Ambiental

DA FSP em 22/4/15

CARLOS NOBRE

2015 é crucial para o futuro

Na COP21, o Brasil deve apoiar e defender um acordo ambicioso e cientificamente embasado, que limite o aquecimento global a 2ºC
As mudanças climáticas são uma séria ameaça aos esforços para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza. A continuidade da trajetória de aquecimento deixará um legado ao planeta, de irreversível transformação, com temperaturas excedendo os 2ºC e potenciais impactos devastadores.
Se atuarmos rápida e corajosamente, podemos começar a descarbonizar a economia global e limitar as mudanças climáticas. Para isso, porém, as lideranças políticas de todos os países devem agir neste ano para garantir um futuro melhor para as gerações vindouras e para todas as demais espécies.
É por isso que nós, da Earth League (Liga da Terra) --uma rede internacional de cientistas estudiosos das mudanças globais--, lançamos hoje a "Declaração da Terra", um conjunto de oito ações essenciais às discussões da Cúpula do Clima (COP21), em Paris, em dezembro.
1) Limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, sendo este o limite máximo para evitar o risco de mudanças climáticas perigosas.
2) O limite de emissões futuras de dióxido de carbono deve ficar abaixo de 1 trilhão de toneladas (1.000 Gt CO2) para termos uma chance razoável de ficarmos abaixo de 2ºC.
3) Ações de descarbonização profunda, de início imediato, para que atinjamos uma sociedade de "zero-carbono" em meados do século, ou um pouco depois, é condição chave para prosperidade futura.
4) Todos os países devem desenvolver planos de descarbonização de suas economias. Os países ricos e as indústrias podem e devem assumir a responsabilidade de descarbonizar bem antes de meados do século.
5) Devemos desencadear uma onda de inovação climática para o bem global e permitir o acesso universal às soluções de tecnologia existentes.
6) As mudanças climáticas já estão ocorrendo. Precisamos aumentar de forma maciça o apoio público às estratégias de adaptação e medidas de redução de perdas e danos nos países em desenvolvimento.
7) Devemos proteger sumidouros de carbono e ecossistemas vitais, nossos melhores amigos na luta contra as mudanças climáticas.
8) Os governos precisam dar apoio aos países em desenvolvimento para que estes possam lidar com as mudanças climáticas em um nível comparável àqueles da assistência global ao desenvolvimento.
O Brasil tem se destacado na redução de 36% das emissões nos últimos anos, cortando suas emissões brutas de 2,36 Gt CO2, equivalente em 2005, para 1,52 Gt CO2,equivalente em 2012, de acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Isso ocorreu, principalmente, pela redução de cerca de 80% dos desmatamentos da Amazônia e, em menor grau, pela redução também no bioma cerrado.
O Plano de Agricultura de Baixo Carbono sinaliza caminhos para a sustentabilidade da agricultura brasileira na direção de redução das emissões, diminuição da pressão sobre ecossistemas e, ao mesmo tempo, aumento de produtividade, equação que fecha com a intensa utilização de conhecimento, tecnologias e inovação no campo e que pode levar ao desmatamento --quase-- zero.
No setor de energia, a descarbonização passa pelo aumento da eficiência energética e da utilização maciça de energias renováveis --notadamente energias eólica e solar-- na matriz elétrica brasileira. China e Índia têm planos de acrescentar essas formas de energia renovável nos próximos dez anos, e o Brasil deve seguir o exemplo.
Na COP21, o Brasil deve apoiar e defender um acordo ambicioso, equitativo e cientificamente embasado, limitando o aquecimento a 2ºC.

    DA FSP em 17/3/15



    O arroto que esquenta o mundo


    Arrotos bovinos são uma fonte importante de gases do aquecimento global; cientistas brasileiros colocaram tubos na boca do gado para medir quanto gás sai de lá e descobriram que, infelizmente, não será tão fácil cortar as emissões
    REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    Achar maneiras de minimizar o efeito dos arrotos de bois e vacas --por incrível que pareça, uma fonte importante de gases que aquecem o planeta --pode ser mais difícil do que se imaginava, indica um novo estudo.
    Esperava-se que, conforme a criação de bovinos ficasse mais eficiente --ou seja, com os animais ganhando o mesmo peso, mas consumindo menos comida--, seria reduzida a emissão de metano (CH4), gás causador do efeito estufa produzido durante a digestão dos bichos.
    Cientistas brasileiros descobriram, porém, que isso não acontece. Bois que engordam facilmente soltam tanto metano quando os comilões.
    É uma notícia ruim, porque, de maneira geral, o gabo brasileiro não é conhecido por ser econômico em gases. O fenômeno pode estar ligado à alimentação do rebanho, que é de qualidade relativamente pobre (rica em celulose) e levaria as bactérias do estômago dos bichos a trabalharem bastante e, assim, gerarem mais metano.
    O estudo, coordenado por cientistas do Instituto de Zootecnia de São Paulo, sugere, portanto, que vai ser preciso intervir em outros aspectos da criação de bovinos do país para diminuir as emissões.
    Calcula-se que o metano seja responsável por cerca de 20% do aquecimento global até agora. Mas o aumento de emissões da molécula preocupa porque seu efeito é dezenas de vezes mais potente que o do dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa.
    A "usina" de metano no organismo dos bovinos é o rúmen, uma das estruturas que compõem o complexo estômago dos ruminantes.
    Para "quebrar" as moléculas mais complexas presentes nos vegetais que comem, o organismo dos bichos conta com a ajuda de bactérias que povoam o rúmen. É o metabolismo dos micróbios que acaba produzindo o metano.
    CÁPSULAS E CABRESTOS
    A coordenadora do estudo, Maria Eugênia Zerlotti Mercadante, explica que o método para medir as emissões do gado brasileiro (animais da raça nelore) envolve, antes de mais nada, a colocação de cápsulas de SF6 (hexafluoreto de enxofre) no rúmen dos bichos.
    Se as cápsulas estiverem funcionando direito, liberarão a substância num ritmo constante. O aparato de medição, que inclui um cabresto especial com um cano muito fino, vai sugando tanto o SF6 quanto o metano. Se a proporção de SF6 for a esperada, quer dizer que a medição está sendo feita corretamente.
    Esse cano desemboca num receptáculo de PVC, que guarda os gases que serão posteriormente analisados.
    O procedimento foi feito em 464 animais em fase de crescimento, junto com medidas de seu consumo de alimentos e de produção de fezes, no pasto e em confinamento.
    Os resultados: embora os animais mais eficientes consumissem 10% menos alimento e tivessem uma capacidade de absorção de nutrientes 4% maior para ganhos equivalentes de peso, não houve diferenças significativas quanto ao metano nos arrotos.
    "A dieta dos nossos animais é muito mais fibrosa do que a dos bois nos EUA, por exemplo", explica Maria Eugênia. "É possível que, no nosso contexto, os animais mais eficientes sejam aqueles cujo organismo ataca mais essas fibras, o que acabaria levando à maior produção de metano."
    Segundo a pesquisadora, isso não significa necessariamente que os animais mais eficientes não teriam nenhum efeito benéfico para o clima --ao consumir menos comida, por exemplo, eles poderiam contribuir para uma cadeia produtiva menos poluente, daí o interesse em entender o organismo deles para investir no melhoramento genético do rebanho.
    O estudo, feito com a Embrapa e a Unesp de Jaboticabal, teve apoio da Fapesp e do CNPq.

    Do caderno NYT de 2/12/14



    Índia dificulta acordo climático


    País pretende dobrar uso doméstico de carvão até 2019
    Por GARDINER HARRIS
    DHANBAD, Índia
    Décadas de mineração a céu aberto fizeram esta cidade no meio das jazidas carboníferas da Índia parecer uma paisagem lunar, com montanhas de escória preta, ar empesteado de enxofre e moradores enfermos.
    No entanto, em vez de recuperar essas colinas ou reformular sua exploração, o governo está escavando mais fundo, em uma corrida por carvão que poderá acelerar uma mudança climática irreversível no mundo e tornar as cidades da Índia, já entre as mais poluídas do mundo, ainda mais inabitáveis.
    "Se a Índia continuar intensificando sua exploração de carvão, todos nós estaremos fadados a um fim trágico", disse Veerabhadran Ramanathan, do Centro de Ciências Atmosféricas do Instituto Scripps de Oceanografia na Califórnia, um dos principais cientistas especializados em questões climáticas. "E nenhum lugar sofrerá mais que a própria Índia."
    Os planos de mineração de carvão da Índia podem representar o maior obstáculo para um pacto climático global que deverá ser negociado em Paris no próximo ano. Enquanto os EUA e a China anunciaram um acordo histórico que inclui novas metas para emissões de gás carbônico, e a Europa se comprometeu a reduzir 40% das emissões de gases do efeito estufa, a Índia, o terceiro maior emissor do planeta, demonstrou indiferença em relação a esses pactos.
    "Os imperativos de desenvolvimento da Índia não podem ser sacrificados no altar de potenciais mudanças climáticas nos anos vindouros", afirmou recentemente o ministro de Energia, Piyush Goyal.
    O primeiro-ministro Narendra Modi se comprometeu a construir numerosas usinas de energia solar, e alguns projetos estão em andamento. Goyal, porém, prometeu dobrar o uso de carvão doméstico na Índia de 512 milhões de toneladas métricas no ano passado para cerca de 1 bilhão em 2019.
    Segundo cientistas, a corrida por carvão da Índia poderá deixar o mundo à beira de uma mudança climática irreversível, e o próprio país será um dos mais afetados.
    As cidades indianas já estão entre as mais quentes e poluídas do mundo. Calcula-se que 37 milhões de indianos poderão ser deslocados devido à elevação dos mares em 2050, um número muito superior ao de qualquer outro país.
    A maior parte do carvão da Índia é de má qualidade, e seu alto teor de cinzas o torna quase duas vezes mais poluente que o carvão do Ocidente.
    Enquanto a China obtém 90% de seu carvão de minas subterrâneas, 90% do carvão da Índia provêm de minas a céu aberto, muito mais prejudiciais ao meio ambiente.
    As minas e usinas de energia elétrica da Índia, que tem o triplo da densidade populacional da China, afetam diretamente milhões de habitantes. A intoxicação por mercúrio amaldiçoa gerações de pessoas que vivem em vilarejos, as quais apresentam corpos deformados, dentes deteriorados e distúrbios mentais.
    A cidade de Dhanbad parece um cenário cinematográfico pós-apocalíptico, com aldeias cercadas por montes de escória encobertos pela fumaça acre exalada por fogueiras. A mineração e as fogueiras causam uma acomodação do solo que engole casas. Às vezes os corpos dos habitantes nunca são achados.
    Moradores acusam o governo de permitir que as fogueiras os queimem e a poluição os intoxique, a fim de forçar a população a abandonar terras necessárias para a corrida pelo carvão.
    "O governo quer mais carvão e para isso está expulsando as pessoas de seus locais de origem", afirmou Ashok Agarwal, do Comitê pela Salvação da Jazida Carbonífera de Jharia, um grupo civil.
    T. K. Lahiry, presidente da empresa estatal Bharat Coking Coal, que controla boa parte da região de Jharia, negou haver negligência quanto às fogueiras e à poluição, porém admitiu que dezenas de milhares de moradores devem ser deslocados para que a Índia supra suas necessidades de carvão.
    A Índia tem as quintas maiores reservas de carvão do mundo, mas produz pouco petróleo e gás natural. O país tem construído muitas usinas de energia elétrica movidas a carvão nos últimos cinco anos, aumentando a capacidade em 73%. Todavia, a mineração de carvão cresceu apenas 6%, o que resulta em importações caras do minério, indústrias ociosas e apagões generalizados.
    Quase 300 milhões de indianos não têm acesso à eletricidade. "A Índia continuará usando carvão, pois é o recurso que possui", disse Chandra Bhushan, do Centro de Ciência e Meio Ambiente, com sede em Déli.
    Cada indiano consome em média 7% da energia usada por um americano, e as autoridades indianas repudiam críticas feitas por países ricos. "Seria razoável esperar mais imparcialidade nas discussões e o reconhecimento de que a Índia tem o direito de atingir o nível de desenvolvimento do Ocidente", afirmou Goyal.
    A maior esperança da Índia para salvar a si própria e ao mundo de uma possível distopia ambiental se encontra no cerrado nas cercanias do vilarejo de Neemuch, no Estado de Madhya Pradesh, no oeste do país. A Welspun Energy construiu ali a maior usina de energia solar da Ásia, uma fazenda silenciosa de painéis fotovoltaicos que custou US$ 148 milhões, em 323 hectares de terra estéril.
    Os benefícios da energia solar e os custos ambientais do carvão são tão profundos que só resta à Índia investir mais em fontes de energia renováveis, comentou Rajendra K. Pachauri, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, "A Índia não pode seguir o caminho da China", disse ele, "pois as consequências para o bem-estar público são absolutamente catastróficas."

    Do caderno NYT da FSP em 25/11/14




    Transição energética desafia Dinamarca


    País tenta evitar blecautes em dias sem sol ou vento
    Por JUSTIN GILLIS
    COPENHAGUE - A Dinamarca segue a política de combate às mudanças climáticas mais ambiciosa do mundo. Até 2050 o país pretende acabar com a queima de combustíveis fósseis -não apenas na produção de eletricidade, mas também nos transportes.
    Se alguém considera impossível uma transição tão ampla, a Dinamarca discorda. Os dinamarqueses basicamente inventaram o setor moderno de produção de energia eólica e o estão levando adiante com mais afinco que qualquer outro país. Mais de 40% da energia de sua rede elétrica é renovável, e o objetivo é que até 2020 seja 50%. O consenso político em favor de continuar nesse rumo é praticamente uma unanimidade.
    Por isso, os problemas com a transição para a energia limpa já não podem ser ignorados.
    As fontes de energia renováveis, como a energia dos ventos e solar, uma vez instaladas, não custam nada para ser operadas. É um benefício enorme no longo prazo. Mas, à medida que mais fontes energéticas desse tipo ganham espaço na rede elétrica, elas levam os preços da energia a cair nos horários que antes eram os mais lucrativos.
    Com isso, pode se tornar antieconômico operar as usinas elétricas convencionais, à base de gás, carvão ou urânio. Só que essas usinas são necessárias para fornecer a energia para os momentos em que não está ventando e o sol não está brilhando.
    Fornecedores de eletricidade na Alemanha e na Dinamarca vêm pedindo autorizações para fechar algumas usinas elétricas que recentemente deixaram de ser lucrativas. Mas os governos estão resistindo, temendo que falte eletricidade em alguma noite gelada de inverno com pouco vento. Os governos ofereceram subsídios de curto prazo às usinas, cientes de que, se forçarem as empresas a operá-las mesmo tendo prejuízos, será apenas uma questão de tempo até a falência.
    Governos em toda a Europa perceberam que os mercados de eletricidade terão que ser reformulados para fazer frente à nova era. Mas eles não estão encarando a tarefa com urgência. Afinal, uma reformulação malfeita pode deixar os consumidores no escuro.
    A Dinamarca tem sorte geográfica. Ela tem ligações elétricas fortes com a vizinha Suécia, dotada de farta capacidade de energia nuclear, e com a Noruega, que tem eletricidade disponível graças às suas barragens. Mas políticos suecos estão prometendo fechar as usinas nucleares do país e apostar na energia renovável, enquanto cresce a demanda pela energia hidrelétrica barata da Noruega e se estuda a construção de uma linha de transmissão para o Reino Unido, sedento de energia.
    "Estamos preocupados", disse Anders Stouge, vice-diretor geral da Associação Energética Dinamarquesa. "Se não fizermos algo, enfrentaremos um risco crescente de blecautes no futuro."
    Portanto, é crucial acertar na reformulação do mercado.
    Uma reforma modesta basicamente atribuiria um valor de mercado -logo, um preço- à capacidade que ficaria de reserva.
    Mas Rasmus Helveg Petersen, ministro dinamarquês do Clima, busca uma abordagem mais ambiciosa. Esta envolveria preços da eletricidade definidos em tempo real.
    Quando o vento estivesse soprando forte ou o sol brilhando intensamente, os preços cairiam vertiginosamente, mas, em momentos de escassez, subiriam de modo igualmente abrupto.
    À medida que fossem instalados mais medidores inteligentes de consumo e mais aplicativos capazes de rastrear esses preços, seria possível imaginar um sistema em que a demanda se ajustaria bem à oferta disponível. Mas, mesmo que a Dinamarca consiga criar uma boa solução para o mercado de eletricidade, ela ainda terá outro grande desafio para poder alcançar sua meta para 2050: tirar os combustíveis fósseis dos transportes.
    O país abraçou um sistema de carros elétricos no qual as baterias gastas seriam trocadas por novas em questão de minutos, mas só foram vendidas algumas centenas de carros antes de o plano cair por terra. Petersen ainda pensa que a eletrificação dos carros é a melhor opção.
    "Precisamos de carros com autonomia maior e preços mais baixos para que essa possa ser uma boa opção", disse o ministro. "A tecnologia precisa nos salvar aqui."

    Do UOL em 18/9/14




    Trecho 'morto' do rio Tietê encolhe 70%

    Em São Paulo
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    • Divulgação/Prefeitura de Salto
      Rio Tietê, na região de Salto, no interior de São Paulo
      Rio Tietê, na região de Salto, no interior de São Paulo
    O trecho considerado "morto" do rio Tietê foi reduzido em 70,8% nos últimos quatro anos, aponta relatório da Fundação SOS Mata Atlântica sobre a despoluição da água do principal rio paulista que será divulgado nesta quinta-feira (18) em São Paulo.
    Segundo o levantamento, a extensão do rio onde não há vida porque o nível de oxigênio dissolvido na água é praticamente nulo encolheu de 243 em 2010 para 71 quilômetros, entre Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo.
    Há quatro anos, quando o governo do Estado finalizou a segunda etapa do Projeto Tietê, o trecho "morto" começava em Suzano, mais perto da nascente em Salesópolis, e se estendia até Porto Feliz, a cerca de 100 km da capital. No início do projeto de despoluição, em 1993, a mancha anaeróbica - sem oxigênio -, onde a qualidade da água oscila entre ruim e péssima, era de 530 km, entre Mogi das Cruzes e Barra Bonita, a cerca de 230 km da capital.
    Sem dúvida, esse resultado é muito positivo, principalmente para quem olha o rio como um todo. Mas não queremos passar a falsa ideia de que está tudo legal. Para que o Tietê se recupere em São Paulo da forma que a população espera, vai demandar muitos esforços de aprimoramento da legislação e da fiscalização do lançamento de efluentes industriais e domésticos", afirmou Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.
    O relatório é resultado do monitoramento da qualidade da água do Tietê e de outros 58 outros corpos hídricos ligados ao rio, como lagos e córregos, em uma bacia que abrange 68 cidades. Ao todo, são 82 pontos de monitoramento analisados entre setembro de 2013 e este mês, dos quais 17 instalados no curso do rio, ao longo de 576 km, entre a nascente e Barra Bonita.
    Segundo o relatório, a seca que castiga os mananciais da região desde o início do ano impactaram a qualidade da água do Tietê, especialmente no trecho de 38 km entre Guarulhos, passando pelas duas Marginais na capital paulista, até o limite com Osasco. "Nós observamos que nesses pontos a qualidade da água regrediu aos índices do início da década passada. Nossas expedições identificaram que o rio ainda recebe muito lançamento de esgoto clandestino, de caminhões que fazem coleta em indústrias e despejam os resíduos à noite no rio", disse Malu. Segundo ela, a proteção das áreas de conservação no Alto Tietê impediram a queda na qualidade da água entre Salesópolis e Biritiba-Mirim mesmo com a crise hídrica.
    Os investimentos em saneamento básico realizados na Grande São Paulo possibilitaram que 18 pontos de coleta distribuídos em córregos e pequenos rios da capital deixassem uma condição péssima - de rios completamente mortos - e passassem para índices ruins, regulares e bons. Em toda região monitorada, os pontos de coleta com índices de qualidade péssima caíram de sete para três. Já o índice de qualidade boa aumentou de três para dez. Um deles é o Córrego Água Preta, que fica no bairro Pompeia, zona oeste da capital, altamente adensada. "Ali está um ótimo exemplo da importância da iniciativa da população na recuperação dos corpos d'água. A comunidade adotou o córrego, e isso fez diferença", disse Malu.
    Hoje, ela debate com outros especialistas da área e o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, se o rio Tietê, em toda sua extensão, pode ser uma opção no futuro para abastecimento público. Na semana passada, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos reconheceu a melhora na qualidade da água em 25 quilômetros do rio Jundiaí, um afluente do Tietê, entre as cidades de Itupeva e Indaiatuba, e autorizou o seu uso para consumo humano após 30 anos de investimentos em coleta e tratamento de esgoto. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

    Do caderno New York Times da FSP do dia 29/7/14, que só fui ler hoje, mais de um mês depois, em 7/9

    Criando camarões dentro de casa

    Redução de estoques leva à criação em tanques fechados
    Por HIROKO TABUCHI
    STOUGHTON, Massachusetts - Num armazém ao sul de Boston, longe do porto da cidade, o designer de semicondutores James Tran está preparando um produto improvável: camarões.
    Tran abriu a criação de camarões Sky8 Shrimp Farm oito anos atrás. Ele faz parte do número crescente de pequenos criadores de camarões nos EUA que usam alta tecnologia para alimentar o apetite americano aparentemente insaciável pelo crustáceo sem prejudicar o meio ambiente, usar produtos químicos nocivos ou depender de fornecedores no exterior acusados de violações dos direitos trabalhistas.
    "Não é possível continuar a obter os camarões como fizemos até agora", disse Tran. Familiares deles no Vietnã criam camarões à moda litorânea tradicional, um sistema frequentemente ligado a problemas ambientais, trabalhistas e de segurança alimentar. Aqui, porém, os camarões crescem em tanques de fibra de vidro dotados de sistemas de controle de temperatura, circulação e filtragem.
    Os americanos adoram o camarão, que em 2002 superou o atum enlatado para tornar-se o fruto do mar mais consumido no país.
    A maior parte do camarão importado pelos EUA vem de criações na América Latina e no sudeste asiático, onde especialistas ambientais e de direitos humanos identificaram violações de direitos trabalhistas, condições de trabalho perigosas, danos aos ecossistemas e o uso de hormônios e antibióticos. Desde o ano passado, uma doença bacteriana atingiu criações de camarões na Ásia e no México, prejudicando a produção. Recentemente vieram à tona relatos sobre uso de mão de obra escrava nos barcos que fornecem farinha de peixe às criações de camarão da Tailândia.
    A pesca do camarão também enfrenta problemas. Os estoques do crustáceo estão sob pressão em todo o mundo. A China, no passado grande exportadora de camarão, hoje importa o produto para atender sua própria demanda crescente.
    Essas preocupações crescentes inspiram a ação de uma nova geração de criadores, como James Tran. O número de criações de camarão pequenas, em ambientes fechados, nos EUA passou de apenas duas para pelo menos 22 nos últimos cinco anos, e dezenas de outros estão sendo previstas, seguindo a EDM Aquaculture, que fornece equipamentos e know-how aos criadores.
    O influente programa Seafood Watch, do aquário Monterey Bay, dá aos camarões vindos dessas criações em tanques sua avaliação mais alta entre frutos do mar criados ou pescados de modo sustentável. "Estamos assistindo à chegada de novas criações intensivas em locais fechados, e não há dúvida de que existe mercado para isso", comentou Pete Bridson, gerente de pesquisas sobre aquacultura no aquário.
    A nova onda de criação de camarões nos EUA faz parte de uma campanha travada pelo governo e figuras do setor para promover a aquacultura e reverter uma percepção pública negativa dos frutos do mar criados para serem pescados, em parte devido a controvérsias passadas em torno de produtos oceânicos criados.
    Os criadores americanos representaram 0,8% da produção global de aquacultura em 2011, segundo dados da ONU para a Alimentação e Agricultura.
    A Sky8 Shrimp, operada por quatro trabalhadores, leva três meses para criar lotes de 40 mil larvas de camarões, que se alimentam de farinha de peixe e algas, até os camarões atingirem o tamanho preferido pelo varejo e os restaurantes. A criação usa tanques de água do oceano Atlântico, filtrada e reutilizada. Não há antibióticos, hormônios ou pesticidas, segundo testes realizados pela Food and Drug Administration (FDA, órgão regulador de alimentos e medicamentos), que regulamenta o camarão. Há pouco risco de os camarões escaparem e prejudicarem os estoques existentes na natureza.
    Toda essa atenção aos detalhes encerra custos. Tran vende até 600 kg mensais de camarão fresco a compradores de alto padrão locais por US$ 34 (R$ 75) o quilo, até o dobro do preço pago pelos consumidores de camarões importados. Mesmo assim, ele diz que a Sky8 não consegue atender a demanda. "Precisamos muito ampliar nossa capacidade", comentou.
    O preço médio do camarão importado pelos EUA no primeiro trimestre deste ano foi 45% superior ao do ano passado, segundo o periódico especializado "Undercurrent News".
    No Indiana, Karlanea Brown e seu marido, Darryl, criam camarões desde 2009 para complementar o que ganham plantando milho e soja. Brown também dá aulas de criação de camarões, financiamento e marketing.
    Até agora a empresa deles, RDM Aquaculture, já ajudou a fazer 14 criações de camarão sair do papel, dirigidas por agricultores, bancários, um técnico telefônico e um ex-diretor de funerária. Brown disse que em 2015, pelo menos seis outras criações de camarão vão começar a funcionar.
    "Os Estados Unidos não deveriam importar camarões, quando podemos produzir os nossos próprios", disse Brown.

    Do Estadão de ontem, 31 de agosto. O Projeto Tamar é uma coisa que nos dá orgulho e esperança.

    http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aos-35-anos-tamar-salva-mil-vezes-mais,1552274

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    Da Scientific American

    Economia americana já sente efeitos de mudanças climáticas

    Prejuízos causados pelo clima nos Estados Unidos podem atingir US$35 bilhões

    Shutterstock
    A elevação dos níveis dos mares, maiores danos de ondas de tempestades e ondas mais frequentes de calor extremo terão “impactos específicos, mensuráveis, sobre os atuais bens de nossa nação e sua atual atividade econômica”.

    Por Anne C. Mulkern e ClimateWire

    Catástrofes induzidas por mudanças climáticas, inclusive o aumento do nível do mar, ondas de calor extremo e quebras de safras custarão ao país bilhões de dólares por ano nas próximas décadas.

    Essa é a previsão de um relatório divulgado em 24 de junho, que foi patrocinado pelo investidor bilionário e ativista ambiental Tom Steyer, pelo ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg (I) e pelo ex-secretário do Tesouro, Henry Paulson.

    “Risky Business: The Economic Risks of Climate Change to the United States” (“Negócio Arriscado: Os riscos econômicos das alterações climáticas para os Estados Unidos”), uma análise que se estendeu por mais de um ano, projeta perdas por setores e regiões do país. Seu objetivo é fornecer o que chama a primeira “avaliação abrangente já feita dos riscos econômicos que nossa nação enfrenta em decorrência das mudanças climáticas”.

    De acordo com o documento, haverá perda de produtividade devido ao calor extremo. Mais usinas de energia terão de ser construídas para fornecer energia elétrica para aparelhos de ar condicionado. E, enquanto isso, a elevação do nível do mar ameaça a infra-estrutura, particularmente ao longo da costa leste e da região do Golfo.

    “Se permanecermos em nossa atual rota climática, algumas residências e propriedades comerciais com hipotecas de 30 anos, em lugares como a Virgínia, Carolina do Norte, Nova Jersey, Alabama, Flórida, Louisiana e outros estados poderiam literalmente estar embaixo da água antes que as dívidas estejam quitadas”, adverte o relatório.

    Existe uma chance em 20 “de que até o final desse século mais de US$ 701 bilhões em propriedades costeiras existentes estarão abaixo do nível médio do mar; além de mais de US$ 730 bilhões em propriedades em risco durante a maré alta maré”, prevê a análise.

    documento, de 56 páginas (pdf, em inglês), que tem como alvo o público empresarial, foi divulgado formalmente na manhã de 24 de junho em Nova York e publicado on-line em riskybusiness.org. O site de ClimateWire obteve uma cópia antecipada do relatório.

    Além de Steyer, Paulson e Bloomberg participaram do evento em Nova York vários membros do comitê consultivo de “Risky Business”, entre eles: Henry Cisneros, ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro e Donna Shalala, ex-secretária de Saúde e Serviços Humanos — todos do governo Bill Clinton; além de Alfred Sommer, da Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health e Gregory Page, ex-CEO e atual presidente do conselho da Cargill Inc.

    Impactos de curto e longo prazos

    A economia americana já está começando a sentir os efeitos das mudanças climáticas, afirma o relatório e “esses impactos provavelmente aumentarão substancialmente nos próximos 5 a 25 anos, afetando o desempenho futuro dos negócios e as decisões de investimento de hoje”.

    A elevação dos mares, o aumento de danos decorrentes de ondas gigantes de tempestades e ondas mais frequentes de calor extremo terão “impactos específicos, mensuráveis, nos atuais bens de nossa nação e sua atual atividade econômica”, alerta o documento.

    A análise se concentra em três importantes áreas em que há riscos resultantes de “mudanças climáticas induzidas pelo homem”: propriedades costeiras e infraestrutura, agricultura e energia.

    É provável que ocorram mais tempestades extremas, como a supertempestade Sandy, de 2012, prevê a avaliação.

    “Nos próximos 15 anos, os níveis mais elevados dos mares, combinados com ondas de tempestades, provavelmente aumentarão o custo médio anual de tempestades ao longo da costa leste e do golfo do México em entre US$ 2 bilhões e US$ 3,5 bilhões”, estima diz o relatório. Somando-se isso às potenciais mudanças na atividade de furacões, “o provável aumento em perdas médias anuais subirá para algo em torno de US$ 7,3 bilhões, elevando o custo anual total de furacões e outras tempestades costeiras para US$ 35 bilhões”.

    O aumento da temperatura ao longo dos próximos cinco a 25 anos também deverá resultar em uma demanda maior de energia, uma quantidade igual à gerada por aproximadamente 200 usinas médias movidas a carvão ou a gás natural. Isso custará aos contribuintes residenciais e comerciais até US$ 12 bilhões por ano, de acordo com a análise.

    Em longo prazo, haverá muito mais dias com temperaturas desconfortáveis e perigosas, prossegue o documento. Esse calor extremo, especialmente no sudoeste, sudeste e centro-oeste superior, ameaça “a produtividade do trabalhador, a saúde humana, e os sistemas de energia”.

    “Em meados desse século, o americano médio provavelmente verá de 27 a 50 dias com mais de 35ºC por ano — de duas a mais de três vezes o número médio de dias com 35ºC que experimentamos durante os últimos 30 anos”, prevê o relatório, e prossegue: “até o fim do século, esse número provavelmente chegará, em média, a entre 45 e 96 dias com 35ºC por ano”.

    Temperaturas mais altas trarão sérios desafios para a agroindústria, especialmente em certas regiões.

    Sem adaptação, alguns municípios do centro-oeste e do sul poderiam ver sua produtividade cair mais de 10% nos próximos cinco a 25 anos se eles continuarem a semear milho, trigo, soja e algodão, diz o relatório. Há uma chance em 20 de que as perdas de rendimento dessas culturas cheguem a mais de 20%. A análise não coloca um valor em dólares nesses prejuízos potenciais, porque seria impossível projetar preços futuros, explicou Matt Lewis, diretor de comunicações do relatório “Risky Business”.

    O documento baseou suas conclusões em dados de relatórios da Avaliação Nacional do Clima (NCA, na sigla em inglês) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além de em material revisado por pares sobre impactos climáticos extremos em culturas, produtividade do trabalhador e desempenho do sistema de energia. Ele também utilizou modelos proprietários sobre o impacto de ondas de tempestade costeiras da Risk Management Solutions (RMS), que modela catástrofes para o setor de seguros e instituições financeiras.

    “Evitando explicitamente” prescrições de políticas

    A análise Risky Business foi ansiosamente aguardada por alguns grupos ambientalistas, empresas e ativistas democratas devido à poderosa equipe por trás do documento. Além disso, Steyer tem estado politicamente ativo, usando sua fortuna pessoal para apoiar candidatos que, em sua opinião, apóiam suas metas climáticas, e para atingir outros com pontos de vista contrários.

    Mas o documento não defende quaisquer ações para enfrentar as mudanças climáticas. Lewis enfatizou que Steyer é apenas uma de 10 pessoas envolvidas, depois de contar os sete membros do Comitê de Risco.

    “Não estamos construindo uma lista de empresas que estão participando do conselho para forçar a adoção de políticas. Esse não é o objetivo de “Risky Business”, argumentou Lewis. “Estamos evitando explicitamente uma discussão sobre política em todo o projeto”.

    Membros do Comitê de Risco do grupo não concordam sobre a melhor política para lidar com o aquecimento, acrescentou.

    “Sobre o que eles estão plenamente de acordo é que as mudanças climáticas representam muitos riscos para muitos setores da economia americana, e que não deveríamos, em sã consciência, deixar de discuti-los”, salientou Lewis.

    O principal objetivo da análise é ajudar empresas a entender esses riscos, acrescentou. Isso poderia ajudá-las a tomar decisões informadas.

    “Você poderia mudar a forma como fluxos de capital funcionam para o setor imobiliário, se elas (as seguradoras) começarem a entender que há propriedades nas quais estão investindo agora, mas que, daqui a 20 anos, poderiam ser inaseguráveis”, sugeriu Lewis. Poderia haver investimentos diferentes na agricultura “para lidar com os padrões de crescimento mutantes que esperamos”, exemplificou.

    Empresas poderiam estar envolvidas na moldagem de ações governamentais, mas elas terão que decidir por conta própria se isso é no seu melhor interesse, salientou, acrescentando: “A comunidade empresarial americana tem um papel fundamental a desempenhar, tanto em se preparar para mudanças climáticas, como para informar a resposta política”, disse Lewis

    Alguns prevêem pressões para regulamentos

    Críticos do projeto Risky Business, no entanto, admitiram estar preocupados com a possibilidade de ele ser usado para defender medidas corretivas caras.

    O relatório provavelmente “soará alarmes”, argumentou Chris Neefus, porta-voz da Americans for Prosperity, um grupo de defesa conservador ligado aos barões da energia Charles e David Koch.

    “Em geral constatamos que na esteira de algo desse tipo as pessoas procuram meios de aumentar os impostos”, seja diretamente, através de um imposto sobre o carbono, ou através de mudanças de normas que aumentam os preços da energia, observou.

    Tom Pyle, presidente da American Energy Alliance, uma organização sem fins lucrativos focada em defesa do livre mercado e parcialmente financiada por empresas de energia, criticou que restrições de emissões de carbono seriam caras e não muito eficientes.

    Reduzir a poluição de gases de efeito estufa a zero até 2100 resultaria em uma queda de temperatura de 0,17ºC, observou ele, e acrescentou que estava citando informações de relatórios preparados para análise do IPCC.

    “Desperdiçar a enorme quantidade de recursos para fazer qualquer coisa além do que o mercado já está fazendo não faz muito sentido para mim”, resumiu Pyle.

    Lewis observou que uma das principais conclusões do relatório “Risky Business” é que os aumentos de temperatura variarão por regiões. Segundo ele, a queda da temperatura média global citada por Pyle, ou o fato de que foi evitado que ela aumentasse, não é muito útil.

    “Embora seja fácil apontar médias de temperatura; para lugares como o Alasca ou como o sudeste, que verão mudanças extremas, isso não ajuda”, criticou Lewis.

    Médias mascaram a variabilidade e não exprimem o verdadeiro impacto, salientou. E existe o mesmo problema com as médias de aumento do nível do mar e das inundações, disse ele.

    “Em média, os Estados Unidos não submergirão”, ironizou Lewis, “mas não contem isso para o povo de Miami”.

    Um estrategista democrata manifestou esperança de que fatos do relatório serão usados como defesa política, em anúncios de TV e outros tipos de publicidade voltada para o público eleitor antes da eleição.

    “O estudo pode ser potencialmente uma peça do quebra-cabeça para reverter a estrutura básica dessa questão”, observou Mark Longabaugh, um sócio da empresa de consultoria de mídia democrata Devine Mulvey Longabaugh. “Ele (o relatório) ajuda o público a aceitar a ideia de que a mudança climática afetará drasticamente nossa economia”.

    Interesses petrolíferos e carvoeiros promoveram a ideia de que reduzir as emissões de carbono é caro, mas o dano em longo prazo do aquecimento “é muito maior”, salientou.

    “Uma vez que isso seja revertido, acredito que as pessoas que se opõem a uma legislação climática séria estarão em apuros”, concluiu Longabaugh.

    Questionado sobre se Steyer planeja qualquer ativismo climático usando o relatório, Lewis repassou as perguntas à NextGen Climate, o braço de defesa político de Steyer. Uma porta-voz da organização não respondeu imediatamente às indagações.

    Reproduzido de Climatewire com permissão de Environment & Energy Publishing, LLC. www.eenews.net, 202-628-6500

    Sciam 24 de junho de 2014

     sciambr 26jun2014


    Do caderno NYT de 3/6/14
    Eu fico pensando que meus netos não terão praia para ir...

    Do Valor, em 16.6.14

    Cantareira: Racionamento pode vir depois de novembro, diz especialista

    Por Olivia Alonso | Valor
    SÃO PAULO  -  Desde o início do bombeamento da água da reserva técnica (“volume morto”) do Sistema Cantareira, há um mês, o nível de seus reservatórios baixou 3,7 pontos percentuais. Em 16 de maio, a Sabesp informava um nível de 26,7%. Hoje, a companhia publica um volume de água equivalente a 23% da capacidade do reservatório.
    A reserva técnica é o volume que está abaixo do nível mínimo da estrutura de captação de água nas represas. Segundo Ivanildo Hespanhol, diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de água (Cirra), ligado à USP, a qualidade da água do “volume morto” é a mesma da água que sempre abasteceu a população, originada no Sistema Cantareira.
    Especialista em tratamento e reúso de água, Hespanhol participou de reuniões do grupo anticrise do Cantareira e afirma que o sistema terá condições de abastecer a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) até novembro. Depois disso, caso não chova o suficiente, poderá ser necessário um racionamento de água na região.
    De acordo com Hespanhol, a água dos reservatórios se movimenta e se mistura por causa do fenômeno da inversão térmica, o que faz com que a água mais profunda seja muito semelhante à água da superfície.
    Hespanhol diz que sua maior preocupação em termos de qualidade da água é com uma situação de racionamento. Segundo ele, quando o abastecimento de algumas linhas de distribuição de água é interrompido, as linhas aspiram a sujeira que está nas proximidades. Em seguida, quando o abastecimento é liberado novamente, a água daquelas linhas é distribuída à população com a sujeira. 
    Rio Grande
    Na última semana, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmou que a partir de setembro o Sistema Rio Grande, em São Bernardo do Campo (SP), terá a sua capacidade de produção aumentada em 500 litros por segundo e ajudará a abastecer áreas que atualmente são atendidas pelo Cantareira. 
    Com a ampliação, parte do bairro de Sapopemba, na zona leste da capital paulista, vai ser abastecida pelo Rio Grande, “desafogando” os Sistemas Cantareira e  Rio Claro, segundo nota enviada à imprensa pela companhia. De acordo com a Sabesp, serão atendidos cerca de 150 mil usuários.
    A companhia já adotou uma medida similar — e em maior proporção — com o uso de água oriunda dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga. 
    (Olivia Alonso | Valor)


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    Caminho sem volta
    Cientistas alertam que derretimento de geleiras gigantes ultrapassou ponto de retorno
    Por KENNETH CHANG
    Daqui a alguns séculos, é provável que uma faixa enorme do manto de gelo da Antártica Ocidental tenha desaparecido devido ao derretimento de centenas de trilhões de toneladas de gelo, causando uma elevação de mais de um metro no nível dos mares. Cientistas relataram, no início de maio, que talvez isso seja inevitável, pois uma nova pesquisa concluiu que algumas geleiras gigantes ultrapassaram o ponto de retorno, possivelmente causando uma reação em cadeia que poderá levar ao fim do manto de gelo.
    Para muitos, a pesquisa sinalizou que mudanças no clima da Terra já atingiram um pico, mesmo que o aquecimento global seja detido imediatamente. "Do ponto de vista humano, isso equivale a limitar nossas opções", disse Richard Alley, professor de geociências na Universidade Estadual da Pensilvânia. "A maioria gostaria de manter essas opções em aberto."
    Essas geleiras mostram os sinais mais recentes de que o derretimento está se acelerando em regiões da Terra cobertas de gelo. Algumas geleiras se mantêm firmes ou até estão crescendo um pouco, porém a maioria está encolhendo, e cientistas acreditam que elas continuarão derretendo até que as emissões de gases estufa sejam controladas. "Possivelmente essa é a maior evidência do verdadeiro impacto global do aquecimento", comentou Theodore A. Scambos, cientista no Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve.
    Geleiras menores em regiões de grande altitude nos Andes, nos Alpes e no Himalaia, assim como no Alasca, estão em processo ainda maior de derretimento. Isso não constitui uma ameaça grave, pois em conjunto elas representam apenas 1% do gelo do planeta e fariam o nível do mar subir somente cerca de 0,5 metro.
    Mas as geleiras de montanha têm mostrado o que a desintegração da geleira na Antártica Ocidental está confirmando: nos próximos séculos, mais terras serão cobertas por água e haverá mais perturbações ambientais. Um derretimento total faria o nível do mar subir 65 metros.
    Durante eras do gelo recentes, as geleiras se expandiram dos polos e cobriram quase um terço dos continentes. Em um passado remoto, durante episódios conhecidos como Glaciação de Bola de Neve, todo o planeta ficou congelado. No outro extremo, um período quente perto do final da era dos dinossauros pode ter descongelado a Terra. Hoje em dia, a quantidade de gelo é modesta -10% das áreas terrestres, em sua maioria na Groenlândia e na Antártica.
    As geleiras ou glaciares são rios de gelo formados pela neve em regiões perenemente congeladas. A neve se adensa em gelo poroso e granulado, formando um campo nevado. Ao se compactar, esse campo torna-se gelo glacial e escorre, em geral lentamente, nas encostas de montanhas. Dependendo da rapidez com que a neve nova se acumula no topo ou derrete na base, a geleira cresce ou encolhe em extensão e espessura.
    Até há pouco tempo, a única maneira de medir geleiras era colocar estacas no gelo e voltar posteriormente para ver o quanto o gelo se deslocara. O método dava aos cientistas apenas uma noção das áreas mensuradas durante aquele período de estudo. "Essas medições pontuais eram muito trabalhosas", recordou Tal Pfeiffer, da Universidade do Colorado.
    Atualmente, satélites fornecem uma visão global. Imagens mostram onde estão as geleiras e como as áreas se modificam ao longo dos anos. O Experimento de Clima e Recuperação de Gravidade (Grace) da Nasa tem sido extremamente útil. Duas espaçonaves idênticas medem a gravidade da Terra. Quando as geleiras derretem, a água flui para outro lugar e essa parte do planeta perde peso, enfraquecendo levemente seu empuxo gravitacional. O Grace não é acurado o suficiente para medir as mudanças de volume em uma única geleira, porém fornece dados sobre mudanças regionais.
    Outro satélite da Nasa, o IceSat, mede a altura das geleiras por meio do uso de laser no gelo.
    Ao analisar todas as medições no ano passado, cientistas concluíram que, em média, as geleiras de todas as regiões estão lançando 260 bilhões de toneladas métricas de água no oceano a cada ano. O derretimento das geleiras de montanha por si só eleva o nível do mar em cerca de 0,7 mm por ano.
    As calotas glaciais da Antártica e da Groenlândia juntas contêm cem vezes mais gelo do que todas as geleiras de montanha reunidas, porém contribuem apenas um pouco mais para o aumento do nível do mar: 310 bilhões de toneladas métricas por ano, explicou o doutor Scambos. A maioria das geleiras de montanha fica em áreas nas quais as temperaturas estão mais próximas do ponto de derretimento do que ocorre na Groenlândia e na Antártica, então um leve aquecimento provoca seu derretimento.
    A Groenlândia, com 10% do gelo do mundo, pode elevar o nível do mar em sete metros. "A Groenlândia é o lugar mais importante para monitorarmos neste século", afirmou Scambos. Em 2012, quando o verão no Ártico foi particularmente quente, houve derretimento superficial em quase todas as geleiras da Groenlândia, inclusive nas localizadas em montanhas. Isso não acontecia há décadas.
    Pesquisadores do Dartmouth College em New Hampshire descobriram que outro efeito colateral do aquecimento global, os incêndios florestais, agrava o derretimento. A fuligem de incêndios em outros lugares do mundo foi parar na neve da Groenlândia, escurecendo-a e fazendo-a absorver mais calor.
    Um novo estudo sobre a Groenlândia, publicado na "Nature Geoscience", pinta um quadro mais sombrio. O derretimento está acelerado porque muitas geleiras fluem nas águas aquecidas em torno da Groenlândia. Até então, cientistas acreditavam que o derretimento ficaria mais lento quando a base das geleiras derretesse e elas não tocassem mais a água.
    A nova pesquisa indica o contrário. Estudiosos da Universidade da Califórnia em Irvine descobriram cânions longos e profundos abaixo do nível do mar e sob a calota glacial. Assim, mesmo que recuem, as geleiras ainda estarão em contato com a água quente que avança, e o resultado é que mais gelo derreterá.
    A Antártica é a maior massa congelada, com 90% do gelo da Terra. A maior parte do gelo fica na Antártica Oriental, que geralmente é mais alta, mais fria e menos propensa a derreter. Segundo estimativas, o aquecimento global está levando a um aumento de nevascas por lá, o que limita a perda. Mas, assim como na Antártica Ocidental, parte do gelo está em depressões vulneráveis a derretimento. Dados do satélite CryoSat da Agência Espacial Europeia, publicados em meados de maio, indicam que o continente desprendeu 160 bilhões de toneladas métricas de gelo por ano de 2010 a 2013.
    Cientistas dizem que o derretimento continuará à medida que houver aumento do gás carbônico na atmosfera. Mesmo que o gás carbônico e as temperaturas se estabilizem, o derretimento e a alteração de geleiras continuarão durante décadas ou séculos, enquanto eles se ajustam.
    A grande maioria do gelo, porém, ainda não está fadada a derreter. Alley tem a seguinte opinião: "Mesmo assim, precisamos nos empenhar muito mais para deter isso, em vez de continuarmos girando o termostato para cima".

      Da Folha de hoje, 2/6/14










      Javaporco destrói plantações e vira praga no interior de SP


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      Agricultores do interior paulista têm recorrido a cercas elétricas para evitar ataques de javaporcos, nome dado ao animal nascido do cruzamento entre o javali selvagem e o porco caipira.
      Os animais atuam em bandos e dão prejuízos aos produtores -um deles chegou a perder um quinto dos 500 hectares de milho. Um estudioso calcula em cem os focos dos bichos pelo interior.
      Nas regiões de Araçatuba, São José do Rio Preto e Bauru, pelo menos 70 plantações foram atacadas nos últimos 12 meses, segundo o engenheiro florestal Ernesto Sawaeda, que estuda o javaporco nessas regiões desde 1998.
      Produtor de Braúna, próximo a Araçatuba, Fabrício Carlos Moretto, 28, é um dos que tiveram prejuízo com o animal. Ele calcula que já tenha perdido 20% do que investiu.
      Charles Caleb/Folhapress
      Javaporco preso em Santo Antônio do Aracanguá (SP); cruzamento surgiu nos anos 1990
      Javaporco preso em Santo Antônio do Aracanguá (SP); cruzamento surgiu nos anos 1990
      Moretto vai começar uma plantação de mandioca de 30 alqueires e usará cercas elétricas. "É o único jeito. É um problema para a maioria dos agricultores daqui", afirmou. Os ataques afetam também produções de cana-de-açúcar, batata e batata doce.
      Segundo Sawaeda, javalis selvagens foram soltos em meados da década de 1990 na região de Guararapes, perto de Araçatuba. Acabaram encontrando porcas caipiras, cruzaram com elas e originaram o mutante javaporco, que se espalhou pelo interior.
      O engenheiro diz ter registros do bicho até na mata atlântica. "Hoje, a situação está incontrolável", disse.
      De acordo com o engenheiro, há relatos de dois cortadores de cana atacados pelo animal em Bilac, na região de Birigui. "Um deles teve parte da perna decepada", disse.
      A caça controlada do javaporco foi autorizada pelo Ibama em 2013. Porém, o instituto exige que o caçador faça um cadastro e, se for usar armas, protocole declaração em uma deu suas unidades.
      Para Sawaeda, a medida não é suficiente. "Os animais andam em bandos de mais de 30, como vão caçá-los de forma controlada?" 


      Essa vem do Valor Econômico de ontem, 19 de maio de 2014

      São Paulo atinge mecanização de 83% da colheita da cana em 2013/14

      Por Fabiana Batista | Valor
      SÃO PAULO  -  Resultado de transformações que começaram em 2006, o setor sucroalcooleiro do Estado de São Paulo, encerrou a última safra, a 2013/14, com um percentual de 83% da área colhida de forma mecanizada, segundo informações da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
      A entidade destaca ainda que considerando-se apenas os canaviais controlados por usinas no Estado de São Paulo, praticamente 100% já realizam a colheita de forma mecanizada. A cana colhida com queima caiu de 27,4%, na safra 2012/13, para 16,3% na safra 2013/14, o que corresponde a uma área de cerca de 780 mil hectares.
      Com uma produção de 371 milhões de toneladas de cana, São Paulo responde por 51% da produção de etanol do país e por mais de 16% da produção de etanol no mundo.
      O aumento da mecanização teve uma influência, segundo a Unida, o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenergético, firmado entre setor privado e governo do Estado de São Paulo, que previu a antecipação voluntária dos prazos legais para o fim da queima controlada da palha da cana nos canaviais paulistas. As signatárias do Protocolo são responsáveis por aproximadamente 94% da produção paulista e 48% da produção nacional de etanol.
      Dados das Secretarias do Meio Ambiente e da Agricultura do Estado de São Paulo indicam que sete milhões de hectares de cana deixaram de ser colhidos com uso do fogo na safra 2013/14.
      Com isso, 26,7 milhões de toneladas de poluentes deixaram de ser emitidas, assim como 4,4 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEEs), algo equivalente à emissão anual de 77,5 mil ônibus movidos a diesel, conforme informações da Unica.
      O início da safra 2014/15 é o prazo final para a eliminação do uso do fogo nas áreas planas, em que as máquinas podem operar. Para as demais áreas, com inclinação superior a 12 graus, o prazo de referência é a safra 2017/18.
      Para os fornecedores, a safra 2014/15 é o prazo para eliminação da queima em áreas mecanizáveis acima de 150 hectares e 2017/18, em áreas não mecanizáveis e menores que 150 hectares.
      Segundo a Unica, o consumo de água na indústria canavieira paulista está em 1,18 metros cúbicos por tonelada. “Com a adoção da mecanização e o aprimoramento dos processos industriais, a perspectiva para a safra atual (2014/15) é que o setor atinja o índice de 1 metro cúbico por tonelada de cana processada”, projetou a Unica.
      (Fabiana Batista | Valor)


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      Excelente matéria no Estadão de hoje, 25 de março de 2014

      SP deve pensar um futuro de seca e chuva extremas

      Climatologista alerta que cenários com muito calor e muito frio também devem ficar cada vez mais comuns em todo o mundo

      25 de março de 2014 | 2h 04

      GIOVANA GIRARDI , ENVIADA ESPECIAL / YOKOHAMA - O Estado de S.Paulo
      O relatório do IPCC (o painel de cientistas da Organização das Nações Unidas), que será divulgado no fim do mês, deve reforçar algumas noções dos impactos das mudanças climáticas no Brasil que os cientistas conhecem bem: o clima vai ficar mais instável, com alternância cada vez mais frequente de extremos climáticos - do muito quente para o muito frio; e do muito seco para o muito chuvoso. Cenários mais ou menos parecidos com os que estamos vendo atualmente nas Regiões Sudeste e Norte.
      "O alerta é claro: temos de incorporar essa dimensão da variabilidade climática se quisermos evitar o colapso dos sistemas", afirma o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
      Com toda a discussão sobre mudança climática, por que há tanta dificuldade de adaptação?
      O motivo é que a adaptação está intimamente ligada com a vida, o uso dos recursos, a infraestrutura local de cada país. Ainda que se possa pensar em ações e tecnologias para serem aplicadas em qualquer lugar, medidas de adaptação são por definição locais. Além disso, há uma diferença fundamental entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Os primeiros já há várias décadas criaram mecanismos para adaptar as atividades econômicas aos desastres naturais do presente. Já a maioria dos países em desenvolvimento ainda é muito mal equipada para conviver com a variabilidade climática existente hoje. E imagine que, em cima dessa variabilidade, vamos ter as mudanças climáticas com mais extremos.
      É o que vemos, por exemplo, em São Paulo, que até hoje não encontrou uma solução para as frequentes inundações no verão?
      A verdade é que conviver com os extremos nunca foi uma agenda que de fato obteve prioridade. Temos o exemplo clássico da convivência com a seca no Nordeste. Adaptar a infraestrutura urbana de uma grande cidade para as mudanças climáticas passa necessariamente por resolver grandes questões que vão muito além das mudanças climáticas. Que é a forma como a cidade se desenvolveu, a política de transporte público versus o automóvel, por exemplo. Falar em adaptar a mobilidade de São Paulo para as chuvas mais intensas… Bom, isso não é aquecimento global, é um problema da urbanização de São Paulo. Para lidar com o aumento das chuvas é preciso mudar completamente a política de mobilidade urbana para incentivar o transporte público. É uma ladainha que todo mundo sabe e repete. Isso não é só para se adaptar às mudanças climáticas. É uma questão de sobrevivência, eficiência e qualidade de vida. Se a cidade já fosse mais funcional no aspecto de mobilidade urbana, seria muito mais fácil se adaptar ao aumento da temperatura e da intensidade das chuvas e de inundações.
      Ainda dá tempo de agir?
      É uma frase que já virou chavão, mas um grande grau de mudanças climáticas já se tornou inevitável. Não há o que fazer. É uma constatação que a ciência coloca com muita propriedade e robustez. Algumas coisas não teremos como reverter. Já vamos conviver no futuro com pelo menos mais 2°C de temperatura, isso se houver muito trabalho para estabilizar as emissões de gases. Mais 2°C no Brasil, com mais eventos extremos climáticos, mais episódios de secas e chuvas intensas prolongadas no Nordeste e no Sudeste, significam que toda a economia do País precisa ser adaptada, toda a geração de energia.
      O que a crise atual de água em São Paulo nos ensina?
      Esse é um setor que ainda está reagindo mais na emergência. E a dimensão que precisa ser rapidamente incorporada nas políticas públicas do uso do recurso hídrico é a de longo prazo das mudanças climáticas. É o momento de fazer isso. Restam poucas dúvidas de que a variabilidade climática - os extremos do clima - vai mudar. Não é mais uma coisa estacionária, como era há algumas décadas quando, ao planejar um reservatório de uma cidade, os hidrólogos usavam a série histórica de chuvas, secas, inundações para prever a segurança dos reservatórios, e isso era perfeito. Era uma ciência muito bem conhecida desde os romanos. Só que as séries não são mais estacionárias. Então é importante que essa dimensão seja acrescentada ao planejamento. É a única maneira de fazer frente. Porque só responder na emergência não elimina todos os prejuízos econômicos, sociais e ambientais nem evita colapsos no longo prazo. E não estou dizendo que essa seca atual é uma decorrência das mudanças climáticas. Mas que, no futuro, a variabilidade climática, que é prevista por todos os cenários climáticos, tem de ser levada em consideração. O sistema tem de estar preparado para isso.


      Do caderno New York Times, da FSP de hoje, 11/02/2014

      No leste e no oeste, a espera pela água
      Escassez de água faz ponto turístico do Irã desaparecer
      Por THOMAS ERDBRINK
      LAGO URMIA, Irã - Depois de dirigir por 15 minutos sobre o leito daquele que já foi o maior lago do Irã, um funcionário ambiental local desceu da sua caminhonete e começou a caminhar pela grande planície seca, como se procurasse a água que ele sabia que nunca iria encontrar.
      Uma hora antes, o funcionário, Hamid Ranaghadr, tinha recordado como, há apenas uma década, navios de cruzeiro repletos de turistas singravam as águas do lago à procura de bandos migratórios de flamingos.
      Agora, os navios estão enferrujando na lama, e os flamingos voam sobre os restos do lago rumo a outro lugar. Segundo o órgão ambiental local, restam apenas 5% da água.
      O Irã está enfrentando uma escassez de água potencialmente tão grave que os funcionários estão fazendo planos de contingência para o racionamento na área metropolitana de Teerã, com 22 milhões de habitantes, e outras grandes cidades. O presidente Hasan Rowhani identificou a água como uma questão de segurança nacional e, em discursos em áreas atingidas mais duramente pela escassez, prometeu "trazer a água de volta".
      Especialistas citam a mudança climática, as práticas perdulárias de irrigação e o esgotamento dos lençóis freáticos como fatores que causam a escassez hídrica. No caso do lago Urmia, eles acrescentam a conclusão das obras de uma série de barragens que estrangularam um grande suprimento de água doce que flui das montanhas de ambos os lados do lago.
      Enquanto caminhava pelo leito seco, Ranaghadr contou que, há apenas alguns anos, a água aqui tinha nove metros de profundidade. À distância, manchas de terra -outrora ilhas onde os turistas passavam férias em bangalôs com vista para as águas azuis- aparecem cercadas de planícies de lama marrom e areia.
      Os problemas hídricos do Irã vão muito além do lago Urmia, que, sendo um lago salgado, nunca teve água adequada ao consumo humano ou à agricultura. Outros lagos e grandes rios também vêm secando, o que motiva disputas sobre direitos hídricos e protestos.
      Os principais rios próximos a Isfahan, no centro do Irã, e Ahvaz, perto do golfo Pérsico, já secaram, como ocorreu com o lago Hamoun, na região da fronteira com o Afeganistão. A poeira dos leitos secos contribui para os níveis de poluição atmosférica no Irã, que abriga quatro das dez cidades mais poluídas do mundo, segundo a ONU.
      Mas em nenhum lugar a crise é mais pronunciada do que no lago Urmia, que já foi um dos maiores lagos salgados do mundo. Ambientalistas alertam que o sal seco poderá envenenar terras agrícolas valiosas ao redor do lago, tornando a vida difícil para os 3 milhões de habitantes da região. Ao longo do que era antigamente um bulevar na orla lacustre, lanchonetes e vestiários deteriorados são o testemunho dos dias em que pessoas de todo o Irã visitavam o lago para praticar esqui aquático ou se cobrirem com sua lama negra, dotada de supostas propriedades curativas.
      Há cerca de duas décadas, Mokhtar Cheraghi, morador de uma aldeia local, começou a notar o recuo da água. "Primeiro cem metros, depois duzentos metros. Depois de um tempo, não conseguíamos mais ver a orla", disse ele, de pé no seu antigo bar. "Ficamos esperando a água voltar, mas ela nunca voltou."
      A maioria das pessoas da área atribui o desaparecimento do lago às seis barragens que o governo construiu na região. As represas reduziram bastante o fluxo de água nos 11 rios que alimentam o lago.
      A meia hora de carro da cidade de Urmia, morro acima, fica a represa de Chahchai, onde se acumula a água que do contrário chegaria ao lago. A barragem tem agora um enorme lago, que os agricultores locais usam para irrigar suas terras. "Parte da água do Urmia está aqui", disse Ranaghadr.
      Além de produzir eletricidade, as barragens têm como objetivo resolver a escassez de água. Mas, muitas vezes, a água é desperdiçada por meio de técnicas de irrigação ineficientes, segundo os especialistas.
      Em seu livro de 2005 sobre os desafios de segurança nacional para o Irã, Rowhani estimou que 92% da água iraniana seja usada para a agricultura, em comparação a 80% nos EUA. "Eles abrem a torneira e inundam a terra, sem entender que no nosso clima a maior parte da água se evapora desse jeito", disse Ali Reza Seyed Ghoreishi, membro do conselho local de gestão hídrica. "Precisamos educar os agricultores."
      O lago também foi atacado pelo subsolo. Como parte da iniciativa do governo para promover a agricultura local, grandes propriedades foram divididas em lotes menores, e a maioria dos novos proprietários cavou novos poços, absorvendo a maior parte da água subterrânea. "Há cerca de 30 mil poços escavados legalmente e uma igual quantidade de poços ilegais", disse Ghoreishi. "Como a água está diminuindo, eles têm de cavar cada vez mais fundo."
      As mudanças climáticas, particularmente o aumento da temperatura, também desempenham um papel. As temperaturas médias ao redor do lago Urmia subiram cerca de 1,7°C nos últimos dez anos, segundo estatísticas.
      Enquanto um longo período de seca na região parece ter terminado há dois anos, o aumento das chuvas não compensou os outros fatores que estão drenando o lago. "A culpa é de todos nós", disse Ranaghadr. "Há simplesmente gente demais hoje em dia, e todo mundo precisa usar a água e a eletricidade que as barragens geram."
      De volta ao escritório, os funcionários falavam como soldados em uma missão condenada ao fracasso. Eles disseram que já elaboraram 19 planos para salvar o lago, que vão do sensato (educar os agricultores a respeito das novas tecnologias de irrigação) ao fantasioso ("semear" nuvens para aumentar a precipitação).
      O governo Rowhani, carente de verbas por causa do impacto das sanções internacionais contra o programa nuclear do Irã, não disponibilizou até agora nenhuma verba para a restauração do lago.
      Mesmo se o fizesse, dizem as autoridades, seria provavelmente tarde demais para salvar o lago Urmia. "Você sabe qual é o verdadeiro problema?", disse Ranaghadr. "No mundo todo, todo mundo só pensa em dinheiro. Nós pensávamos também, e agora o nosso lago se foi."

      Do site do Estadão, 21.1.14

      Etanol - beco sem saída

      21 de janeiro de 2014 | 2h 07

      Xico Graziano* - O Estado de S.Paulo
      Pasmem: o Brasil está importando etanol dos Estados Unidos! O país que inventou o Proálcool, pátria dos veículos flex, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, anda de marcha à ré no combustível renovável. Primeiro incentivou, depois maltratou sua destilaria, dando prioridade à poluente gasolina. Um vexame internacional.
      Navios carregados de álcool anidro norte-americano começaram a descarregar 100 milhões de litros no Porto de Itaqui (Maranhão). É somente o começo, destinado ao abastecimento do Nordeste. No total, as importações serão bem mais volumosas. Para facilitar, o governo Dilma desonerou de impostos (PIS e Cofins) as compras de etanol no exterior, dando um tapa na cara dos produtores nacionais. Surreal.
      Há décadas, na agenda planetária os combustíveis renováveis começaram a se impor nos transportes, preliminarmente, por causa do encarecimento do petróleo. Recentemente, com a ameaça do aquecimento global, nações investiram na busca de energias alternativas, ambientalmente vantajosas diante das de origem fóssil. O sonho dos países desenvolvidos, liderados pela Europa, é esverdear sua matriz energética utilizando fontes solares, eólicas ou oriundas da biomassa. Todos avançaram nas energias chamadas limpas. Aqui andamos para trás.
      Tudo caminhava bem. Eleito o PT, no seu primeiro mandato o presidente Lula recebeu George W. Bush usando o boné dos usineiros. Interessado em abastecer o crescente mercado dos Estados Unidos, o setor sucroalcooleiro nacional estava animado. O etanol brasileiro, mais competitivo, ganharia o mundo. Nesse contexto vitorioso, as montadoras lançaram, em 2003, os carros flex, dando mais segurança aos consumidores. Em cinco anos a quilometragem rodada por veículos movidos a etanol ultrapassou os a gasolina, trazendo grande vantagem ecológica. Segundo Décio Gazzoni (Embrapa), especialista em agroenergia, as emissões líquidas de CO2 equivalente causadas pela queima de um litro de etanol somam apenas 400 gramas, ante 2.220 gramas da gasolina. Além da redução do desmatamento na Amazônia, o País também contribuía para a agenda do clima reduzindo as emissões de CO2 na atmosfera em razão do efeito substituição da gasolina pelo etanol. Show de bola.
      A partir de 2009, surpreendentemente, entramos na contramão da História. Uma trágica concepção da política pública levou o governo Lula a dar prioridade à a gasolina da Petrobrás, em detrimento do álcool combustível. Ninguém sabe explicar ao certo os motivos dessa reversão. Houve, isso é patente, uma contenção artificial dos preços da gasolina, impedindo, por tabela, o etanol de remunerar seus custos de produção. Pode ter segurado a inflação. Mas quebrou a Petrobrás e faliu o setor sucroenergético nacional. Ao invés de dominar o mercado exportador, o Brasil tornou-se importador de etanol. De milho.
      Influenciados pelo movimento ambientalista, os norte-americanos, na Califórnia especialmente, decidiram apostar no combustível alternativo. Sua acertada escolha, porém, exigiu uma mudança técnica com relação ao Brasil: utilizar o grão de milho, e não o caldo da cana-de-açúcar, nas destilarias. Por que razão? Acontece que o cultivo da cana-de-açúcar é próprio das regiões tropicais, onde as lavouras permanecem no terreno por vários anos, sucessivamente colhidas. Nos países temperados, o frio intenso do inverno interrompe o cultivo contínuo dos campos.
      Do Golfo do México para cima, geograficamente, as condições climáticas tornam-se restritivas para as espécies vegetais cultivadas de forma "semipermanente", como a cana. Somente sobrevivem ao período gelado as plantas que perdem as folhas sazonalmente, como as frutíferas, por exemplo. Ou certas árvores adaptadas, como os pinheiros. Basta olhar as recentes tempestades de neve nos EUA para verificar a interrupção do ciclo agrícola. Nenhum canavial resistiria àquelas baixas temperaturas.
      Sobrou para os gringos triturarem o milho nas destilarias. Colhidas as lavouras e estocados os grãos, o armazenamento permite estender seu consumo meses afora. Montanhas de milho aguardam a hora de ser moídas e fermentadas nas dornas, produzindo o álcool que o mundo adotou como etanol.
      Qualquer matéria-prima contendo açúcares ou carboidratos pode sofrer fermentação. Nesse processo químico-biológico, conduzido por bactérias em condições anaeróbicas, o rendimento final é variável. É aqui que o etanol brasileiro vence de goleada seu similar oriundo do milho. Na média, um hectare plantado com cana gera 7.200 litros de etanol; com milho, a mesma área produz 3.100 litros. Essa maior produtividade energética se reflete nos custos e na contabilidade ambiental. Em 2009 a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos divulgou parecer comprovando que o uso do etanol de cana como substituto da gasolina permitiria uma redução de 44% nas emissões de gases-estufa. Com o milho, cairia para apenas 16%. Tudo conspirou a favor do Brasil.
      Mas saiu errado. Após um período de forte expansão, com grandes investimentos, chegou a pasmaceira, seguida da quebradeira. Em vez do sucesso, seguiu-se o desânimo. Os carros flex passaram a encher o tanque com gasolina. No interior do País, entre 385 unidades, 100 encontram-se endividadas, praticamente paralisadas ou fecharam as portas. Dezenas de projetos nem saíram do papel. Frustração total.
      Lula, em nome do populismo, destruiu uma das maiores invenções brasileira. As importações de etanol de milho do Brasil configuram o maior fracasso mundial de uma política pública na área da energia renovável. Dilma Rousseff, pregressa ministra de Energia, adota discursos contemporizadores. Está, na verdade, num beco sem saída.
      *Xico Graziano é agrônomo, foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br  

      DA FSP de hoje, 12/11/13

      Japão investe em estação eólica em alto-mar
      Desastre nuclear impulsionou setor de energia alternativa
      Por HIROKO TABUCHI
      LARGO DA COSTA DE FUKUSHIMA, Japão - Em alto-mar, a 20 quilômetros dos reatores nucleares danificados de Fukushima, uma gigantesca turbina eólica flutuante sinaliza o início da mais ambiciosa aposta em energia limpa já feita pelo Japão.
      Esse moinho de vento com cem metros de altura começa a funcionar neste mês, com a expectativa de gerar energia suficiente para abastecer 1.700 casas. Mas a meta é alcançar até 2020 a geração de um gigawatt de eletricidade com 140 turbinas eólicas. Isso é o equivalente à energia gerada por um reator nuclear.
      O Japão foi forçado a olhar mais seriamente para a energia renovável depois dos vários problemas, causados pelo terremoto e pelo tsunami de 2011 em Fukushima, em núcleos de reatores nucleares. Os 50 reatores japoneses estão fechados atualmente, aguardando inspeções.
      Os partidários do projeto eólico dizem que os moinhos de vento em alto-mar podem ser um avanço importante para esta nação energeticamente pobre.
      Eles permitiriam que o Japão usasse um recurso que possui em abundância: seu litoral, que é mais longo do que o norte-americano.
      O projeto é também uma tentativa de assumir a iniciativa em um setor que deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, chegando a uma capacidade global de 536 gigawatts, segundo a entidade setorial Conselho Global da Energia Eólica.
      "É a maior esperança do Japão", disse Hideo Imamura, porta-voz da empresa Shimizu. "É um esforço totalmente japonês, quase 100% feito no Japão."
      O que diferencia o projeto de outras fazendas eólicas em alto-mar no resto do mundo é que suas turbinas, assim como sua subestação e seus transformadores elétricos, flutuam sobre plataformas gigantes ancoradas em alto-mar. A tecnologia amplia enormemente as possíveis localizações de fazendas eólicas em alto-mar.
      O domínio do vento em águas profundas na costa japonesa pode gerar até 1.570 gigawatts de eletricidade, cerca de oito vezes a atual capacidade instalada de todas as companhias elétricas japonesas juntas, segundo simulações por computador feitas na Universidade de Tóquio.
      Mas Paul Scalise, também da Universidade de Tóquio, disse que as previsões precisariam ser ajustadas levando em conta a taxa de utilização, as perturbações para as rotas marítimas e a oposição de pescadores.
      Ele estima que a geração eólica potencial nos mares japoneses seja bem menor.
      "Não devemos nos esquecer do óbvio confronto com a realidade", disse ele. "Quanto mais longe da costa eles colocarem essas fazendas eólicas flutuantes, mais cara se torna a sua construção e a transmissão da energia para o Japão."
      Nove décimos da capacidade japonesa para a geração de energia limpa vêm da energia eólica, segundo o Ministério do Ambiente. Noruega e Portugal também estão testando fazendas eólicas flutuantes de pequena escala, mas o projeto japonês deve ser o maior de todos.
      A maior contestação ao projeto de Fukushima vem dos pescadores locais, que não podem trabalhar desde o desastre de 2011 e temem que o projeto os prive de áreas de pesca. O custo é outra grande questão. A construção das três primeiras turbinas sai por cerca de US$ 20 mil por quilowatt, cerca de oito vezes o custo de construir uma turbina em terra.
      A durabilidade é o terceiro grande ponto de interrogação. A construtora Shimizu diz que as lâminas da turbina foram projetadas para durar pelo menos duas décadas. Mas Imamura, da Shimizu, admite que ninguém tem certeza de quanto tempo -e em que condições- as turbinas vão durar.
      Mas as possíveis recompensas animam os executivos. Yasuhiro Sato, diretor do Mizuho Financial Group, disse neste ano a uma comissão governamental que as cerca de 20 mil peças usadas nas turbinas eólicas em alto-mar podem agregar bilhões de ienes à economia japonesa.

      O plano deles é deixar a energia solar mais barata que o gás natural. DA FSP de hoje, 29 de outubro de 2013

      Robôs diminuem custo da energia solar
      Empresas tornam energia alternativa mais acessível
      Por DIANE CARDWELL
      RICHMOND, Califórnia - Em um pátio empoeirado sob o sol abrasador de agosto, Rover dava duro erguendo painéis solares de 20 quilos para instalá-los um por um em uma raia de concreto. Alguns metros além, seu colega Spot se concentrava em uma fileira de painéis, limpando-os da sujeira acumulada durante meses. Eles poderiam passar o dia todo executando essas tarefas.
      Afinal, eles são robôs, máquinas de tecnologia surpreendentemente simples, oferecidas por uma empresa novata chamada Alion Energy, para automatizar a instalação e a manutenção de fazendas solares em grande escala.
      Trabalhando com máxima discrição até recentemente, a empresa, com sede em Richmond, na Califórnia, está pronta para usar suas máquinas em três projetos nos EUA, na Arábia Saudita e na China nos próximos meses. Se tudo der certo, os executivos esperam ajudar a alinhar o preço da eletricidade solar ao do gás natural, reduzindo o custo de construção e manutenção de grandes instalações solares.
      Nos últimos anos, a indústria solar comprimiu os custos enormes do desenvolvimento de fazendas, em grande parte devido a uma redução de mais de 70% no preço dos painéis solares desde 2008. Mas com os preços reduzidos ao mínimo possível, segundo os fabricantes, agora a indústria está empenhada em economizar em outras áreas. Os módulos caíram de 53%, em 2010, para 35% dos custos do sistema, em 2013, ao passo que mão de obra, engenharia e documentação subiram de 9% para 15% no mesmo período, segundo a Greentech Media, que analisa a indústria.
      Apesar de tantas inovações no setor, a tarefa de montar painéis no solo pouco mudou ao longo dos anos. Em um processo caro e demorado que pode demandar centenas de mãos e milhões de parafusos, os trabalhadores limpam e nivelam o solo, instalam postes de metal e fiação e ligam os pesados módulos de vidro.
      Após a instalação dos painéis, é caro mantê-los sem poeira ou vegetação, elementos que atrapalham seu pleno funcionamento. Várias empresas, incluindo a suíça Serbot, estão desenvolvendo ou vendendo robôs para ajudar na instalação ou limpeza dessas instalações.
      Outra empresa novata da Califórnia, a QBotix, desenvolveu um robô que controla operações de posicionamento inclinando os painéis para seguirem o sol e maximizarem seu rendimento. Obtendo 40% mais eletricidade de cada painel do que com um sistema de inclinação fixa, os empreendedores podem construir sistemas menores e mais baratos, de acordo com sua demanda de energia, disse Wasiq Bokhari, diretor-executivo da empresa.
      "O mercado solar é muito competitivo, e as pessoas literalmente lutam por centavos por watt. Portanto, com a extrema redução do custo total de uma usina de energia, estamos agregando muito valor ao mercado", explicou. Os sistemas já estão instalados em cinco fazendas nos Estados Unidos e no Japão, e outros entrarão em operação antes do final do ano.
      O sistema de instalação da Alion é projetado para funcionar em solo irregular, afirmam executivos, eliminando a necessidade de nivelar grandes terrenos. Primeiro, uma máquina usada para fazer calçadas e valetas produz uma raia longa de concreto. A seguir, Rover instala os painéis e os fixa no lugar. Trabalhadores humanos então ligam os painéis ao sistema. O Spot, que pode ser controlado com um smartphone, roda ao longo das raias sob os painéis, esguichando água, escovando-os e secando-os com um rodo.
      A promessa de automação não é só reduzir o custo de mão de obra, mas diminuir o tempo de construção -de seis a oito meses para 12 semanas, em alguns casos.
      A empresa recebeu elogios de analistas. "O diferencial da Alion é ter automatizado o processo inteiro", disse Vishal Sapru, gerente de pesquisa de energia e meio ambiente na consultoria de negócios Frost & Sullivan, que recentemente deu um prêmio à Alion por inovação. "Você reduz o número de dias, de trabalhadores e de possíveis defeitos na instalação desses painéis, o que leva a uma importante redução de custos."
      Ele advertiu que não se sabe exatamente o quanto a tecnologia pouparia -a empresa afirma que reduz os custos gerais de instalação em 75%, mas empresas alemãs do ramo calculam uma economia mais próxima de 50%, disse Sapru.
      Na sede da Alion, um modelo mais esguio e ágil do Rover aguarda sua vez de entrar em cena, enquanto um Spot de segunda geração está em andamento.
      "A meta não é robótica. É ter um preço inferior ao do gás natural", disse Mark Kingsley, diretor-executivo da Alion, enquanto as máquinas continuavam se movimentando inexoravelmente ao longo das fileiras. Os painéis que Spot limpou de repente estavam produzindo cerca de 12,5% a mais de eletricidade. "Para chegar lá é preciso ser enxuto e ter custos bem baixos."

        DA Folha de hoje, 17/9/13

        Pastorem lamentam volta de lobos alpinos
        Por SCOTT SAYARE
        VIGNOLS, França - Na espessa campina sobre os Alpes do sul da França, uma moderna parábola envolvendo homem, lobos, ovelhas e a natureza está sendo escrita.
        Com incentivo das autoridades, pastores e agricultores caçaram o lobo cinzento até extingui-lo na França, na década de 1930. Meio século depois, no entanto, o animal havia sido transformado em espécie protegida em toda a Europa. Em 1992, os primeiros lobos regressaram à França vindos da Itália. Para entusiasmo de conservacionistas e de autoridades europeias, eles se proliferaram.
        Mas, para a exasperação dos pastores da região, o sucesso da espécie se deveu em grande parte à ampla oferta de presas fáceis. Os lobos têm abatido um vasto número de ovelhas daqui -pelo menos 20 mil apenas nos últimos cinco anos, segundo contabilidade oficial. O governo já gastou dezenas de milhões de euros para tentar conter os ataques, mas houve poucos resultados, e os pastores cada vez mais consideram o lobo uma ameaça existencial.
        Os lobos "estão matando o pastoreio tal qual o conheço", disse Bernard Bruno, 47, que perdeu pelo menos mil ovelhas nos últimos anos. O retorno do lobo, disse Bruno, pode simbolizar progresso ambiental, mas colocou em perigo "um dos últimos tipos naturais e ecológicos de criação animal".
        A prática pastoral de Bruno, ainda adotada por 60 mil pastores franceses -embora esse número tenha caído drasticamente nas últimas décadas-, tem amparo de ambientalistas, do governo e da União Europeia (UE), que a veem como um modelo de produção sustentável.
        No entanto, os pastores, em média, terminam o ano com rendimentos que se aproximam do salário mínimo, segundo cifras do governo. "Se você me perguntar, 'ambientalismo' hoje é algo para as pessoas da cidade", disse Bruno. "Você fala sobre o urso, o lobo e sobre a natureza um pouco selvagem, e todo mundo começa a sonhar. Venha perguntar a nós, pastores, sobre colocar tubarões no Mediterrâneo. Você vai ter 99% a favor. Não saio para nadar, não estou nem aí!"
        A população francesa de lobos está longe de ser a maior da Europa, com cerca de 250 espécimes, mas é provavelmente a mais polêmica. Há poucas áreas intocadas e desabitadas por aqui, e muitos dos terrenos mais acidentados do país -habitats adequados para os lobos- estão ocupados por proprietários rurais e seus animais.
        A UE considera que a volta do lobo ao norte e oeste da Europa é "uma história de sucesso", segundo Joe Hennon, porta-voz do comissário europeu do Ambiente. Apesar disso, afirmou, o impacto dos lobos sobre a criação animal "está se tornando óbvio".
        As autoridades francesas gastam milhões por ano para reembolsar os pastores por seus animais abatidos e para subsidiar cães dos Pirineus, que atualmente protegem muitos dos rebanhos.
        Apesar dos protestos de grupos ambientalistas, o governo também organizou o abate a tiros -"coleta de amostras", no jargão oficial- de um punhado de lobos. Nada, no entanto, parece ter funcionado. A morte de ovelhas e cabras duplicou nos últimos cinco anos, chegando a quase 6.000 em 2012.
        Os pastores têm feito que o podem. A maioria aceitou os cães de guarda. Alguns dormem ao lado dos seus animais nos campos. Muitos passaram a abater e vender menos ovelhas, por saberem que algumas das fêmeas a serem mantidas não sobreviverão para parir o rebanho do ano seguinte.
        Denis e Éliane Rogeri, que pastoreiam suas ovelhas nas encostas próximas a La Bollène-Vésubie, reduziram seu rebanho de mil para 750 cabeças, contrataram mais pastores e arrumaram cães de guarda. No verão, eles trancam suas ovelhas numa construção rural. Eles já perderam talvez 1.500 animais para lobos desde 1994, mas pararam de manter uma contabilidade precisa. "Do contrário, iríamos nos perguntar o que ainda estamos fazendo aqui", disse Éliane, 51.
        O Estado ressarciu o casal Rogeri por cerca de 30 animais no ano passado: € 90 (R$ 273) por cordeiro, € 160 (R$ 485) por ovelha e um "bônus de estresse" de algumas centenas de euros relativo aos primeiros ataques da temporada. Mas os US$ 6.600 que o casal pagou neste verão para despachar o rebanho de caminhão para pastos mais seguros não serão cobertos -nem a ração para os cães ou os prejuízos pelas 50 ovelhas que abortaram no inverno passado.
        Prejuízos financeiros à parte, o lobo transformou os rituais do pastoreio, tornando-os exaustivos, segundo os pastores.
        Isabelle Feynerol faz uma caminhada diária até o topo da montanha em frente à sua casa rural em Canaux, a 20 km do Mediterrâneo. Feynerol, 49, cria 240 ovelhas da raça Préalpes e se diz esgotada pela rotina física e pela sensação de impotência. "Não sei o que mais posso fazer", disse Feynerol. "E ninguém tem a resposta."

          O Estadão de hoje, 25 de agosto , está com matérias ótimas sobre as mudanças nas áreas de preservação estaduais aqui em SP. Quadro prá lá de preocupante...

          Parques ficam vulneráveis com perda de vigilantes

          25 de agosto de 2013 | 7h 49

          HERTON ESCOBAR - Agência Estado
          A falta de vigilância é apontada por muitos gestores como um dos principais problemas das unidades de conservação do Estado. A Fundação Florestal (FF) tem 93 guarda-parques para cuidar de 45 mil quilômetros quadrados de áreas protegidas - média de 1 guarda para cada 484 km². Para reforçar esse expediente, desde 2005, a Secretaria do Meio Ambiente (SMA) passou a contratar vigilantes terceirizados, que se tornaram os principais responsáveis por patrulhar as trilhas e combater a ação de palmiteiros, caçadores e outros criminosos no interior das unidades.
          Nos últimos dois anos, porém, o número de vigilantes foi bastante reduzido, segundo funcionários ouvidos pela reportagem. No núcleo São Sebastião do Parque Estadual da Serra do Mar, por exemplo, o número caiu de 12 para 3 neste ano.
          A falta de vigilância fica evidente também no núcleo vizinho, Caraguatatuba, que é atravessado por duas estradas de terra (Rio Pardo e Limeira), que dão acesso a uma estação de bombeamento e vários oleodutos da Petrobrás. Somadas, elas têm 70 km. Apesar disso, não há nenhuma guarita ou posto de fiscalização ao longo do trajeto; qualquer pessoa pode entrar e sair facilmente sem ser incomodada - como fez a reportagem do Estado no início deste mês.
          Em janeiro de 2011, a SMA assinou um convênio de R$ 25,8 milhões com a Petrobrás, com o objetivo específico de criar infraestrutura de segurança para essas estradas. Foi o primeiro ato de Bruno Covas como secretário. O acordo era de que a Petrobrás entraria com o dinheiro e a FF, com a execução.
          Infraestrutura. Segundo nota divulgada pela secretaria na época, o projeto previa a "implantação e operação da estrada-parque Rio Pardo e Limeira, com a instalação de duas bases de proteção, dois portais com guarita lateral, uma base de apoio ao uso público e pesquisa, um alojamento, um refeitório, sinalização e pequenas obras de apoio ao uso público". Passados dois anos e meio, quase nada foi feito.
          "Esse projeto foi aplicado, mas depois pedi para interromper, porque ele tomava conta apenas dos dutos e não do parque", justificou o diretor da FF, Olavo Reino Francisco. Uma nova versão, "totalmente alterada", segundo ele, deverá ficar pronta em 20 dias. "A Petrobrás vai tomar conhecimento e vamos mudar."
          As mudanças, segundo Francisco, encaixam-se num novo modelo de monitoramento e fiscalização, apoiado em imagens de satélite e ações da Polícia Militar Ambiental.
          "É outra estrutura, outra visão", diz o diretor, que é delegado de polícia. "O gestor talvez sinta falta (dos vigilantes), mas isso não significa que há aumento da criminalidade. Pelo contrário, houve uma redução muito grande."
          A secretaria não informou o número de vigilantes, solicitado pela reportagem - apenas o número de postos (infraestrutura física) de vigilância, que foi reduzido de 250 para 199.
          "Os gestores entendem que diminuiu, nós não", disse Francisco. Segundo ele, a empresa Capital, que era responsável pela vigilância, pediu concordata em 2012. Novos contratos, então, foram firmados com as empresas Alphagama e Atlântico Sul, no valor de R$ 14,1 milhões.
          "Apesar da redução dos postos, houve melhora substancial na qualidade dos serviços prestados, pois os contratos atuais contemplam equipamentos, veículos, brigadistas e mão de obra mais capacitada", diz a SMA.
          Vigilantes entrevistados pela reportagem, porém, disseram que não recebem treinamento nem equipamentos específicos para trabalhar na mata. "Essas fardas a gente comprou com o próprio dinheiro", contou um deles, no Parque Estadual da Serra do Mar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo


          Do Caderno New York Times da Folha de hoje, 09 de julho de 2013

          Pumas voltam a circular nos EUA
          Por GUY GUGLIOTTA
          A grande migração começou há aproximadamente 40 anos. De seus enclaves nos Estados Unidos nas montanhas Rochosas e no Texas, jovens machos rumaram para leste, em busca de companheiras e novos lugares para viver.
          Os migrantes tinham cerca de dois metros de comprimento, do nariz à cauda, e pesavam até 70 quilos. Preferiam cervos, mas comiam quase qualquer coisa que se mexesse: alces, carneiros-monteses, cavalos selvagens e castores. Em uma noite, eram capazes de matar uma dúzia de carneiros domésticos. Também atacaram pessoas algumas vezes.
          Há muito tempo, os incas chamavam esses felinos de pumas. Hoje, nos EUA, eles são conhecidos como "cougars", mas também como leões-da-montanha, panteras etc. (No Brasil, onças-pardas, suçuaranas etc.)
          Até pouco tempo atrás, relativamente, os pumas eram quase uma memória: eles estavam quase eliminados a leste das montanhas Rochosas em 1900.
          Mas hoje o puma voltou. É uma das grandes histórias de sucesso na conservação da vida silvestre, mas também uma fonte de preocupação entre biólogos e outros ativistas, pois seu número crescente torna difícil sua administração -e mais difícil que as pessoas os tolerem. Não há estimativas confiáveis sobre a população de pumas em seu ponto mais baixo, antes dos anos 1970, mas hoje acredita-se que sejam mais de 30 mil na América do Norte.
          Conforme os pumas migram para leste, eles provavelmente se tornarão indesejáveis. As pessoas em Estados não acostumados com esses grandes predadores terão de responder a perguntas desagradáveis: quanto gado e animais de caça estão dispostas a perder? Quantos problemas uma comunidade suporta?
          "Muitos órgãos ambientais estaduais estão examinando como vão se preparar para a recolonização", disse Clay Nielsen, diretor de pesquisa científica da Cougar Network. Estudos que ele realizou em Illinois, na Dakota do Norte e no Kentucky revelaram que "o público dá mais apoio" do que ele imaginava. Mas, conforme os grandes felinos se tornarem mais abundantes, acrescentou, "as atitudes provavelmente mudarão".
          O centro da diversidade genética do puma fica no Brasil, mas o hemisfério ocidental tem seis subespécies robustas ao todo.
          Melanie Culver, geneticista da vida silvestre na Universidade do Arizona, diz que os pumas parecem ter evoluído há cerca de 300 mil anos de um felídeo, hoje extinto, semelhante ao leopardo. Quando os europeus chegaram à América, havia pumas em toda parte, mas a predação humana e a perda de habitat para a agricultura cobraram um alto preço.
          Os pumas são predadores solitários, cujo terreno de caça pode variar muito de tamanho, dependendo das presas encontradas, do suprimento de água e da cobertura. Eles gostam de matas e terrenos elevados, mas podem viver em quase qualquer habitat que ofereça esconderijos.
          Os filhotes dos pumas ficam com suas mães por até dois anos. Depois, os jovens machos tendem a se dispersar, em parte para evitar outros machos em seu território e também para diminuir as probabilidades de cruzamento endogâmico ou intrafamiliar. Depois que os pumas encheram os Estados montanhosos e o oeste do Texas, os jovens machos começaram a viajar para leste. (As fêmeas também se deslocam, mas tendem a ficar mais perto de casa.)
          J. Nuckolls, fazendeiro de Wyoming, perdeu 15 carneiros em uma noite para um único puma.
          Apesar de sua propensão a causar destruição em outros animais silvestres e gado (atacam animais até sete vezes maiores, incluindo alces, cavalos e bois), os pumas são considerados um incômodo administrável pelos fazendeiros e gozam de respeito, ao contrário dos lobos, outros caçadores legendários do oeste.
          Não há uma explicação fácil para isso. O doutor Nielsen notou que os europeus não tinham experiência com grandes felídeos quando chegaram ao Novo Mundo, mas há muito vilipendiavam o "lobo mau".
          Ogden Driskill, pecuarista do nordeste de Wyoming, deu uma explicação mais simples: "Os pumas são mais fáceis de caçar que os lobos e mais fáceis de controlar". Os pumas fogem de lobos ou de cães que ladram. Eles são previsíveis, os lobos não.
          Mas, se hoje os pumas são mais fáceis de controlar, "as coisas vão mudar", disse Harley G. Shaw, biólogo da vida silvestre aposentado no Arizona. "Esse tempo talvez até já tenha chegado."



          Do caderno New York Times da FSP de hoje, 18 de junho de 2013

          Noruega importa lixo para produzir energia
          Por JOHN TAGLIABUE
          OSLO - Esta é uma cidade que importa lixo. Parte vem da Inglaterra, parte vem da Irlanda e parte vem da vizinha Suécia. Ela inclusive tem planos para o mercado americano.
          "Eu gostaria de receber alguma coisa dos Estados Unidos", disse Pal Mikkelsen em seu escritório, numa enorme usina na periferia da cidade, onde o lixo é transformado em calor e em eletricidade. "O transporte marítimo é barato."
          Oslo, onde metade da cidade e a maioria das escolas são aquecidas pela queima do lixo -lixo doméstico, resíduos industriais e até resíduos tóxicos e perigosos de hospitais e apreensões de drogas-, tem um problema: o lixo para queimar se esgotou.
          O problema não é exclusivo de Oslo. Em toda a Europa setentrional, onde a prática de queimar lixo para gerar calor e eletricidade disparou nas últimas décadas, a demanda por lixo é muito superior à oferta.
          A meticulosa população do norte europeu produz apenas cerca de 136 milhões de toneladas de resíduos por ano, muito pouco para abastecer usinas incineradoras capazes de consumir mais de 635 milhões de toneladas.
          "Mas os suecos continuam a construir [mais usinas], assim como a Áustria e a Alemanha", disse Mikkelsen, 50, engenheiro mecânico que há um ano é o diretor-gerente da agência municipal encarregada da transformação de resíduos em energia.
          De navio e de caminhão, incontáveis toneladas de lixo viajam de regiões onde há excesso de resíduos para outras que têm capacidade para queimá-las e transformá-las em energia.
          A maioria das pessoas no país aprova a ideia.
          Os ingleses também gostam. A empresa de Yorkshire que lida com a coleta de lixo no norte da Inglaterra atualmente embarca até 907 toneladas de lixo por mês para os países do norte da Europa, incluindo a Noruega, de acordo com Donna Cox, assessora de imprensa da prefeitura de Leeds. Um imposto britânico sobre os aterros sanitários faz com que seja mais barato enviar o lixo para lugares como Oslo.
          Para alguns, pode parecer bizarro que Oslo recorra à importação de lixo para produzir energia. A Noruega está entre os dez maiores exportadores mundiais de petróleo e gás e tem abundantes reservas de carvão e uma rede de mais de 1.100 usinas hidrelétricas em suas montanhas, ricas em água.
          Mikkelsen, no entanto,disse que a queima do lixo é "um jogo de energia renovável para reduzir o uso de combustíveis fósseis".
          Já Lars Haltbrekken, presidente da mais antiga entidade ambientalista da Noruega, afirmou que, do ponto de vista ambiental, a tendência de transformar resíduos em energia constitui um grande problema, por gerar pressão pela produção de mais lixo.
          Numa hierarquia de objetivos ambientais, disse Haltbrekken, a redução da produção de resíduos deveria estar em primeiro lugar, ao passo que a geração de energia a partir do lixo deveria estar no final. "O problema é que a nossa prioridade mais baixa conflita com a mais alta", disse ele.
          Em Oslo, as famílias separam seu lixo, colocando os restos de comida em sacos plásticos verdes, os plásticos em sacos azuis e os vidros em outro lugar. Os sacos são distribuídos gratuitamente em mercearias e outras lojas.
          Mikkelsen comanda duas usinas. A maior delas usa sensores computadorizados para separar os sacos de lixo codificados por cor.
          A separação do lixo orgânico, incluindo os restos de comida, passou a permitir que Oslo produza biogás, o qual já abastece alguns ônibus no centro da cidade.
          Outras áreas da Europa estão produzindo grande quantidade de lixo, incluindo o sul da Itália, onde lugares como Nápoles pagaram a cidades da Alemanha e da Holanda para que aceitem seus resíduos, ajudando a neutralizar uma crise napolitana na coleta do lixo. No entanto, embora Oslo tenha cogitado receber o lixo italiano, a cidade preferiu continuar com o inglês, considerado mais limpo e seguro. "É uma questão delicada", diz Mikkelsen.

            Do caderno New York Times da FSP de hoje, 20 de maio de 2013


            ANÁLISE - JIM ROBBINS
            Solo perde biodiversidade
            Helena, Montana
            Poucas coisas são mais vitais do que a saúde da terra. Nosso abastecimento alimentar começa lá. As plantas selvagens precisam de solo saudável para crescer bem. Os herbívoros, para que possam comer as folhas, sementes e frutos das plantas. Por fim, os predadores, para que possam comer os bichos que comem as plantas.
            Um solo saudável evita doenças humanas e também contém a cura para outras enfermidades. A maioria dos antibióticos vem de lá. Os cientistas agora procuram na terra uma nova classe de remédios para enfrentar doenças resistentes a antibióticos.
            O solo supostamente desempenha um papel importante, mas pouco compreendido, na difusão do cólera, da meningite fúngica e de outros agentes infecciosos que passam parte do seu ciclo de vida na terra.
            Novas tecnologias garantiram saltos na nossa compreensão sobre a ecologia dos solos, ao permitir que os cientistas estudem os genes de micróbios da terra e acompanhem minúsculas quantidades de carbono e nitrogênio em sua passagem por esse ecossistema.
            Mas, à medida que os cientistas aprendem mais, eles percebem como sabem pouco.
            Na última década, os cientistas descobriram que o "oceano de terra" do planeta é um dos quatro maiores reservatórios de biodiversidade. Ele contém quase um terço de todos os organismos vivos, segundo o Centro de Pesquisas Conjuntas da União Europeia, mas apenas cerca de 1% dos seus micro-organismos já foi identificado. As relações entre essa miríade de espécies ainda é mal compreendida.
            Cientistas criaram recentemente a Iniciativa Global de Biodiversidade do Solo para avaliar o que se sabe sobre a vida subterrânea, para identificar onde ela está em perigo e para determinar a saúde dos serviços ecossistêmicos essenciais que o solo fornece.
            Uma colherada de terra pode conter bilhões de micróbios (divididos entre 5.000 tipos diferentes), assim como milhares de espécies de fungos e protozoários, além de nematódeos, ácaros e algumas espécies de cupim.
            "Há uma pululante organização embaixo do chão, uma fábrica com terra, animais e micróbios, cada um com seu próprio papel", disse a bióloga Diana Wall, da Universidade Estadual do Colorado, a presidente científica da iniciativa.
            O ecossistema do solo é altamente evoluído e sofisticado. Ele processa o lixo orgânico, transformando-o em terra. Filtra e limpa grande parte da água que bebemos e do ar que respiramos, ao reter poeiras e agentes patogênicos. Desempenha importante papel na quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, pois, com toda a sua matéria orgânica, é o segundo maior depósito de carbono do planeta, só atrás dos oceanos.
            O uso de arados, a erosão e outros fatores liberam carbono na forma de CO2, exacerbando a mudança climática.
            Um estudo de 2003 na revista "Ecosystems" estimou que a biodiversidade de quase 5% do solo dos EUA estava "sob risco de perda substancial ou completa extinção devido à agricultura e à urbanização". Essa foi provavelmente uma estimativa conservadora, já que o solo do planeta era na época mais inexplorado do que hoje e as técnicas do estudo eram bem menos desenvolvidas.
            Há numerosas ameaças à vida no solo. A agricultura moderna é uma das maiores, pois priva a terra da matéria orgânica que a alimenta, resseca o chão e o contamina com pesticidas, herbicidas e nitrogênio sintético.
            A impermeabilização em áreas urbanas também destrói a vida da terra, assim como a poluição e as máquinas pesadas. Uma ameaça já antiga, como a chuva ácida, continua afetando a vida subterrânea, pois deixa o solo mais ácido.
            O problema é global. Em quase metade da África, por exemplo, o uso intensivo para lavouras e pastagens destruiu a camada superior do solo e causou desertificação.
            O aquecimento global irá contribuir para as ameaças à biodiversidade do solo. A segurança alimentar é uma grande preocupação. O que irá acontecer com as lavouras à medida que o planeta se aquecer? Ligeiras alterações de temperatura e umidade podem ter impactos profundos, mudando a composição da vida no solo e os tipos de plantas que poderão crescer. Algumas plantas devem gradualmente migrar para climas mais frios, mas outras podem não ser capazes de se adaptar em novos solos. "O mundo acima do chão e o mundo abaixo dele estão muito estreitamente ligados", disse Wall.
            Os cientistas também estão descobrindo que um ecossistema saudável no solo pode ajudar a sustentar as plantas naturalmente, sem insumos químicos. "Quanto maior é a diversidade do solo, menos doenças surgem nas plantas", disse Eric Nelson, que estuda a ecologia do solo e das doenças na Universidade Cornell, no Estado de Nova York. Os insetos também são refreados por plantas que crescem em terra saudável, segundo ele.
            O que agricultores e jardineiros podem fazer para proteger seus solos? Wall sugere não lavrar a terra, deixando que a vegetação morta se decomponha, em vez de revolver o solo com o arado a cada ano. Evitar produtos químicos sintéticos é importante. Agregar adubo, especialmente adubo de minhoca, pode contribuir para fortalecer os ecossistemas da terra.
            O tema está começando a atrair a atenção merecida. Wall acaba de receber o Prêmio Tyler de Realização Ambiental, com uma dotação de US$ 200 mil, que ela diz pretender usar em pesquisas. "É a hora do show para a biodiversidade do solo", disse ela.


              Essa já tem um tempinho, é de 19 de abril.


              Renováveis | 19/04/2013 18:53

              Inaugurada maior usina solar fotovoltaica da África

              Construída pela empresa de energia Masdar, a usina Sheikh Zayed vai suprir 10% da rede da Mauritânia, país pobre abastecido principalmente por geradores a diesel

              Divulgação
              Usina Sheikh Zayed, inaugurada pela empresa Masdar na Mauritânia
              A usina, que consiste de 29.826 paineis, vai fornecer energia para mais de 10 mil casas no país
              São Paulo – Pouco mais de um mês após inaugurar a maior usina de energia solar concentrada dos Emirados Árabes, a empresa de energia renovável de Abu Dhabi Masdar acaba de implantar seu mais novo empreendimento: a usina Sheikh Zayed, a maior central solar fotovoltaica da África.
              Inaugurada nesta sexta-feira em Nouakchott, capital da Mauritânia, a usina solar fotovoltaica de 15MW custou US$ 31,99 milhões. A central consiste de 29.826 paineis e vai gerar energia suficiente para abastecer 10% da demanda do país, evitando emissões de cerca de 21.225 toneladas de dióxido de carbono.
              A rede elétrica da Mauritânia, alimentada principalmente pelos caros e poluentes geradores a diesel, possui atualmente uma capacidade instalada deficitária, resultando em sérias falhas no abastecimento de energia.

              Com a demanda energética aumentando 12% a cada ano no país, a adição da energia solar ajudará a diminuir as futuras deficiências elétricas, ajudando a abastecer algo próximo de 10 mil residências.


              Do caderno New York Times da FSP de hoje, 29/4/13


              Rio Colorado voltará a fluir no México
              Por HENRY FOUNTAIN
              CUCAPÁ EL MAYOR, México - Germán Muñoz olhou para o rio à sua frente e falou sobre a época em que golfinhos nadavam ali, a 90 km do mar.
              "A onda fazia barulho feito um trem", disse ele, descrevendo a pororoca que subia do golfo da Califórnia pelo rio Colorado. "Havia peixes de todo tipo pulando. Aí os golfinhos apareciam, perseguindo os peixes."
              Isso foi na década de 1950, quando o Colorado ainda desaguava no golfo, carregando areia e lodo das montanhas Rochosas para formar um delta vasto e fértil. No último meio século, por causa das represas que estrangularam o Colorado e desviaram sua água para abastecer o crescimento do oeste americano, o rio na prática passou a terminar na fronteira com o México. Os manguezais e sinuosos canais do delta do Colorado -outrora um refúgio para peixes e aves migratórias- viraram um deserto.
              Em 1963, a última das grandes barragens do Colorado, a do cânion Glen, começou a reter água 1.100 km a montante. "O rio não chega mais até aqui", disse Muñoz.
              Mas agora há razão para otimismo. Uma emenda em um tratado firmado sete décadas atrás pelo México e os EUA, chamada de Minuta 319, fará com que a água volte a correr rio abaixo e irá amparar os esforços para restaurar o habitat nativo e atrair animais.
              O delta continuará sendo um filete de água em comparação aos enormes volumes bombeados para as cidades, fazendas e indústrias, mas a emenda também prevê uma grande liberação de água de uma só vez, para imitar as inundações que antigamente rejuvenesciam o delta a cada primavera, limpando os sedimentos e a vegetação velha e abrindo áreas para que novas plantas crescessem. Durante essa enxurrada, o Colorado deverá novamente alcançar o mar.
              "O novo acordo irá definitivamente ajudar a restaurar o Colorado", disse Efraín Nieblas, diretor da agência de proteção ambiental do Estado mexicano da Baixa Califórnia.
              No estuário da extremidade norte do golfo, o afluxo de água mais fresca irá reduzir a salinidade, o que será bom para os indígenas da etnia cucapá e para outros nativos que pescam corvinas e camarões no local. "É realmente importante conectar o rio ao oceano", disse Nieblas.
              O delta nunca mais será como era antes das represas -o canal principal do rio, por exemplo, chamado de corredor ripário, está agora em grande parte cercado por lavouras irrigadas -, e Muñoz certamente não voltará a ver os golfinhos brincando na frente da sua casa. Mas ambientalistas americanos e mexicanos dizem que o acordo é um bom primeiro passo. O objetivo é restaurar em cinco anos cerca de 900 hectares a montante e a jusante, a um custo de US$ 8,5 milhões.
              Cerca de 90% do fluxo anual do Colorado, de cerca de 18 trilhões de litros, vai para a Califórnia, o Arizona e cinco outros Estados do oeste dos EUA. Pelo tratado de 1944, o México tem direito a quase 2 trilhões de litros. Essa água chega à fronteira na represa de Morelos, a última do rio, onde ela faz uma acentuada curva à direita, entrando em canais que a levam a cidades e fazendas mexicanas.
              Geralmente, a água não chega ao outro lado da represa e ao leito principal. Há água do Colorado em partes do delta, mas ela fica dando voltas por lá. A leste do leito fluvial, o Ciénaga de Santa Clara, um manguezal que serve de parada para aves aquáticas migratórias, é alimentado pela água drenada dos algodoais irrigados do Arizona.
              No entanto, há a necessidade de mais água, e ela deve vir pelo corredor ripário. O rio precisa fluir. Como parte do acordo, grupos ambientalistas se comprometeram a fornecer a água para o fluxo básico, cerca de 13 bilhões de litros por ano, adquirindo licenças ociosas para o uso da água de agricultores mexicanos.
              A ideia não é reduzir o volume usado por lavouras e cidades, segundo Francisco Bernal, diretor do escritório de Mexicali da Comissão Internacional de Limites e Águas, mas poupar água por meio de melhorias na conservação -das quais algumas serão pagas por distritos hídricos nos EUA em troca de parte da água mexicana. "Queremos conservar água suficiente para partilhar com o ambiente", afirmou ele.


              Essa veio do The Guardian, por indicação do editor brasileiro da National Geographic, Matthew Shirts.


              US scientists in fresh alert over effects of global warming

              US National Climate Assessment reveals that severe weather disruption is going to be commonplace in coming years
              Victims Of Superstorm Sandy Continue To Recover
              Clearing up in the aftermath of superstorm Sandy. Photograph: John Moore/Getty
              Global warming is already having a major impact on life in America, a report by US government scientists has warned. The draft version of the US National Climate Assessment reveals that increasing storm surges, floods, melting glaciers and permafrost, and intensifying droughts are having a profound effect on the lives of Americans.
              "Corn producers in Iowa, oyster growers in Washington state and maple syrup producers have observed changes in their local climate that are outside of their experience," states the report.
              Health services, water supplies, farming and transport are already being strained, the assessment adds. Months after superstorm Sandy battered the east coast, causing billions of dollars of damage, the report concludes that severe weather disruption is going to be commonplace in coming years. Nor do the authors flinch from naming the culprit. "Global warming is due primarily to human activities, predominantly the burning of fossil fuels," it states.
              The uncompromising language of the report, and the stark picture that its authors have painted of the likely effects of global warming, have profound implications for the rest of the world.
              If the world's greatest economy is already feeling the strain of global warming, and is fearful of its future impact, then other nations face a very worrying future as temperatures continue to rise as more and more greenhouse gases are pumped into the atmosphere.
              "The report makes for sobering reading," said Professor Chris Rapley, of University College London. "Most people in the UK and US accept human-induced climate change is happening but respond by focusing attention elsewhere. We dismiss the effects of climate change as 'not here', 'not now', 'not me' and 'not clear'.
              "This compelling new assessment by the US experts challenges all four comforting assumptions. The message is clear: now is the time to act!"
              Bob Ward, of the Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, at the London School of Economics, said: "For those outside the US, this report carries a brutal message because it shows that even the world's leading economy cannot simply adapt to the impacts of climate change. The problem clearly needs concerted international action to reduce greenhouse gas emissions and to avoid the worst potential consequences."
              The national climate assessment, written by a team of 240 scientists, is required every four years by US law. The first was written in 2000, though no report was issued while George W Bush was president. The next came out in 2009. The latest is only a draft version and will be revised after comments by other scientists and the public.
              However, observers have noted that the 2013 version is far more uncompromising in its language. "The bluntness reflects the increasing confidence we have in the science and day-to-day realities of climate change," said one of its authors, Katharine Hayhoe, director of the Climate Science Centre at Texas Tech University.
              The report highlights, among other things, that 13 American airports have runways that could be inundated by rising sea levels, and that billions of dollars will be needed to repair Alaskan roads, pipelines, sewer systems, buildings and airports where melting permafrosts are disrupting the landscape. These are problems that will not just affect the US. They will be repeated across the planet.
              Environmental groups are now hoping that the report will revitalise the debate over climate change in the US and stimulate the administration of Barack Obama into taking action over an issue that has been put on the backburner. "There is so much that is already happening today," said Hayhoe. "This is no longer a future issue. It's an issue that is staring us in the face today."


              Essa vem do Estadão de hoje, 16 de janeiro de 2013

              'RISCO DE RACIONAMENTO DE ÁGUA É REAL'

              Ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Braga diz que em dez anos a questão hídrica no País pode repetir os problemas do setor energético

              16 de janeiro de 2013 | 2h 11

              O Estado de S.Paulo
              Eleito presidente do Conselho Mundial de Água em dezembro, o brasileiro Benedito Braga inicia sua gestão em 2013, escolhido pela ONU como o Ano Internacional da Cooperação pela Água. Professor da Escola Politécnica da USP e ex-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Braga critica a lentidão nas políticas públicas de gestão hídrica no País e prevê crise semelhante à enfrentada pelo setor elétrico, caso o quadro atual seja mantido.
              A ONU elegeu a água como tema em 2013. O que significa?
              Há 271 bacias hidrográficas com rios compartilhados por mais de um país no mundo. Em algumas situações esse tema incita até questões de segurança política, como no caso do Rio Nilo, que é compartilhado por nove países. A ONU pretende com esse tema incentivar o lado bom disso, que é a cooperação. A ideia é trazer à baila essas oportunidades que aparecem quando se compartilham as águas e não os conflitos.
              Como atua o conselho?
              Temos como membros o Ministério de Recursos Hídricos da China, o Ministério de Relação Exteriores da Finlândia, ONGs como a WWF, prefeituras, estados e agências estaduais de diversos países. O conselho vai além do nível das Nações Unidas, em que a discussão se dá nos níveis de governos nacionais e de chefes de Estado. Com múltiplos atores, tem grande legitimidade porque vai a diferentes níveis da sociedade e com isso ganhou ao longo do tempo a confiança dos governos. Recentemente, o Ministério de Recursos Hídricos do Egito considerou chamar o conselho para uma discussão sobre a gestão das águas do Rio Nilo, por exemplo.
              Como a gestão hídrica deve ser feita frente a mudanças no clima?
              Quando estamos preocupados com as mudanças do clima, estamos preocupados com a água: com as enchentes que serão mais frequentes, com secas mais longas e severas. Hoje, apenas com a variabilidade atual do clima, já temos situação gravíssima. Fazemos grande esforço contra as futuras mudanças climáticas para que as economias mudem, para não emitir gás carbono, mas estamos falando em algo que tem um horizonte de impacto de séculos. Então, é preciso mudar o foco para buscar mecanismos de adaptação atuais, com mais financiamento e infraestrutura hidráulica em países pobres. Políticos não pensam cem anos à frente.
              A quem cabe a decisão sobre a melhor forma de gerir os
              recursos hídricos locais?
              A longo prazo, tem de envolver a sociedade neste processo, para que todos sejam cumplices. As decisões são técnicas e políticas. Para tomar uma decisão politica, é preciso ter alternativas técnicas. A água corre para baixo, então não adianta investir milhões para fazê-la subir. Antigamente era mais fácil, escolhia-se a melhor relação entre benefício e retorno econômico. Hoje não existe mais isso, o processo é muito mais complexo e possui varias nuances. Na Agências Nacional das Águas (ANA), propusemos ao Ministério de Minas e Energia fazer o licenciamento de bacias hidrográficas com estudos mais abrangentes. Um reservatório está ligado no outro, então tem que ver a bacia no seu conjunto. Não só para eletricidade, como para a navegação, irrigação e o abastecimento doméstico, por exemplo. Atualmente, no entanto, cada obra é uma obra e exige um estudo específico.
              Como o País cuida da água?
              Apesar dos problemas nas políticas de gestão hídrica, o Brasil tem um arcabouço legal e institucional muito benfeito. Os comitês de bacia permitem à sociedade e aos usuários tomarem parte nas decisões. Temos exemplos muitos bons como na bacia do Rio Piracicaba, em Extrema (MG). A cobrança pelo uso da água, erroneamente, foi vista por alguns como mais um imposto, o que não tem nada a ver. Esse dinheiro paga fazendeiros que usam técnicas de conservação do solo. Então, é um sistema em que todos ganham: os usuários pagam, mas ganham em qualidade, porque financiam aqueles que estão promovendo o serviço ambiental. E o melhor é que o dinheiro não vai para o governo. Passa por ele, mas com a garantia de que o recurso será destinado.
              No Rio Guandu (RJ), por exemplo, são pagos até R$ 60 por hectare/ano. O valor oferecido por serviços ambientais é suficiente?
              Claro que não. Foi inventado um determinado valor quando este sistema foi implantado na bacia do Rio Paraíba do Sul, que foi a primeira a fazer a cobrança, e todo mudo seguiu. Mas isso já faz mais de dez anos e ninguém parou para rever. Mas é uma quantia absurdamente irrisória.
              É possível usar o modelo em grandes cidades, seguindo exemplos como o de Nova York?
              Este modelo tem de ser visto com o devido cuidado, pois não é solução barata. Em Nova York, a área que compraram para proteger à beira das nascentes é muito cara, por exemplo. As nascentes do Guandu, que abastecem o Rio de Janeiro, eram maravilhosas quando a Light construiu o reservatório, mas veja como está aquilo hoje: totalmente ocupado, uma situação insustentável. Não tem como reverter, pois é um problema social. Então, para transportar o modelo para cá é preciso pensar bastante, pois tem todo o preço de desapropriar e manter a área para evitar invasões. Cada caso é um caso, talvez pelo interior do País pode ser mais conveniente. Mas é preciso haver recursos suficientes. Sem dúvida, porém, é um modelo muito mais interessante do que sujar a água e depois ter de limpá-la na parte baixa do rio.
              Você tem alertado para a possibilidade de que, em dez anos, cidades brasileiras tenham problemas de abastecimento. O que tem travado ações de prevenção?Vou me atrever a dizer que é questão cultural. A gente trabalha muito com processos reativos. Hoje, por exemplo, temos situação complicada no setor elétrico. O que está ocorrendo com a água, eu acho, é a mesma coisa. Estão esperando uma ameaça de rodízio de água. Só em situação complicada vamos fazer tudo a toque de caixa, e aí não tem relatório de impacto ambiental ou outros obstáculos, vira problema de segurança nacional. Só com a sociedade toda motivada é que vamos fazer. Na questão das inundações ocorre a mesma coisa. Quando há deslizamento de terra e as pessoas morrem há aquela comoção nacional, mas um mês depois acabou o assunto e ninguém mais fala disso.
              Quais as metas para os três anos que ficará à frente do conselho?
              A segurança hídrica será o nosso principal mote neste período. Em outubro, vou participar de um encontro na Hungria que o governo local e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, estão organizando para falar sobre o tema e os conceitos. É uma preparação para o 7.º Fórum Mundial da Água, que será realizado em 2015 na Coreia do Sul, em que pretendemos trazer ministros, prefeitos e parlamentares de todo o mundo para discutir a importância da boa gestão da água e dos investimentos em infraestrutura, seja para a universalização do acesso, seja para o uso na produção de alimentos. Além disso, pretendo dar visibilidade ao conselho para atingir o público em geral. / BRUNO DEIRO


              Essa vem do Estadão de hoje, 30 de setembro de 2012


              Empreendimento planeja criar um safári africano no meio do Tocantins

              30 de setembro de 2012 | 3h 04

              GIOVANA GIRARDI - O Estado de S.Paulo
              "Brasil e África se juntam depois de milhares de anos que uma fissura nas placas tectônicas transformou o que hoje são dois continentes com características tão semelhantes. Agora já podemos sentir o coração de África no Tocantins." A frase - transcrita literalmente de um vídeo promocional que está circulando na internet - apresenta o projeto de um novo safári tipicamente africano. Só que no meio do Tocantins.
              Os empreendedores partem do princípio de que, como no passado Brasil e África foram unidos em um continente só e hoje ambos têm vegetações semelhantes (savana e cerrado), seria possível recriar por aqui o ambiente africano com um investimento de R$ 350 milhões.
              O plano foi apelidado de Out of Africa Brasil. Encabeçado pelo ex-secretário de Saúde do Tocantins, Nicolau Esteves, prevê a criação de uma reserva de 100 mil hectares para a acomodação de mais de 400 animais de 17 espécies, como elefantes, leões, leopardos, búfalos, rinocerontes (brancos e pretos), zebras, hienas, kudus e impalas.
              Predadores e presas vivendo em uma área cercada, sem interferência humana - nem mesmo alimentação. "Vai ser a cadeia natural mesmo", diz o médico mineiro. A ideia é que três hotéis se instalem nas proximidades e ofereçam passeios para ver os animais de perto. Mas, segundo o Estado apurou, as quantidades sugeridas de cada espécie a ser importada não parecem seguir nenhum estudo que aponte a proporção adequada entre predador e presa.
              Até o momento foi feita uma consulta ao Ibama de Tocantins, mas não foi enviado um projeto técnico. Agora a sede do órgão em Brasília também analisa a solicitação. É preciso avaliar, entre outras coisas, se não há risco para a fauna nativa, de extinção das espécies a serem importadas, se há garantia da origem legal desses animais.
              "É um pedido atípico e de proporções muito grandes. É delicado do ponto de vista da manutenção desses animais, da estrutura, do risco de fuga, dos acidentes que podem acontecer. Estamos vendo com muita parcimônia e sendo bastante reticentes", diz a analista Taciana Sherlock, da coordenação de fauna do Ibama.
              Sobre a ideia de que os animais tenham de caçar seu próprio alimento, Taciana foi um pouco mais descrente. "Como podemos liberar a importação de animais para trazê-los para cá para serem abatidos?"
              Por ser um modelo inédito no Brasil - e talvez no mundo -, o órgão avalia como ele deve ser analisado. Ele não se encaixa em nenhuma categoria prevista de manutenção de fauna em cativeiro.
              Em geral, empreendimentos que trabalham com exóticos são enquadrados na lei de zoológicos, mas a situação não é bem essa. Pelo porte do projeto, é de se questionar se não é um caso de introdução de animais exóticos, o que é proibido.
              A situação fica mais complicada se houver mistura desses animais com a fauna local, como sugerem Esteves (mais informações nesta página) e o vídeo na internet. "Uma centena de espécies de animais nativos e africanos silvestres", diz o material em um momento. Em outro, menciona que o projeto tem "característica de preservação ambiental da fauna brasileira e exótica". Nesse cenário, Taciana endurece: "Se tiver isso, vai ser imediatamente vetado."
              Interesse. Mas o empreendimento tem despertado interesse. Segundo um arquivo apresentado na consulta que lista todas as espécies a serem importadas, o projeto conta com patrocínio de empresas como Toyota, Shell, Mobil, Engen e Total.
              Ambientalistas que acompanham o processo mencionaram um suposto aval do governo do Tocantins pelo potencial financeiro do empreendimento.
              O presidente do órgão ambiental do Estado, o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Alexandre Tadeu, diz que por enquanto não tem como se dizer a favor ou contra. "Até agora, a única demanda que recebemos foi para criar um termo de referência para orientar os futuros estudos ambientais", diz. Segundo ele, isso deve ser entregue nos próximos dez dias. "É complexo, mas não podemos dizer nada sem ter embasamento."
              Pesquisadores também questionam o porquê de um projeto com essas características se o intuito seria conservar a natureza. "Não tem necessidade de trazer animais de fora quando a fauna daqui é tão interessante", diz o biólogo Peter Crawshaw Junior, um dos maiores especialistas em onça-pintada do País.
              "No mínimo a ideia é de um profundo mau gosto", comenta o ecólogo Paulo De Marco Júnior, da Universidade Federal de Goiás. "E quem diz que dá para recriar as savanas africanas aqui com todas as diferenças que ocorreram entre os sistemas dos dois continentes?"



              Essa vem do Estadão de 22/9/12.


              Tratar esgoto é maior desafio para despoluir o Tietê

              Situação é mais crítica em dez municípios da Região Metropolitana, que até 2011 não tinham tratamento de dejetos, segundo a Cetesb

              22 de setembro de 2012 | 3h 09

              BRUNO DEIRO - O Estado de S.Paulo
              Um estudo com os 176 municípios que fazem parte da Bacia do Rio Tietê revela que menos de 30% têm sistema de coleta e tratamento total de esgoto. Outros 31 (quase 20%), boa parte na região da Grande São Paulo, não realizam nenhum tipo de processamento nos dejetos que lançam no complexo hidrográfico.
              Números estão no Relatório de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São Paulo - Ernesto Rodrigues/AE
              Ernesto Rodrigues/AE
              Números estão no Relatório de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São Paulo
              Os números estão no Relatório de Qualidade das Águas Superficiais no Estado de São Paulo, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), divulgado neste ano, com dados de 2011. O ponto mais crítico está em dez cidades da Região Metropolitana, ao norte e oeste da capital, que até o ano passado não tratavam o esgoto.
              "Cidades como Barueri e Osasco são as que vamos atacar na terceira fase do Projeto Tietê", explica Carlos Eduardo Carrela, superintendente de projetos especiais da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). "Até 2015, o projeto prevê que nenhum desses municípios tenha menos de 50% de coleta e 60% tratamento."
              Carrela diz que em alguns o porcentual de tratamento já subiu - Barueri, por exemplo, está com 30%. Em outros, no extremo norte, haverá um projeto especial. "Em Francisco Morato e Franco da Rocha será feito um sistema isolado, pois o esgoto não chega às cinco estações existentes na região metropolitana."
              No interior, a maioria dos municípios sem sistema de tratamento está em áreas próximas a Araraquara e Bauru. "As cidades recebem investimentos em proporção diferente. Não há muitos projetos integrados, cada município lida com a questão conforme a vontade do prefeito", diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.
              Ele lembra que, muitas vezes, o plano de saneamento de uma cidade da Bacia do Rio Tietê é prejudicado pela falta de investimentos do município vizinho. "Como o meio ambiente não tem fronteira, a poluição percorre vários pontos da bacia e os resultados acabam sendo pequenos, Não adianta uma cidade tratar 100% se a outra não trata nada. Grandes municípios como Guarulhos, por exemplo, têm níveis de tratamento muito baixos."
              Historicamente apontada como umas das cidades menos compromissadas com a questão do saneamento, Guarulhos despejava todo o esgoto de seu 1,2 milhão de moradores direto no Rio Tietê. Há pouco mais de dois anos, porém, conseguiu pôr em prática o projeto de uma década e saltou para 35% de tratamento.
              "Em abril, fechamos acordo para a construção da terceira estação de tratamento. Em um ano, pretendemos tratar 50% do esgoto da cidade", diz Afrânio de Paula Sobrinho, superintendente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), empresa responsável pelo saneamento do município. Segundo o engenheiro, mesmo fora do Projeto Tietê, Guarulhos tem a meta de chegar a 80% de tratamento até 2016.
              100%. Na Região Metropolitana, os únicos municípios que têm 100% de coleta e tratamento de esgoto são Salesópolis, onde fica a nascente do Rio Tietê, e São Caetano do Sul. No total, 51 cidades da bacia têm esse status - a maioria fica em regiões próximas a Jaú e Araçatuba. Esta última, por sinal, é a mais populosa da lista, com pouco mais de 180 mil habitantes. Os dois córregos da cidade, Ribeirão Baguaçu e Córrego Lafon, estão preservados. "A cidade não tem problemas com a destinação do esgoto, a não ser em casos pontuais de vazamentos, que são logo resolvidos", diz José Luiz Fares, presidente do Departamento de Água e Esgoto de Araçatuba (Daea). / COLABOROU RODRIGO BURGARELLI


              Artigo impressionante na FSP de hoje, do caderno New York Times, 17/9/12

              Marfim de sangue
              Demanda chinesa alimenta massacre de elefantes na África
              TYLER HICKS/THE NEW YORK TIMES
              Quadrilhas armadas estão matando elefantes aos milhares no Congo, aproveitando os altos preços do marfim.
              Quadrilhas armadas estão matando elefantes aos milhares no Congo, aproveitando os altos preços do marfim.
              Por JEFFREY GETTLEMAN
              Garamba National Park,
              República Democrática do Congo
              Em 30 anos combatendo caçadores ilegais, Paul Onyango nunca tinha visto nada assim. Vinte e dois elefantes mortos juntos no meio da savana, muitos abatidos com uma única bala na parte superior da cabeça.
              Não havia rastros que se afastavam dos elefantes, nem qualquer sinal de que os caçadores tivessem rastreado os animais em terra. As presas tinham sido cortadas fora, mas a carne dos animais continuava intacta.
              Vários dias depois, no início de abril, guardas do Parque Nacional de Garamba viram um helicóptero militar de Uganda sobrevoando o parque em altitude muito baixa, num vôo não autorizado, mas disseram que, ao ser detectado, o helicóptero virou abruptamente e foi embora. Funcionários do parque, cientistas e as autoridades congolesas agora acreditam que foram militares ugandenses que mataram os 22 elefantes, desde um helicóptero, e levaram embora marfim no valor de mais de US$ 1 milhão.
              "Os disparos foram feitos com precisão", disse Onyango, chefe dos guardas-florestais de Garamba. "Eles atiraram até nos filhotes. Por que? É como se tivessem vindo para cá para destruir tudo."
              A África está passando por uma matança épica de elefantes. Grupos conservacionistas dizem que os caçadores ilegais estão exterminando dezenas de milhares de elefantes por ano, mais que em qualquer momento das duas décadas passadas, e o comércio ilegal de marfim está se militarizando.
              O marfim, ao que tudo indica, é o mais recente recurso natural africano envolvido em conflitos. Alguns dos mais notórios grupos armados do continente, incluindo o Exército de Resistência do Senhor, o Shabab e os "janjaweeds" de Darfur, vêm caçando elefantes e usando suas presas para comprar armas e levar adiante sua violência e caos. Quadrilhas organizadas estão formando ligações com eles para transportar o marfim pelo mundo afora, aproveitando a existência de Estados turbulentos, fronteiras porosas e autoridades corruptas da África subsaariana até a China, dizem autoridades policiais.
              Mas não são apenas agentes fora da lei que lucram. Membros de alguns dos Exércitos africanos que o governo americano treina e apoia -em Uganda, no Congo e no Sudão do Sul- estão envolvidos na caça ilegal de elefantes e no tráfico internacional de marfim.
              Segundo especialistas, até 70% do marfim ilegal está indo para a China, e, embora os chineses cobicem o marfim há séculos, nunca antes tantos chineses têm tido os meios de possuí-lo. O boom econômico chinês criou uma classe média enorme, fato que empurrou o preço do marfim para o preço estratosférico de US$ 500 por quilo nas ruas de Pequim.
              Mais de 150 cidadãos chineses foram presos em toda a África no ano passado, do Quênia à Nigéria, por contrabando de marfim. E há indicações crescentes de que a caça ilegal de elefantes aumenta em áreas onde os animais estão presentes e em que operários chineses estão construindo estradas.
              "A China está no epicentro da demanda", disse um funcionário sênior do Departamento de Estado dos EUA, Robert Hormat. "Sem a demanda chinesa, este comércio praticamente deixaria de existir."
              Com frequência, soldados congoleses são presos por caça ilegal e tráfico de marfim. As forças armadas do Sudão do Sul com frequência entram em choque com guardas-florestais.
              A Interpol está ajudando a investigar as matanças em massa no parque de Garamba, procurando comparar amostras de DNA dos crânios dos elefantes com um grande carregamento de presas apreendido recentemente num aeroporto de Uganda em caixas rotuladas "artigos domésticos".
              As presas de um elefante adulto podem valer mais de dez vezes a renda anual média dos habitantes de muitos países africanos. Na Tanzânia, camponeses miseráveis vêm envenenando abóboras e colocando-as nas estradas para que os elefantes as comam.
              No ano passado, o volume de marfim ilegal apreendido em todo o mundo marcou um recorde, com 38,8 toneladas (o equivalente às presas de mais de 4.000 elefantes mortos). A polícia vê esse fato como indício claro de que o crime organizado penetrou no submundo do marfim, porque apenas uma máquina criminal experiente seria capaz de transportar centenas de quilos de presas por distâncias de milhares de quilômetros.
              Os traficantes são " parte de organizações criminosas que operam na África e são comandadas desde a Ásia", diz Tom Milliken, diretor do Sistema de Informações sobre o Comércio de Elefantes, projeto internacional de monitoramento do marfim.
              Richard Ruggiero, do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, comentou: "Estamos passando pela maior perda percentual de elefantes na história".
              Para alguns especialistas, a própria sobrevivência da espécie está em risco. "As enormes populações de elefantes da África Ocidental já desapareceram e os elefantes do centro e leste do continente estão sumindo em ritmo acelerado", disse o ecologista Andrew Dobson, da Universidade Princeton, de Nova Jersey. "A questão é: queremos ver nossos filhos crescerem num mundo sem elefantes?"
              'Atiramos primeiro'
              Garamba é considerado um dos parques naturais mais impressionantes da África. Hoje, porém, é um verdadeiro campo de batalha. Todas as manhãs, os 140 guardas-florestais do parque se equipam com fuzis, metralhadoras e granadas impelidas por foguetes.
              "Não negociamos, não damos qualquer aviso -atiramos primeiro", contou Onyango.
              Em junho, ele ouviu uma rajada de disparos. Seus homens passaram horas arrastando-se de barriga pelo capim alto, até verem caçadores ilegais talhando vários elefantes. No instante em que eles atiraram contra os caçadores ilegais, a área toda pareceu ganhar vida, com disparos por todo lado.
              "A maioria dos caçadores ilegais economiza munição, mas esses caras estavam disparando como se estivessem no Iraque. De repente nos vimos em desvantagem", disse ele.
              Naquele dia, as duas metralhadoras velhas usadas pelos guardas-florestais emperraram e eles escaparam com vida por pouco. Onze guardas-florestais foram mortos desde 2008 e alguns guardas tiveram seus filhos sequestrados. Uma investigação posterior indicou que os caçadores ilegais eram integrantes do Exército de Resistência do Senhor, um grupo rebelde brutal que circula pela África central, matando camponeses e escravizando crianças. Acredita-se que o líder do grupo, o foragido Joseph Kony, esteja escondido num canto remoto da República Centro-Africana.
              O marfim talvez seja a nova fonte de recursos que esteja garantindo a sobrevivência de Kony. Várias pessoas que escaparam do grupo disseram que Kony ordenou a seus combatentes matarem o maior número possível de elefantes e lhe enviarem as presas.
              Vários comerciantes sudaneses de marfim disseram que o marfim do Congo e da República Centro-Africana atravessa a grande região sudanesa desértica de Darfur e, de lá, vai para Omdurman, ao norte, com a ajuda de autoridades sudanesas corruptas.
              Na costa oriental da África, o porto queniano de Mombaça é um importante centro de traslado do marfim. Uma porcentagem relativamente pequena dos contêineres que passam pelo porto é inspecionada e o marfim já foi transportado escondido em carregamentos de abacates ou anchovas.
              Vários comerciantes sudaneses de marfim e representantes ocidentais disseram que as infames milícias janjaweed, de Darfur, também praticam a caça ilegal em grande escala. Hoje, suspeita-se que centenas de milicianos janjaweeds tenham viajado a cavalo mais de 950 km, vindos do Sudão, e abatido pelo menos 300 elefantes no Parque Nacional de Bouba Ndjida, nos Camarões, em janeiro.
              Dinheiro para militantes
              Em 2010, soldados ugandenses que estavam à procura de Joseph Kony nas florestas da República Centro-Africana toparam com uma caravana de janjaweeds transportando marfim. "Havia 400 homens, mulas de carga, um grande acampamento, armas em grande quantidade", disse um diplomata ocidental. Seguiu-se uma batalha e mais de dez ugandenses foram mortos.
              Vários líderes somalis disseram que o grupo militante islâmico Shabab, que jurou fidelidade à Al Qaeda, começou recentemente a treinar combatentes para infiltrar o vizinho Quênia, matar elefantes e extrair seu marfim, para levantar recursos para o grupo.
              Um antigo aliado do Shabab disse que o grupo vem prometendo "facilitar a venda" do marfim e que incentivou camponeses na fronteira entre o Quênia e a Somália e lhes levar presas de elefantes, que em seguida vão para o porto de Kismayo, conhecido centro de contrabando e última cidade importante que ainda se encontra sob controle do Shabab.
              "É um negócio de alto risco, mas que traz lucros excepcionais", comentou Hassan Majengo, morador de Kismayo que acompanha o comércio de marfim.
              Em Garamba, os guardas-florestais já prenderam muitos soldados do governo congolês, alguns dos quais foram detidos com presas, pedaços de carne de elefante, e vestindo as boinas vermelhas usadas por membros da guarda presidencial de elite.
              Um promotor militar congolês, o major Jean-Pierre Mulaku, reconheceu: "Alguns elementos de nosso Exército estão envolvidos. É dinheiro fácil."
              Segundo o cientista americano John Hart, um dos principais pesquisadores sobre elefantes no Congo, "militares congoleses estão envolvidos em quase todas as atividades de caça ilegal de elefantes", fazendo das forças armadas "as maiores envolvidas na matança ilegal de elefantes na RDC".
              Os guardas-florestais de Garamba e um funcionário de inteligência do governo congolês dizem que também combatem rotineiramente soldados do Exército de Libertação do Povo do Sudão, o Exército do Sudão do Sul.
              Mas a suposta caça ilegal feita com helicópteros é novidade. A organização de conservação African Parks, com sede na África do Sul e que administra o parque de Garamba, tem fotos de um helicóptero Mi-17 de transporte militar sobrevoando o parque em baixa altitude em abril e disse que, pelo número de registro, identificou o aparelho como sendo das Forças Armadas de Uganda.
              Ninguém sabe quantos elefantes estão sendo exterminados todos os anos, mas muitos conservacionistas concordam que são "dezenas de milhares" e que 2012 provavelmente será pior que 2011.
              Alguns dos elefantes abatidos recentemente tinham sido sexualmente mutilados, com seus mamilos ou genitália cortados, possivelmente para serem vendidos. É algo que os pesquisadores dizem que não tinham encontrado antes.
              Garamba enfrenta desafios aparentemente infinitos, muitos deles ligados à falência completa do próprio Congo. Alguns dos guardas-florestais são caçadores ilegais, eles próprios, matando os animais que são encarregados de proteger. Dizem que seus salários são muito baixos para possibilitar sua sobrevivência.
              Houve época em que o Parque Nacional de Garamba tinha mais de 20 mil elefantes. No ano passado, havia cerca de 2.800. Neste ano, há possíveis 2.400.
              "É como a guerra das drogas", disse Luis Arranz, o administrador do parque. "Enquanto as pessoas continuam a comprar e pagar pelo marfim, é impossível acabar com o tráfico."
              Isma'il Kushkush colaborou com reportagem de Omdurman, Sudão; Mia Li de Pequim; e um jornalista somali de Mogadishu, na Somália

              Esse artigo vem da FSP de hoje, 10 de setembro, caderno New York Times.
              Frota é movida a algas e gordura de galinha
              Por DIANE CARDWELL
              Quando a Marinha dos Estados Unidos colocou em manobras uma frota no Pacífico com um coquetel de biocombustíveis de US$ 12 milhões, neste verão, provou que os navios de guerra podem operar com diesel fabricado com algas ou gordura de galinha.
              "Funciona com os motores que temos, funciona nos aviões que temos e funciona nos navios que temos", disse Ray Mabus, o secretário da Marinha. "É perfeito."
              Os combustíveis experimentais também são caros -cerca de US$ 7 por litro do combustível usado na demonstração, em comparação com US$ 1 por litro de combustíveis militares convencionais.
              E isso os transformou em um ponto de atrito em uma grande batalha política sobre o financiamento do governo a novas tecnologias energéticas.
              "O senhor não é o secretário da Energia", o deputado republicano Randy Forbes, da Virgínia, criticou Mabus em fevereiro. "O senhor é o secretário da Marinha."
              A demonstração naval -conhecida como Grande Frota Verde- fez parte de um programa de US$ 510 milhões em três anos, entre várias agências, para ajudar os militares a desenvolver alternativas ao combustível convencional. É uma pequena fração do orçamento anual de US$ 650 bilhões do Pentágono.
              Mas como o Departamento da Defesa enfrentará cortes de verbas de US$ 259 bilhões nos próximos cinco anos, alguns legisladores afirmam que os militares não deveriam gastar milhões para desenvolver novos mercados de combustível, quando estão comprando menos equipamento e considerando o corte de salários.
              Esta fase da exploração de combustíveis alternativos pelos militares surgiu de uma força-tarefa reunida em 2006 para explorar maneiras de reduzir a dependência do petróleo. Se os militares tivessem menos necessidade de transportar e proteger o combustível que vem do Oriente Médio, dizia a teoria, as forças de combate poderiam ser mais flexíveis e eficazes, e menos vidas seriam colocadas em risco.
              As primeiras iniciativas incluíam desenvolver combustíveis líquidos a partir de carvão e gás natural. Mas esses combustíveis não cumpriam as exigências de custo ou ambientais, segundo as autoridades.
              O Pentágono se concentrou em biocombustíveis avançados, que em geral são feitos de rações de animais e plantas que não competem com usos alimentares, uma preocupação com os combustíveis renováveis comuns, como o etanol baseado em milho usado em carros.
              Mas os investidores têm desconfiado das enormes quantias que são necessárias para desenvolver os combustíveis. Autoridades da indústria dizem que ter um cliente grande e constante como os militares poderia atrair outros investidores para financiar grandes refinarias, que reduziriam os custos através de economias de escala. As autoridades militares dizem que suas compras de pequenas quantidades para testes já ajudaram a reduzir os custos. Em 2009 o Pentágono gastou mais de US$ 100 por litro em óleo de algas da Solazyme.
              Sharon E. Burke, secretária-assistente de Defesa para planos e programas de energia operacional, disse que os gastos com biocombustíveis foram de apenas 7% do orçamento de US$ 1,6 bilhão que os militares solicitaram para iniciativas para melhorar a utilização de energia no próximo ano fiscal. Seus esforços incluem usar geradores de eletricidade a diesel mais eficientes, colocar motores mais verdes em veículose usar baterias híbridas solares.
              E o Exército recentemente abriu licitação de US$ 7 bilhões para projetos de energias renováveis.
              O programa de biocombustível tocou um nervo dos republicanos. O deputado Mike Conaway, do Texas, que apresentou legislação para limitar a compra e produção de biocombustível, disse que os democratas estão usando os militares para promover uma agenda ambiental.
              "Nós queremos exigir que o Departamento de Defesa faça exatamente o que qualquer americano faz quando compra combustível: tenta conseguir o melhor preço possível", disse ele.
              Enquanto o governo Obama parece aberto a desenvolver instalações e produção de biocombustível comercial, Mitt Romney, seu adversário republicano, indicou que a ênfase do Pentágono para o uso de mais energia limpa não seria uma prioridade em seu governo.
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              Esse artigo eu só li hoje, 13 de agosto, mas é do final de junho deste ano. Do New York Times.


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              federal court decision on Tuesday upholding the Environmental Protection Agency’s landmark rulings to control greenhouse gases was a decisive victory for the Obama administration and a devastating blow to polluters. It vindicated the administration’s strategy of controlling emissions through regulation and showed good sense at a time when both the agency and the science of global warming are under relentless Congressional attack.
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              The unanimous decision by a three-judge panel of the United States Court of Appeals for the District of Columbia covered dozens of suits from industry groups and 14 states challenging four rules that are components of the administration’s effort to limit greenhouse gases.
              The most important of these — the bedrock from which the other rules flowed — was the agency’s “endangerment finding” in 2009 that carbon dioxide and other greenhouse gas emissions constitute a danger to public health and could thus be regulated under the Clean Air Act. The judges said the agency’s reading of its authority had been “unambiguously correct” and that the agency had based its case on careful research and sound science.
              The court upheld three related regulations, including the first round of clean car and fuel economy standards covering model years 2012-16, issued by the E.P.A. and the Transportation Department in 2009 and aimed at significantly reducing greenhouse gases from cars and light trucks while improving fuel efficiency. It also upheld rules establishing a timetable for controlling emissions from stationary sources like power plants and “tailoring” those controls so that only the largest emitters are covered.
              President Obama had hoped that Congress would tackle greenhouse gases through legislation. When that did not happen, the administration had to use its authority under the clean air laws.
              With that power firmly ratified, the E.P.A. can now move ahead with the second round of clean car standards proposed last year and a final rule on power plants. Both will be good news for the planet.


              Da Folha de São Paulo de 3 de agosto de 2012


              03/08/2012 - 14h00

              Estudo sobre mudanças climáticas pretende fazer céticos mudarem de ideia

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              LEO HICKMAN
              DO "GUARDIAN"

              A superfície da Terra ficou 1,5ºC mais quente nos últimos 250 anos e o aumento de temperatura se deve quase inteiramente ao homem, revela um estudo científico. O estudo foi feito para analisar as dúvidas dos céticos climáticos que questionam a afirmação de que o aquecimento global induzido pelo homem está ocorrendo.
              Bob Strong/Reuters
              Iceberg flutua perto na Groenlândia; temperatura global sobe desde o século 19 e aquecimenoo acelera
              Iceberg flutua perto na Groenlândia; temperatura global sobe desde o século 19 e aquecimenoo acelera
              O professor Richard Muller, físico e cético das mudanças climáticas que fundou o projeto Berkeley da Temperatura da Superfície Terrestre (Best, na sigla em inglês), disse ter ficado surpreso com as descobertas.
              "Não esperávamos isso, mas, como cientistas, é nosso dever deixar que as evidências mudem nossas opiniões." Ele acrescentou que agora se considera um "cético convertido" e que suas opiniões sofreram uma "reviravolta total" em um prazo curto de tempo.
              "Nossos resultados mostram que a temperatura média da superfície da Terra subiu 2,5ºF nos últimos 250 anos, incluindo uma elevação de 1,5ºC ao longo dos últimos 50 anos. Ademais, parece provável que toda essa elevação tenha resultado por causa das emissões humanas de gases estufa", escreveu Muller em artigo para o "New York Times".
              A equipe de cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley colheu e fundiu 1,4 milhão de observações de temperatura terrestre de 44.455 locais em todo o mundo, datadas de a partir de 1753.
              Os conjuntos anteriores de dados criados pela Nasa, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA, o Escritório Meteorológico britânico e a unidade de pesquisas climáticas da Universidade de East Anglia vinham desde apenas meados do século 19 e eram baseados em um quinto da quantidade de registros de estações meteorológicas.
              O financiamento do projeto incluiu US$ 150 mil da Fundação Beneficente Charles G. Koch, criada pelo bilionário magnata americano do carvão Charles Koch, que é um dos apoiadores principais do "think tank" Instituto Heartland, cético das mudanças climáticas. A pesquisa também recebeu US$ 100 mil do Fundo para Pesquisas Climáticas e Energéticas Inovadoras, criado por Bill Gates.
              Diferentemente de esforços anteriores, os dados de temperatura obtidos de fontes diversos não foram homogeneizados à mão, algo que tinha suscitado uma das críticas principais dos céticos climáticos. Ao invés disso, a análise estatística foi "completamente automatizada para reduzir o viés humano". A equipe do Best concluiu que, apesar de sua análise mais profunda, suas conclusões corresponderam de perto às reconstruções anteriores da temperatura, "só que com incerteza reduzida".
              Em outubro passado a equipe do Best publicou resultados indicando que temperatura terrestre global média subiu cerca de 1ºC desde meados da década de 1950. Mas a equipe não procurou possíveis impressões digitais que explicassem esse aquecimento.
              A análise mais recente chegou a um passado muito mais distante, mas, crucialmente, também procurou a mais provável causa da elevação da temperatura. Ela analisou o impacto aquecedor da atividade solar --uma teoria popular entre os céticos climáticos--, mas constatou que, nos últimos 250 anos, a contribuição do Sol tem "correspondido a zero".
              Constatou-se que erupções vulcânicas provocaram quedas curtas na alta da temperatura no período de 1750-1850, mas "apenas análogos fracos" no século 20.
              "Para minha grande surpresa, de longe a melhor correspondência foi com o registro do dióxido carbônico atmosférico, medido em amostras atmosféricas e em ar preso no gelo polar", disse Muller. "Embora isto não comprove que o aquecimento global seja causado por gases estufa emitidos pelo homem, neste momento essa é a melhor explicação que encontramos. Outras teorias alternativas terão que superar esta explicação."
              "TRANSPARÊNCIA TOTAL"
              Muller disse que as conclusões de sua equipe vão mais longe e são mais fundamentadas que o relatório mais recente lançado pelo Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas.
              Numa iniciativa não convencional que visa apaziguar os céticos climáticos, pelo fato de permitir "transparência total", os resultados foram divulgados publicamente pelo "Journal of Geophysical Research" antes de serem submetidos a uma revisão por pares.
              Todos os dados e análises se encontram no site da Best, onde podem ser estudados livremente. Isso segue o padrão adotado por resultados anteriores obtidos pelo Best, nenhum dos quais até agora foi publicado em periódicos submetidos a revisão por pares.
              Quando o projeto Best foi anunciado, no ano passado, o conhecido blogueiro cético climático Anthony Watts foi consultado sobre a metodologia. Ele declarou na época: "Estou disposto a aceitar qualquer resultado que eles produzirem, mesmo que ele desminta minhas premissas". Desde então, contudo, surgiram tensões entre Watts e Muller.
              Os primeiros indicativos sugerem que é pouco provável que os céticos climáticos aceitem plenamente os resultados mais recentes do Best. A professora Judith Curry, climatologista do Instituto Georgia de Tecnologia, diretora de um blog popular entre céticos climáticos e membro consultivo da equipe Best, disse ao "Guardian" que o método usado para atribuir o aquecimento às emissões humanas foi "simplista e nada convincente, em minha opinião".
              Ela acrescentou: "Não creio que esta pergunta possa ser respondida com as curvas simples usadas neste artigo, e não creio que o artigo acrescente qualquer coisa à nossa compreensão das causas do aquecimento recente".
              "BASTÃO DE HÓQUEI"
              O professor Michael Mann, paleoclimatologista da Universidade Penn State que vem enfrentando hostilidade de céticos climáticos por seu famoso gráfico do "bastão de hóquei", mostrando uma elevação rápida das temperaturas no século 20, disse que saúda os resultados do Best, já que "demonstram de novo algo que os cientistas sabem com algum grau de certeza há quase duas décadas".
              Ele acrescentou: "Aplaudo Muller e seus colegas por agirem como agiria qualquer cientista digno, seguindo o rumo indicado por suas análises, sem levar em conta possíveis repercussões políticas. Em função do que descobriram, eles certamente serão criticados pela turma dos negadores profissionais das mudanças climáticas."
              Muller disse que a análise de sua equipe sugere que a temperatura da superfície terrestre vai subir 1,5ºC nos próximos 50 anos, mas que, se a China continuar com seu crescimento econômico acelerado e seu consumo enorme de carvão, o mesmo aquecimento poderá ocorrer em menos de 20 anos.
              "A ciência é aquele campo estreito de conhecimento que, em princípio, é universalmente aceito", escreveu Muller. "Iniciei esta análise para encontrar respostas a perguntas que, a meu ver, não tinham sido respondidas ainda", disse.
              "Espero que a análise Berkeley Earth ajude a resolver as divergências científicas com relação ao aquecimento global e suas causas humanas. A parte difícil virá em seguida: chegar a um acordo, envolvendo todo o espectro político e diplomático, sobre o que pode e deve ser feito."
              Tradução de CLARA ALLAIN.


              Do caderno New York Times da FSP de hoje, 2.7.12



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              Casas frescas, planeta quente
              Alívio do calor traz nova ameaça ao clima global
              Casas mais frescas causam preocupação global

              Kuni Takahashi/The New York Times
              O aumento da demanda por condicionadores de ar em cidades como Mumbai implica maiores emissões de gases que contribuem para o aquecimento global
              O aumento da demanda por condicionadores de ar em cidades como Mumbai implica maiores emissões de gases que contribuem para o aquecimento global

              Por ELISABETH ROSENTHAL e ANDREW W. LEHREN
              A indiana Jayshree Punjabi, 40, recentemente pesquisava um ar-condicionado para comprar em Mumbai. Ela adquiriu o seu primeiro há dez anos. Hoje, já tem três. "Agora quase toda casa em Surat tem mais do que um", disse ela, referindo-se à cidade onde vive. "As crianças veem na televisão e pedem."
              O ar-condicionado virou símbolo de status para a classe média de países em desenvolvimento. É mais barato que um carro e importante em regiões abafadas, onde a refrigeração doméstica pode facilitar o estudo de uma criança ou o sono de um trabalhador.
              Porém, os cientistas estão cada vez mais alarmados com o impacto dos gases que os alimentam. Todos eles são agentes do aquecimento global.
              As vendas de condicionadores de ar crescem 20% ao ano na China e na Índia, refletindo a expansão da classe média, o barateamento dos aparelhos e a elevação das temperaturas em decorrência da mudança climática.
              Os gases de refrigeração são regulamentados principalmente pelo Protocolo de Montréal (1987), criado para proteger a camada de ozônio. O clorofluorcarboneto (CFC), altamente nocivo à camada de ozônio, já foi praticamente abandonado. Os gases mais novos, muito usados em nações industrializadas, têm pouco ou nenhum efeito sobre ela.
              Mas esses gases têm um impacto que o tratado sobre o ozônio praticamente ignora. Em termos de peso, eles contribuem com o aquecimento global num grau milhares de vezes superior ao do dióxido de carbono (CO2), o mais conhecido dos gases de efeito estufa.
              Cientistas calcularam recentemente que, se todos os equipamentos que entrarem no mercado mundial usarem os gases atualmente empregados na refrigeração de ambientes, em 2050 eles serão responsáveis por até 27% de todo o aquecimento global.
              Assim, o remédio contra um desastre ambiental está provocando outro. "Há um tempo escasso e precioso para tomarmos alguma atitude", disse Stephen Andersen, copresidente do comitê consultivo técnico e econômico do tratado.
              A concentração atmosférica dos gases que substituíram o CFC, conhecidos como HCFCs, que são moderadamente nocivos ao ozônio, mais do que duplicou nas últimas duas décadas.
              E as concentrações de gases ainda mais novos, inofensivos ao ozônio, também estão crescendo de forma meteórica, porque os países industrializados começaram a adotá-los há uma década. Os novos condicionadores de ar comercializados nos EUA usam um gás refrigerante que poupa o ozônio, mas seu efeito para o aquecimento global é 2.100 vezes superior ao do CO2. O tratado não pode regulamentá-los, pois abrange apenas gases nocivos ao ozônio.
              O cronograma do tratado prevê que nações em desenvolvimento, como China e Índia, reduzam seu consumo de HCFCs em 10% até 2015, e que, a partir do ano que vem, comecem a substituí-los por gases menos prejudiciais ao ozônio. Os EUA e outros países ricos estão incentivando os países em desenvolvimento a adotar gases que não aqueçam o planeta.
              Basicamente, os EUA estão pedindo que os outros países façam o que os próprios americanos não fizeram: que saltem a atual geração de gases refrigerantes. O problema é que gases refrigerantes melhores não estão à venda.
              Aparelhos e gases que não contribuam para o aquecimento global já foram desenvolvidos, mas exigem aprovações das agências reguladoras e novas regras de segurança, pois tais gases costumam ser inflamáveis ou tóxicos. Porém, com os lucros disparando com os atuais sistemas de refrigeração e a falta de uma regulamentação efetiva dos HCFCs, há pouco incentivo para que haja novidades no mercado.
              Em 2006, cientistas da Nasa concluíram que a camada de ozônio estava se regenerando. Mas essa sensação de vitória tem sido ofuscada pelo crescimento das emissões decorrentes de novos gases de refrigeração. Embora uma camada de ozônio mais saudável por si só já cause algum aquecimento, outro bem maior resulta da tendência desses gases refrigerantes de refletirem o calor que irradia da Terra.
              Em meados da década de 1980, quando o tratado estabeleceu suas regras, a demanda por refrigeração era ínfima nos países em desenvolvimento. Em 2011, porém, 55% dos novos condicionadores de ar já eram vendidos na região da Ásia/Pacífico, e a produção desses aparelhos se transferiu para lá. No ano passado, a China fabricou mais de 70% dos aparelhos domésticos de ar-condicionado do mundo, para uso local e para exportação. O gás refrigerante mais comum neles é o HCFC-22.
              Com o HCFC-22 de baixo custo da Ásia invadindo o mercado, os esforços para restringir seu uso foram prejudicados. Por exemplo, embora a lei americana proíba a venda de unidades novas com HCFC, as lojas passaram a comercializar componentes vazios que podem ser enchidos com o gás barato depois da instalação, permitindo a continuidade do seu uso.
              Eliminar gradualmente os HCFCs seria uma das medidas com melhor relação custo-benefício para a redução do aquecimento global, disse Durwood Zaelke, presidente do Instituto para a Governança e o Desenvolvimento Sustentável.
              Mas Índia, China e Brasil se opõem e argumentam que isso afetaria o seu desenvolvimento. Todos os substitutos aceitáveis em fase de desenvolvimento para os condicionadores de ar estão sob patentes, exigem novos equipamentos ou precisam de amplas regulamentações e testes.
              Interesses comerciais favorecem o impasse. Fabricantes politicamente influentes, como a Gujarat Fluorochemicals (Índia), a Companhia Química Zhejiang Dongyang (China) e a Quimbasicos (México, parcialmente pertencente à americana Honeywell) prosperam fabricando gases de refrigeração, chegando a receber subsídios da ONU para isso.
              Os fabricantes relutam em apressar a chegada de novas tecnologias ao mercado enquanto não receberem um sinal mais forte sobre quais países irão adotá-las, disse Mack McFarland, cientista atmosférico da DuPont.
              O Protocolo de Montreal já começou a usar suas limitadas ferramentas para estimular os países em desenvolvimento a trocarem os HCFCs por soluções mais inofensivas ao clima, oferecendo o pagamento de um bônus de 25%. Mas especialistas dizem que isso não é o suficiente para incentivar as mudanças drásticas necessárias na concepção, fabricação, regulamentação e assistência técnica das máquinas.
              Até mesmo pequenos passos adiante têm sido frustrados. No ano passado, a União Europeia começou a exigir que as fábricas de automóveis usem substâncias refrigerantes inofensivas ao clima, o que era uma transição vista como relativamente simples. Um composto chamado 1234yf foi considerado adequado. Mas, neste ano, a UE adiou o plano: fábricas chinesas que produzem essa substância ainda estão obtendo registro governamental. A patente, pertencente à Honeywell, está sendo contestada. E a Alemanha não concluiu os testes de segurança.
              A GIZ Proklima, agência do governo alemão, está promovendo o uso de aparelhos de ar-condicionado inofensivos para o clima na Índia e na China. "As tecnologias estão disponíveis", disse Markus Wypior, funcionário da agência. "Elas são bem conhecidas. Estão provadas, embora não em escala industrial. Então por que não estamos avançando?"


              Essa aqui vem do caderno New Yor Times da FSP de ontem, 4.6.12


              O novo dilema dos zoos
              Por LESLIE KAUFMAN
              ST. LOUIS, Missouri - Com o aumento do número de espécies em risco de extinção, os zoológicos estão cada vez mais sendo chamados para resgatar e manter animais -não apenas aqueles que atraem espectadores, como pandas e rinocerontes, mas também mamíferos, rãs, aves e insetos de todos os tipos.
              Mas os zoos concluíram que, para conservar animais de modo eficiente, precisam reduzir o número de espécies das quais cuidam e dedicar mais recursos a poucos escolhidos. O resultado é que os responsáveis pelos zoos, geralmente amantes dos animais, estão sendo cada vez mais pressionados a calcular quais animais, em detrimento de outros, devem salvar.
              A missão dos zoos deixou de ser entreter o público, para se dedicar à conservação. "Nós, como sociedade, temos que decidir se é ético e moralmente apropriado expor animais para a simples finalidade de entretenimento", disse Steven L. Monfort, diretor do Instituto de Conservação Biológica Smithsonian, que faz parte do Zoo Nacional de Washington. "Na minha opinião, é preciso que os zoos tenham o papel de defender espécies animais."
              Monfort quer que os zoos levantem mais recursos para a conservação de animais na natureza e que esse esforço ganhe importância igual à de suas coleções de animais cativos. Os zoos, disse ele, precisam construir instalações -não necessariamente abertas ao público- suficientemente grandes para receber rebanhos de animais, possibilitando comportamentos reprodutivos mais naturais. Também para Monfort, é preciso dar menos ênfase a animais que constituem atrações populares, mas estão sobrevivendo bem na natureza, para dar espaço àqueles que precisam urgentemente ser salvos da extinção.
              Muitos diretores de zoológicos acham que uma reordenação radical não é necessária e que cada zoo faz um trabalho valioso, mesmo que conserve poucas espécies.
              No primeiro século de sua existência, os zoos americanos buscavam animais selvagens na natureza e os exploravam principalmente por seu valor de entretenimento. Quando os ambientes selvagens começaram a desaparecer, junto com seus animais, os responsáveis pelos zoos se tornaram protetores e salvadores. Desde 1980, os zoos desenvolvem programas coordenados de criação que salvaram dezenas de espécies do perigo de extinção.
              O desafio, cada vez mais difícil, é praticar a conservação e ao mesmo tempo continuar a expor animais para atrair o público pagante. Os leões-marinhos, por exemplo, estão se dando muito bem na natureza, mas o zoo de St. Louis decidiu gastar US$ 18 milhões em uma nova piscina com filtro e acréscimo de ozônio, para favorecer a claridade. Isso porque os leões-marinhos são muito populares, e o ambiente em que ficavam estava decrépito.
              Jeffrey P. Bonner, o executivo-chefe do zoo, explicou: "Buscamos um ponto de equilíbrio entre a experiência do público e a necessidades de conservação. Se você me perguntar por que tenho camelos, direi que precisamos de algo interessante para as pessoas verem nos fundos do zoo no inverno".
              À medida que os padrões de cuidados com os animais se elevam, e os zoos instalam ambientes maiores e de aparência mais natural, diminui o espaço para mais animais. Na década de 1970, o zoo de St. Louis tinha 36 espécies de primatas. Hoje tem apenas 13.
              Os zoos passaram a entender que, para que os animais possam se reproduzir a longo prazo sem que ocorra a endogamia, é preciso manter "pools" genéticos muito maiores. Há 64 ursos polares vivendo cativos em zoos americanos -muito menos que 200, o número ótimo para manter a população por cem anos.
              Assim, os zoos começaram a aumentar o número de indivíduos de algumas espécies em detrimento de outras. O zoo de St. Louis diz que hoje tem 400 animais a mais do que tinha em 2002, mas 65 espécies ou subespécies a menos.
              Na década de 1990, enquanto aumentavam as pressões em favor da conservação, a Associação de Zoos e Aquários, responsável pelos zoológicos dos Estados Unidos, começou a reunir grupos de especialistas em zoos que analisavam famílias inteiras de espécies e aconselhavam quais delas deveriam ser priorizadas ou abandonadas. Os critérios incluíam a singularidade, o nível de risco de extinção, a importância do papel ecológico do animal e a existência de uma população em cativeiro que seja suficiente para a reprodução. A União Internacional para a Conservação da Natureza estima que quase um quarto dos mamíferos poderá se extinguir nas próximas três gerações. A situação é mais grave para os anfíbios e as aves marinhas.
              No zoo de St. Louis, alguns baldes de terra agora abrigam o "besouro sepultador", que é conhecido por sepultar os corpos de pequenos animais.
              No passado, esse besouro estava presente em 35 Estados. Mas, em 1989, quando o Serviço de Pesca e Vida Silvestre dos EUA o classificou como em risco de extinção, só restava uma população dele, em Rhode Island. A pedido do governo, o zoo de St. Louis e um zoo de Rhode Island vêm criando o besouro e o devolvendo à natureza.
              Bob Merz, o gerente de invertebrados no zoo de St. Louis, diz que o esforço valeu a pena porque o besouro talvez exerça um papel insubstituível na teia ecológica. Para ele, escolher espécies que merecem ser salvas é comparável a fazer apostas com a vida ou a morte. "É como olhar da janela de um avião e ver os rebites da asa", explicou. "Provavelmente podemos perder alguns deles sem maiores problemas, mas não sabemos quantos -e não queremos realmente descobrir."


              Essa vem do Estadão de 22.3.12


              Rios de 11 Estados do País estão poluídos

              Análise da SOS Mata Atlântica não encontra corpos d’água em boa situação

              22 de março de 2012 | 7h 07

              Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo
              Análise feita em 49 rios de 11 Estados brasileiros traz uma má notícia para o Dia Mundial da Água, comemorado hoje: nenhum deles apresentava uma situação considerada boa ou ótima. Em termos de contaminação, 75,5% foram classificados como “regular” e 24,5% com nível “ruim”, de acordo com levantamento conduzido pela SOS Mata Atlântica em localidades que, no passado, foram cobertas pela floresta.
              Vista do Rio Paraíba do Sul, no Rio. Uma das maiores pontuações, sob a classificação ‘regular’ - Helvio Romero/AE - 16/01/2012
              Helvio Romero/AE - 16/01/2012
              Vista do Rio Paraíba do Sul, no Rio. Uma das maiores pontuações, sob a classificação ‘regular’
              As avaliações foram feitas entre janeiro de 2011 e o início de março deste ano durante visitas da expedição itinerante A Mata Atlântica é Aqui, que busca a interação com as populações para alertá-las sobre o problema de contaminação dos rios, riachos, córregos, lagos, etc.
              No evento, as pessoas são convidadas a investigar as condições de um ou mais corpos d’água por meio de um kit de análise da água. “É feita assim uma avaliação pontual, um retrato da situação naquele dia. E o resultado é bastante preocupante. Não encontramos nenhum rio em situação satisfatória”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS.
              O kit classifica a qualidade das águas em cinco níveis de pontuação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos). Malu explica que os níveis de pontuação são compostos pelo Índice de Qualidade da Água (IQA), padrão definido no Brasil por resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), obtido pela soma da pontuação de 14 parâmetros físico-químicos, biológicos (como temperatura, vermes, coliformes fecais e oxigênio dissolvido) e de percepção, como odor, turbidez e presença de espumas, de lixo, de peixes.
              Segundo a pesquisadora, os dois principais responsáveis pela contaminação são a agricultura irrigada - que, segundo ela, “capta grande volume de água e devolve agrotóxicos e erosão” - e a falta de saneamento básico, que permite que o esgoto doméstico seja jogado nos corpos d’água.
              “Nossa campanha visa a população porque só com mobilização da sociedade esse quadro vai mudar. Mas esse ainda não é visto como um problema prioritário. Na última eleição presidencial, falta de saneamento era só a oitava preocupação das pessoas”, diz a pesquisadora.
              Ao longo desse período foram avaliadas amostras nos Estados do Ceará, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Muitos dos rios já tinham sido analisados na primeira expedição, entre maio de 2009 e dezembro de 2010. Em geral, o quadro não melhorou.
              No primeiro levantamento foram feitas 70 análises: 69% dos rios ficaram no nível regular, 27% ruim e 4% péssimo. Alguns passaram de ruim a regular, como o Rio Tietê, em Itu. Já outros caíram um degrau, como o Rio Criciúma, na cidade catarinense do mesmo nome, que perdeu cinco pontos e ficou ruim.

              -- 


              Essa ótima matéria estava no caderno de Economia do Estadão de hoje, 20 de março de 2012.


              Empresas começam a tirar do papel projetos de energia solar no Brasil

              20 de março de 2012 | 3h 05

              FERNANDO SCHELLER - O Estado de S.Paulo
              As empresas do setor elétrico começam a tirar do papel os projetos de pesquisa e desenvolvimento que têm o objetivo de tornar a energia solar economicamente viável no País. No ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou 18 propostas, que totalizam cerca de R$ 400 milhões e buscam encontrar as tecnologias capazes de derrubar o preço da energia fotovoltaica a um terço do cobrado atualmente.
              As empresas têm prazo de três anos para apresentar resultados. Entre os projetos apresentados, os maiores investimentos individuais são os da Tractebel, avaliado em R$ 60 milhões, e o da Companhia Paranaense de Energia (Copel), de R$ 50 milhões. Para testar a viabilidade da energia solar, empresas deverão instalar painéis fotovoltaicos em locais conhecidos de São Paulo, como o Parque Villa-Lobos (projeto de R$ 13 milhões da Companhia Energética de São Paulo - Cesp) e o futuro estádio Itaquerão (investimento de R$ 24 milhões da AES Eletropaulo).
              Na corrida para ganhar conhecimento e competitividade no setor, a Cesp e a CPFL estão trabalhando rapidamente para instalar seus painéis já nos próximos meses. A Cesp informa que a assinatura do contrato para o "plantel" de energia solar no Parque Villa-Lobos será assinado no mês que vem. A expectativa é que os testes comecem até o fim de 2012. Já a CPFL já iniciou o trabalho de seu projeto - que também consumirá R$ 13 milhões - e prevê a conclusão para o início do ano que vem.
              Para economizar investimentos com linhas de transmissão, a CPFL decidiu construir seu projeto na Subestação Tanquinho, em Campinas (SP). Segundo o diretor de estratégia e inovação da CPFL Energia, Fernando Mano, a capacidade instalada é pequena, suficiente para abastecer 650 clientes com consumo de 200 kWh por mês. "Estamos buscando uma forma de aproveitar melhor a insolação do Brasil. E queremos ser pioneiros nesse segmento", afirma Mano.
              Como a ideia é testar tecnologias, a capacidade instalada dos 18 projetos apresentados à Aneel não será suficiente para dar qualquer relevância comercial à energia solar no País. Hoje, são oito projetos em operação no País, que tem relevância zero no total da eletricidade consumida no Brasil. Os oito projetos já em operação não envolvem as companhias elétricas, mas sim institutos de pesquisa, grandes grupos nacionais (caso do EBX, de Eike Batista) e multinacionais como a Dupont.
              Preços. Hoje, o megawatt/hora de origem fotovoltaica custa pelo menos R$ 300, bem mais do que a mesma quantidade de energia proveniente de parques eólicos, vendida por cerca de R$ 100, e de usinas hidrelétricas, que fica um pouco abaixo desse patamar. Como ocorreu com a energia eólica nos últimos oito anos, a ideia é que o preço da energia de fonte solar seja reduzido a um terço do valor atual em poucos anos (leia quadro).
              Um dos motivos para o atraso na energia solar é a relativa segurança energética do Brasil - um dos poucos testes a essa tranquilidade foi o apagão de 2001.
              Segundo Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pressão por fontes alternativas é maior na Europa, por exemplo. "Lá, eles dependem de petróleo e gás importados, que têm um impacto econômico grande, ou então do carvão, que é muito poluente", explica o especialista.
              No entanto, há empresas que já fazem investimentos apostando no crescimento do setor. A Tecnometal, metalúrgica que fatura R$ 350 milhões por ano, já iniciou a produção de placas fotovoltaicas - mercado que terá de disputar com pesos pesados internacionais, como a alemã Siemens. Segundo Bruno Topel, responsável por projetos especiais na empresa, a Tecnometal será fornecedora em pelo menos cinco dos projetos de pesquisa aprovados pela Aneel.
              O executivo admite que os gastos se baseiam apenas na "fé no futuro" do setor. "Ainda estamos no 'dia um do ano zero' da energia solar no Brasil", afirma Topel. Ele ressalta que a empresa está preparada para fornecer um sistema de placas totalmente produzido no Brasil. E diz que a aposta da Aneel na energia solar vem para validar sua crença pessoal no setor. "Venho trabalhando nisso há 30 anos. Pelo menos agora sei que não sou louco."


              Essa outra aqui está entre as mais lidas de hoje, 13.3.12, no G1.


              Fotógrafo produz filme pra provar que aquecimento global é real

              Com o filme Chasing Ice, o fotógrafo James Balog busca provar, de forma definitiva, que o clima está mudando

              por Redação Galileu

              Editora Globo
              Crédito: Divulgação Chasing Ice

              James Balog é um premiado fotógrafo. Em 2005, ele recebeu a missão da publicação National Geographic de ir até o Ártico para fotografar provas das mudanças climáticas no planeta. Cético, ele acreditava que toda essa história de “aquecimento global” era bobagem e que não iria encontrar nada por lá. Mas chegando a seu destino, viu que estava errado. 
              Foi então que surgiu a ideia de gravar Chasing Ice (Perseguindo o Gelo), para conscientizar a população de como as geleiras da região estavam mudando. Para isso, ele iniciou o que chamou de “Extreme Ice Survey” (Pesquisa Radical no Gelo): acompanhado de um grupo de jovens aventureiros, ele posicionou câmeras em lugares perigosos para produzir imagens do derretimento durante alguns anos. 
              Ao assistir à enorme série de fotos tirada de 2007 até 2010, comprimida em vídeos de poucos minutos, é possível ver o impacto que a atividade humana tem na natureza e que, sim, as mudanças climáticas são uma realidade. Balog conseguiu até capturar o momento em que uma enorme massa de gelo (medindo 87 km2, aproximadamente o tamanho de Manhattan) se desprende e vira um iceberg – observação rara até para cientistas especializados. 
              Chasing Ice estreou no Festival de Sundance de 2012, em janeiro, e foi exibido na conferência SWSX, que acontece em Austin nos EUA. O canal da National Geographic comprou os direitos autorais da produção e deve exibi-la em sua programação. 


              Essa notícia está no Estadão de hoje, 31.1.12


              Operação emergencial retira lixo de Noronha

              No total, 1,8 mil toneladas serão levadas para o continente; licitação da empresa responsável pela coleta e transporte dos resíduos está suspensa

              31 de janeiro de 2012 | 3h 01

              MONICA BERNARDES , ESPECIAL PARA O ESTADO / RECIFE - O Estado de S.Paulo
              Cerca de 1,8 mil toneladas de lixo - resíduos sólidos produzidos por moradores e turistas ao longo dos últimos quatro anos - serão retiradas do arquipélago de Fernando de Noronha e levadas até o continente. A primeira parte do carregamento, com cerca de 327 toneladas, chegou ontem de balsa ao Porto de Suape, em Pernambuco. A medida visa à manutenção do equilíbrio ambiental do local, de acordo com a administração da ilha.
              A ação deverá durar de 30 a 40 dias e envolverá cinco caminhões e quatro guindastes, além de uma balsa oceânica de 45 metros, que é guiada por um rebocador de alto-mar e pode transportar até 1,5 mil toneladas. O serviço é feito 24 horas por dia e envolve pelo menos 30 pessoas. Os resíduos estão sendo divididos de acordo com sua composição: plástico, papelão ou metal.
              No desembarque, um guindaste e 28 caminhões ajudaram a transportar os 900 sacos de lixo que serão levados a um aterro sanitário no município de Jaboatão dos Guararapes.
              A opção pelo envio dos resíduos ao continente, em caráter de emergência, aconteceu porque a licitação para a escolha da empresa que coleta e retira o lixo da ilha enfrenta problemas de ordem técnica e está paralisada, aguardando pareceres do Tribunal de Contas do Estado e da administração local.
              Segundo o diretor de infraestrutura do arquipélago, Gustavo Araújo, não há risco de colapso do sistema de coleta. "Estamos trabalhando para garantir que não haja maiores problemas para o meio ambiente, moradores e turistas. Nossa decisão por iniciar a retirada em caráter de emergência aconteceu porque chegamos perto do limite prudencial em nosso depósito."
              O trabalho de remoção e envio dos resíduos sólidos é acompanhado por técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
              Em Fernando de Noronha, apenas o lixo orgânico, que vira adubo, e o vidro, que se transforma em pó usado na construção civil, são tratados. A ilha tem cerca de 3,4 mil moradores que, junto com os 700 visitantes autorizados a entrarem no local, produzem, por dia, 7 toneladas de lixo.


              Excelente matéria do Valor Econômico do dia 20.1.12. O assunto também foi abordado no Estadão de 23.1.12


              Os perigos de um mundo descartável

              Por Bettina Barros | De São Paulo
                
              Quando seu aspirador de pó quebrou, a italiana Giovanna Micconi se revoltou ao saber que a peça de reposição sairia quase o preço de um novo. Valia mais a pena comprar outro, escutou do atendente, apesar dos poucos anos de uso do aparelho. "Algo de muito errado está acontecendo com a nossa sociedade", postou aos amigos no Facebook. Doutoranda em literatura africana pela Universidade de Harvard e residente há alguns anos nos Estados Unidos, ela compartilha um sentimento universal - o de que o tempo de duração das coisas, assim como a percepção do nosso tempo, também parece acabar de forma bem mais rápida.
              Geladeiras que duravam 40 anos e hoje são trocadas em menos de 10, TVs ultrapassadas de uma hora para outra por novas funções, liquidificadores que pifam a um impacto mais forte, computadores que envelhecem assim que saem da caixa. Não importa se esses produtos são comercializados em Boston ou São Paulo. Os bens de consumo duráveis nunca foram tão descartáveis.
              Apanhados pelo ritmo estonteante da evolução tecnológica e por uma acessibilidade sem parâmetros às novas gerações de produtos, os consumidores pós-modernos sofrem de males pós-modernos. Por um lado, vivem dias de exuberância material. Por outro, a angústia de estar preso em uma espécie de "corrida armamentista de consumo" e na tormenta da constatação da obsolescência acelerada e inexorável das coisas.
              O intervalo de troca de refrigeradores e lavadoras de roupa, que era de dez anos na década de 90, hoje está em cinco ou seis anos
              Dados da indústria mostram que a velocidade das substituições, medida pelo número de lançamentos no mercado, só acelera. Tomem-se como exemplo os últimos três anos do setor de eletrônicos e eletrodomésticos - no qual a efemeridade seja talvez mais notável - e o que se vê é praticamente a duplicação de novos produtos em algumas categorias. Em 2009 foram lançados no país 163 modelos de televisores de tela plana. O que já parecia alto subiu ainda mais em 2011, com o auge de 256 novos modelos apresentados em um único ano (de janeiro a novembro). Nesse mesmo período, a oferta de novos celulares saltou de 116 para 175 e a de computadores de mesa, de 476 para 835. Isso foi somente no Brasil, desconsiderando mercados maduros de alta renda, onde os volumes são ainda mais expressivos, segundo a consultoria GfK, que compilou as informações a pedido do Valor.
              A entrada no mercado de uma classe média mundial gigantesca e sedenta por novidades, que vê nas aquisições desses objetos uma forma de acesso à cidadania, fez o modelo de consumo adotado e dominado pelos Estados Unidos no século XX - o "american way of life" - replicar em uma escala asiática. De olho nos novos nichos de consumo, grupos que atuam em um segmento da economia passaram a abraçar outras áreas, caso das coreanas LG e Samsung, tradicionalmente de celulares, que avançam rapidamente sobre produtos da chamada linha branca. Em 2005, quando estreou aqui, a LG tinha quatro modelos de sua primeira linha de fornos micro-ondas. Hoje, apresenta 120 novos eletrodomésticos ao ano. A rival Samsung passou de 10 para 200 novos produtos ao ano.
              A taxa de obsolescência encurtou à medida que a inovação acelerou e o processo de produção ficou mais barato. Fred Seixas, gerente de vendas da área de eletrodomésticos da LG, afirma que o tempo das coisas está, de fato, menor. "A gente observa que o intervalo de troca de refrigeradores e lavadoras de roupa, que era de dez anos na década de 90, hoje está em cinco ou seis anos", diz.
                
              Muitas vezes, porém, o salto tecnológico não existe. O poder de transformar a relação das pessoas com o mundo - propiciado por um smartphone, por exemplo - é visto em uma parte mínima dos lançamentos. E não se pode explicar essa tendência somente sob a ótica dos ganhos de eficiência dos equipamentos, com o consumo menor de energia e a produção com materiais menos danosos ao ambiente. "Isso só é relevante em mercados desenvolvidos", diz Seixas. Pesquisas mostram que o primeiro ponto determinante para a troca de um bem de consumo é o que está por fora: design.
              "A gente não faz inovação para trazer tecnologia, mas a partir de aspirações do consumidor", confirma Rogério Martins, vice-presidente de desenvolvimento de produtos da Whirlpool, dona das marcas Brastemp, Consul e KitchAid, que põe quatro novos produtos por semana no mercado.
              Em prol dessa inovação, tecnológica ou plástica, o mundo ficou mais carregado de objetos que logo se tornam inúteis e são descartados na gaveta. E, para alguns economistas, esse é o real problema. Para Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Insper de São Paulo, não há nada de errado se o consumidor escolhe um produto mais caro e de maior durabilidade ou um mais barato e de menor durabilidade. "Num ambiente de mudança tecnológica, faz todo o sentido preferir uma coisa que não vá durar tanto tempo, mas que não perca tanto valor ao ser vendido", diz. "O maior problema é que o ambiente não está nessa conta. E o ambiente não aceita desaforos." Giannetti engrossa o coro de economistas que afirmam que não só o modelo de produção se tornou insustentável, mas o cálculo da saúde econômica dos países tornou-se cego aos problemas ambientais que afetam a vida das sociedades hoje. (Leia entrevista à pág. 8.)
              O impacto ambiental da insustentabilidade já é medido de algumas formas. Um estudo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que a produção de lixo no Brasil cresce a um ritmo maior do que o da população - 6,9% em 2010, provavelmente superando o da economia nacional neste ano. Os resíduos de Nova York já são capturados por satélites no espaço. São Paulo esconde seus restos sob uma montanha de 130 metros de lixo compactado coberto por grama, à altura dos maiores arranha-céus da cidade. O embarque de resíduos com destino aos quintais da África não cessa.
              Em nome da inovação, tecnológica ou plástica, o mundo ficou carregado de objetos que logo se tornam inúteis e são descartados
              Mas o que dita essa toada? Quando passou a fazer sentido comprar um aspirador novo e jogar o seminovo fora? Perdemos algo no caminho? Parte das respostas está na própria cultura capitalista, cumulativa por natureza, na inovação e nas mudanças profundas na estrutura familiar da sociedade contemporânea. Parte no que a economia batizou como obsolescência programada - ou a morte prematura dos produtos.
              Marca do mercado de consumo no pós-Segunda Guerra, a obsolescência programada é um conceito segundo o qual a indústria de bens prepara desgastes artificialmente curtos para obrigar o consumidor a uma reposição mais rápida do produto. "A lógica era simples: se não há novos consumidores suficientes para cada produto, então é preciso fazer que os mesmos consumidores comprem o seu produto outra vez", diz Carlota Perez, pesquisadora venezuelana da Universidade de Cambridge especializada nos impactos sociais e econômicos provocados pelas mudanças na tecnologia. "A princípio isso ocorreu através de mudanças técnicas, depois através da aparência dos produtos e dos modismos e, finalmente, reduzindo a sua durabilidade".
              Em um primeiro momento, isso parecia necessário para atender à emergência, a partir dos anos 1950, de uma sociedade capitalista afluente e uma classe operária bem remunerada, que impunham novos desafios à indústria de bens. Nos anos dourados americanos, a pergunta que passou a ser feita foi: como consumir novamente o que já se tem? Não se tratava mais de vender a primeira geladeira, mas a segunda. O mundo se deslocava de um padrão extensivo para um intensivo de consumo. A pujança econômica dessa época colocou as empresas em outro estágio de desenvolvimento. Após a revolução permitida com a massificação de produtos, criada com o lançamento em série do Ford-T, um ícone automobilístico, era preciso então se diferenciar da concorrência. Henry Ford dizia que qualquer consumidor poderia comprar um automóvel Modelo T, desde que fosse preto. Seu filho, Edsel Ford, colocou a questão em nova perspectiva: "Mas são as cores que dão lucro". A previsão estava correta.
                
              Para vender a segunda geladeira ela deveria não só durar menos, mas conter algo diverso do que estava disponível no mercado. Fosse por mudanças radicais ou plásticas, a diferenciação resultaria no sobrelucro embutido na competitividade capitalista. A inovação, explica o economista João Batista Pamplona, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), seria uma alavanca poderosa como estratégia de concorrência industrial para conseguir o monopólio.
              Philip Kotler, um dos gurus do marketing, lembra que "muito da chamada obsolescência programada é o trabalho das forças competitivas e tecnológicas em uma sociedade livre, que levam a uma melhora progressiva dos bens e dos serviços".
              "Se não tivesse a intervenção da indústria, a obsolescência aconteceria naturalmente em função do próprio consumidor", concorda a filósofa Carla Rodrigues, da PUC-Rio.
              Ávido por novidades, o consumidor contemporâneo - com muito mais acesso ao crédito - passou a ter mais facilidade para obter o aparelho dos sonhos, que já não precisava durar tanto, mas apresentar design arrojado e reunir várias funções.
              Com isso, a obsolescência do produto migrou para a dos serviços. Assim, ao comprar uma cafeteira, fabricada por uma multinacional, será informado de que ela só funcionará com os sachês de café da própria empresa. "Você compra um celular simples. A operadora oferece então um pacote gratuito de envio de fotos para outros celulares. Você compra um outro celular para aproveitar essa função e um novo aparelho permite acesso à internet, o que o leva a assinar o serviço de banda larga que oferece uma ampla possibilidade de recursos caso tenha um smartphone. Depois vem a videoconferência, o 3D e o ciclo nunca se encerra", escreveu recentemente em artigo o consultor ambiental Tasso Azevedo. "A cada passo que você dá, o aparelho anterior fica obsoleto."
                
              Ao mesmo tempo que a tecnologia empurrava de lado o velho em nome do novo, a globalização puxava outra régua para cima. A descartabilidade também está ligada ao fato de muitos bens de consumo terem se tornado baratos hoje, a ponto de a peça de reposição de um aspirador equivaler a mais da metade do preço de um aparelho novo, como relatou a italiana Giovanna Micconi.
              Isso é particularmente consolidado nas economias desenvolvidas, onde a mão de obra qualificada é tão cara que impossibilita a troca de peças. No Japão, montanhas de eletrônicos, geladeiras e bicicletas descartados nas ruas espantam os desavisados. Cenas como essas chocam pelo desperdício, pela desigualdade de renda, pela exaustão que impõem ao planeta. E também pela corrida desenfreada pelo consumo, já que os japoneses, como se sabe, estão entre as populações mais demandantes de novas tecnologias de ponta no mundo.
              Essa obsessão, intrínseca ao ser humano, nunca pode ser desprezada - e, diga-se, desde que o mundo é mundo é assim. Já na Roma antiga há relatos da necessidade de se sobressair em relação ao outro. Em uma passagem do "Satiricon", do escritor Petrônio, um milionário admite durante uma festa: "Só me interessam os bens que despertam no populacho a inveja de mim por possuí-los". Bem mais tarde, o escritor francês André Malraux cravou que o desejo do homem é ocupar um lugar de honra na mente dos seus semelhantes.
              O desejo do novo, daquilo que é visto como uma catapulta para a ascensão social e nos torna supostamente superiores, é um valor arcaico, que não só empurra os produtos para o fundo da gaveta - ou para o lixo, elevando o passivo ambiental já monumental - como pressiona a indústria por mais tecnologia. A efemeridade material é, portanto, fruto também desse consumidor inserido no que Giannetti, do Insper, chama de "corrida armamentista de consumo".
              "É do nosso passado remoto a competição por status que leve a alguma proeminência. O valor de um produto não é o que me traz diretamente a felicidade, mas deriva do fato de que os demais estão excluídos do acesso a ele. A posse desses chamados bens posicionais - BMWs, TVs planas, casas em bairros chiques - é o que passa a dominar o jogo interpessoal. Aí você entra na corrida armamentista de consumo", diz o economista. "Uma corrida armamentista, stricto sensu, é uma situação em que dois ou mais países investem em armamento e, ao final, se percebem mais inseguros do que no início. Porque ao mesmo tempo em que um mobiliza recursos para se defender, o outro faz o mesmo. É um paradoxo. E a indústria está sempre renovando os bens posicionais. É o tênis de marca, o carrão. Quem não tem está fora".
              Nas empresas, lucra mais quem entende essa condição humana. "Ninguém melhor do que Steve Jobs compreendeu o conceito de fetichismo de Marx", segundo o qual as relações sociais são mediatizadas pelos objetos, diz Carla Rodrigues. "Ele captou o algo a mais [fetiche] que os iPhones explicitam tão bem." O fundador da Apple talvez nunca tenha lido Petrônio ou Malraux, mas respondeu aos anseios da sociedade contemporânea. Desde a primeira geração de iPhones, há cinco anos, a empresa comemora vendas recordes consecutivas, movimento seguido pela avalanche de seus primos-irmãos (os iPads) e celulares e tablets da concorrência.
              É claro que, nesse processo, a publicidade tem desempenhado um papel auxiliar importante, ao estimular a compra de "novos" produtos, que se diferenciam dos anteriores basicamente no aspecto externo ou em um ou outro acessório supervalorizado.
              Em seu livro "A Cultura do Novo Capitalismo", o sociólogo americano Richard Sennett joga luz sobre o fato de que os consumidores comuns compram equipamentos com possibilidades que jamais utilizarão. "Discos de memória capazes de guardar 400 livros, embora a maioria das pessoas chegue a arquivar na melhor das hipóteses centenas de páginas, ou programas de informática que nunca são acessados no computador", relaciona Sennett.
              Tome-se o exemplo do iPod. Em tese, esse cobiçado aparelho - fininho, de design inovador, que transformou a indústria fonográfica - é capaz de arquivar e reproduzir dez mil músicas digitais de três minutos. Mas seria alguém capaz de se lembrar de todas as dez mil canções gravadas? Não acabamos ouvindo sempre as favoritas? "E, no entanto, o fenomenal atrativo comercial do iPod consiste precisamente em dispor de mais do que uma pessoa jamais seria capaz de usar. O apelo está, em parte, na ligação entre a potência material e a aptidão potencial da própria pessoa", diz Sennett, professor da London School of Economics (LSE) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Falado de outra forma, ele representa a potência daquilo que podemos comprar.
              A lista dos sonhos de consumo potencial foi inflada também porque o grupo de referência dos consumidores mudou. O universo antes restrito aos vizinhos do bairro, escola e familiares, foi escancarado pela comunicação de massa. A explosão de informação permitiu que pessoas de baixa renda sonhassem com a vida dos habitantes da grande cidade, seus equipamentos eletrônicos de última geração e viagens internacionais, intensificando a "corrida armamentista do consumo".
              O problema desse movimento, diz Giannetti, é que ele não tem fim. Para o economista, à medida que a sociedade prospera, as pessoas começam a competir pelos bens posicionais. É aquele estágio em que as necessidades mais básicas do ser humano, seus apetites universais, já foram satisfeitos e passam a abrir espaço para o furor de se distinguir em relação às pessoas comuns. É quando o foco da sociedade volta-se para "ocupar um lugar de honra na mente dos seus semelhantes", como afirmava o escritor francês. "E, quanto mais se avança sobre os bens posicionais, mais as pessoas sentem que falta algo. Não tem solução econômica para isso. Mas a conta recairá sobre o meio ambiente, que não aceita desaforos."


              Da FSP de 13/1/12


              13/01/2012 - 11h36

              Contra aquecimento, Nasa propõe meios para 'esfriar' a Terra

              RAFAEL GARCIA
              DE WASHINGTON

              Uma ação abrangente para combater a emissão do gás metano e a poluição por fuligem reduziria o aquecimento global de 2,2ºC para 1,7ºC em 2050, indica um novo estudo liderado pela Nasa (agência espacial americana).
              Quase todas as medidas necessárias para isso, dizem os cientistas, teriam seus custos compensados ao evitar gastos em saúde pública e na agricultura.
              Segundo o trabalho, publicado na revista "Science", se o planeta adotar 14 medidas contra essas substâncias (leia mais abaixo), combateria a mudança climática, evitaria mortes por doenças respiratórias e aumentaria a produtividade agrícola.
              O documento inclui propostas que vão desde a substituição de fornos a carvão --grande fonte de poluição em países pobres-- até o controle do vazamento de metano em poços de petróleo.
              Combater a emissão desse gás, que também é subproduto da agropecuária, ajudaria os próprios produtores rurais, porque o metano estimula o surgimento de ozônio em baixas altitudes, prejudicando a respiração das plantas.
              A produção mundial de alimentos teria um incremento de 30 milhões a 130 milhões de toneladas se o ozônio derivado da poluição fosse reduzido indiretamente por meio do combate ao metano.
              "As colheitas seriam o fator do qual países como o Brasil mais se beneficiariam", disse àFolha Drew Shindell, do Instituto Goddard, da Nasa, que liderou o trabalho.
              "Em países como China e Índia, o principal benefício seria na saúde pública, porque o problema de poluição por fuligem é muito maior lá."
              DIPLOMACIA
              Segundo Shindell, como a maior parte dos países que tendem a se beneficiar são também grandes emissores de fuligem e metano, uma política eficaz não iria requerer um acordo internacional como aquele que o planeta está buscando contra o CO2 (dióxido de carbono), principal vilão do aquecimento global.
              "No caso do combate a essas outras substâncias, temos mais chance de progresso se ele for implementado por ações locais", diz o cientista.
              "Iniciativas globais, porém, podem estimular ações locais, como o financiamento de bancos de desenvolvimento para alguns projetos."
              Mesmo não tendo potencial de aquecimento no longo prazo, a fuligem contribui para a mudança climática, sobretudo quando se acumula sobre a neve e o gelo em regiões frias. De cor escura, ela atrapalha a capacidade da água congelada de refletir radiação para fora da Terra.
              Já o metano é o gás-estufa mais forte, apesar de não ser o mais abundante.
              O combate a esses dois poluentes, porém, não serviria como compensação para o atraso do planeta em reduzir as emissões de carbono.
              "Se adiarmos mais o acordo do clima, mesmo acabando com todo o metano e a fuligem, veríamos um enorme aumento no aquecimento, causado só pelo CO2, na segunda metade do século."
              CONTRA O METANO
              1. Estender técnicas que evitam o vazamento de gás em minas de carvão
              2. Eliminar as perdas e queimar o gás que hoje escapa de poços de petróleo
              3. Reduzir vazamentos em gasodutos
              4. Separar o lixo biodegradável para reciclagem, compostagem e uso da biomassa
              5. Aprimorar o tratamento de esgoto para capturar o metano que escapa das estações
              6. Controlar emissões da pecuária usando um tratamento especial para o esterco
              7. Arejar as plantações de arroz para reduzir as emissões em plataformas alagadas
              CONTRA A FULIGEM
              1. Substituir a frota de veículos muito antigos que emitem poluição demais
              2. Instalar filtros especiais nos veículos a diesel
              3. Banir a queima de resíduos de agricultura ao ar livre
              4. Substituir fornos a lenha por fornos a gás ou combustíveis de queima limpa
              5. Levar aos países pobres a tecnologia de fornos por queima de biogás
              6. Substituir tijolos de barro por vigas verticais ou por tijolos de fornos mais eficientes
              7. Substituir fornos a queima de coque (subproduto do carvão) por fornos mais eficientes


              Estadão de 28/12/11


              'É preciso manter nossos produtos e não descartá-los'

              Ativista defende nova postura de consumo: manter e reusar nossos objetos em vez de jogá-los no lixo

              28 de dezembro de 2011 | 3h 03

              KARINA NINNI - O Estado de S.Paulo
              Quando a cientista ambiental Annie Leonard divulgou na internet o filme A História das Coisas, em 2007, não tinha grandes expectativas: um filme, uma homepage, e só. Mas o filme se popularizou e foi visto por mais de 12 milhões de pessoas - quase 500 mil só no Brasil. Quatro anos e sete filmes depois, o vídeo foi adotado em várias escolas americanas e virou livro (em coautoria com Ariane Conrad), recém-lançado no Brasil pela editora Zahar. Na obra, a ativista (ex-Greenpeace) delineia os cinco estágios da economia mundial (extração, produção, distribuição, consumo e descarte) e descreve o imenso impacto do nosso estilo de vida para o planeta.
              Annie, que vive com a filha em uma comunidade em Berkley, na Califórnia, falou ao Estado sobre lixo zero, reciclagem e mudanças climáticas, insistindo na corresponsabilidade entre governos, corporações e indivíduos para um mundo mais sustentável.
              Você cita muito no livro a ideia de lixo zero. Realmente acredita nessa possibilidade?
              O lixo zero é uma meta excelente. Estamos a décadas de torná-la realidade, mas creio ser importante estabelecer uma meta ambiciosa. Nas fábricas, os gerentes usam a expressão defeito zero. Empresas aéreas buscam a meta de zero acidentes. Ou seja: um objetivo ambicioso e visionário torna mais clara a direção em que temos de ir. Precisamos reconhecer o valor que há nos produtos e focar nossos esforços em conservá-los, em vez de desperdiçá-los. As companhias precisam fazer produtos mais duráveis, sem produtos químicos tóxicos e fáceis de reparar e reciclar. Coisas simples, como a utilização de uma resina plástica em vez de múltiplas resinas, podem facilitar o reprocessamento de um produto. Precisamos maximizar a reciclagem e a compostagem para recuperar o máximo de material e colocá-lo em uso. E precisamos promover valores que vão além da ideia de consumismo.
              O Brasil está na rota dos movimentos transfronteiriços de lixo. Resíduos perigosos chegam em contêineres etiquetados como resíduo para reciclagem. Como você analisa essa questão?
              Eu me oponho ao comércio internacional de resíduos quando ele prejudica o meio ambiente das nações que os recebem, ou sua economia, ou ainda os cidadãos. Por exemplo: meu país, os EUA, manda lixo eletrônico com componentes tóxicos para nações mais pobres recuperarem, mesmo sabendo que isso ameaça trabalhadores e comunidades. Eu acho errado exportarmos nossos resíduos perigosos para países que, sabemos, têm capacidade menor de lidar com eles. Além do mais, meu país também é prejudicado quando exporta lixo perigoso, pois essa prática permite que nossas empresas continuem fazendo produtos de reciclagem perigosa.
              Você acredita que o fenômeno do downciclyng (reciclagem 'para baixo') contribui para desacreditar a reciclagem?
              A verdadeira reciclagem se refere ao uso de determinado material para produção da mesma coisa novamente, como transformar uma garrafa de vidro em outra garrafa de vidro. Esse processo reduz os resíduos e a necessidade de novos materiais para produzir um novo item, além de prover empregos e reduzir o uso de energia. O downciclyng é uma variação da reciclagem: trata-se de produzir um item de menor qualidade com o que originalmente foi reciclado, como transformar uma garrafa de plástico na base de um carpete. É menos benéfico do que a reciclagem verdadeira, mas pode ser um passo na direção correta se levar as pessoas a pensar com mais atenção nas diferentes formas de reúso ou reprocessamento de itens.
              No seu livro, você diz que deveríamos simplesmente banir materiais como PVC e alumínio. Mas não faz menção a que tipo de materiais poderiam substituí-los.
              Há materiais, como o PVC, frequentemente chamado de vinil, que são tão poluentes e desnecessários que deveríamos deixá-los para trás, como sociedade civilizada que somos. Muitas organizações oferecem informações sobre alternativas ao PVC. Por exemplo: a Health Care Without Harm tem várias dicas para a substituição do material na área da saúde. No ramo da construção civil, o Pharos Project e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável também oferecem alternativas mais amigáveis ao meio ambiente.
              Você cita no livro que quatro quintos da população americana concorda em controlar emissões de gases-estufa. Mas a discussão é vedada. Por que é tão difícil mudar as coisas nos EUA?
              Nossa democracia é muito mal formatada. Grandes corporações têm forte influência sobre nossos políticos. Nossa democracia já estava inclinada em direção às grandes corporações e agora as eleições são leilões. Os maiores licitantes ganham enquanto aqueles que se importam com saúde pública, sustentabilidade e renda mais igualitária têm pouco a dizer. Além de controlar nossa democracia, as grandes corporações também controlam a maioria dos meios de comunicação. O resultado é que mesmo com o consenso científico sobre o aquecimento global, muitos dos nossos novos programas de TV atualmente questionam sua existência. A boa notícia é que o público está farto. Mais de 85% das pessoas hoje dizem que as corporações têm muito poder em nossa democracia e muitas organizações estão trabalhando para limitar o poder delas na política.
              O que você diria para países como Brasil?
              O Brasil tem uma influência muito forte no mundo de hoje. Está se industrializando rápido, tem gênios prósperos, inovadores e criativos, além de abrigar alguns dos ecossistemas mais diversos e importantes do planeta. O Brasil pode copiar os erros dos EUA, transformando o planeta num lixão e ameaçando o clima e a saúde pública em nome de máximo lucro no menor tempo possível ou pode adotar uma visão de longo prazo, investindo em uma economia saudável que prosperará por várias gerações. Eu espero que o Brasil aprenda com os erros dos outros países e se torne um líder mundial em energia limpa e indústrias ambientalmente corretas.


              Da Folha de hoje, 11/12/11


              Pedigree gera cão com saúde em frangalhos
              Criadores americanos falam em "reformar" os buldogues para evitar os problemas respiratórios graves da raça
              Cruzamentos fazem com que quase todas as raças tenham suas doenças de 'estimação', afirmam especialistas
              THIAGO FERNANDES
              COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
              Ser buldogue não é lá muito fácil. Um estudo publicado neste ano na revista científica "Journal of Veterinary Internal Medicine" mostrou que, entre as raças de cães, os bichos são os que mais correm risco de morrer de doenças respiratórias. São ainda a segunda raça que mais morre de doenças congênitas.
              O problema é tão grave, relata o "New York Times", que criadores da raça estão discutindo alterar os rígidos padrões de pedigree para permitir que os animais tenham mais qualidade de vida. São as características da raça que acabam levando os bichos a sofrer com doenças.
              Os buldogues não são exceção. "Desde a domesticação, o homem seleciona o que acha adequado em cada animal", diz José Bento Sterman Ferraz, professor de genética da Faculdade de Zootecnia da USP. O problema é quando a opinião do ser humano não é a mesma que teriam os bichos. E a seleção artificial acaba resultando em problemas de saúde para os cães.
              É o que acontece com as raças de focinho curto, como o pug e o boxer. Motivada apenas pelo que os criadores consideram bonito, essa característica tende a causar problemas respiratórios, que se agravam cada vez que são escolhidos como modelo os com a cara mais achatada.
              INCOMPATÍVEIS
              "O homem vem impondo padrões que chegam a ser incompatíveis com o próprio funcionamento fisiológico do animal", afirma Ferraz.
              Em outros casos, os problemas surgem não devido à escolha direta de características, mas por causa de cruzamentos de indivíduos muito próximos geneticamente, o que estimula a disseminação de doenças recessivas.
              Marco Ciampi, da ONG Arca Brasil, cita o exemplo do pastor alemão, muito comum há 20 anos, mas que perdeu popularidade devido à falta de controle dos casos de displasia coxofemural. A doença genética compromete a locomoção e afeta outras raças de grande porte, como o fila brasileiro e o labrador.
              Segundo a veterinária Fernanda Kerr, da Arca Brasil, o problema já foi mais grave no passado. "A displasia está sendo mais controlada pelos criadores antes do cruzamento. Animais que apresentam o problema são castrados."
              Criador de cachorros há 37 anos, o presidente da Federação de Cinofilia de São Paulo, Paulo Costa, concorda que atualmente há maior conscientização. "Hoje, as mostras de raça levam em conta não só a estética mas também a saúde. De nada adianta você ter um cachorro bonito se ele é um animal doente."
              Esses esforços, porém, podem ser solapados por fatores como a exposição excessiva de uma raça -criadores menos escrupulosos tendem a reproduzir filhotes em massa, que depois acabam até sendo abandonados.
              É o caso dos dálmatas após os filmes da Disney. Muito inquietos, embora dóceis e brincalhões, os cães da raça não se adaptam a espaços pequenos e têm tendência a surdez precoce e cálculos renais, problemas que se agravaram como resultado de cruzamentos indiscriminados.
              Um estímulo para criadores se preocuparem com essa questão é o fato de que a disseminação de problemas na raça trazem também prejuízos financeiros. "Para nenhum criador é interessante um cão problemático, porque ninguém vai querer comprar", afirma Gilmar Barros, do Bulldog Club do Brasil.
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              Essa notícia é surreal!! De hoje, 30/11/11


              Óleo da Chevron que vazou no Rio ameaça contaminar Baía de Guanabara

              30 de novembro de 2011 | 3h 02

              SERGIO TORRES / RIO - O Estado de S.Paulo
              O petróleo que há 23 dias vaza na Bacia de Campos pode atingir o litoral do Rio de forma jamais imaginada pelos especialistas. Trazido do oceano em barcos, o óleo recolhido no mar foi depositado no galpão de uma empresa na Baixada Fluminense. Parte dele escoou por ralos para valas de esgoto que acabam desaguando na já poluída Baía de Guanabara, na altura do município de Duque de Caxias.
              "Os responsáveis pela Contecom (empresa subcontratada para armazenar a água oleosa - mistura de água salgada e petróleo) serão autuados. Pode ser mais de um crime ambiental", disse o delegado da Polícia Federal Fábio Scliar.
              O delegado citou tês artigos da Lei do Meio Ambiente em que a empresa pode ser enquadrada: causar poluição que possa resultar em danos à saúde ou provoque mortandade de animais ou destruição da flora; ter em depósito substância tóxica em desacordo com as exigências estabelecidas em leis; fazer funcionar estabelecimentos ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais.
              Segundo ele, a Chevron, que havia contratado a empresa Brasco Logística Offshore, responsável pela subcontratação da Contecom, "não necessariamente será imputada".
              A Contecom foi vistoriada anteontem pela PF. Uma funcionária prestou depoimento e foi liberada após pagar fiança. Ainda não se sabe quanto petróleo escapou para os cursos d'água que seguem rumo aos Rios Sarapuí, Iguaçu e Estrela, totalmente poluídos. O percurso entre a sede da empresa e o ponto em que os rios se encontram com os manguezais da baía é de 5 km.
              Indícios. Os registros da empresa indicam que nos dias 21 e 22 o galpão recebeu dois carregamentos, que somavam 80 mil litros de água oleosa, enviados em caminhões pela Brasco. A Contecom trataria a mistura.
              O advogado da Contecom, Bruno Rodrigues, disse ontem que não houve vazamento do óleo armazenado na "piscina" do galpão. Ele negou que a água oleosa tenha escorrido pelos ralos. Segundo ele, a empresa não separa água e petróleo. Seria tarefa de outra empresa "parceira".
              "A PF está investigando e quer saber o destino do óleo. Só que se complicou nessa história porque a Contecom não trata o óleo, só armazena e repassa. Então, não houve vazamento, isso não existe. Estão falando muitas coisas com base em achismo."
              De acordo com a PF, o óleo vazou por ao menos um buraco na barreira de contenção da "piscina", que estava visualmente lotada, apesar de a capacidade ser de 90 mil litros.
              Ao ultrapassar a barreira, a mistura escorreu pelo pátio, rumo aos ralos. Dali atingiu as galerias pluviais e as redes clandestinas de esgotos. / COLABOROU FELIPE WERNECK



              DA FSP de hoje, 28 de novembro


              É tarde para conter aquecimento, diz análise
              DE BRASÍLIA
              Enquanto os diplomatas tentam tirar as negociações internacionais sobre o clima da irrelevância, cientistas alertam que é provavelmente tarde demais para evitar a mudança climática perigosa.
              Um relatório divulgado na semana passada pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) sugere que o planeta terá em 2020, na melhor das hipóteses, 6 bilhões de toneladas de CO₂ "sobrando" no ar em relação ao que precisaria para cumprir a meta de evitar um aquecimento global maior do que 2°C neste século.
              Para ter mais de 66% de chance de cumprir a meta, seria preciso limitar as emissões de gases-estufa a 44 bilhões de toneladas de CO₂ em 2020.
              Hoje elas são de 50 bilhões de toneladas, e permanecerão nessa faixa somente se todos os países cumprirem estritamente as metas mais ambiciosas com as quais disseram que poderiam se comprometer no Acordo de Copenhague, em 2009 -a UE, por exemplo, disse que cortaria 30% de suas emissões em vez dos 20% que prometeu, mas só se outros países aumentassem sua ambição.
              Caso pouco seja feito -o que parece o cenário mais provável considerando o contexto político atual-, as emissões atingirão 55 bilhões de toneladas, e o "buraco" para cumprir a meta será de 9 bilhões em vez de 6 bilhões de toneladas de CO2 em 2020.
              Mesmo a trajetória mais benigna de emissões põe o planeta no rumo de esquentar de 2,5°C a 5°C até 2100.
              O relatório do Pnuma, intitulado "Bridging the Gap" (algo como "Tapando o Buraco"), tenta passar uma mensagem positiva: ele afirma que é "tecnicamente possível e economicamente viável" fechar o buraco de 6 bilhões de toneladas até 2020 cortando emissões em vários setores.
              A probabilidade de que isso aconteça, porém, é tão pequena que nem os cientistas que elaboraram o documento acreditam nela.
              "Até a véspera da divulgação do estudo, nós ainda estávamos divididos sobre se deveríamos passar uma mensagem esperançosa ou pessimista", disse à Folha Suzana Kahn Ribeiro, professora da Coppe-UFRJ e uma das coordenadoras do trabalho.
              Na divulgação, porém, prevaleceu a necessidade política do Pnuma de adotar a estratégia da esperança, para estimular os negociadores em Durban a tentar um resultado mais ambicioso.
              (CA)

              Isso é bem interessante.


              24/11/2011 18h17 - Atualizado em 24/11/2011 18h17

              Equipe faz inseminação artificial inédita em jaguatiricas no Brasil

              Seis fêmeas receberam sêmen congelado durante procedimento no Paraná.
              Técnica aumenta chances de evitar desaparecimento de espécies.

              Eduardo CarvalhoDo Globo Natureza, em São Paulo
              2 comentários
              Pesquisadores brasileiros realizaram pela primeira vez no país um processo de inseminação artificial com sêmen congelado em seis fêmeas de jaguatirica (Leopardus pardalis), felino da Mata Atlântica que está na lista nacional dos animais ameaçados de extinção.
              A experiência é parte de um estudo que tem o objetivo de melhorar o processo de reprodução de espécies em extinção em laboratório, o que aumentaria as chances de evitar o desaparecimento de exemplares.
              Médicos veterinários, biólogos e outros profissionais ligados à Itaipu Binacional, empresa que administra a maior usina hidrelétrica do país, além de universidades do Paraná, participaram na última terça-feira (22) de procedimento de inseminação com sêmen congelado, chamado de “criopreservação de gametas”.
              Três fêmeas foram levadas ao Hospital Veterinário mantido por Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR). Outros três espécimes já haviam passado pelo mesmo processo em outubro. Os seis animais receberam um tratamento denominado “sincronização de cio”, que induz a ovulação.
              Jaguatirica passa por processo de inseminação artificial com sêmen congelado, feito inédito no Brasil com esta espécie (Foto: Divulgação/Caio Coronel/Itaipu Binacional)Jaguatirica passa por processo de inseminação artificial com sêmen congelado, feito inédito no Brasil com esta espécie (Foto: Divulgação/Caio Coronel/Itaipu Binacional)
              As jaguatiricas receberam material genético colhido de machos que vivem no mesmo ambiente. A técnica consiste em aplicar o sêmen congelado e verificar se houve a fecundação.
              “A inseminação com jaguatiricas já foi feita em laboratórios dos Estados Unidos e do Japão, mas até hoje temos relatos de que apenas quatro processos deram certo. Só ocorreram quatro nascimentos”, disse Wanderlei de Moraes, médico veterinário da Itaipu Binacional.
              Moraes afirma que o grande desafio do procedimento é manter características vitais para a reprodução no esperma congelado. O resfriamento provoca a perda de estruturas como o acrossoma, enzima presente no espermatozóide que é responsável por auxiliá-lo no rompimento da parede do óvulo.
              “Quando congela (o espermatozóide) você perde essa característica. Estamos estudando meios de melhorar o processo de congelamento do sêmen e evitar esta perda”, afirma o especialista.
              Ultrassom
              Na segunda quinzena de dezembro, três jaguatiricas já inseminadas passarão por exame de ultrassom, que vai verificar o processo de gravidez. “Não sabemos quais são as chances da inseminação dar certo nas jaguatiricas, já que é algo novo. Mas a técnica já é difundida em bovinos e em 70% dos casos dá certo”, afirma.
              O procedimento pode ser adaptado em outros felinos. “É uma ferramenta que nos auxilia a trabalhar contra a extinção dos animais por meio da utilização dos bancos genéticos. Mas para conseguirmos usá-los, é preciso conhecer procedimentos que dão certo. Se não estudarmos como eliminar os problemas em cada etapa, os genes de animais ficarão somente armazenados”.
              Seis fêmeas receberam sêmen congelado de outros três espécimes machos. Em todo mundo, apenas quatro procedimentos geraram nascimentos (Foto: Divulgação/Caio Coronel/Itaipu Binacional)Seis fêmeas receberam sêmen congelado de outros três espécimes machos. Em todo mundo, apenas quatro procedimentos geraram nascimentos (Foto: Divulgação/Caio Coronel/Itaipu Binacional)



              Do Estadão de ontem, 20/11/11


              Vegetação natural virou pasto em 80% das Áreas de Preservação Permanente

              Autor(es): MARTA SALOMON / BRASÍLIA
              O Estado de S. Paulo - 20/11/2011

              Ambiente. Estudo sobre a ocupação das chamadas APPs, a parte mais polêmica da reforma do Código Florestal em discussão no Congresso, mostra que as pastagens avançaram numa área protegida equivalente a uma vez e meia o território do Estado de São Paulo
               - O Estado de S.Paulo
              Oito de cada dez metros das Áreas de Preservação Permanentes já desmatadas às margens de rios e encostas de morros no País viraram pasto, mostra um retrato recente da ocupação das chamadas APPs, a parte mais estratégica e polêmica da reforma do Código Florestal, em debate no Congresso.
              A recuperação das APPs é o maior nó na reta final da negociação da reforma das regras de proteção do ambiente nas propriedades privadas. A tendência das negociações é reduzir ainda mais a exigência de recuperação de áreas ocupadas pelo agronegócio, em nova versão da reforma a ser apresentada amanhã.
              Estudo do professor da USP Gerd Sparoveck estima que 550 mil km2 nas APPs às margens de rios e encostas de morros foram desmatadas, de um total de 1,3 milhão de km2 de proteção da vegetação natural exigida pelo Código em vigor. Das áreas já desmatadas, 440 mil km2 são ocupados por pastagens, calcula o estudo. A extensão dos pastos em APPs corresponde a mais de 1,5 vez o território do Estado de São Paulo.
              "No melhor dos mundos, haverá a restauração da vegetação natural de 15% das Áreas de Preservação Permanentes desmatadas, não mais do que isso. Na pior dos mundos, nem isso será recuperado", calcula Sparoveck, cujas estimativas sobre desmatamento das áreasde proteção vêm subsidiando os debates do Código Florestal desde o início dos trabalhos do então relator na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), hoje ministro do Esporte. Os números são usados como referência tanto por ruralistas como por ambientalistas.
              Sparoveck sugere um programa de custo reduzido para recuperação das APPs, baseado em investimentos em cercas e bebedouros, sem prejuízo ao tamanho do rebanho, mas que exigiriam maior produtividade da pecuária brasileira.
              O estudo indica um porcentual menor de cultivo de grãos e alimentos que poderia ser atingido pela exigência de recuperação das APPs, entre 5% e 32%, nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. No Cerrado, 20% das APPs desmatadas são ocupadas pela agricultura.
              Acordo. As negociações em curso, no entanto, vão em outra direção. Amanhã, o relator na Comissão de Meio Ambiente, senador Jorge Viana (PT-AC), apresenta uma nova tentativa de acordo, negociado com o relator nas Comissões de Ciência e Tecnologia e Agricultura, senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC).
              Uma nova leva de concessões ao agronegócio tentará conter a oposição manifestada por líderes ruralistas. Proposta negociada com o governo prevê que proprietários de imóveis de 4 a 15 módulos rurais (de 20 a 1.500 hectares, dependendo do município) também possam escapar da exigência de recuperar APPs, dependendo do aval dos conselhos estaduais de meio ambiente.
              A justificativa é beneficiar proprietários rurais que têm seus imóveis localizados quase integralmente nas áreas de proteção às margens de rios mais largos, como o Iguaçu e o São Francisco. O Estado apurou que a ideia é obrigar que proprietários de terras enquadrados nessa situação recuperem pelo menos 20% da vegetação natural em seus imóveis, desde que não estejam localizados no bioma Amazônia. Os benefícios eram previstos inicialmente apenas para pequenos agricultores.
              A nova versão de acordo para a votação da reforma do Código trará regras de recuperação das matas ciliares adaptadas à largura dos rios. Até aqui, o texto exigia a recuperação de pelo menos 15 metros às margens dos rios mais estreitos, com até 10 metros de largura. A redação, aprovada pela Câmara, foi questionada no Senado. O governo endossa novas concessões desde que elas se restrinjam a imóveis produtivos e única residência dos proprietários.
              A negociação no Congresso também prevê novas concessões para a produção de camarão e de sal em manguezais. Pressionado por setores de seu partido, o senador Luiz Henrique proporá a liberação das atividades instaladas em manguezais até 2010. O governo, por ora, é contra essa nova mudança de última hora.
              As negociações avançariam pelo fim de semana, na busca de um texto que reúna o os votos de deputados e senadores e garantam a sanção do futuro código florestal por Dilma Rousseff.


              Essa longa e preocupante notícia saiu no The Guardian de hoje, 9/11/11

              Environment | Fossil fuels

              World headed for irreversible climate change in five years, IEA warns

              If fossil fuel infrastructure is not rapidly changed, the world will 'lose for ever' the chance to avoid dangerous climate change

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              Any fossil fuel infrastructure built in the next five years will cause irreversible climate change, according to the IEA. Photograph: Rex FeaturesAny fossil fuel infrastructure built in the next five years will cause irreversible climate change, according to the IEA. Photograph: Rex Features
              The world is likely to build so many new fossil-fuelled power stations, energy-guzzling factories and inefficient buildings in the next five years that it will become impossible to hold global warming to safe levels, and the last chance of combating dangerous climate change will be "lost for ever", according to the most thoroughanalysis yet of world energy infrastructure.
              Anything built from now on that produces carbon will continue to do so for decades to come, and this "lock-in" effect will be the single factor most likely to produce irreversible climate change, the world's foremost authority on energy economics has found. If this infrastructure is not rapidly changed within the next five years, the results are likely to be disastrous.
              "The door is closing," Fatih Birol, chief economist at the International Energy Agency (IEA), told the Guardian. "I am very worried – if we don't change direction now on how we use energy, we will end up beyond what scientists tell us is the minimum [for safety]. The door will be closed forever."
              Every month now counts: if the world is to stay below 2C of warming, which scientists regard as the limit of safety, then emissions must be held to no more than 450 parts per million (ppm) of carbon dioxide in the atmosphere; the level is currently around 390ppm. But the world's existing infrastructure is already producing 80% of that "carbon budget", according to a new analysis by the IEA, published on Wednesday. This gives an ever-narrowing gap in which to reform the global economy on to a low-carbon footing.
              If current trends continue, and we go on building high-carbon energy generation, then by 2015 at least 90% of the available "carbon budget" will be swallowed up by our energy and industrial infrastructure. By 2017, there will be no room for manoeuvre at all – the whole of the "carbon budget" will be spoken for, according to the IEA's calculations.
              Birol's warning comes at a crucial moment in international negotiations on climate change, as governments gear up for the next fortnight of talks in Durban, South Africa, from late November. "If we do not have an international agreement, whose effect is put in place by 2017, then the door to [holding temperatures to 2C of warming] will be closed forever," said Birol.
              But governments around the world are preparing to postpone yet again a speedy conclusion to the negotiations. Originally, the aim was to agree a successor to the 1997 Kyoto protocol, the only binding international agreement on emissions, after its current provisions expire in 2012. But after years of setbacks, an increasing number of countries – including the UK, Japan and Russia – now favour postponing the talks for several years.
              Both Russia and Japan have spoken in recent weeks of aiming for an agreement in 2018 or 2020, and the UK has supported this move. Greg Barker, the UK's climate change minister, told a meeting: "We need China, the US especially, the rest of the Basic countries [Brazil, South Africa, India and China] to agree. If we can get this by 2015 we could have an agreement ready to click in by 2020."
              Birol said this would clearly be too late. "I think it's very important to have a sense of urgency – our analysis shows [what happens] if you do not change investment patterns, which can only happen as a result of an international agreement."
              Nor is this a problem of the developing world, as some commentators have sought to frame it. In the UK, Europe and the US, there are multiple plans for new fossil-fuelled power stations that would contribute significantly to global emissions over the coming decades.
              The Guardian revealed in May an IEA analysis finding emissions had risen by a record amount in 2010 despite the worst recession for 80 years. Last year, a record 30.6 gigatonnes (Gt) of carbon dioxide poured into the atmosphere from burning fossil fuel, a rise of 1.6Gt on the previous year. At the time, Birol told the Guardian that constraining global warming to moderate levels would be "only a nice utopia" unless drastic action was taken.
              Today's research adds to that finding, by showing in detail how current choices on building new energy and industrial infrastructure are likely to commit the world to much higher emissions for the next few decades, blowing apart hopes of containing the problem to manageable levels. The IEA's data is regarded as the gold standard in emissions and energy, and it is widely regarded as one of the most conservative in outlook – making today's warning all the more stark.
              The central problem is that most of the industrial infrastructure already in existence around the world – the fossil-fuelled power stations, the emissions-spewing factories, the inefficient transport and buildings – are already contributing to the current high level of emissions, and will continue to do so for decades to come. Carbon dioxide, once released into the atmosphere, stays there and continues to have a warming effect for about a century, and industrial infrastructure is built to have a useful life of several decades at least.
              Yet, despite intensifying warnings from scientists over the past two decades, the new infrastructure even now being built is constructed along the same lines as the old, which means that there is a "lock-in" effect – high-carbon infrastructure built today or in the next five years will contribute as much to the stock of emissions in the atmosphere as previous generations.
              This "lock-in" effect is the single most important factor increasing the danger of runaway climate change, according to the IEA in its annual World Energy Outlook, published on Wednesday.
              Climate scientists estimate that global warming of 2C above pre-industrial levels marks the limit of safety, beyond which climate change becomes catastrophic and irreversible. Though such estimates are necessarily imprecise – warming of as little as 1.5C could cause dangerous sea level rises and an increased risk of extreme weather – the limit of 2C is now inscribed in international accords, including the partial agreement signed at Copenhagen in 2009, by which the biggest developed and developing countries for the first time agreed to curb their greenhouse gas output.
              Another factor likely to increase emissions is the decision by some governments to abandon nuclear energy, following the Fukushima incident in Japan early this year. "The shift away from nuclear worsens the situation," said Birol. If countries turn away from nuclear energy, the result could be an increase in emissions equivalent to the current emissions of Germany and France combined. Much more investment in renewable energy will be required to make up the gap, but how that would come about is unclear at present.
              Birol also warned that China – the world's biggest emitter – would have to take on a much greater role in combating climate change. For years, Chinese officials have argued that as the country's emissions per capita were much lower than those of developed countries, it was not required to take such stringent action on emissions. But the IEA's analysis found that within about four years, China's per capita emissions were likely to exceed those of the European Union.
              In addition, by 2035 at the latest, China's cumulative emissions since 1900 are likely to exceed those of the EU, which will further weaken Beijing's argument that developed countries should take on more of the burden of emissions reduction as they carry more of the responsibility for past emissions.
              In a recent interview with the Guardian, China's top climate change official, Xie Zhenhua, called on developing countries to take a greater part in the talks, while insisting that developed countries must sign up to a continuation of the Kyoto protocol – something only the European Union is willing to do. His words were greeted cautiously by other participants in the talks.
              The IEA's World Energy Outlook, published annually, provides the touchstone for global energy trends. This year's outlook is unusually gloomy, following one of the deepest recessions on record for the developed world. The IEA said: "There are few signs that the urgently needed change in direction in global energy trends is under way. Although the recovery in the world economy since 2009 has been uneven, and future economic prospects remain uncertain, global primary energy demand rebounded by a remarkable 5% in 2010, pushing CO2 emissions to a new high. Subsidies that encourage wasteful consumption of fossil fuels jumped to over $400bn."
              Meanwhile, an "unacceptably high" number of people – about 1.3bn – still lack access to electricity. If people are to be lifted out of poverty, this must be solved – but providing people with renewable forms of energy generation is still expensive.


              Essa notícia aparece na FSP de hoje, 7/11/11

              Novos estudos reforçam consenso de que planeta está mais quente

              Uma das pesquisas, de cético do clima, mostra sinais de aquecimento em maioria dos dados obtidos

              Trabalhos, porém, não dão conta de simulações climáticas para prever o que vai acontecer com planeta

              REINALDO JOSÉ LOPES
              EDITOR DE CIÊNCIA E SAÚDE

              Duas pesquisas recentes reafirmam o consenso científico em torno da realidade do aquecimento global, embora também mostrem as incertezas do fenômeno.
              A primeira, coordenada pelo físico Richard Muller, da Universidade da Califórnia em Berkeley, foi divulgado numa conferência nos EUA e aguarda para ser publicado.
              Mas já ganhou relevância porque, até o mês passado, Muller era um cético do clima. Para ele, os dados usados para mostrar que o planeta está aquecendo não eram confiáveis.
              Decidido a colocar o consenso climático à prova, Muller organizou um estudo, o Best (sigla inglesa de "projeto Berkeley sobre a Temperatura da Superfície Terrestre").
              A pesquisa recebeu parte de seu financiamento da fundação Charles Koch, ligada à indústria do petróleo e responsável por bancar outros céticos climáticos e políticos conservadores nos EUA.
              Em artigo no "Wall Street Journal", um dos poucos grandes jornais em que a comunidade de céticos climáticos ainda tem voz, Muller explica o porquê de suas dúvidas iniciais sobre o aquecimento global: dados porcos.
              O xis do problema são as estações meteorológicas, principais responsáveis por recolher dados de temperatura e criar uma série histórica capaz de dizer se, afinal, o planeta está mais quente.
              Seguindo os dados obtidos por essas estações, o IPCC, painel do clima da ONU, estima que a temperatura média da Terra subiu 0,64 grau Celsius nos últimos 50 anos.
              Só que há um problema, escreve Muller: 70% dessas estações nos EUA possuem uma margem de erro superior a essa variação.
              Além disso, grande parte das medições de temperatura é feita em áreas urbanas, que ficaram mais quentes com asfalto, calçadas e concentração de prédios.
              Muller explica que a equipe do estudo Best usou uma série de controles experimentais para contornar esses vieses. Primeiro, eles usaram uma massa maior de registros do que as pesquisas tradicionais sobre o tema. Resultado: de quase 40 mil estações medidoras de temperatura mundo afora, dois terços mostraram sinais de aquecimento.
              Além disso, eles trabalharam com dados de satélite para levantar as tendências de temperatura apenas nas estações de medição em áreas rurais, e não houve diferença em relação às mais urbanas.
              E a magnitude do aquecimento é comparável tanto nas estações de boa qualidade quanto nas que trazem dados mais incertos.
              "Embora as estações de baixa qualidade trazem temperaturas incorretas, elas ainda assim seguem as mudanças de temperatura", afirma.

              INCERTEZAS
              Muller e colegas, porém, não investigaram as causas do aquecimento nem o que acontecerá daqui para a frente. Nesse último ponto, uma pesquisa publicada recentemente na revista científica "Journal of Geophysical Research" mostra que os cientistas ainda terão muito trabalho pela frente.
              Julia Crook e Piers Forster, da Universidade de Leeds (Reino Unido), fizeram uma análise detalhada dos modelos climáticos, as simulações por computador que servem para prever o futuro do clima.
              O jeito tradicional de verificar se esses modelos são úteis é tentar ver se eles reproduzem o que ocorreu com o clima no século 20.
              Eles conseguem isso, dizem os pesquisadores, mas de um jeito que não depende da força dos feedbacks positivos do clima, ou seja, da maneira como mudanças atuais amplificam o aquecimento futuro. Por exemplo: derreter gelo no Ártico torna a região mais escura. Com isso, ela absorve mais luz solar e esquenta ainda mais.
              Por causa disso, é provável que nenhum modelo atual seja capaz de capturar como será o clima do futuro.


              Essa é do G1, de hoje, 27 de outubro de 2011


              27/10/2011 06h43 - Atualizado em 27/10/2011 06h43

              'Fui otimista', diz autor do livro de 1968 que previa catástrofe global

              Professor em Stanford, Paul R. Ehrlich é autor de 'A bomba populacional'.
              Ele dizia que milhões morreriam de fome por excesso de pessoas no mundo.

              Daniel BuarqueDo G1, em São Paulo
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              O professor americano Paul R. Ehrlich, autor de 'Bomba populacional' (Foto: Divulgação)O professor americano Paul R. Ehrlich, autor de
              'Bomba populacional' (Foto: Divulgação)
              O professor americano Paul R. Ehrlich fez uma previsão catastrófica em 1968. O mundo tinha pessoas demais, e milhões morreriam de fome, se não houvesse um controle do aumento populacional. A teoria era parte do livro "Population bomb" (Bomba populacional), que se tornou um dos mais vendidos da época e reabriu uma discussão antiga (a do economista inglês Thomas Malthus) sobre a sustentabilidade da vida de bilhões de pessoas no planeta.
              Mais de 40 anos depois da publicação do seu trabalho mais conhecido, Ehrlich chegou a ser questionado por "erros" em suas estimativas, mas ele mantém a defesa da gravidade da situação. "Fui otimista na época em que publiquei o livro", disse, em entrevista ao G1 às vésperas de o número de pessoas no mundo atingir 7 bilhões - quase o dobro da população global na época em que o livro foi lançado.
              Policial controla presença famílias do Níger que passam fome após o governo pedir ajuda para lidar com escassez de alimentos (Foto: The New York Times)Policial controla presença famílias do Níger que passam fome após o governo pedir ajuda para lidar com escassez de alimentos (Foto: The New York Times)
              "Quando o livro saiu, em 1968, ainda não sabíamos exatamente o que ocorria na bacia amazônica, em termos de desmatamento. Também não sabíamos do aquecimento global, não esperávamos que houvesse um aumento das desigualdades sociais como se vê atualmente em todo o mundo", explicou. Segundo ele, o risco de colapso global ainda existe, por mais que o crescimento populacional esteja perdendo velocidade. "O risco é menor de que o que prevíamos em 68, mas ele ainda existe."
              Ehrlich nega que suas previsões tenham sido equivocadas, por tratarem de crescimento desenfreado. Mesmo que a ONU preveja atualmente uma estabilização do crescimento e até redução de população de alguns países até o fim do século, ele diz que a população atual já sobrecarrega o planeta. "Fala-se em 7 bilhões de pessoas como sendo menos do que o que esperávamos, mas não veem que estávamos certos em alguns aspectos, como a existência de um bilhão de pessoas que passam fome, ou 2 bilhões que vivem em pobreza extrema e se alimentam mal", disse.
              •  
              7 bilhões sete bilhões mundo habitantes ONU 2011 (Foto: Editoria de Arte/G1)

              Na corda bamba
              O pesquisador americano voltou ao tema em seu livro mais recente. Em "Humanity on a Tightrope" (Humanidade na corda bamba), ele trata da ideia de sustentabilidade com população de mais de 7 bilhões e de risco de colapso.
              "Precisamos diminuir a população do mundo, ou vamos chegar ao colapso da população global. Não é possível ter sustentabilidade com aumento da população", disse.
              Segundo ele, o primeiro passo para a busca pela estabilidade é a melhora na condição de vida das mulheres, para evitar filhos indesejados. Além disso, diz, é preciso reduzir o consumo global, e explorar melhor a ideia de felicidade, especialmente nos países ricos.
              Apesar de indicar um caminho alternativo, Ehrlich não se diz otimista. "Quando o livro saiu, em 1968, esperávamos que as pessoas fizessem algo, mudassem o mundo, mas nada mudou além da menor taxa de fecundidade que é registrada atualmente. Temos que aprender a nos preocupar com os outros. É preciso pensar nos mais pobres, de todo o mundo, como os do Brasil, por exemplo. Precisamos pensar que todos estamos no mesmo barco e somos uma única família, que vai enfrentar os problemas junta. Sou otimista em relação ao que poderíamos fazer, não em relação ao que estamos fazendo. Não há sinais de que vamos alcançar uma situação sustentável."



              Essa daqui apareceu no Estadão de hoje, 22 de setembro de 2011


              Lojas abolirão sacolas às quintas

              22 de setembro de 2011 | 3h 04

              O Estado de S.Paulo
              Todas as quintas, 22 lojas do Extra no Estado deixarão de distribuir sacolas plásticas, dentro do projeto Quinta-Feira Sem Sacola. Em julho, a iniciativa foi colocada em prática em 10 lojas, e agora a ação será ampliada para outras 12. Haverá embalagens mais sustentáveis para atender aos clientes, como carrinhos de lona, sacolas retornáveis, compostáveis e caixas de papelão. A gerente de sustentabilidade Lígia Korkes diz que alguns consumidores reclamaram durante o projeto-piloto, mas também houve elogios à iniciativa. "Queremos preparar o consumidor", afirma ela, referindo-se ao acordo entre governo e a associação de supermercados para acabar com a distribuição de sacolas a partir de 25 de janeiro de 2012.


              Artigo para lá de interessante no Estadão de hoje.


              ivendo num planeta sem macacos

              Se não agirmos agora, no futuro nossos filhos e netos perguntarão por que nós ficamos parados enquanto os grandes símios eram extintos

              10 de setembro de 2011 | 0h 00

              John C. Mitani - O Estado de S.Paulo
              N.Y.TIMES
              O lançamento do filme Planeta dos Macacos: a Origem coloca os grandes símios diretamente na consciência do grande público. Os frequentadores dos cinemas poderão se surpreender ao saber que antes de os seres humanos chegarem à cena, há cerca de 7 milhões de anos, os grandes macacos realmente governavam este planeta. Pelo menos 40 espécies vagavam pela Eurásia e pela África entre 10 milhões e 25 milhões de anos atrás. Hoje, restam somente cinco tipos. Dois vivem na Ásia, o gibão e o orangotango; os outros, o chimpanzé, o bonobo e o gorila, vivem na África. Os cinco estão ameaçados, alguns criticamente. Todos correm o risco de extinção.
              Uma década atrás, o Congresso americano iniciou um esforço relativamente barato, mas importante, para proteger esses macacos com programas de preservação inovadores na África e na Ásia que combinavam dinheiro dos contribuintes e recursos privados. Mas as tentativas para reabilitar o Fundo de Conservação dos Grandes Símios empacaram no Congresso e podem ser vítimas do debate maior sobre a dívida nacional.
              A descrição dos grandes macacos por Hollywood como criaturas astutas - e até calculistas - chega perto da verdade. Há 50 anos, as observações de Jane Goodall sobre chimpanzés que usavam ferramentas e comiam carne demonstraram como os grandes símios são parecidos com os seres humanos.
              Novos trabalhos de campo corroboraram esse ponto. Gibões, há muito considerados monogâmicos, ocasionalmente se acasalam com indivíduos fora de seu grupo. Orangotangos imaginam ferramentas para extrair sementes que, de outra forma, seriam difíceis de colher. Gorilas se engajam em intercâmbios vocais conversacionais, bonobos parecem fazer sexo não só para se reproduzir, mas também para aliviar o estresse. Chimpanzés machos formam coalizões para matar seus vizinhos e assumir o controle de seu território.
              Se tudo isso parece humano, é por uma boa razão. Os grandes macacos são nossos parentes vivos mais próximos e, em anatomia, genética e comportamento, eles são muito mais semelhantes a nós que a outros animais.
              Mas, enquanto a população humana se expande, o número de macacos continua a diminuir. Nos filmes anteriores da série Planeta dos Macacos, cobiça e consumo demonstrados por macacos parecidos com humanos colocaram o mundo em risco. Na verdade, são esses traços muito humanos que colocam os grandes símios em risco.
              A destruição dos hábitats pela atividade humana, incluindo exploração de madeira, de petróleo e agricultura de subsistência, é o principal problema. A caça é outro entrave, especialmente na África Ocidental e Central, onde o comércio de carne de animais selvagens ameaça os grandes símios. Agora, caçadores ilegais entram em florestas antes impenetráveis por estradas construídas por mineiros e madeireiros. E surtos periódicos de doenças mortais que podem infectar seres humanos e macacos, como o vírus Ebola, começaram a devastar populações de chimpanzés e gorilas.
              Fascínio. Os grandes macacos nos fascinam e cativam como nenhuma outra espécie. Eles são a principal atração em zoológicos, e cientistas de disciplinas que variam de antropologia a biologia e psicologia os estudam de perto em cativeiro e na vida selvagem. Como nossos primos-irmãos na família primata, os grandes macacos nos ajudam a compreender o que nos faz humanos.
              A Lei de Conservação dos Grandes Símios, sancionada em 2000, autorizou o gasto anual de US$ 5 milhões durante cinco anos para ajudar a proteger macacos na vida selvagem. A lei foi renovada em 2005 para outros cinco anos. O programa combina recursos públicos e privados para aumentar ao máximo seu impacto. Desde 2006, por exemplo, os US$ 21 milhões de recursos federais gastos pelo fundo geraram US$ 25 milhões adicionais em verbas privadas e apoio de outros governos.
              O dinheiro federal pode não parecer muito nesta era de "grande ciência", mas esses dólares foram importantes para proteger grandes símios em países que são deseperadamente pobres e politicamente voláteis. O dinheiro é usado para proteger hábitats, combater caçadores ilegais e educar populações locais sobre a importância desses macacos.
              Um planeta sem macacos não é uma fantasia de ficção científica. Se não agirmos agora, em algum momento do futuro, quando Hollywood continuar produzindo sequências do filme clássico de 1968, nossos filhos e os filhos de nossos filhos perguntarão, espantados e talvez com certa raiva, por que nós ficamos parados enquanto essas criaturas notáveis eram levadas à extinção. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
              É PROFESSOR DE ANTROPOLOGIA NA UNIVERSIDADE DE MICHIGAN 


              Notícia da FSP de 17.8.11
              Floresta intercalada a plantações de cana reduz emissões de CO2

              Árvores sequestram 17 vezes mais carbono por hectare do que a produção agrícola

              SABINE RIGHETTI
              ENVIADA A CAMPOS DO JORDÃO (SP)

              O Brasil precisa ter áreas significativas de florestas ao redor das plantações de cana para ter mais eficiência no sequestro de carbono.
              Essa é a conclusão de um grupo de cientistas liderado pelo biólogo da USP Marcos Buckeridge, diretor científico do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia.
              Em artigo aprovado pela revista "Global Change Biology Bioenergy", ele e colegas afirmam que áreas florestais intercaladas com a cana, técnica batizada de "caminho de meio", reduziria o impacto da produção quanto às emissões de carbono.
              Isso aconteceria principalmente onde ainda são feitas queimadas após a colheita.

              EMISSÕES
              Hoje, 75% das emissões de carbono do Brasil vêm da atividade agropecuária. A cana consegue absorver cerca de 7,4 toneladas de carbono por hectare a cada ano.
              Em média, estima-se que a plantação emita 800 kg de carbono a mais por ano do que é capaz de absorver, por causa das emissões do transporte e da queima.
              As florestas absorvem 17 vezes mais: 140 toneladas ao ano. Essa taxa é ainda maior nas florestas mais novas (de até 30 anos de idade) e em fase de crescimento.
              Os pesquisadores querem agora a área de floresta necessária para reduzir os impactos da produção. "Vamos levantar quantas florestas ainda existem na região dos canaviais do Estado de São Paulo para ver quanto mais teríamos de plantar", afirma Buckeridge.
              Ele participou de um evento internacional patrocinado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) sobre bioetanol, que vai até amanhã, em Campos do Jordão (SP).
              O biólogo quer calcular quanto carbono é armazenado por esses fragmentos de floresta e analisar os benefícios que a presença de áreas florestadas podem trazer ao cultivo da cana-de-açúcar.
              Esse trabalho será feito em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e deve ficar pronto em dois meses. "É uma pena não termos os dados antes da votação do Código Florestal [que tramita no Senado]."
              O novo código prevê a redução de áreas florestais para aumentar atividade agropecuária em regiões como margens de rios.

              Essa outra, prova clara do aquecimento global, vem do Estadão de hoje, 1/8/11


              Mudança de clima leva Grã-Bretanha a plantar chá

              Alteração torna o país mais quente e úmido, estimulando agricultores a fazer experiências com novas culturas

              01 de agosto de 2011 | 0h 00

              - O Estado de S.Paulo
              LONDRES
              A mudança do clima está levando agricultores britânicos a fazer experiências com a produção de azeitonas e nectarinas, que são importadas do sul da Europa. Outra novidade é a primeira plantação de chá britânico favorecida pela alteração climática.
              As flores dessas variedades desabrocharão mais cedo e a colheita começará antecipadamente, enquanto a Grã-Bretanha caminha para tornar-se uma nação mais úmida e mais quente.
              A plantação de chá começou na Cornualha, no sudoeste da Inglaterra, a região mais quente e hoje o centro da experimentação com novas culturas. "Tivemos a primeira oportunidade quando a temperatura se tornou mais amena em 1999, mas a primeira colheita foi em 2005, e nosso rendimento vem melhorando ano a ano", disse Jonathan Jones, diretor da Tregothnan Estate, que planta 22 variedades de chá.
              O agricultor Mark Diacono está experimentando uma ampla variedade de culturas como azeitonas, pecãs, pimenta Szechuan e damascos e inclui também em seu site um vinhedo da sua propriedade, que ele chama de "fazenda da mudança climática".
              David Leaver, professor emérito do Royal Agricultural College, diz que o potencial para novas culturas na Grã-Bretanha dependerá não apenas do grau do aquecimento global, mas também da possibilidade de criar novas variedades capazes de suportar climas mais frios.
              "O milho, por exemplo, nunca foi cultivado neste país, mas agora sua cultura está sendo cada vez mais tentada, principalmente por causa das novas conquistas dos pesquisadores, que conseguiram variedades que amadurecem mais cedo, e não por causa do aquecimento global - que não é o único fator que afeta a agricultura", afirmou Leaver.
              Robert Watson, do Ministério da Agricultura, advertiu que a mudança do clima também suscita preocupações na Grã-Bretanha, que depende em grande parte das importações de alimentos. "Se considerarmos o mundo como um todo, um aumento de 2 a 3 graus terá um impacto em geral negativo." / REUTERS 


              Essa vem do caderno New York Times da Folha de São Paulo de hoje

              Na Somália, fome e seca causam êxodo

              Por JEFFREY GETTLEMAN
              DADAAB, Quênia - A aglomeração começa de madrugada, mais de mil pessoas por dia, exaustas, doentes e famintas, materializando-se do ar do deserto para assumir seus lugares nos portões do maior campo de refugiados do mundo, que fica aqui no norte do Quênia.
              Elas fogem de uma das piores secas na Somália em 60 anos, e muitas caminharam durante semanas por uma paisagem caótica, cheia de bandidos e militantes, com pouca comida.
              Quando chegam aqui, muitas mal conseguem ficar de pé, falar ou engolir. Algumas mães chegam com os corpos dos bebês enrugados amarrados em suas costas.
              Abdio Ali Elmoi segura seu filho, Mustapha, cujos olhos estão embaçados. Ela já perdeu três filhos para a fome ou gaajo. "Eu caminhei o dia e a noite inteiros", ela sussurra. "De onde eu venho, não há comida."
              A ONU declarou fome em várias áreas da Somália. A seca é apenas parte da culpa: militantes islâmicos no sul da Somália expulsaram organizações ocidentais de ajuda no ano passado. Somente agora, com quase 3 milhões de somalis em necessidade urgente e mais de 10 milhões em risco em todo o ressecado Chifre da África, os militantes cederam e convidaram grupos de ajuda a voltar. Mas poucos estão chegando por causa das complicações e dos perigos de lidar com um grupo brutal aliado à Al Qaeda.
              Os somalis não estão esperando. Dezenas de milhares deles, possivelmente centenas de milhares, estão fugindo para o Quênia e a Etiópia em busca de ajuda. Mas o governo do Quênia diz que está sobrecarregado e tem impedido a ONU de abrir um novo campo de US$ 15 milhões aqui em Dadaab. 
              Cerca de 380 mil pessoas já vivem nos diversos acampamentos que formam Dadaab (que deveriam conter 90 mil), e os quenianos temem que os somalis continuem vindo para cá e não voltem para sua terra.
              "Pessoalmente, eu já fiz o que podia", disse Gerald Otieno Kajwang, o ministro da Imigração do Quênia. "Mas o número dos que chegam é grande demais, e eles ameaçam nossa segurança."
              Várias autoridades de ajuda afirmaram que os quenianos estavam simplesmente tentando extrair mais dinheiro de aliados ocidentais antes de ceder. O atraso deixou milhares de refugiados nas bordas de Dadaab, no deserto, muitos com crianças doentes amontoadas sob as árvores.
              "É chocante", disse Alexandra Lopoukhine, porta-voz do grupo de ajuda CARE, que trabalha em Dadaab.
              O pavilhão pediátrico na seção de Dagahaley é um purgatório com iluminação fluorescente. Dezenas de crianças muito magras estão deitadas em cobertores de lã grossa -as enfermeiras dizem que provavelmente menos da metade vai sobreviver-, com a pele frouxa e os olhos vidrados, as cabeças grandes demais para seus corpos. Muitas têm os tubos de soro presos à lateral da cabeça.
              "Colapso vascular", explicou um médico queniano. "Não conseguimos encontrar uma veia em outro lugar."
              Isak Abdi Saney, um ex-agricultor, espera a morte. Ele levanta delicadamente a camisa do seu filho de seis meses. Todas as costelas são visíveis abaixo da pele transparente como papel de seda. Cada respiração parece que poderá ser a última. "Não sabemos se ele está morto ou vivo, por isso continuamos olhando", diz Isak, tocando no peito minúsculo do seu filho.
              Ele caminhou durante 20 dias desde a Somália para chegar aqui. O que encontrou foi o que muitos outros refugiados descreveram: pilhas de animais mortos, aldeias vazias, pessoas morrendo de fome, uma trilha ininterrupta de corpos desde sua aldeia até o acampamento. "Não restou nada lá", ele disse. Como é tão difícil e perigoso para os forasteiros visitarem áreas controladas pelo grupo militante Shabab, é difícil avaliar a profundidade da seca. Mas, segundo um programa de monitoramento da fome financiado pelos EUA, "no último ano, a parte leste do Chifre da África experimentou temporadas consecutivas de chuva fracas, resultando em um dos anos mais secos desde 1950-51 em muitas áreas pastoris".
              Os anos de conflito -e o recente aumento dos preços dos alimentos- esgotaram a capacidade da Somália de suportar. Milhares de pessoas estão deixando áreas rurais relativamente tranquilas para buscar refúgio até em Mogadíscio, a capital da Somália tomada por tiroteios que experimenta um êxodo em massa há anos por causa da luta entre o governo frágil e os militantes islâmicos.
              A estrada para Dadaab, que fica a cerca de 80 km da fronteira do Quênia, é perigosa, serpenteando através de um dos ambientes mais impiedosos do mundo. Refugiados foram emboscados, violentados e mortos pelos diversos grupos armados que vagam pelo território. A maioria chega aqui sem um tostão e desmoralizada. Muitos pais dizem que enterraram seus filhos no caminho.
              Alguns morrem pouco antes de conseguir ajuda: bem na frente da área de recepção no acampamento, há dezenas de túmulos recém-cavados.



              Essa notícia também vem da Folha de São Paulo de hoje, 6 de julho.


              Capital da Dinamarca terá bairro em cima do oceano

              Extensão foi projetada para evitar o uso de áreas verdes de Copenhague

              Cerca de 40 mil pessoas devem ocupar a região a partir de 2025, afirma governo do país; ideia venceu concurso

              SABINE RIGHETTI
              ENVIADA ESPECIAL A COPENHAGUE

              Copenhague não tem mais para onde crescer sem invadir áreas verdes. Por isso, a prefeitura resolveu fazer um "puxadinho" no mar. A área será uma extensão de Nordhavnen, uma região portuária importante que fica no norte da Copenhague. Será o equivalente a 200 estádios de futebol construídos sobre o mar, por meio de aterros que criarão ilhotas.
              Os trechos habitados do arquipélago artificial serão cortados por canais e pontes. 
              As obras devem começar já neste ano. A previsão é que uma primeira parte fique pronta em 2025. Mas a conclusão do projeto deve acontecer somente em 2050.
              "Não podemos reduzir as áreas verdes para construir mais casas e precisaremos de mais moradia nos próximos anos", explica Jørgen Abildgaard, coordenador de assuntos climáticos da prefeitura de Copenhague.

              CRESCIMENTO MODESTO
              Até 2025, a cidade deve atrair pelo menos mais 60 mil moradores -nascidos na capital ou vindos de outras cidades e países. Hoje, Copenhague tem muitos parques e ampla reserva florestal na parte sul da cidade, ao lado do aeroporto. A legislação local também impede a cidade de "crescer para cima": os prédios da capital dinamarquesa não podem ter mais de seis andares. 
              A única exceção para a regra será um prédio da ONU com 20 andares, que será construído em Nordhavnen.
              A ideia é que pelo menos 40  mil pessoas morem na nova área, que também terá uma área empresarial. 
              As ciclofaixas deverão ser parte importante do traçado da nova Nordhavnen. Hoje, 36% da população de Copenhague usa a bicicleta como principal meio de transporte. 
              O custo da obra, que ainda não está totalmente estimado, será dividido entre o governo e as empresas que se instalarem na região. A proposta do grande "porto-puxadinho" no mar surgiu em uma competição de ideias, organizada pela prefeitura da capital. O objetivo era saber o que os dinamarqueses propunham para que a cidade ganhasse mais espaço sem reduzir áreas verdes. O puxadinho acabou ficando em primeiro lugar.
              O projeto foi formulado de maneira a levar em conta uma possível invasão da água, caso os níveis do oceano subam por causa do aquecimento global.
              "Não podemos negar os possíveis efeitos das mudanças climáticas para o país. Já estamos fazendo projetos para lidar com o aumento do nível da água em Copenhague", conclui Abildgaard.

              A jornalista SABINE RIGHETTI viajou a convite do Consórcio do Clima da Dinamarca, instituição ligada ao governo dinamarquês 


              Está na Folha de São Paulo de hoje. Na verdade, o assunto caminha melhor pela educação ambiental e também pela cobrança das sacolinhas.


              01/07/2011 - 09h00

              Justiça concede liminar contra lei de sacolas plásticas

              PUBLICIDADE

              Hoje na FolhaO Tribunal de Justiça derrubou, em caráter liminar, a lei que proíbe a distribuição de sacolinhas plásticas em supermercados na cidade de São Paulo, informa a coluna Mercado Aberto de hoje na Folha.
              íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
              A decisão foi tomada na quarta-feira e publicada ontem no "Diário da Justiça".
              A lei havia entrado em vigor em maio, mas garantia um período de adaptação aos estabelecimentos comerciais até 31 de dezembro.
              O Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo foi quem entrou com a ação.


              A Folha de São Paulo de hoje tem outra notícia interessante. Na edição impressa existem desenhos para ilustrar melhor tudo isso.

              commodities 

              Bagaço vai gerar energia para "uma Diadema"

              Subproduto da cana, a biomassa é o foco de parceria entre CPFL e usinas

              Estratégia para ampliar o setor foi investir na construção de plantas geradoras de energia dentro das usinas 

              LEANDRO MARTINS
              DE RIBEIRÃO PRETO 

              Gerar energia, por meio do bagaço da cana-de-açúcar, para uma cidade do porte de São José do Rio Preto, Mogi das Cruzes ou Diadema. 
              Ou abastecer regiões inteiras da capital paulista, como as que são formadas pelas subprefeituras da Vila Mariana, da Sé ou de Santana. 
              É esse o potencial de geração de energia da chamada biomassa que a CPFL pretende atingir até o final de 2012, garantindo, por meio da queima do bagaço, eletricidade para 400 mil pessoas. 
              O avanço nesse segmento tem sido possível graças à estratégia da CPFL de investir na construção de plantas geradoras de eletricidade dentro de usinas, em parceria com as empresas. 
              Outro impulso foi a fusão, em abril, entre a CPFL e a Ersa, que deu origem à empresa CPFL Renováveis. 
              Juntas, as duas empresas terão em seu portfólio 4.375 MW de energia de fontes renováveis, considerando projetos em operação, construção e desenvolvimento. Desse total, a energia da biomassa corresponde a 36%. 
              Em termos percentuais, a participação da biomassa no parque gerador da CPFL vai superar o total da matriz energética nacional. 
              Segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), das unidades em operação atualmente no país, as usinas movidas por bagaço de cana correspondem a 5,2% da capacidade total. 

              SUBPRODUTO 
              O bagaço é o último subproduto das usinas. Cada tonelada de cana gera 250 kg do material. 
              Atualmente, a CPFL tem uma unidade abastecida por biomassa dentro da usina Baldin, em Pirassununga (interior de SP). Outras três unidades devem entrar em operação neste ano em São Paulo e uma no Rio Grande do Norte, em 2012. 
              Juntas, essas cinco usinas atingirão 230 MW de potência instalada. 
              A esse potencial atrelam-se outros 400 MW que, segundo o copresidente da CPFL Renováveis, Miguel Saad, já fazem parte de acordos firmados entre a empresa e usinas, para novas plantas. 
              "São projetos em condições de ser iniciados nos próximos três meses", disse Saad. O prazo médio para início de operação das novas usinas é de um ano e meio. 
              Ainda segundo Saad, a CPFL Renováveis tem previsão de investir, nos próximos cinco anos, cerca de R$ 2 bilhões na área de biomassa. 

              FOLHA.com

              Leia sobre o uso da palha para gerar energia 
              folha.com.br/me923415 




              Essa outra está na Folha de São Paulo de hoje, 31 de maio de 2011. É bom ver o mundo indo cada vez mais no rumo da energia limpa, como diz, aliás, a notícia de ontem, copiada da Folha de São Paulo também.


              Alemanha abandonará energia nuclear

              Governo quer desativar usinas do país até 2022; algumas, porém, podem ficar em stand-by para evitar desabastecimento

              Gestão Angela Merkel mudou de posição após acidente no Japão; 80% dos alemães são contra uso de energia atômica


              Michael Gottschalk - 29.mai.2011/ Associated Press
              Ativista no alto do portão de Brandemburgo,em Berlim, durante
              ato contra a política nuclear do governo, anteontem
               

              CAROLINA VILA-NOVA
              EM BERLIM 

              A Alemanha anunciou ontem um plano para pôr fim definitivo ao uso de energia nuclear até 2022, no que está sendo chamado no país de uma "virada energética".
              Cerca de 22% da energia produzida na Alemanha hoje é de origem nuclear. Com a mudança, fontes renováveis passarão a responder por 35% da produção -o dobro do percentual atual. O restante virá principalmente de fontes como carvão e gás.
              O plano foi anunciado pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, após reunião entre os partidos que integram a coalizão da chanceler (premiê) Angela Merkel. A ideia é que a proposta seja formalizada pelo gabinete na semana que vem e submetida ao Parlamento.
              "Não é nada mais, nada menos que uma revolução. Temos a chance de ser a primeira nação industrial a fazer a transição para a energia renovável", disse Merkel.
              Pelo plano, as 17 usinas nucleares do país serão desativadas até 2021. Há, porém, possibilidade de extensão por um ano para três delas.
              Além disso, as sete usinas cujas atividades haviam sido congeladas por três meses em março, após o acidente nuclear em Fukushima (Japão), já não voltam a operar. Uma usina que estava parada desde acidente em 2009 também será desativada.
              Trata-se das instalações mais antigas no país. Porém ao menos uma delas ficará em stand-by também, para um eventual desabastecimento. As demais nove usinas serão desligadas ao longo dos próximos dez anos.
              O plano representa uma reversão da posição tradicional da chanceler sobre energia nuclear. Em 2010, seu governo decidira prolongar em 12 anos, em média, a vida útil das usinas mais antigas.
              O acidente de Fukushima - somado ao temor de novas derrotas nas eleições estaduais deste ano, como a que ocorreu em Baden-Württemberg em março- provocou a guinada. Cerca de 80% dos alemães são contrários à utilização de energia nuclear.

              CONTROVÉRSIAS
              Para Hans-Joachim Ziesing, analista sênior do Instituto Ecológico, embora a decisão seja "muito importante", ela precisa ser acompanhada de medidas como um programa de expansão do uso da energia renovável.
              Outros analistas afirmam que o maior uso do carvão pode significar que, no longo prazo, a Alemanha e o mundo se tornem "mais sujos".
              A imprensa alemã fala do risco de alta das tarifas, de desabastecimento no inverno e de indenizações bilionárias por parte das quatro empresas que administram as usinas. O governo ainda não decidiu o que fará dos reatores depois de desativá-los

              Essa notícia está no caderno New York Times da Folha de São Paulo de hoje, 30 de maio de 2011.

              Energia solar desenvolvida em terrenos desocupados

              Por ALISON GREGOR
              PISCATAWAY, Nova Jersey - Desde a recessão econômica, moradores e empresas têm procurado maneiras de usar terrenos que talvez não interessem mais aos desenvolvedores ou construtores de residências. Uma opção é construir "fazendas" de energia solar onde milhares de painéis solares transformam a energia do sol em eletricidade.
              Desenvolvedores e empresas de serviços públicos têm um incentivo para fazer isso em Nova Jersey onde o mercado de Certificados de Energia Renovável Solar do Estado, juntamente com incentivos federais e locais, tornaram a energia solar rentável.
              Painéis solares sobre armazéns e casas de subúrbio já são comuns, e algumas empresas também estão usando terrenos desocupados com o objetivo de construir pequenas fazendas solares para abastecê-las, disse Adam J. Zellner, presidente da Greener by Design, uma companhia de investimentos em energia e gestão ambiental em New Brunswick, Nova Jersey.
              "Escritórios de empresas têm microfazendas, de aproximadamente 10 mil metros quadrados, que ficam ao lado do prédio", ele disse. "São lugares adequados para que as pessoas que desenvolvem energia solar abasteçam diretamente essas empresas."
              Grandes fazendas foram propostas e criadas, incluindo uma que abriu em outubro de 2009, no Campus Livingston da Universidade Rutgers. A instalação solar de US$ 10 milhões e 1.400 quilowatts, com mais de 7.000 painéis solares em 2,8 hectares, está no lado menor do espectro de fazendas -algumas na Europa têm centenas de hectares-, mas a energia que produz é coletada para alimentar o campus.
              A fazenda solar supre cerca de 11% da demanda de eletricidade do campus, reduzindo suas emissões de dióxido de carbono em 1.180 toneladas por ano, segundo a universidade. Mas onde a fazenda realmente começa a compensar é na coleta de Certificados de Energia Renovável Solar, uma espécie de crédito pelo uso de energia limpa, disse Zellner. A Rutgers pode, então, vender os certificados em um mercado popular entre empresas que querem evitar penalidades impostas pelo Estado às geradoras de energia poluente.
              "Você pode ver que, até hoje, eles economizaram US$ 235,7 mil do gasto com eletricidade, mas ganharam certificados que podem vender por cerca de US$ 1,4 milhão", disse Zellner. 
              Uma fazenda solar de 6.500 kW proposta para 14 hectares em um aterro sanitário em Stafford Township pode participar de um programa piloto do Conselho de Empresas de Serviços Públicos de Nova Jersey que permitiria ao desenvolvedor vender energia produzida para 216 apartamentos, disse Ed Walters, presidente do Walters Group, que está construindo os apartamentos.
              Consistindo em 24,6 mil painéis, a fazenda solar vai levar cerca de dois anos para ficar pronta; a construção começou no início de maio. Além dos apartamentos, a fazenda vai abastecer nove edifícios do governo que ficam no local, uma loja já existente e 23,2 mil metros quadrados de novas lojas, disse Walters.
              Ao construir a fazenda solar em um aterro sanitário, o Walters Group conseguiu evitar as críticas de alguns ambientalistas de que as fazendas solares destroem o pouco espaço aberto que resta em Nova Jersey, disse Walters. As objeções ambientais poderão ser um obstáculo para algumas fazendas solares, disse Zellner, da Greener by Design. 
              Vários projetos solares em escala de serviço público também foram retidos, pois produziriam uma voltagem superior à suportada pelas linhas de transmissão existentes, disse Lee A. Solomon, presidente do Conselho de Empresas Públicas de Nova Jersey. 
              Ele antecipou que a situação seria remediada por legislação. "Eu acho que isso vai acontecer, e eles poderão conectar a linhas maiores", ele disse. "Isso deveria liberar parte do sistema para alguns desses projetos maiores."

              Sei que é um pouco fora do tópico, mas seguem aqui umas fotos da viagem à África

              Pôr do sol no rio Zambezi

              Uma das alas do hotel Victoria Falls, no Zimbábue


              Recomendação de filme
              Ontem eu assisti o documentário "6 graus", que foi feito pela National Geographic. Fala da possibilidade de elevação da temperatura da Terra em 6 graus e qual o impacto disso na vida e no clima mundial. Excelente.

              Notícia do Estadão de hoje, 2/3/11

              Para resolver enchentes, SP pode sujar Represa Billings
              02 de março de 2011 | 9h 23
              Leia a notícia
              Email ImprimirA+ A- Compartilhar
              AE - Agência Estado
              O governo de São Paulo quer aumentar de 12 para 15 o número de equipamentos que bombeiam água dos Rios Tietê e Pinheiros para a Represa Billings. Hoje os existentes nas Usinas Elevatórias de Traição e Pedreira jogam 675 metros cúbicos por segundo. O plano é aumentar em 200 metros cúbicos por segundo. Mas essa alternativa da administração estadual para minimizar enchentes na capital já desperta polêmica: além de ineficaz, especialistas dizem que ela pode aumentar o volume de sujeira no manancial que abastece quase 30% da região metropolitana de São Paulo.



              O bombeamento de águas do Pinheiros para a Billings foi proibido em 5 de outubro de 1992. O despejo pode ocorrer apenas em situações de emergência: para evitar enchentes na capital ou falta de água nas indústrias da Baixada Santista. Fora disso, a prioridade é não poluir as águas, utilizadas para abastecimento.


              "É proibido pela Constituição paulista bombear o Pinheiros para a Billings. Agora, na enchente, eu não vejo problema", disse ontem o governador Geraldo Alckmin (PSDB). "No caso do Pinheiros, estamos estudando aumentar ainda mais o bombeamento. À medida que você bombear com mais eficiência para a Billings, fizer a reversão do Pinheiros, você ajuda o Tietê a passar mais depressa."


              A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), responsável pelo bombeamento, informou que a instalação de três novas bombas aumentará a disponibilidade e a confiabilidade do sistema, que deve estar apto a atuar em momentos de chuva intensa, com risco de enchentes. Mas não aumentará o volume de água bombeada, "que continuará sendo análogo aos volumes provocados pelas cheias atuais". A justificativa para ampliar a quantidade de equipamentos é bombear em um tempo menor, drenando rapidamente regiões de várzea dos Rios Pinheiros e Tietê, para evitar transbordamento.


              A previsão para compra das três bombas, fabricação, obras civis e instalação é dezembro de 2013. O custo será de R$ 190 milhões, segundo a Emae. Alckmin aposta que os investimentos em coleta a tratamento de esgoto na terceira etapa do Projeto Tietê também vão melhorar a qualidade da água dos rios, minimizando impactos ambientais do bombeamento na Billings. "Vai melhorar muito o Pinheiros, que pode ficar até no mesmo nível ou melhor que a Billings." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.





              Deu no IG, hoje

              O Brasil é a nova China em energia eólica
              Entidade que trabalha para o desenvolvimento do setor afirma que o Nordeste tem melhores condições de geração que a Alemanha
              Nelson Rocco, iG São Paulo | 09/02/2011 10:03
              A+ A-
              Compartilhar: O Brasil se tornou a bola da vez em energia eólica na visão das empresas que atuam no setor, posição detida pela Argentina no final dos anos 1990. Essa é a razão do desembarque das grandes empresas do segmento para disputar os leilões que vêm sendo promovidos pelo governo federal desde o final de 2009. “Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista”, diz Steve Sawyer, secretário-geral da Global Wind Energy Council (GWEC).

              A capacidade instalada de energia eólica no País era de 606 megawatts em 2009, segundo dados da GWEC, organização não governamental com sede em Bruxelas, na Bélgica, que trabalha pelo desenvolvimento do setor em todo o mundo. No ano passado, diz a entidade, foram acrescentados mais 326 megawatts à capacidade brasileira, elevando o total para cerca de 930 megawatts, quase metade do que está disponível em toda a América Latina.


              Foto: NYT
              Trubinas de geração de energia: custos estão em baixa, favorecendo investimentos
              O norte-americano Sawyer, secretário-geral da GWEC, está bastante otimista com o Brasil. Ele está em São Paulo para o “Wind Forum Brazil 2011”, que se realiza até amanhã. Em entrevista ao iG, disse que o Nordeste brasileiro tem uma das melhores condições climáticas para a geração de energia a vento.

              “A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena, na média de diversas usinas no mundo, por ano. No Brasil, há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que a Alemanha”, conta o executivo.

              O crescimento da economia e as condições climáticas têm atraído a atenção das maiores competidoras mundiais do setor, afirma. “O maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir.”

              Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

              iG: América Latina já tem uma boa produção de energia eólica ou está em um estágio inicial?

              Steve Sawyer: América Latina está num estágio inicial, com o Brasil na liderança, onde deveria estar, mas todos ainda no começo. Porém com o desenvolvimento nos últimos seis ou sete anos, principalmente nos últimos 12 a 18 meses, acho que a indústria no Brasil está entrando no seu caminho. Isso pelos acordos e anúncios do resultado do primeiro leilão de energia eólica ocorrido em 2009, do segundo, ocorrido no ano passado, e próximo que ocorrerá em junho. Investidores internacionais e empresas agora têm uma visão clara de como o mercado deve ser.

              Os leilões e o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, do governo federal) garantiram contratos de investimentos na geração de 500 megawatts (MW), sem contar os próximos leilões que ocorrerão neste ano. E há o comprometimento do governo de que fará leilões de outro tanto a cada ano.

              Porém penso que o maior sinal é que, desde o leilão de dezembro de 2009, vimos Alston, Gamesa, GE, Siemens, Suzlon e LM Glass Fiber, os maiores integrantes desse setor, se comprometendo a investir e os investimentos virão rápido, acredito.

              iG: Quanto você calcula que eles irão investir?

              Sawyer: Construir uma usina de geração eólica não requer um investimento enorme, algumas dezenas de milhões de dólares. Não é como uma usina siderúrgica ou algo assim. Mas o tamanho de cada usina, o que irão gerar em empregos e o que irão demandar de capital dependem do desenvolvimento do mercado. Por fim, todas essas grandes companhias têm de reconhecer que o Brasil será um mercado forte e que, pelos nossos cálculos, fará valer os investimentos.

              iG: Há alguns anos tínhamos um mito de que os custos da energia eólica eram muito altos. Isso é verdade ou apenas um mito?

              Sawyer: É o custo do aprendizado tecnológico. Cada vez que dobramos a capacidade total instalada em uma companhia, os custos tecnológicos caem em torno de 10%. Essa é uma boa teoria e, em geral, ela provavelmente é verdadeira. Mas não leva em conta uma série de coisas, como a baixa demanda das empresas de energia ou o preço das commodities.

              O preço da tecnologia tem caído muito por conta do processo de produção, da eficiência que as geradoras têm conseguido. Tivemos um pico de custos em 2007, quando a indústria estava realmente no auge, a demanda estava muito maior que a capacidade, processo que foi interrompido com a quebra do Lehman Brothers (em 2008). Agora os preços voltaram a subir novamente.

              iG: Você poderia nos dizer quanto custa uma turbina?

              Sawyer: Varia muito, de acordo com o tipo de turbina, as condições de vento que ela deverá enfrentar e onde será fabricada, além de muitos outros fatores. Mas de acordo com a Bloomberg New Energy Finance (uma publicação especializada), do início desta semana, as instalações para cada megawatt de energia gerada estavam em cerca de US$ 1 milhão no ano passado, menos do que era necessário em 2005.

              iG: Então estamos em uma boa época para investimentos...

              Sawyer: Estamos em um momento muito bom e o Brasil, especificamente, porque há capacidade excedente de produção ao redor do mundo, o mercado tradicional para energia eólica nos Estados Unidos e na Europa está fraco, e o crescimento tem sido transferido nos últimos anos para a China, a Índia, outros países. A China já ficou grande demais hoje e dobra sua capacidade a cada ano. Por isso, principalmente os fabricantes europeus, estão desesperados para novos mercados. Todos querem encontrar a nova China e o Brasil está no topo da lista.

              iG: Você já conhece nossas fazendas geradoras?

              Sawyer: Algumas delas. Para mim, o Brasil tem uma das melhores condições de vento no mundo, particularmente na costa do Nordeste. Há vento muito forte em toda a costa, sem muitas turbulências, com poucas tempestades. Então está entre as melhores condições no mundo.

              Há várias maneiras de medir o vento como fonte de energia. A taxa de geração de energia de uma turbina de um megawatt é aproximadamente 27% da capacidade plena por ano, na média de diversas usinas no mundo. Porque o vento sopra o tempo todo, mas nem sempre a turbina consegue chegar à sua capacidade total. No Brasil há locais em que essa taxa chega a 45% ou 50%. Pode-se dizer que os melhores locais estão no Ceará e no Rio Grande do Norte, com duas vezes mais capacidade de geração que na Alemanha.

              iG: A produção de energia eólica do Brasil é significativa se comparada às outras fontes? O que você prevê para a produção do País?

              Sawyer: Não sei exatamente, mas é menos de 1% do total das fontes. As previsões dependem de uma série de fatores, como quanto o Brasil continuará crescendo, se 5%, 6% ou 7%, como no último ano; quanto será a demanda para a energia elétrica e para a eólica e para a proveniente do gás e da biomassa; além de quanto será investido em cada uma delas.

              Depende também de quando o País passará a cobrar pelas emissões de gás carbônico e qual será seu impacto no setor de energia. Vocês hoje não pagam pela emissão, mas passarão a pagar a partir de 2020, se não me engano, e isso trará efeitos nas decisões de investimentos.

              Mas não vejo razão de o Brasil não alcançar em energia eólica de 15% a 20% de toda a capacidade de geração instalada até 2020, se as condições ajudarem, fornecendo de 8% a 10% de toda a energia elétrica. Mas isso depende de decisões políticas e de decisões de investimento.

              iG: A Argentina também tem uma boa capacidade de geração eólica. O que houve com eles que perderam o passo?

              Sawyer: No final dos anos 1990, a Argentina seria o lugar em termos de energia eólica na América Latina. É engraçado. Néstor Kirchner (1950-2010) era um grande torcedor para atrair investimentos para Santa Rosa e Patagônia. Seriam feitos os primeiros investimentos para construir nesses locais as primeiras fazendas de energia do País. Nós estávamos excitados porque ele acabou sendo eleito presidente. Porém, quando foi para Buenos Aires, ele esqueceu tudo sobre energia eólica, tudo sobre nós.

              Depois disso, os argentinos tiveram a crise cambial, a crise econômica e uma série de problemas. No último ano, eles realizaram pela primeira vez um leilão de energia eólica. É um projeto pequeno, de 27 megawatts de geração, mas é o primeiro em aumento de capacidade de energia em muitos anos



              Essa aqui está na Folha deh oje, 4 de fevereiro de 2011.


              04/02/2011 - 10h15

              Amazônia teve a pior seca dos últimos cem anos

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              SABINE RIGHETTI
              DE SÃO PAULO

              A seca de 2010 da Amazônia foi a pior dos últimos cem anos. E a quantidade de CO2 emitido pelas árvores mortas pode ser parecida com as emissões dos EUA.
              As constatações são de estudiosos britânicos (da Universidade de Leeds) e de brasileiros do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Eles publicaram um artigo na revista "Science".
              O grupo de pesquisadores, liderado pelo britânico Simon Lewis, mostrou que a seca de 2010 foi mais intensa e afetou uma área maior que a estiagem de 2005 --até então considerada recorde em várias décadas.
              No ano passado, uma área de 3 milhões quilômetros quadrados foi atingida pela estiagem, contra 1,9 milhão quilômetros quadrados em 2005.
              Rodrigo Baleia/Folhapress
              Embarcações encalhadas em Tefé, na Amazônia; árvores mortas liberam CO2 semelhante às emissões dos EUA
              Embarcações encalhadas em Tefé, na Amazônia; árvores mortas liberam CO2 semelhante às emissões dos EUA
              Os cientistas fizeram um cálculo do desvio da média de chuvas comuns nas estações secas da Amazônia (chamado de desvio padrão).
              "A intensidade da seca foi maior em 2010 em relação à média", explica o biólogo Paulo Brando, do Ipam, um dos autores do trabalho.
              A segunda parte do estudo, explica ele, verificou quais as consequências dessa seca do ponto de vista dos estoques de carbono. Aí vem a outra má notícia: com as secas, a floresta emitirá mais CO2 do que absorverá.
              Os pesquisadores relacionaram os dados de seca de 2010 com o crescimento das árvores (a partir de dados de campo coletados em 2005).
              A conclusão foi que a seca do ano passado pode emitir 5 bilhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2010 e nos próximos anos. Isso não acontece de uma vez, já que a decomposição das árvores mortas é um processo lento.
              Para se ter uma ideia do que isso significa: a emissão da queima de combustíveis fósseis dos EUA é de 5,4 bilhões de toneladas por ano. Em condições "normais", estima-se que a Amazônia absorva 1,5 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera.
              "A seca de 2010 talvez tenha matado as árvores que já estavam vulneráveis por causa de 2005", explica Brando.
              "Pode ser que a floresta se recupere, mas ainda não fomos para campo medir. Ainda temos muito trabalho de campo pela frente", diz.
              Para o climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), é preciso analisar os dados com cuidado.
              "Reduzimos o desmatamento em cinco anos, mas um fenômeno natural deixou nossa absorção de CO2 na estaca zero. Se esses cálculos não forem bem interpretados, poderão ser usados a favor do desmatamento", diz.
              Marengo e sua equipe já mostraram que a seca de 2010 reduziu mais os níveis dos rios amazônicos que a estiagem anterior, de 2005.



              Essa notícia saiu no caderno New York Times da Folha de São Paulo de hoje, 31.1.11.


              | 31/01/2011 |



              Criando energia além da rede

              Energia renovável a preços acessíveis para os mais pobres.

              Para Sara Ruto, a desesperada ânsia por eletricidade começou no ano passado, com a aquisição do seu primeiro celular, crucial para que ela recebesse pequenas transferências monetárias, contatasse parentes ou checasse o preço do frango no mercado mais próximo.

              Mas recarregar o telefone não era tarefa simples. Toda semana, Ruto caminhava 3 km para pegar um mototáxi e viajar mais três horas até Mogotio, a cidade mais próxima. Lá, deixava seu celular numa loja que cobra US$ 0,30 para recarregar um telefone. Havia tanta demanda que ela precisava deixar o celular na loja durante três dias inteiros. A desgastante rotina terminou em fevereiro, quando a família vendeu alguns animais para comprar, por cerca de US$ 80, um pequeno sistema de energia solar, de fabricação chinesa. Agora pendurado no teto de estanho do seu casebre com paredes de barro, um solitário painel solar fornece energia suficiente para recarregar o celular e acender quatro lâmpadas. "Minha principal motivação foi o telefone, mas isso mudou muitas outras coisas", disse Ruto.

              Desde que ela instalou o sistema, as notas dos seus filhos adolescentes melhoraram, porque eles têm luz para estudar. Os bebês não correm mais o risco de se queimar com as fumacentas lamparinas de querosene. E a cada mês ela poupa US$ 15 em querosene e pilhas -mais os US$ 20 que ela gastava em transporte.

              Ao se tornar mais barata, mais confiável e mais eficiente, a energia renovável em pequena escala está beneficiando pessoas que vivem distantes das redes elétricas dos países em desenvolvimento, cuja expansão é lenta.

              "Você passa por cima da necessidade de linhas fixas", disse Adam Kendall, diretor de práticas energéticas da África Subsaariana na consultoria global McKinsey & Company. "A energia renovável se torna cada vez mais importante em mercados cada vez menos desenvolvidos."

              Dana Younger, consultor-sênior de energia renovável da Corporação Internacional de Finanças, ligada ao Banco Mundial, disse que "esse é um fenômeno que está varrendo o mundo".

              Com o advento de painéis solares baratos e de lâmpadas LED de alta eficiência, capazes de iluminar um cômodo com apenas 4 watts de energia, esses pequenos sistemas solares geram eletricidade a um preço acessível até aos mais pobres. "A gente está vendo pastores na Mongólia Interior com células solares no topo das suas iurtas", disse Younger.

              As tecnologias de energia renovável projetadas para os pobres incluem câmaras subterrâneas simples de biogás, que produzem combustível a partir do esterco de algumas vacas, ou mini-hidrelétricas capazes de abastecer uma aldeia inteira.

              "O grande problema para nós agora é que não há ainda um modelo de negócios", disse John Maina, coordenador-executivo da ONG queniana Serviços Sustentáveis de Desenvolvimento Comunitário, que se dedica a levar energia a áreas rurais.

              Investidores relutam em despejar dinheiro em produtos que atendem um mercado disperso de consumidores rurais pobres, porque consideram o risco alto demais. Mesmo assim, alguns novos modelos estão surgindo. Desde 2007, a empresa Husk Power Systems, bancada por uma mistura de investimentos privados e verbas filantrópicas, construiu 60 usinas em áreas rurais da Índia, para gerar energia a partir de casca de arroz para 250 vilarejos.

              No Nepal e na Indonésia, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas já ajudou a financiar a construção de minúsculas hidrelétricas em remotas comunidades montanhosas. Marrocos oferece subsídios para sistemas domésticos de energia solar em áreas remotas, ao custo unitário de US$ 100.

              O que mais surpreende alguns especialistas é o recente aparecimento de um verdadeiro mercado na África para a energia renovável em escala doméstica. Com a redução do custo dos equipamentos confiáveis, as famílias se mostram cada vez mais dispostas a comprá-los, mesmo que para isso precisem vender uma cabra ou pegar dinheiro emprestado com um parente no exterior, por exemplo.

              A explosão do uso de celular na África rural tem sido uma enorme motivação. Como em muitos países africanos não há bancos nas regiões rurais, o celular é adotado como uma ferramenta para transações comerciais, além de comunicações pessoais. Os sistemas baratos de energia renovável também permitem eliminar gastos com velas, carvão, pilhas, madeira e querosene.

              Em Kiptusuri, o sistema LED Firefly comprado por Ruto é a grande febre deste ano. O menor deles, que custa US$ 12, consiste de um painel de energia solar que pode ser colocado numa janela ou telhado, e que é conectado a uma luminária e um carregador de celular. Unidades um pouco maiores podem alimentar rádios e TVs preto e branco.

              "Com esse sistema, você tem luz de verdade pelo que gastaria em poucos meses com querosene", disse Maina, da Serviços Sustentáveis de Desenvolvimento Comunitário. "Quando você pode iluminar sua casa e carregar seu telefone, isso é muito valioso."

              Vivendo sem eletrecidade

              Uma em cinco pessoas no planeta vive sem eletrecidade, geralmente porque não está conectada a uma rede. A pobreza e a política podem influenciar na maneira como os países dão forma a sua infraestrutura.



              FONTE: Folha de S. Paulo


              Essa outra notícia também vem do Estadão de hoje, 28 de janeiro de 2011. Tema importante que merece mais atenção

              Oceano quente influencia degelo
              Aquecimento no Ártico é relacionado a aumento da temperatura das águas
              28 de janeiro de 2011 | 0h 00
              Leia a notícia
              Email ImprimirA+ A-
              Afra Balazina - O Estado de S.Paulo
              O Ártico perdeu uma área equivalente a pelo menos seis Estados de São Paulo de gelo marinho entre 1979 e 2009. Para um grupo de cientistas, o aquecimento na região e o derretimento do gelo devem estar relacionados ao aumento da temperatura na água que flui do Atlântico Norte para o Oceano Ártico - a mais alta em pelo menos 2 mil anos.


              Nicolas Van Nieuwenhove/IFM-GeomarNo mar. Navio de pesquisa alemão passa por gelo marinho na região do Estreito de Fram
              O estudo foi publicado na revista Science e liderado por Robert Spielhagen, do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, na Alemanha. Ele admitiu ao Estado temer que seus filhos, de 14 e 17 anos, presenciarão verões sem nenhum gelo marinho no Ártico. "Isso vai depender dos esforços que a humanidade fará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Se não pararmos esse processo logo, os verões na região podem não ter gelo marinho em algo entre 30 e 50 anos, de acordo com previsões de modelos climáticos", disse.

              Como os dados meteorológicos da região analisada, o Estreito de Fram, são dos últimos 150 anos, seu grupo perfurou e retirou sedimentos do oceano que datam de até 2 mil anos. Foram utilizados como termômetros protozoários microscópicos chamados de foraminíferos. "Eles são indicadores sensíveis da temperatura da água do oceano em que viveram. Além disso, são numerosos, o que nos permite fazer uma análise estatística segura", explicou Morten Hald, um dos coautores do trabalho, ligado à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Tromsoe, na Noruega.

              A temperatura da água que corre entre a Groenlândia e Svalbard (arquipélago que pertence à Noruega) aumentou cerca de 0,7°C no século passado. "Tal aquecimento das águas do Atlântico no Estreito de Fram é significativamente diferente de todas as variações climáticas nos últimos 2 mil anos", afirmou Spielhagen.

              Impactos. Parte do gelo marinho derrete durante o verão setentrional e a água congela depois. Mas, com o aquecimento global, a porção que derrete é cada vez maior, e a que volta a congelar, cada vez menor. De acordo com os pesquisadores, os impactos do que ocorre no Ártico podem ter implicações globais, como o aumento do nível do mar com o degelo de glaciares - o que provocaria inundações em regiões costeiras.

              O País também pode ser atingido. "O Brasil parece muito distante do Ártico. Mas muitos fenômenos climáticos podem ter consequências de longo alcance", disse o autor principal. "Pode afetar o Brasil com alterações nas posições de zonas climáticas secas e úmidas. E o aumento do nível do mar é um fenômeno mundial e atingirá todas as áreas baixas, incluindo o delta do Amazonas", complementa.

              O derretimento do gelo marinho é um grave problema para os ursos polares - que se deslocam entre a terra e icebergs para caçar focas e precisam nadar cada vez mais longe para encontrar superfícies onde podem parar.

              Segundo a BBC, zoólogos americanos acompanharam recentemente um animal da espécie ameaçada de extinção no entorno do Mar de Beaufort, no norte do Alasca, e observaram que ele teve de nadar continuamente por nove dias, percorrendo 687 quilômetros, em busca de gelo.

              Navegação. Por outro lado, o encolhimento do gelo marinho pode interessar ao comércio mundial. Ele tem provocado a abertura de passagens antes intransponíveis. Uma das que foram abertas no verão de 2010, por exemplo, foi a Passagem Noroeste, almejada rota marítima entre Europa e Ásia.

              Função

              O gelo marinho ajuda a esfriar o planeta ao refletir a luz do Sol de volta para o espaço. E, ao formar uma manta isolante sobre o oceano, permite que as temperaturas atmosféricas sejam muito frias.





              Essa está no Estadão de hoje. Assunto bem importante e interessante.

              O misterioso sumiço das abelhas
              Desaparecimento de inseto em colmeias preocupa os EUA e agora o Brasil; em SC, comissão investiga caso
              26 de janeiro de 2011 | 0h 00

              Karina Ninni - O Estado de S.Paulo
              Há cerca de quatro anos, apicultores americanos, canadenses e europeus começaram a ter problemas com suas abelhas melíferas (Apis mellifera): elas estavam desaparecendo das colmeias. O sumiço estava causando prejuízo tanto aos que viviam diretamente da polinização e do beneficiamento dos produtos de origem apiária quanto aos agricultores, que dependiam dos insetos nas lavouras.


              Itamar Miranda/AE
              "As colmeias tinham muita cria e poucas abelhas adultas. Destas, a maioria era recém-nascida, mas a rainha continuava presente", afirma o professor de genética na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, David D. Jong.

              O mesmo está acontecendo em Santa Catarina, onde a Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores (Faasc) recebeu tantas reclamações recentemente que criou uma comissão técnico-científica para estudar o assunto.

              "As maiores queixas foram de apicultores do litoral sul e da Grande Florianópolis. A média de perda de colmeias relatada gira em torno de 30%", afirma Afonso Inácio Orth, professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro da comissão. Ele explica que sempre há uma perda no manejo das colmeias, algo entre 5% e 15% - 30% é muito.

              Nos EUA, a "doença" do desaparecimento das abelhas foi diagnosticada como Colony Collapse Disorder (CCD). As abelhas deixam para trás cria, mel e tudo o que produzem. O curioso é que nas colmeias atacadas não se veem abelhas mortas; nem dentro, nem ao redor.

              Algumas possíveis causas já foram apontadas, como o uso de novos inseticidas, aparição de vírus, problemas com a variabilidade genética, falta de alimentos adequados, fungicidas que afetam a alimentação das abelhas e a intensidade no manejo das colmeias, que são transportadas e alugadas para a polinização de lavouras em todo o País.

              Ácaros como o Varroa destructor e protozoários como a Nosema, conhecidos dos pesquisadores, também foram cogitados. Mas a abelha africanizada usada no Brasil, surgida a partir da mistura de uma subespécie europeia e uma africana, é mais resistente a doenças do que as europeias e não precisa de tratamento com fungicidas e, em condições normais, resiste ao ácaro.

              "Não podemos afirmar que seja o mesmo problema que ocorre nos EUA, mas os sintomas são bem parecidos", diz Orth.

              Polinização e mel. De acordo com David D. Jong, o desaparecimento de abelhas já é um fenômeno mundial e pode causar danos à agricultura.

              "Nos EUA, no auge dos relatos, o aluguel de uma colmeia para polinização passou de US$ 40 por mês para algo entre US$ 150 e US$ 200." Ele lembra que o Estado da Califórnia é totalmente dependente da polinização dirigida na produção de frutas e que só as plantações de amêndoa da Califórnia mobilizam 1,4 milhão de colmeias na florada.

              Em Santa Catarina, os preços também dispararam na safra do ano passado. "Quem contratou de última hora pagou R$ 75 por uma colmeia que até ontem era alugada a R$ 45 por florada", afirma Orth.

              Santa Catarina foi pioneira no uso profissional das colmeias para a polinização das macieiras. Hoje são utilizadas cerca de 120 mil colmeias para isso, de acordo com Orth. O Estado produziu, na última safra, 700 milhões de toneladas de maçãs, mais de 50% da safra do sul do País, de 1,2 bilhão de toneladas.

              Segundo Nézio Fernandes de Medeiros, presidente da Faasc, os apicultores que perderam abelhas ficaram desesperados.

              "Quem sente mais depressa são os que vivem diretamente dos produtos. Há 30 mil famílias que dependem da produção de mel. A perda estimada foi de 6 mil toneladas do produto no ano passado", disse ele.

              A boa notícia é que as abelhas, que vivem cerca de 30 dias, se reproduzem rapidamente: cada uma pode por até 3 mil ovos por dia, em média.

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