30.9.13

Mais um pouco sobre a atuação do CNJ

Do blog do Fred

Juiz assistiu “incrédulo” julgamento no CNJ



Em nota na internet, Vitor Bizerra (BA) diz que direito de defesa foi cerceado.


Um dia depois de ser afastado do cargo de titular da Vara Criminal do município de Barra (BA), o juiz Vitor Bezerra divulgou na rede de discussões dos magistrados na internet a mensagem reproduzida abaixo.
Por unanimidade, o Conselho Nacional de Justiça aprovou, na última segunda-feira (23/9), a proposta do corregedor nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão, de instauração de Processo Administrativo Disciplinar para apurar a suspeita de envolvimento de Bizerra em irregularidades na adoção de crianças.
Reportagem de autoria do editor deste Blog, publicada neste sábado (28/9) naFolha, e transcrita em seguida, revela que o CNJ também vai investigar o magistrado por suspeita de grilagem de terras.
Bizerra nega que ter havido adoção ilegal e diz que as acusações de grilagem são “vazias e falsas”.

Eis a íntegra da nota do magistrado:

Prezados colegas,
Ontem foi um dia preocupante. Não falo por mim, mas pela Magistratura.
Assisti a um órgão de natureza administrativa doutrinar sobre Infância e Adolescente a fim de justificar a instauração de um PAD [Processo Administrativo Disciplinar] cuja justificativa parece apenas buscar a validação de uma estória criada por um veículo de comunicação.
Na sessão plenária:
“Aprendi” que em sede de infância e juventude, celeridade pode ser falta funcional.
Ouvi que existe o princípio da “proteção aos pais biológicos” em detrimento dos interesses das crianças.
Foi estabelecido ainda a “preferência à institucionalização” das crianças, em detrimento do acolhimento familiar.
Vi ainda que os argumentos de defesa podem ser suprimidos ou “pulados” quando da leitura do voto relator.
Em nome de defender o direito de defesa das partes de um processo, o Juiz pode ser penalizado tendo o seu direito de defesa cerceado.
Um Juiz pode ter um processo aberto contra si sem oportunidade de ser ouvido e depois de serem juntadas pilhas de pronunciamentos e documentos sem oportunidade de falar sobre eles.
Pode-se abrir um PAD mesmo que existam pedidos de produção de provas que sequer foram apreciados.
Pode se justificar um pedido de afastamento sobre “acusações” não constantes dos autos.
Assisti incrédulo. Tive a impressão de que as longas e muitíssimas horas de estudo e trabalho na seara jurídica não existiram ou que tudo havia mudado. Talvez tenha sido transportado para os tempos de vigência da CF de 1937.
Longe de trazer aqui uma lamentação, trago elementos de reflexão. Onde iremos chegar? Será esse o Judiciário Brasileiro? Permaneceremos inertes enquanto os golpes não forem dados em nosso próprio lombo?
Não entrarei aqui em outras questões mais específicas. Não tenho a intenção de criticar decisões de órgãos constituídos, inclusive a do CNJ. Exerço aqui o direito de refletir e de me manifestar restritamente entre os meus pares para que amadureçamos juntos em nossas experiências.
Forte abraço a todos. Que Deus nos proteja! E para os colegas que Nele não creem, não sei o que dizer…


Eis a íntegra da reportagem publicada na Folha neste sábado:

