ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE
O poder do pré-sal
Como o país pôde optar pela exploração do pré-sal, que acentuará as diferenças regionais, a investir no etanol, que redistribuiria renda?
Não há, tanto para o cientista como para o cidadão comum, momento de maior triunfo e júbilo quanto aquele em que, após anos de especulação e incertezas, encontra, finalmente, a resposta a uma pergunta que o inquieta e até o atormenta.
A pergunta é simples: como pôde o Brasil optar pela aventura do petróleo do pré-sal em detrimento da certeza do etanol de cana de açúcar? Essa pergunta pode ser subdividida em vários quesitos:
1. Como pôde um governo que se pretende socialista preferir uma opção intensiva em capital em detrimento de outra que absorveria parcela da crescente mão de obra característica de um país emergente?
2. Como se justifica a escolha de uma tecnologia ainda em desenvolvimento e de resultado incerto sobre outra já comprovada e com previsível aumento de produtividade?
3. Como foi que um país com sérias limitações de recursos financeiros se permite uma escolha em que o investimento para a produção de um combustível é pelo menos três vezes maior que outra com resultados concretos equivalentes?
4. Como é que um país com desenvolvimento econômico tão heterogêneo pôde optar por um empreendimento que acentuará as diferenças regionais a outro que necessariamente produziria uma redistribuição regional de renda?
5. Como é que se justifica a opção por um combustível que terá não somente custos de produção bastante maiores, mas ainda uma duração limitada sobre outro que é renovável e portanto de duração infinita?
6. E por que optar por uma alternativa com elevados investimentos públicos sobre outra concentrada na iniciativa privada?
7. E, enfim e principalmente, como pôde este país, que é um baluarte e paradigma mundial de ambientalismo preservacionista, escolher um combustível que é uma ameaça à poluição local e uma decisiva contribuição para o aquecimento global, e isso em detrimento daquele que é o combustível ideal sob esses dois aspectos?
Mas, eis que algumas pistas se apresentam. A primeira é fornecida pelo ex-presidente da Petrobras e agora seu porta-voz, José Sérgio Gabrielli. Diz ele que são 120 as universidades e institutos de pesquisa "agraciados" com recursos da Petrobras. Ora, se o objetivo fosse a busca de conhecimentos científicos e técnicos, ter-se-ia concentrado as atividades de pesquisas em uns poucos centros.
Olhem o belo e suntuoso prédio que a Petrobras construiu para aquinhoar fãs do cinema. Olhem quantos filmes patrocinados pela Petrobras, uma orquestra sinfônica, espetáculos de teatro e de música. Suplanta o Ministério de Cultura. Sustenta modalidades olímpicas. Rivaliza com o Ministério dos Esportes. Compra refinaria nos EUA. Seria para competir com o Ministério das Relações Exteriores? Empregos a granel. E que suculentos jetons!
A Petrobras se torna assim um Estado dentro do Estado. Um poder autônomo sob controle do governo, superior a muitos partidos políticos.
Então está explicado e fico feliz, pois a escolha do pré-sal em detrimento do etanol não foi feita por estultícia, mas antes por astúcia. Não é um alívio?
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