ENTREVISTA
Postos de gasolina lavam dinheiro do crime, diz promotor
DE SÃO PAULO
O promotor público Lincoln Gakiya começou a integrar comissões de investigações contra a facção criminosa PCC quando seus membros mataram a tiros um amigo pessoal, o juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, em 2003.
Desde então, Gakiya se especializou em aprender a dinâmica criminosa do PCC para combatê-la e, por isso, foi ameaçado de morte pelos integrantes da facção.
Gakiya atua no oeste do Estado, onde estão cerca de 30 mil (em 22 presídios) dos quase 180 mil presos de São Paulo (em 148 prisões).
A seguir, trechos da entrevista com o promotor:
Folha - Como o PCC se mantém atualmente?
Lincoln Gakiya - A facção tem contornos de organização criminosa, conforme a Convenção de Palermo. Sua principal fonte de recursos é o tráfico de drogas e de armas. Mas também atua na lavagem de dinheiro em postos de combustíveis.
O que é feito para evitar que São Paulo volte a enfrentar ataques como os de 2006?
O Estado tem investido no trabalho de inteligência das forças de segurança do Estado. Mas, diferentemente do que ocorreu em 2006, agora esses trabalhos de inteligência são integrados. A intenção é sempre atuar na prevenção das ações da facção. É sempre se antecipar.
Por que o PCC tem hoje 130 fuzis à disposição para locar para seus integrantes?
Isso, infelizmente, é uma realidade. Essas armas são usadas em roubos de caixas eletrônicos, bancos, cargas, sequestro e até para resgate de presos.
O PCC ainda continua com a dinâmica de tentar evitar homicídios nas áreas onde tem seus pontos de venda de drogas para evitar a presença da polícia?
Quero crer o seguinte: a ação de 2006 foi desastrosa para a facção, em termos de finanças e da perda de integrantes. Houve uma repressão muita dura por parte das forças policiais. Eles perderam integrantes, armamento e dinheiro. Houve movimento contrário da opinião pública porque incendiaram ônibus, atacaram civis, bombeiros etc. Isso causou sério dano às finanças da facção, mas isso já foi recomposto.
Quantos membros o PCC tem atualmente?
Dos quase 180 mil detentos do Estado, numa estimativa, creio que hoje a facção tenha uns seis mil integrantes dentro do sistema [prisional]. E mais uns 1.500 nas ruas. Mas isso não conta com os simpatizantes da facção nas ruas, que você deve multiplicar por dez.
Dos 148 presídios de São Paulo, não tem dez que não sejam dominados pelo PCC.
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