Juiz já afastado por adoções ilegais é investigado por grilagem de terras
O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) vai apurar a suspeita de prática de grilagem de terras pelo juiz Vitor Manoel Sabino Xavier Bizerra, titular da Vara Criminal do município de Barra (BA).
Na última segunda-feira, o juiz foi afastado do cargo pelo CNJ por suposto envolvimento com adoções ilegais de cinco crianças. Elas foram retiradas de seus pais biológicos, no interior da Bahia, e entregues para famílias que moram em São Paulo.
Bizerra sustenta que houve cerceamento de defesa. Em entrevista à Folha, ele diz que as acusações de grilagem são “vazias e falsas”.
Ele nega que tenha havido adoção ilegal. “Apenas deferi uma medida de urgência para retirar as crianças de risco. Faria tudo novamente só por saber que as crianças se mantiveram vivas”, diz.
“O fato de ser visto como um juiz linha dura’ para não ceder ou transigir com quem quer que seja, fez com que eu desagradasse quem se acha acima da lei”, afirma.
Em decisão unânime, o colegiado acompanhou na última sessão do CNJ o voto do corregedor Francisco Falcão, que propôs a abertura de processo administrativo disciplinar contra o magistrado referente ao caso das adoções.
SUSPEITA DE GRILAGEM
Posteriormente, Falcão determinou a abertura de novo procedimento para investigar as suspeitas de grilagem. Até o final da apuração, Bizerra está impedido de utilizar seu local de trabalho e de usar veículo oficial.
O caso das adoções foi revelado pelo “Fantástico”, da TV Globo, no ano passado.
Falcão citou no seu voto que Bizerra teria usado o cargo para forçar a saída de invasores de terras em Sento Sé (BA) que seriam de propriedade do magistrado.
Segundo o corregedor, o juiz teria retirado peças de processo do cartório, que foram mantidas em seu poder mesmo depois de deixar a comarca. O objetivo seria prejudicar o cumprimento de ordem de outro juiz.
Bizerra também teria usado relação com uma promotora de Justiça para obter documentos com o propósito de cancelar matrículas em cartórios de registro de imóveis.
Outra sindicância na Bahia apura suposta participação do juiz em gerência ou administração de empresa, o que é vedado pela legislação.
Falcão narrou ao colegiado ter recebido, no início do mês, prepostos da Quifel Energy Brasil Participações Ltda., acompanhados de representantes da Embaixada de Portugal. Eles teriam informado sobre decisões do magistrado que inviabilizariam a atividade da empresa.
O corregedor de Justiça informou que os indícios de irregularidades foram apurados em correição realizada em novembro nas comarcas baianas de Monte Santo, Cansansão e Euclides da Cunha.
OUTRO LADO
O juiz Vitor Bizerra diz que nunca foi ouvido pela Corregedoria do CNJ sobre as suspeitas de grilagem. “Postulei a produção de provas, pedi a juntada de documentos, e nada foi apreciado”, disse.
“É muito perigoso o caminho trilhado pela condenação antecipada baseada apenas em uma acusação vazia e com interesses não amparados na lei”, declarou.
Bizerra diz que a representação contra ele foi feita por uma empresa que responde a processos por grilagem e por ter tentar usurpar áreas de proprietários privados.
“Por decisão da Corregedoria do TJ-BA as matrículas desta empresa já foram bloqueadas. Fui um calo’ para eles, pois conheço profundamente a região e o proceder de grileiros na área”, disse.
“Se o corregedor disse ter identificado várias irregularidades em diversos processos de adoção por vários juízes, por que abrir procedimento apenas contra mim?”
Segundo ele, “existem 37 processos administrativos e até criminais contra o juiz que denunciou o caso. Dentre eles a acusação de manipular autos e coagir pessoas a validar a história do Fantástico’”.
Bizerra nega participar de administração de empresa. Sobre a retirada dos autos, diz que passava semanalmente na comarca de Sento Sé, retirando autos para devolvê-los na semana seguinte. “O fato é corriqueiro com juízes designados. Nenhum processo da empresa denunciante foi por mim despachado”, disse.

28.9.13

Um caso impressionante

Do Estadão

NOTICIÁRIO JURÍDICO

A Justiça e o Direito nos jornais deste sábado

A repórter correspondente nos Estados Unidos do jornal O Estado de S. Paulo, Claudia Trevisan, foi presa pela polícia da Universidade Yale, em New Haven, no estado americano de Connecticut. A repórter cobria a participação do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, em um evento privado da universidade. Claudia foi algemada e detida por cinco horas e autuada ainda por invasão de propriedade. De acordo com o Estadão deste sábado (28/9), o caso foi acompanhado pelo consulado brasileiro de Hartford, capital do estado, e pelo próprio ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, que estava em Nova York. Segundo relato da repórter, ela foi presa após entrar livremente no campus da universidade e pedir informações ao policial sobre o local do evento. O oficial a deteve sem mesmo realizar aleitura obrigatória de direitos, o que é ilegal naquele país. A repórter do Estadão conta ainda que teve o direito a um telefonema negado e foi posta numa sela com um vaso sanitário apenas, por cerca de três horas e meia. A Folha informa que a repórter havia comunicado sua presença à assessoria de imprensa da instituição e ao próprio ministro Joaquim Barbosa, que a aguardaria do lado de fora do edifício, para ser entrevistado.

26.9.13

Resumo do CNJ

Do blog do Fred

CNJ afastou cinco juízes e puniu três




O Conselho Nacional de Justiça distribuiu informativo registrando que, na sessão plenária da última segunda-feira (23/9), o colegiado decidiu investigar cinco magistrados, determinando o afastamento temporário de todos eles, puniu com aposentadoria compulsória dois desembargadores e manteve a pena de disponibilidade aplicada a uma juíza.
O Blog havia registrado o afastamento dos magistrados Vítor Manuel Sabino Xavier Bizerra, juiz da Bahia; Alcir Gursen de Miranda, presidente do TRE de Roraima; Nery da Costa Júnior e Gilberto Rodrigues Jordan, ambos do TRF-3, e José Raimundo Sampaio Silva, juiz do Maranhão.
Na parte da tarde da sessão, foi aplicada a pena de aposentadoria compulsória –a penalidade máxima nos casos julgados pelo CNJ– ao desembargador Edgard Antônio Lippmann Júnior, do TRF-4 e ao desembargador Megbel Abdala Tanus Ferreira, do TJ do Maranhão.
Segundo informa o CNJ, Lippman, já aposentado em outro processo, recebeu nova pena de aposentadoria por ter recebido cópias de documentos sigilosos de inquérito do Superior Tribunal de Justiça e repassado a advogados.
Ferreira, na época juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública de São Luís, determinou, em dezembro de 2008, a transferência, durante recesso do Judiciário, de R$ 6,4 milhões da conta da Prefeitura de São Luís para uma empresa que alegava ser credora do órgão. A apuração indicou suspeita de conluios entre o juiz, a servidora responsável pela distribuição de processos do tribunal e o advogado da empresa.
Por unanimidade, o plenário acompanhou voto do conselheiro Emmanoel Campelo, relator de um pedido de revisão disciplinar, e manteve a pena de disponibilidade aplicada pelo TJ-SP à juíza Carmem Silvia de Paula Camargo.
Segundo o relator, a magistrada confeccionou chancelas (carimbo que servia como assinatura da juíza) que eram usadas por subordinados para a assinatura de despachos e decisões, principalmente às sextas-feiras.
Foram julgados 72 processos de uma pauta com 140 itens. Outros 68 foram retirados de pauta ou adiados.

25.9.13

Fico agradavelmente surpreso com a iniciativa do governo

Sinceramente, não esperava ver esse tipo de coisa...
Do Estadão.

SP quer aumentar salário de delegados e coronéis da PM ameaçam ‘greve branca’

Militares falam em ‘acabar com caça-níqueis e jogo do bicho’ e ampliar tempo para atender ocorrências; caso o Estado recue, vai enfrentar fúria dos delegados, cuja associação ameaça paralisação igual à que levou ao confronto com a PM, em 2008

24 de setembro de 2013 | 23h 09

Bruno Paes Manso e Marcelo Godoy
O plano do secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, de desvincular os salários dos delegados de polícia dos valores pagos aos oficiais da Polícia Militar abriu uma crise entre o governo e a PM. Em reunião no comando-geral, 57 coronéis se disseram contrários à medida. Muitos dos entrevistados pelo Estado ameaçam até fazer uma "greve branca".
Proposta iguala os delegados a promotores e juízes - Clayton de Souza/Estadão
Clayton de Souza/Estadão
Proposta iguala os delegados a promotores e juízes
Se voltar atrás em seu plano, o governo pode ter de enfrentar a fúria dos delegados, cuja associação ameaça uma nova greve nos moldes da que levou ao confronto entre as duas polícias na frente do Palácio dos Bandeirantes, em 2008. Em nota, o coronel Salvador Pettinato Neto, presidente da Associação dos Oficiais da PM, afirmou que a isonomia salarial é "uma garantia inegociável".
Revoltado com o plano do governo, um coronel disse que vai "acabar com os caça-níqueis e o jogo de bicho" de sua área. Insinuando que eles funcionam em razão de conivência de delegados, disse: "Eles vão ganhar de um lado (salário), mas vão perder de outro (propinas)". Segundo os coronéis, os delegados receberiam três reajustes de R$ 2,5 mil cada. A secretaria nega.
O governo sabe das resistências que enfrentará na PM se quiser levar adiante o plano. "Há 20 anos existe a isonomia entre as carreiras. Concordamos com a pretensão de carreira jurídica dos policiais civis, desde que haja um tratamento isonômico com os PMs", disse um coronel do alto comando.
No centro da disputa há o desejo dos delegados de serem tratados como carreira jurídica, com vencimentos iguais a promotores, defensores e juízes. Um delegado classe especial (topo da carreira) ganha, segundo a Associação dos Delegados, R$ 11,6 mil. Com as vantagens de quinquênio e sexta parte, o salário pode subir mais R$ 5 mil.
O salário dos coronéis é de R$ 15,7 mil - sem incluir gratificações para quem passa pela Casa Militar ou Assembleia Legislativa. Com o fim da paridade, os delegados ganhariam mais do que os coronéis. A justificativa para isso é que os oficiais têm vantagens que os delegados não têm, como se aposentar com reajuste de até 20%.
Secretários. Há três semanas, os secretários Edson Aparecido (Casa Civil), Julio Semeghini (Planejamento) e Grella se reuniram com os coronéis. "Chegaram com o prato pronto", contou um coronel. Quatro oficiais tomaram a palavra e bombardearam os secretários com números e dados. "Eles nos ofereceram migalhas", disse outro coronel presente no encontro.
A greve branca consistiria em "fazer olho de vidro". Eles não cobrariam dos subordinados a diminuição dos índices de criminalidade e aumentariam o tempo para o atendimento das ocorrências. "Ninguém vai prejudicar a população, mas é isso que ocorre com a tropa desmotivada", afirmou outro oficial.
O comandante-geral, Roberto Meira, foi chamado mais de uma vez ao Palácio dos Bandeirantes para contornar a crise. A reação da PM deixara a cúpula da Segurança "decepcionada". Até capitães passaram a considerar Grella persona non grata na PM. OEstado procurou Grela, mas ele não se manifestou.
Diante da reação dos oficiais, o Conselho da Polícia Civil, formado pelos diretores da instituição, divulgou nota. "Nós, policiais civis, primeiros garantidores do estado democrático de direito, não permitiremos sobre qualquer pretexto que forças negativas avancem contra as autoridades constituídas do Estado. Lançaremos mão de todos os meios legais nessa luta." E receberam o apoio de 700 delegados que fizeram uma passeata no centro de São Paulo.
"Eles (coronéis) vão fechar caça-níqueis? Se sabem e não fazem nada, prevaricam. Eles não fazem falta, pois quem trabalha são os praças", disse a delegada Marilda Pansonato, presidente da Associação dos Delegados, que se apresenta como mãe, mulher e filha de PM. Ela foi uma das líderes da greve de 2008.

23.9.13

Os problemas na cobrança dos devedores são eternos

DA Folha de São Paulo de hoje...
Governo perde controle de seus devedores
Auditorias apontam falhas em cadastro e valores de débitos com a União, além de citar vulnerabilidade a fraudes
CGU questiona dados; Procuradoria-Geral da Fazenda revê processos, mas há erros também nos órgãos emissores
FERNANDA ODILLADE BRASÍLIA
Além da histórica dificuldade para receber dívidas de empresas e pessoas físicas atingir cifra recorde neste ano, o governo federal enfrenta problemas para listar todos os devedores da União.
Relatório da Controladoria-Geral da União é categórico em afirmar que o processo de inscrição na dívida é "ineficiente" e os dados do cadastro não são "fidedignos".
O cadastro de devedores da União contabilizou em setembro dívida inscrita de R$ 1,35 trilhão, recorde se comparada aos valores lançados desde 2008. O montante se refere a cerca de 2,5 milhões de processos que estão sendo ou vão ser cobrados na Justiça.
No entanto, segundo a CGU, esses valores e a lista de devedores podem não representar o real tamanho da dívida ativa da União. O alvo do principal órgão de controle do governo era a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), vinculada ao Ministério da Fazenda e responsável pelo cadastro e cobrança judicial das dívidas.
"Achamos muitos erros no cadastro. Ficou claro que o sistema é ineficiente e muitos dados não eram fidedignos. Os procuradores são qualificados, mas falta pessoal da área para cuidar do sistema", diz Rodrigo Miranda, integrante da equipe da CGU responsável pela auditoria.
Na avaliação da CGU foram apontadas a demora para envio de dados dos devedores, a manutenção no cadastro de pessoas que já haviam renegociado débitos e falta de pessoal de apoio. Também foi constatado que o sistema é vulnerável a fraude.
A PGFN diz que está aprimorando mecanismos de inscrição e de cobrança. "Identificamos fragilidades e inconsistências e estamos adotando os procedimentos necessários", afirma Paulo Ricardo de Souza Cardoso, diretor de gestão da dívida ativa da União. "Não diria ainda que está 100% sanado, mas garanto que não houve perda do crédito público."
Cardoso diz, contudo, que a maior parcela de responsabilidade deve ser creditada aos órgãos de origem da dívida que, muitas vezes, mandam para inscrição casos que ainda não foram notificados ou dados incompletos.
De fato, segundo a CGU, a auditoria constatou que os problemas não estão só na PGFN. Identificou, ainda, lentidão e falha no envio dos créditos pelos órgãos de origem.
Órgãos federais como a Receita, responsável por 90% do cadastro, o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Patrimônio da União apuram as dívidas e mandam a lista de devedores para a PGFN que, por sua vez, inscreve o devedor e cobra o valor na Justiça.
"A PGNF assumiu suas fragilidades e adotou nossas recomendações. Mas ficou claro que o problema não era só lá, e estamos cobrando mais agilidade de órgãos como a Receita", explica Renilda Moura, diretora de auditoria da área econômica da CGU.
Segundo ela, a PGFN será auditada para confirmar se as falhas foram sanadas.

21.9.13

Grande idéia!!!

Já estou começando a concordar com o fim do quinto constitucional!!

Do blog do Fred

PEC para enfraquecer o Judiciário



Pela porta dos fundos, sem concurso, muitos entram por indicação política.

Sob o título “Caminhamos para o fim da tripartição de Poderes”, o artigo a seguir é de autoria de Antonio Sbano, Juiz de Direito e Presidente da Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (Anamages).

Tramita na Câmara dos Deputados uma PEC para alterar o critério de escolha de magistrados para compor o Quinto Constitucional, concentrando o poder exclusivamente nas mãos do Presidente da República e Governadores.
 O quinto constitucional, ideia corporativista do governo Getúlio Vargas, foi, pela primeira vez, inserido na Constituição de 1934, § 6º, art. 104, so-b justificativa de arejar o Poder Judiciário. Tal assertiva, hoje, é inócua: se o magistrado de carreira passa longos anos em serviço, os Ministros atuais também, alguns com expectativa de mais de trinta anos na mesma Corte e Instância.
O critério atual se demonstra nefasto: a OAB indica seis nomes, o Tribunal seleciona três e o Presidente/Governador escolhe um. Não importa o saber jurídico e a honra ilibada, basta que o candidato tenha uma boa relação política, ou seja, tenha bons “padrinhos” e, em tempos atuais seja fiel a um certo Partido Político. Se a vaga for em Tribunal Superior, a escolha pelo Presidente da República é livre, o Senado apenas sabatina e homologa  o nome.
Nos anos 80, o povo foi às ruas clamar contra os biônicos, democratrizando-se a escolha de Presidente, Governadores e Prefeitos. Entretanto, a figura do juiz biônico sobreviveu.
A Constituição prevê que cargos públicos efetivos sejam providos exclusivamente por concurso público, forma democrática de se oferecer a vaga àqueles que, preenchendo os requisitos legais, alcancem melhor classificação em provas de conhecimento e de títulos. Assim são providos os cargos da magistratura de carreira. O aprovado, após extenuante concurso, serve por longos anos no Interior do Brasil, chegando aos maiores centros e às Instâncias Superiores após cursos de aperfeiçoamento.
Os que entram pela porta dos fundos, sem concurso e por mera indicação política, nem sempre possuem notável saber jurídico, via de regra estão compromissados com seus “padrinhos” e sem a devida liberdade de decidir, ou seja, sem independência – e existem casos de “escolhidos” que não lograram aprovação no concurso público. Não conhecem o modo de vida do Interior, nunca sujaram o sapato de lama, vivem em redomas nos grandes centros, mas já chegam ocupando assentos nas Instâncias maiores, revendo os julgados dos que vivem, e viveram, o dia a dia do povo.
O critério de escolha política alija os bons advogados que não dispõem de apadrinhamento, transformando-se em forma antirrepublicana de prover cargo público efetivo e vitalício.
Aqui, outra aberração: o concursado deve cumprir estágio de dois anos, ou seja, está sujeito a não ser efetivado se demonstrar inabilidade para o cargo e se sujeita a cursos de formação e de aperfeiçoamento; o nomeado politicamente se vitalícia no ato da posse, isto é, somente poderá ser demitido após sentença judicial transitada em julgado e se cometer crime funcional doloso e, a mais, não precisa de nenhum curso durante sua vida funcional.
Nos dias atuais, vivenciamos a ditadura do Executivo sobre o Legislativo, usando verbas e cargos para aprovar o quanto deseja; O STF, em mais de uma oportunidade já demonstrou que sua preocupação é com a governabilidade e não com a guarda da Constituição, veja-se a contribuição de aposentados para a Previdência Social.
Se mantido o chamado quinto constitucional e os critérios de escolha de Ministros para os Tribunais Superiores e Desembargadores para os demais Tribunais, concentrando-se excessivo poder em mãos do Chefe do Poder Executivo, os Tribunais ficarão ainda mais engessados e subservientes ao único Poder efetivamente existente, o Executivo, em suma, caminhar-se-á a passos largos para consolidar a ditadura branca que avança sobre todos nós.
O Brasil precisa por fim a tais casuísmos, seus JUÍZES devem ser escolhidos por concurso público de provas e títulos, galgando postos em carreira estruturada, única forma de se garantir os preceitos constitucionais de liberdade para decidir à luz da lei e da sua aplicação social (garantia do cidadão), sem sofrer injunções, pressões ou  manipulações políticas. Todo cidadão que atenda aos requisitos de escolaridade, Bacharel em Direito e a devida experiência profissional e de vida, além de conduta proba deve ter o direito de disputar o cargo através de certame público.
Digamos NÃO à malfada PEC. Desengavete-se a PEC 262/2008, proposta pelo então Dep. Neilton Mullin (PR-RJ), parada na CCJ desde 21.6.2010 e que tem por objeto por fim ao chamado Quinto. Lutemos por um Poder Judiciário forte e capaz de se opor às pressões de governantes, consolidando a verdadeira DEMOCRACIA.

18.9.13

Estadão e Folha - dois bons artigos hoje

Segue o primeiro, do Estadão

A percepção social da Justiça

18 de setembro de 2013 | 2h 02

ANÁLISE: Frederico de Almeida, é cientista político, coordenador de graduação da Direito GV - O Estado de S.Paulo
O discurso que associa o resultado da Ação Penal 470, o chamado mensalão, ao juízo definitivo que os brasileiros farão do Poder Judiciário sustenta que as possibilidades de absolvição ou de revisão das condenações já decididas pelo Supremo Tribunal Federal levariam ao descrédito da Justiça brasileira.
Na atual fase do julgamento, esse discurso buscou carona na crítica às instituições políticas das manifestações de junho e na ressaca da decisão recente da Câmara que não cassou o mandato de um deputado condenado pelo Supremo em outra ação.
O descrédito da população no Judiciário não é algo desprezível, e é constatado empiricamente por diversas pesquisas. Porém, esse sentimento não tem sua origem no julgamento da AP 470. O Índice de Confiança na Justiça, da Direito GV, vem constatando essa percepção social negativa desde muito antes do julgamento do mensalão. Desde a década de 1980 inúmeros estudos (como as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios do IBGE de 1988 e 2009) têm embasado um preocupante diagnóstico de descrédito no Judiciário, considerado ineficiente na resolução de conflitos e na garantia de direitos dos cidadãos.
Não se pode ignorar o fato de que absolvições ou revisões benéficas aos réus em novo julgamento da AP 470 poderiam agravar essa percepção negativa. Mas o contrário seria verdadeiro? A condenação "exemplar" nessa ação aumentaria a credibilidade do Judiciário? Uma e outra coisa deveriam ser provadas, mas para isso não bastaria uma simples pesquisa de opinião nesta semana; seria preciso, ao contrário, compreender o impacto desse julgamento na lógica mais ampla em que se produz a percepção social da Justiça (o que só pode ser feito, por sua vez, em um esforço de análise que não atende ao tempo da exaltação política momentânea).
Passado o julgamento dessa ação, é preciso saber se o cidadão comum afetado pela morosidade judicial e pela falta de acesso à Justiça vai ao menos se lembrar de que houve um mensalão. É preciso, também, que os arautos da crise de hoje se lembrem, amanhã, do cidadão comum e dos problemas estruturais do Judiciário brasileiro.

Agora, o da Folha

MARCELO COELHO
A Justiça emplumada
Como um bom seriado, julgamento do mensalão teve astros, surpresas e momentos patéticos
Não haverá outra temporada. Ainda que tudo se estenda com novos recursos, do ponto de vista da teledramaturgia o grande seriado do mensalão chega a seu desfecho.
O roteirista não poderia ter sido mais perfeito. Reservar um empate de cinco a cinco para a última semana foi magistral; soube também introduzir novos personagens, tirar de cena os mais idosos, dar a cada um suas cenas de destaque.
E que personagens. Uma das coisas que mais me fascinaram, ao longo do julgamento, foi a diversidade humana dos membros do STF.
Mesmo num grupo tão homogêneo --todos juízes, todos mais ou menos da mesma idade e condição social--, havia de tudo.
Como em todo drama de alta qualidade, achei difícil tomar partido a favor de um ou outro. Entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, os defeitos e qualidade pessoais estavam a meu ver bem repartidos, e não consigo pensar mal de nenhum dos dois.
Lewandowski exagerou na sua defesa dos réus? Certamente, e por muitos momentos tive pena dele; ainda há poucos dias, teve um lance que não sei qualificar se de fofo ou de patético.
Ele queria provar, mais uma vez, que houve exagero quando o tribunal aumentou as penas de alguns réus.
"Tenho aqui um gráfico", dizia Lewandowski, "em 3D". Saiu de sua mesa uma folhinha de sulfite, mostrando colunas coloridas, que ele queria exibir ao círculo dos seus colegas. Uma aragem polar paralisou o seu gesto.
Quantas vezes senti isso em sala de aula... Eu buscava entre os alunos algum olhar receptivo a meu esforço de explicação. Não havia quem não o desviasse de mim.
Nem Toffoli se dispôs, naquela situação e em outras tantas, a sustentar o solitário esforço de Lewandowski. Havia matreirice nisso. O ministro mais contestado passou por todos esses meses sem se queimar nem um pouco.
De resto, quando lia seus votos ou dava algum palpite sobre o encaminhamento dos trabalhos, Toffoli soube jogar bem o jogo das leis, das normas, dos contrapesos. Nunca transmitiu aquela impressão de desespero que se associa a Lewandowski, por vezes mal assistido pelos próprios argumentos.
Ao mesmo tempo, não deixa de ser admirável a capacidade de Lewandowski de aceitar desculpas e de não partir, o que seria até possível, para a agressão física diante do "bullying" de Joaquim Barbosa.
Medo, talvez? Prefiro pensar em certa donzelice, a que não faltava cálculo. Vai saber se Lewandowski não se sente uma espécie de Quixote garantista, frente aos ogros punitivos que o combatem. Se for assim, teríamos um Quixote disfarçado em Dulcineia; era a parte ofendida, o alvo das ameaças; nenhum cavaleiro se apressou, todavia, para salvá-lo do perigo.
Surgiu Barroso, é verdade, já no final da história. Estava, entretanto, no papel do trovador, dedilhando o alaúde dos fatos consumados. Mas sua voz canora não se contentou com o papel de acompanhante; quis chamar a atenção, quis o estrelato televisivo, e aí desafinou.
O tenor do espetáculo, o Pavarotti da acusação, foi Luiz Fux. Iniciou com aquilo que um crítico de ópera italiano qualificou de "una vocalità prorrompente"; verdade que, nas horas mais embrulhadas da dosimetria, contentou-se em seguir o relator.
Sim, Joaquim Barbosa. Foi decisivo e inteligente na preparação do processo. Tendo conformado todo o caso a uma narrativa cronológica e inteligível, os seus tropeços de argumentação (eventuais) e de compostura (inúmeros, dispensáveis, horríveis) importaram menos.
O racismo está em toda parte. Gente de esquerda criticou Barbosa por ser "ressentido". Ora, ressentido por quê? Seria o adorável Ayres Britto ressentido porque nasceu em Sergipe? Outro, por ter sido gordinho na infância? Sendo negro, este o raciocínio, haveria de querer alguma vingança...
Nessa questão dos estereótipos, o mérito vai para as mulheres do tribunal. Rosa Weber e Cármen Lúcia tiveram opiniões distintas em alguns pontos, mas eram confiabilíssimas. Rosa foi talvez a única a não achar as contas de somar e diminuir da dosimetria uma tarefa manual demais para o próprio talento.
As duas, ao lado de um Teori Zavascki ronceiro e quietarrão, deram o exemplo da falta de vaidade. Na maior parte das espécies, afinal, é o macho quem se empluma, quem se arma de bicos, presas, esporões.
Homens, somos todos crianças, meninos no pátio do recreio. Pelo menos, a Justiça tem forma de mulher; há sabedoria nessa antiga crença.

17.9.13

Mas manter o judiciário custa tanto à sociedade.

Assim começava um comentário que recebi ontem no Facebook. Segue abaixo a minha resposta.

Carmen Maura, não só o Judiciário custa caro...eu ando numa fase de pensar que, sem uma profunda mudança de mentalidade nacional, não adianta buscar soluções pontuais. Fico deprimido ao andar na rua e ver a medonha quantidade de lixo. Fico deprimido ao ver milhares de execuções fiscais tocadas sem a menor eficiência. Fico deprimido ao ver o Estado negando direitos pequenos aos servidores e, que, nesse meio tempo, vão lotando o Judiciário com seus pedidos judiciais. Enquanto isso, muita gente entra na Justiça por causa de um vago sentimento de Justiça, divorciado da realidade, das leis. Apostam no Juiz maluco ou no desembargador maluco. É o famoso "se pegar, pegou". Abusam da gratuidade processual e vão entrando na Justiça...Essa é uma das faces do "custo Brasil", o cidadão acredita que está acima da lei, ou fora da lei, ou que a lei não vale para ele e, por isso, temos um tremendo sistema policial-judicial. Sem falar que vivemos numa das maiores cidades do mundo, né?

16.9.13

Desse jeito não tem como dar certo

O contato diário com execuções fiscais municipais deixa a gente bem cético a respeito da viabilidade desse meio de cobrança.
Mas antes é preciso fazer uma volta ao passado de pouco mais de 10 anos.
Com a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal os prefeitos sentiram que não era possível deixar de ajuizar execuções fiscais. De fato, verificando as estatísticas é possível ver que desde a entrada em vigor da LRF o número de execuções fiscais não pára de aumentar.
O problema é que o número de execuções aumenta e a estrutura judiciária, não.
Isso tudo leva a um aumento do congestionamento e o CNJ não cansa de mostrar isso para a sociedade.
Além disso, a propositura em massa é carregada de ineficiências. Falo pela minha Vara e Comarca. Não sei se em todo o Brasil é assim, mas é de se presumir.
Tenho centenas de execuções propostas contra gente já falecida. Temos execuções propostas contra pessoas que possuem centenas de homônimos. Se agente vai fazer uma pesquisa no DRF dá com essa impossibilidade. Na mesma pesquisa junto à DRF é possível ver execuções contra pessoas que possuem homônimos e todos fora de Osasco. Em outra palavras, existem 3, 4 pessoas com esse nome e nenhuma delas em Osasco.
São apenas exemplos. O Tribunal de Contas precisa cobrar mais eficiência das prefeituras. Cobrar somente o ajuizamento de execuções tem gerado somente montanhas de papéis no Judiciário, vagando feito almas penadas, com baixíssima eficiência. Se o Tribunal de Contas passar a cobrar mais eficiência das municipalidades nas execuções, poderemos entrar numa nova era. Até lá, fica o ceticismo...

15.9.13

Pelo menos isso

Do Lauro Jardim....

7:28 \ Judiciário

Em conflito

Mantendo a distância
O novato do STF, Luís Roberto Barroso, tem se declarado impedido de julgar ações patrocinadas por seu grande amigo, Antonio Carlos Almeida Castro, o Kakay, um dos advogados mais assíduos no Supremo.
Por Lauro Jardim

14.9.13

É isso aí...

Se tem dinheiro para estádio...

Juiz cita investimento no Itaquerão para condenar Estado a pagar remédios

Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
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Itaquerão em obras44 fotos

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03.set.2013 - Cobertura do Itaquerão recebe revestimento para que exista uma melhor acústica no estádio Divulgação/Odebrecht

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O uso de dinheiro público para organizar a Copa do Mundo foi citado por um juiz de Votuporanga, no interior de São Paulo, como justificativa para condenar o governo do Estado a pagar os remédios que um morador de Parisi, também no interior, precisa tomar como parte de um tratamento médico.
Ao rebater a alegação feita pelo Estado de que o governo não teria verba para bancar os medicamentos que o paciente requisitava, o juiz Sergio Martins Barbatto Júnior lembrou da construção do estádio do Corinthians, ao classificá-la como a obra de Copa com maior investimento público do Brasil.
"A (Secretaria da) Fazenda tem que arcar com o custo da saúde de seus cidadãos", afirmou o juiz, em sua sentença. "Basta dizer que o Itaquerão é a obra de Copa com maior investimento público. Ora, se pode a Fazenda Pública gastar com estádio, não pode alegar escassez de recurso para medicamento", completou.
A sentença faz parte de um processo no qual um cidadão de Parisi, município de 2.032 habitantes, pede que o Estado pague um remédio chamado Cymbalta, indicado para tratamento de depressão e dores relacionadas a doenças que afetam o sistema nervoso central.
O tratamento pode custar de R$ 207 a R$ 270 por mês, de acordo com consulta feita em farmácias. A decisão que cita o Itaquerão foi assinada pelo juiz na segunda-feira, dia 9, mas foi publicada nesta sexta no Diário de Justiça Eletrônico.
O paciente já havia ganhado uma ação parecida alguns anos atrás, mas o Estado descumpriu a determinação da Justiça, segundo a advogada Lady Diana Lemos Alves, que ingressou com uma ação no Fórum de Votuporanga em maio deste ano.

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Resultado parcial
Financiamento
Embora não receba dinheiro público de forma direta, a construção da Arena Corinthians se beneficia de um financiamento de R$ 400 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que ainda não foi formalizado, e de incentivos fiscais concedidos pela Prefeitura de São Paulo por meio da emissão de títulos financeiros.
No início do ano, a prefeitura autorizou a emissão de R$ 156 milhões em títulos, chamados CID (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento). Uma nova leva de certificados deve ser autorizada até o fim do mês, segundo funcionários da administração municipal envolvidos com o processo. Ao todo, foram prometidos R$ 420 milhões. A lei que autorizou a emissão dos CIDs condiciona o benefício à realização da abertura da Copa do Mundo em São Paulo.