28.4.11

A questão da saúde ou Não somos elefantes

O Estadão de hoje traz uma matéria extensa a respeito da judicialização da saúde, com pedidos em Juízo para que o Estado pague por medicamentos. A matéria, que está mais completa na edição impressa, repete alguns chavões. Diz que os pedidos são geralmente de medicamentos caros, experimentais e de eficácia não comprovada.

Não é o que vejo na minha prática de quase cinco anos em vara da Fazenda. Os medicamentos são caros, sim, para o bolso de quem pede, sendo essa a razão do pleito. Alguns poucos são caríssimos sim. Nunca vi pedido de tratamento experimental ou de medicamento não registrado na Anvisa. Vi alguns pouquíssimos pedidos de medicamentos com eficácia discutida e não deferi. Aliás, num caso recente, nem houve recurso de quem pedia.

Existe um fator menosprezado por quem faz essas análises. A população está cada vez mais ciente dos seus direitos. Essa é a razão de tantos pedidos. Tem gente vivendo mais e melhor graças a esses pedidos e essas decisões. Em tais matérias muitas vezes fica parecendo que isso beneficia somente os laboratórios. Errado. Ainda bem que a matéria na edição impressa entrevista uma recepcionista que diz isso: está vivendo mais e melhor por causa da decisão judicial.

Outro ponto. Não é porque a doença é rara que ela não merece tratamento. O câncer também merece tratamento e, como parece aos meus olhos de leigo, os casos estão aumentando. Como negar tratamento? A nossa Constituição não diz que o portador de doença grave tem que ficar num cantinho e esperar a morte. Não somos elefantes.



Sobe 5.000% gasto do governo com remédio via Justiça

28 de abril de 2011 | 10h 17
AE - Agência Estado
Os valores gastos pelo Ministério da Saúde para cumprir decisões judiciais que determinavam o fornecimento de medicamentos de alto custo aumentaram mais de 5.000% nos últimos seis anos. Foram gastos R$ 2,24 milhões em 2005 contra R$ 132,58 milhões em 2010. Segundo José Miguel do Nascimento Junior, diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do ministério, os valores gastos no ano passado representaram 1,8% do total do orçamento destinado ao departamento.
No ano passado, a União foi citada em cerca de 3,4 mil ações judiciais em busca de medicamentos. Em 2009 foram pelo menos 3,2 mil processos do gênero. Na maioria dos casos, a Justiça determinou a entrega de medicamentos de alto custo - usados especialmente no tratamento oncológico ou de doenças raras.
Para o advogado Julius Conforti, que se dedica exclusivamente a ações judiciais na área médica e de saúde desde 2004, a judicialização é o efeito da ausência de medicamentos de ponta na lista das drogas cobertas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "A judicialização da saúde não é um fenômeno que surgiu do nada, sem motivo algum. O grande problema é o déficit da atualização da listagem dos medicamentos de alto custo, especialmente os da área oncológica", diz. "E o governo se preocupa muito em tratar o efeito (as ações) em vez de se preocupar com a causa."
Listagem
Para Conforti, se todos os medicamentos de última geração estivessem incluídos na listagem do SUS os custos seriam mais baixos, já que seria possível fazer compras maiores e negociar preços. "Se a judicialização causa uma desprogramação do orçamento, é preciso pensar em formas de resolver isso."
Nascimento, do Ministério da Saúde, diz que a lista do SUS é atualizada a cada dois anos e contempla vários medicamentos que possuem ações similares àqueles pedidos judicialmente. "O SUS não é uma farmácia privada. Nem mesmo as farmácias têm todos os medicamentos requisitados. Para um remédio ser incorporado à lista, o SUS leva em consideração segurança e custo efetivo. E ainda há muitos medicamentos usados para tratar doenças não descritas na bula." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

1 comment:

Leonardo Mazzillo said...

Acrescentaria ainda que política de tratamento do vírus HIV implementada pelo Governo Federal, considerada referência em todo o mundo, tem aspecto econômico importante.

Há estudos dando conta de que o Sistema Único de Saúde esteja experimentando economia de recursos ao deixar de custear diárias de internação em UTI de pacientes portadores de AIDS em estágio avançado, com todos os encargos indiretos ligados ao aumento de demanda hospitalar que esses cidadãos sem tratamento gerariam aos cofres públicos.

O fornecimento de medicamentos à população, pois, pode não representar mero aumento de despesa aos cofres públicos. Além de a Constituição da República ser cumprida, podemos tornar mais racional e efetivo o emprego dos tributos que pagamos no custeio do SUS.

Parabéns pelo BLOG!