolezaum”, “Rolezão”, “Rolézinho”, os eventos são encontros de jovens e adolescentes marcados para espaços como parques e shoppings.
Integrantes do MTST se reúnem em estação Campo Limpo da CPTM (Foto: Marcelo Mora/G1)Integrantes do MTST se reúnem na estação Campo
Limpo da CPTM (Foto: Marcelo Mora/G1)
O Shopping Campo Limpo conseguiu uma liminar na Justiça contra o protesto. Quem descumprir a decisão poderá receber multa de R$ 5 mil. Em sua decisão, o juiz Alexandre David Malfatti, da 7ª Vara Cível, afirma que o centro comercial não tem condições de abrigar o encontro.
“Não se trata de inferir que os manifestantes sejam marginais ou que queiram, premeditadamente, causar dano pessoal ou patrimonial”, afirma o magistrado. “Trata-se da reação normal de pânico e desordem que se espera quando milhares de pessoas chegam a um local fechado, com corredores estreitos e poucas saídas para todos.”
A programação dos sem-teto é seguir em caminhada de duas estações da CPTM até dois shoppings da Zona Sul. Às 17h50, integrantes do MTST fechavam os dois sentidos da Estrada de Itapecerica, onde fica uma das entradas do Shopping Campo Limpo. Cerca de cinco minutos depois, o sentido Marginal foi liberado.
Entenda os rolezinhos - cronologia e proibição (Foto: Arte/G1)
Um lojista que preferiu não se identificar relatou ao G1 que o Shopping Campo Limpo fechou por volta das 17h, mas que o clima era tranquilo. Apenas os clientes que já estavam dentro do estabelecimento puderam permanecer. A assessoria do shopping confirmou por volta das 17h30 que as portas foram fechadas. 
Jardim Sul
Além do Campo Limpo, o Shopping Jardim Sul também será destino de integrantes do MTST. A assessoria do shopping disse que, às 17h30, o estabelecimento comercial permanecia aberto. Em nota, o Jardim Sul diz que "estão sendo tomadas todas as medidas preventivas para garantir a segurança e bem estar dos clientes, lojistas e colaboradores".
A concentração do MTST para seguir até o Jardim Sul aconteceu na estação Giovanni Gronchi da CPTM, na mesma região da cidade. O grupo saiu em caminhada pelas ruas por volta das 17h40. "Vamos em apoio a esses jovens da periferia que não tem acesso a nada", defende Ana Paula Ribeiro, da coordenação do MTST.
A coordenação descarta estender a manifestação para outro local, na impossibilidade de realizar o protesto dentro do centro comercial. Se o grupo não conseguir entrar no Shopping Jardim Sul, fará uma manifestação e encerrará o ato.
Ana Paula defende o caráter social do ato. Para ela, os jovens não estão apenas em busca de paquera e badalação. "A gente não identifica como tão superficial assim. Para a gente é um caráter social", disse.
Segundo a coordenação do MTST, o 'Rolezão Popular' é “contra a discriminação social e racial imposta pelo Judiciário e por shoppings”, afirmou, em nota. “O objetivo é denunciar o apartheid imposto contra os moradores de periferia, impedindo-os de circular nos shoppings.”
Guilherme Boulos, um dos coordenadores do MTST, diz que a ação da Justiça segrega a sociedade e provoca um apartheid. “Nós lutamos contra a segregação contra o povo da periferia. A forma como a Justiça vem tratando isso é totalmente discriminatória, barra quem é negro, quem tem cara de pobre”, afirmou. “A sociedade lamentou há um mês a morte de Nelson Mandela [líder negro] e ao mesmo tempo está comandando um apartheid social”, acrescentou.
Para Jussara Basso, integrante do MTST, a liminar que impede a entrada e circulação de shoppings em São Paulo é revoltante. “Nós somos uma bandeira social com um todo. O movimento racial e social contra negros e pobres é revoltante”, justifica.

No comments: