Neste sábado eu comecei o Caminho da Fé com uma proposta audaciosa: andaria 40 km no sábado, 40 km no domingo, 28 na segunda-feira, 33 na terça-feira, 30 ou 43 na quarta feira e mais um pouco na quinta. Nem sei quantos quilos tinha a mochila e não tinha feito uma preparação específica. Isso era o planejamento, um pouco divorciado da realidade, percebo agora.
No sábado, saí da Catedral de São Carlos por volta das vinte para as oito da manhã. Uma hora e pouco depois ainda pisava no asfalto da cidade. Por volta das onze horas da manhã eu chegava na capela da Babilônia, point religioso local. Antes de chegar lá, no entanto, passei por uma forte descida e forte subida (foto acima).
Eu sei que, por volta das duas e meia da tarde, olhava no iphone e conferia o quanto faltava andar. Faltavam quase 20 km. O calor estava insuportável. A água era pouca. Joguei a toalha: liguei no hotel em Descalvado e pedi para me enviarem um táxi. Assim foi feito. Cheguei em Descalvado, paguei a corrida, carimbei a credencial, peguei o quarto, tomei banho (água fervendo, água quente saindo da torneira, tudo porque a caixa d´água estava superaquecida), caí na cama e, ainda assim, cinco e meia da tarde, a cidade estava muito quente. À noite choveu bem, prejudicando um pouco um casamento que estava ocorrendo na igreja na frente do hotel.
No dia seguinte, café da manhã caprichado e saí para andar, com o céu encoberto, o ar limpo e temperatura civilizada.
Acima, foto da igreja da cidade.
A etapa seria só de 20 km até Porto Ferreira.
Logo no começo da marcha, foto da plaquinha que existe de 4 em 4, de 2 e 2 km, dependendo do local. A caminhada até Porto Ferreira foi boa, já sabendo que ficaria só nos 20 km até esta cidade e que não tentaria os 20 que separam Porto Ferreira de Santa Rita do Passa Quatro. Deu para dosar o esforço, a água, o pé. Ainda assim, cheguei lá com uma grande bolha na sola de cada pé.
Em Porto Ferreira (foto acima, da igreja da cidade), com um único hotel para ficar, não havia muito o que discutir. A cidade é bem maior que Descalvado, cerca de 50 mil habitantes. Chegando na cidade vejo uma churrascaria aberta e decido almoçar mais cedo. A churrascaria, "A gaúcha", era na beira da rodovia Anhanguera, o que era bem inspirador.
No dia seguinte, ontem, segunda-feira, retomo a caminhada, desta vez até Santa Rita do Passa Quatro e decidido a encerrar os trabalhos lá chegando. Caminhada passando ao lado de laranjais. Logo no começo, pára na minha frente um senhor que seguia numa picape e me dá umas laranjas. Eram peras, mas deliciosas e cheias de suco. Coloquei nos bolsos do calção e segui em frente.
Uns 5 km antes da cidade, uma subida para cristão nenhum colocar defeito. Foi dura. Segue uma foto do que ficou para trás.
Ao lado esquerdo do que aparece na foto existe uma instalação de um duto de etanol da Petrobrás. Um taxista me disse que cerca de mil e quinhentas pessoas estão trabalhando nisso.
Cheguei na cidade por volta das 12h30min. Peguei o carimbo no hotel Pousada da Colina, que tem até piscina (mas possivelmente sem aquecimento) e pedi para chamarem um táxi. Com bolhas nos pés e dores nas pernas, decidi encerrar essa etapa da caminhada com bem menos do que esperava realizar. Satisfeito com o que fiz e consegui, mas ciente de que mais treino e resistência é fundamental. Tentar de novo talvez com uma companhia seja bom e melhor. Sozinho, sem haver também outros peregrinos no trecho, a coisa complica.
O caminho está bem sinalizado e nunca me senti inseguro com medo das pessoas. Os cães de algumas propriedades estão particularmente agressivos. A falta de bicas de água e fontes foi grave, principalmente no primeiro trecho, entre São Carlos e Descalvado, além da pouca sombra. O erro na marcação da quilometragem nesse primeiro trecho também foi um pouco frustrante. É uma etapa muito longa para um primeiro dia a pé. Quem começa a pé deve evitar esse pedaço.
Nessa etapa do caminho não cruzei com nenhum outro peregrino. Soube depois que no sábado saíram uns ciclistas de são Carlos. Passaram a noite em Santa Rita do Passa Quatro, ou seja, 85km depois do ponto de partida. A falta de outros peregrinos para conversar e dividir a solidão é um ponto ruim. Em Porto Ferreira o moço do hotel disse que o último peregrino a pé a passar por lá tinha sido um mês antes. Fico pensando: será que esses tempos velozes atuais não estão desestimulando os peregrinos a pé? Hoje em dia todo mundo tem pressa. Fazer de bike é bem mais célere...É possível fazer 85 km num dia e tentar liquidar toda a fatura em uma semana...
Bom, vamos ver quando será possível retomar a marcha...
1 comment:
Tadeu,
Parabéns pela coragem. Também tenho vontade de um dia fazer esse caminho, mas acho que de bicicleta será mais tranquilo.
É uma pena que ainda poucos peregrinos se aventurem por aí; quem sabe, com algum tempo e divulgação, o caminho acabe virando tradição.
Abraços,
Marcelo Bertasso
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